sábado, 1 de abril de 2023

Moisés Mendes: Bolsonaro produziu o maior fracasso de um retornado

Bolsonaro tenta chamar Lula para a briga, logo na chegada, para tentar compensar o fiasco retumbante da volta. Foi recebido por meia dúzia de manés no aeroporto e na sede do PL.

É o maior fracasso mundial de um retornado em toda a história de fugas (o caso dele) e exílios forçados, voluntários e assemelhados.

Nunca antes um ex-presidente retornou ao próprio país e teve uma recepção tão constrangedora em tempos de democracia. Nunca. Não há outro exemplo de fracasso com essa dimensão.

A recepção a Bolsonaro é a primeira demonstração de que ele está morto politicamente e que será apenas arrastado de um lado para outro por Valdemar Costa Neto, até ser abandonado.

A volta de Bolsonaro é um caso histórico de fracasso em todos os sentidos, inclusive dos que deveriam ter montado direito a farsa da recepção.

As imagens com pouca gente são tão deprimentes que o filho Eduardo teve de publicar na internet fotos antigas de aglomerações em volta do pai, porque não tinha o que divulgar.

Tudo com direito a uma trilha sonora de formaturas. O deputado fez uma montagem com o acréscimo grosseiro de fotos da convenção do PL de lançamento da candidatura fracassada do pai no ano passado.

O cenário todo é um desastre. A direita pode começar a pensar no substituto do homem, para não perder muito tempo. Esse não tem mais nada a oferecer.

Também o sistema de Justiça teve, com a recepção fracassada, uma prova de que Bolsonaro não é uma ameaça política.

Ministério Público e Judiciário devem fazer agora, sem muitos adiamentos, o que não fizeram durante quatro anos.

Devem apressar investigações e julgamentos de duas dúzias de inquéritos e processos contra um indivíduo que hoje mesmo estará arrependido de ter deixado a solidão do acampamento de Orlando.

É preciso julgar não só os casos de delitos eleitorais que levarão à inelegibilidade, mas também as ações criminais.

Está dada mais uma lição à extrema direita. Retornos são gestos políticos que podem produzir efeitos consagradores ou devastadores.

Nesse caso, foi um fracasso tão grande que vai abalar não só o retornado e seu entorno familiar, militar e miliciano.

A ‘festa’ para Bolsonaro flopou total. É um vexame que abala a autoestima e toda a estrutura do fascismo.

 

       Olha ele aí de volta! Por Eric Nepomuceno

 

 Em se tratando dele, até que não houve grandes surpresas: conforme havia anunciado, Jair Messias embarcou em Orlando e pousou em Brasília na véspera dos 59 anos do golpe militar de 1964, tão incensado por ele.

 Houve, é verdade, uma ligeira confusão de horários: previsto para chegar às sete e dez, depois às sete e meia, o voo acabou chegando pouco depois das seis e meia. Tirando esse desencontro, nada de mais aconteceu.

 Jair Messias já havia sido oficialmente informado de que seria conduzido para fora do aeroporto por uma saída lateral. Aliás, a informação chegou a ele e a meio mundo. 

Ainda assim um bando se bolsonaristas foi até o aeroporto, na ilusão de uma chegada espalhafatosa, com direito a discurso em caçamba de camionete e o que mais houvesse à mão. Ficaram com cara de bobalhões.

 Levado direto para a sede do Partido Liberal, Jair Messias apareceu numa janela acenando para o nada e com aquele esgar que tenta ser sorriso. 

 Lá dentro estavam à sua espera dona Michele, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, o general empijamado Walter Braga Netto, derrotado junto com seu chefe quando era candidaro a vicepresidente, enfim, o bando de sempre.

 Não houve discurso grandiloquente, nem aglomerações multitudinárias, não houve nada: para quem se espera que irá virar o grande líder da oposição a Lula e seu governo, foi tudo muito frouxo nessa volta depois de três meses foragido em Orlando.

 Resumindo: nessa volta ficou claro que Jair Messias virou pó. 

 Vai ser presidente de honra do Partido Liberal, é verdade, mas quem continuará no comando é Costa Neto. 

 Ele e sua senhora esposa viajarão país afora, e é até possível que consigam eleger prefeitos em quantidade significativa.

 Vai continuar como figura iluminada para o punhado de bolsonaristas mais primatas e radicais (que valha a reiteração), mas tirando a direita mais extremista irá perdendo espaço em velocidade acelerada.

 E é assim, mais esvaziado que meu saldo bancário, que Jair Messias enfrentará outra agenda – esta sim, perigosa para ele.

 Estou me referindo à pirâmide de denúncias que já estão à sua espera na Justiça Eleitoral, e ao que ainda está por chegar na Justiça Civil.

 Semana que vem, aliás, ele começa a dar suas primeiras explicações para a Polícia Federal. 

 Resta saber quanto tempo irá passar até Jair Messias se arrepender por ter deixado seu refúgio vizinho ao Pateta e voltar para enfrentar uma Justiça que, se for minimamente justa, primeiro vai decretar que ele não poderá ser candidato a nada, e depois vai levá-lo rapidinho para o xilindró.

 

       Para evitar 'efeito Moro', Planalto ignora Bolsonaro e quer esperar por PF

 

O presidente Lula (PT) vai ignorar a volta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Brasil. A expectativa no Planalto é que seu nome seja citado pela Polícia Federal.

O que pensa o Planalto?

# Lula foi aconselhado a não ficar lembrando o ex-presidente em suas falas.

Para apoiadores, citá-lo, mesmo que com críticas, é reforçar a imagem --para eles falsa-- de que o petista esteja preocupado com o retorno de Bolsonaro.

# Institucionalmente, também não há por que o presidente se lembrar "de um candidato derrotado", provocam apoiadores.

# Para o PT, a recepção de Bolsonaro nesta manhã foi morna, aquém do esperado, e não deve ser Lula ou o partido a suscitá-la.

O ex-presidente estava havia 90 dias fora, desde que viajou aos EUA para não passar a faixa presidencial.

# É o que aliados chamam de "efeito Moro", quando o presidente deu declarações polêmicas sobre o ex-juiz da Java Jato.

Um evento tímido, avalia o Planalto, para mostrar que o presidente se recupera bem da pneumonia diagnosticada na semana passada. O objetivo era que as atenções ficassem voltadas ao Ministério da Fazenda, onde o ministro Fernando Haddad anunciou o novo arcabouço fiscal.

Ele fez um discurso breve, bem-humorado e voltado ao futebol, e não chegou perto de citar Bolsonaro. Assim deve continuar.

A interlocutores, Lula minimizou o retorno do adversário sob o argumento de que o governo tem, hoje, a faca e o queijo na mão, por isso cabia aos ministros "mostrar para que foram eleitos".

Da mesma forma, foi aconselhado a não ficar ironizando o ex-presidente em discursos ou entrevistas, pois isso só lhe daria holofotes e poderia indicar um temor que ele diz não ter. Estratégia semelhante foi adotada no início da campanha em 2022, mas depois abandonada.

•        Deixa com a PF

A expectativa do Planalto é que, neste primeiro momento, o nome de Bolsonaro apareça menos como líder da oposição e mais ligado a escândalos.

# O ex-presidente já foi convocado a prestar esclarecimento no caso das joias, na próxima quarta (5). O PT espera que, quanto mais a história avance, mais sua imagem fique relacionada a aproveitamento de privilégios e descolada do homem simples que o ex-presidente busca mostrar.

# Também há uma expectativa por parte da situação (antiga oposição) de que Bolsonaro ainda seja diretamente ligado aos atentados de 8 de janeiro. Já nos Estados Unidos na época da invasão, as investigações têm encontrado cada vez mais ligações entre os golpistas e sua administração. Anderson Torres, então secretário de Segurança do Distrito Federal e seu ex-ministro, está preso.

Este é o principal ponto, argumentam pessoas próximas ao Planalto, para seu nome ser por ora abandonado. A estratégida deverá seguir com as críticas e com as comparações entre as gestões.

•        Efeito Moro

O que aliados dizem temer é exatamente a repercussão das falas de Lula em relação a Sergio Moro. Eles dizem que o senador estava "apagado" no Congresso e ganhou espaço na mídia por uma semana só porque Lula questionou a operação.

“Quero ser cauteloso, é visível que [a operação que apura plano para matar o senador] é uma armação do Moro. Vou pesquisar, vou saber. Fiquei sabendo que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer para ele. Eu vou pesquisar e saber o porquê da sentença. Não vou ficar atacando ninguém sem ter provas e, se for mais uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda. Não sei o que vai fazer da vida se continuar mentindo do jeito que está mentindo," falou Lula um dia após a deflagração da operação.

Pessoas próximas, como o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que foi a plenário fazer um mea-culpa em nome do governo, defendem que o presidente evite cometer o mesmo erro e não entre em batalhas que tem ganhado.

Essas são as sugestões. Como muitos repetem em seu governo, Lula costuma ouvir aliados, mas, muitas vezes, acaba "fazendo o que acha melhor".

 

       Chefe de Bolsonaro só fica com ele até a eleição municipal. Por Helena Chagas

 

O novo “chefe” de Jair Bolsonaro, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pretende ficar com ele até as eleições municipais do ano que vem. Segundo políticos próximos, Valdemar considera Bolsonaro um bom eleitor, que o ajudará a captar os votos do eleitorado de direita pelo país e multiplicar o número de prefeitos da legenda — que, a reboque do ex-presidente, fez a maior bancada da Câmara. Os planos de Valdemar, porém, param por aí. No PL, a expectativa é de que, a essa altura, o ex-presidente estará inelegível — ou coisa pior — e a direita vai procurar outros rumos para 2026.

No curto prazo, Valdemar continuará fazendo as honras da casa para Bolsonaro, pagando altos salários e outras despesas, aturando seus filhos e fingindo acreditar que Michelle será uma revelação nas urnas. O presidente do PL sabe que depende disso a preservação de sua bancada e, sobretudo, do controle do partido, hoje dividido exatamente ao meio entre a ala bolsonarista e a dos antigos integrantes da legenda — aqueles que sempre fecharam com todos os governos.

A força de Bolsonaro, porém, deve acabar se reduzindo na maratona jurídica que enfrentará a partir de agora no TSE e no STF, em meio a acusações que vão da apropriação indébita das jóias das Arábias  ao incitamento dos atos golpistas do 8/1. Basta uma condenação, ou uma inelegibilidade, para que ele se torne carta fora do baralho de 2026 — e essa será a senha para a debandada dos aliados.

Nesse momento, aquilo que hoje ainda se chama de bolsonarismo começará a gravitar em torno de outros nomes do campo da direita.  Valdemar, tendo assegurado o controle do PL , já não terá o risco de ser derrubado pela ala bolsonarista e vai negociar o apoio do PL, que está se tornando um partido grande. Fará isso do seu jeito: sem preconceitos, seguindo as próprias simpatias.

O hoje chefe de Bolsonaro, dizem aliados, dificilmente apoiará uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nome mais citado para ocupar a vaga com uma inelegibilidade do ex-capitão. Valdemar detesta Tarcísio desde que o governador, então diretor do DNIT (governo Dilma),  demitiu todos os seus apadrinhados. Bem relacionado com o PT, ele não descartaria, segundo amigos, uma aliança com Lula  em  eventual reeleição, ou o apoio a seu candidato — se este não for Fernando Haddad, outro desafeto.

Outra notícia ruim para Jair Bolsonaro é que, apesar de precisar dele para engordar o PL e manter seu controle,  Valdemar não pretende confrontar a Justiça para ficar a seu lado. Conhecido pão-duro, nem pensa também em gastar muito dinheiro para turbinar o ex-presidente em suas andanças pelo país. O presidente do PL comeu o pão que o Xandão amassou para pagar a multa de R$ 22 milhões recebida ao tentar contestar os resultados da eleição — a mando daquele que hoje se diz seu chefiado.

A nota do PL na véspera da volta de Bolsonaro diz muito sobre esse estado de espírito: não promoveu grandes festanças populares vitaminadas com pagamento e transporte gratuito. Realizou evento fechado, de tamanho modesto, sem motociata, discursos apoteóticos ao povo ou maiores homenagens.  Para bom entendedor, o desfecho pode até demorar um ou dois anos, mas Valdemar Costa Neto já está, como dizia o velho Brizola, costeando o alambrado.

 

Fonte: Brasil 247/UOL/Os Divergentes

 

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