quarta-feira, 26 de abril de 2023

Extrema-direita protesta contra Lula e presidente do Parlamento dá bronca: 'chega de envergonhar Portugal'

O presidente Lula (PT) discursou nesta terça-feira (25) no Parlamento português, durante a comemoração do 49º aniversário da Revolução dos Cravos. Em 25 de abril, é comemorada a queda da ditadura de António de Oliveira Salazar, em Portugal - que aconteceu em 1974.

Durante o pronunciamento, 11 parlamentares do partido de extrema-direita Chega fizeram um protesto, respondido com aplausos a Lula por integrantes das outras bancadas. O presidente do Parlamento português, Santos Silva, do Partido Socialista (PS), pediu que Lula interrompesse o discurso e cobrou respeito.

"Chega de insultos, chega de envergonhar as instituições, chega de envergonhar o nome de Portugal", disse o parlamentar português.

Ao fim do discurso, sem mencionar o Chega, Lula afirmou: "Que deus abençoe Portugal, abençoe o Brasil, e viva a liberdade e a democracia. E não ao fascismo político e injusto".

Após o evento, Santos Silva pediu formalmente desculpas a Lula em nome do Parlamento português, segundo o jornal português "Público". O presidente então classificou o ato de uma "cena de ridículo".

"Eu acho que essas pessoas quando voltarem para casa, e deitarem a cabeça no travesseiro, vão pensar: 'que papelão nós fizemos'", disse Lula.

•        Crítica à guerra na Ucrânia e soluções militares para conflitos

Ao longo do discurso, o presidente disse mais uma vez que há uma onda crescente de ideologias extremistas, "impulsionadas pela ditadura dos algorítimos. Elas reduzem o espaço para o diálogo e a empatia, propagam o ódio e constrangem a expressão de nossa humanidade".

Lula também criticou o que chamou de "políticos demagogos" contrários à integração da europeia e invasão da Rússia na ucrânia. Ele defendeu ainda a ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

"Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia. Acreditamos em uma ordem internacional fundada no respeito ao Direito Internacional e na preservação das soberanias nacionais. Ao mesmo tempo, é preciso admitir que a guerra não poderá seguir indefinidamente. A cada dia que os combates prosseguem, aumenta o sofrimento humano, a perda de vidas, a destruição de lares. As crises alimentar e energética são problemas de todo o mundo. Todos nós fomos afetados, de alguma forma, pelas consequências da guerra. É preciso falar da paz. Para chegar a esse objetivo, é indispensável trilhar o caminho pelo diálogo e pela diplomacia.", disse o presidente.

O presidente também disse que soluções militares para os problemas atuais não são a saída e que é preciso ter diálogo para que conflitos nacionais e internacionais sejam resolvidos.

"Quem acredita em soluções militares para os problemas atuais luta contra os ventos da História. Nenhuma solução de qualquer conflito, nacional ou internacional, será duradoura se não for baseada no diálogo e na negociação política", disse o presidente.

•        Agenda do presidente

Lula chegou a Portugal na sexta-feira (21). No sábado, se encontrou com o presidente do país, Marcelo Rebelo, e depois com o primeiro-ministro, António Costa.

Na segunda, o presidente entregou o prêmio Camões ao cantor e compositor Chico Buarque, com quatro anos de atraso. O presidente afirmou que a entrega corrige "um dos maiores absurdos" contra a cultura brasileira.

Após cumprir agenda em Portugal, Lula irá à Espanha, onde tem encontro previsto com empresários e centrais sindicais espanholas.

Essa é a primeira viagem de Lula à Europa neste terceiro mandato. Nos últimos meses, o presidente já visitou Argentina, Uruguai, Estados Unidos, China e Emirados Árabes.

 

       Lula critica 'saudosos do autoritarismo' em fala no Parlamento português marcada por protestos

 

A presença de Lula no Parlamento de Portugal nesta terça-feira (25/4) refletiu, dentro e fora do Legislativo luso, a polarização observada no Brasil.

No interior do edifício, onde Lula discursava, deputados da direita radical tumultuavam a fala do brasileiro. Já parlamentares de esquerda aplaudiam constantemente as intervenções do petista.

Do lado de fora, centenas de manifestantes protestavam a favor e contra Lula em locais diferentes — uma medida da polícia para evitar confrontos.

Os dois grupos estavam separados por cerca de 250 metros, de lados opostos no entorno da Assembleia da República (AR), o Parlamento português. O policiamento foi reforçado e barreiras impediam qualquer contato entre eles.

Lula discursou no Parlamento em uma sessão de boas-vindas, antes da sessão principal, no dia da comemoração da Revolução dos Cravos, que marca o fim da ditadura portuguesa. A fala de Lula já havia causado polêmica antes mesmo de acontecer.

Enquanto o petista falava, os 12 deputados do Chega, partido da direita radical que se tornou a terceira maior força política de Portugal nas últimas eleições legislativas, ficaram de pé, segurando cartazes com a bandeira da Ucrânia e com a frase "chega de corrupção".

Também bateram nas mesas e fizeram barulho para atrapalhar o discurso de Lula.

Apesar das interrupções, o petista se aproveitou do contexto da Revolução dos Cravos para defender a democracia no Brasil.

"A democracia no Brasil viveu recentemente momentos de ameaça. Saudosos do autoritarismo tentaram atrasar o relógio em 50 anos e reverter as liberdades que conquistamos. Os portugueses assistiram a tudo, preocupados com a possibilidade de que o Brasil desse as costas ao mundo", disse.

Também voltou a falar sobre a Guerra da Ucrânia e pediu paz, criticando soluções militares. O tema marcou o início de sua viagem a Portugal.

"Quem acredita em soluções militares para os problemas atuais luta contra os ventos da história. Nenhuma solução de qualquer conflito, nacional ou internacional, será duradoura se não for baseada no diálogo e na negociação política", declarou.

Ele ainda voltou a condenar a violação à integridade territorial ucraniana pela Rússia.

Declarações recentes do petista causaram polêmica, quando Lula, em visita a Abu Dhabi ao retornar da China, equiparou Rússia e Ucrânia, além de acusar Estados Unidos e União Europeia de contribuirem para o prolongamento do conflito.

•        Manifestações contra e a favor

A manifestação contra Lula foi convocada pelo líder do Chega, o deputado André Ventura, apoiador declarado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ventura prometeu que seria a "maior manifestação da história contra um líder estrangeiro".

O protesto, de fato, reuniu algumas centenas de pessoas, mas ocupava menos de um quarteirão nas proximidades do Parlamento português. Questionados pela BBC News Brasil, policiais não souberam estimar o número de manifestantes.

Por outro lado, o clima era de revolta e os manifestantes, estridentes gritavam palavras de ordem contra Lula, como "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão", e seguravam cartazes contra o presidente brasileiro, com dizeres como "Tolerância zero à corrupção".

Entre eles estava a brasileira Cristiane Farias, natural de Teófilo Otoni, em Minas Gerais, que já mora há 20 anos em Portugal. Ela disse ser apoiadora de Bolsonaro e Ventura.

"Esse bandido está aqui gastando dinheiro do povo. Lula, ladrão, seu lugar é na prisão", disse ela à BBC News Brasil.

Já o português Alex Oliveira diz ter vindo de Coimbra, a 200 km de Lisboa, para protestar contra Lula e o acusou de corrupção.

"Se Lula roubou, seu lugar é na prisão", afirmou.

No entanto, em meio aos apoiadores do Chega, maioria absoluta no protesto, havia aqueles que não concordavam com a pauta que motivou a manifestação.

José Inácio Faria, presidente do Conselho Nacional do MPT (Partido da Terra), um partido verde de tendência conservadora, disse estar protestando contra a presença de Lula, mas por ocasião de sua presença no Parlamento português no dia da Revolução dos Cravos.

"Este é o dia da liberdade. É o dia dos portugueses. Não podemos aceitar uma intromissão destas num ato que é genuinamente português. O presidente do Brasil tem toda a legitimidade de vir a Portugal e receber todas as honrarias; merece, com certeza, mas não no dia 25 de abril. Este dia é nosso", disse ele.

"Isso é uma conspurcação. É uma vergonha", acrescentou.

Segundo ele, Lula "não defende os mesmos valores que nós defendemos na Europa. A União Europeia e os Estados Unidos defendem a Ucrânia. Não podemos aceitar que um presidente de uma potência regional como o Brasil tenha dito o que disse em relação à Ucrânia, que é um Estado soberano".

"Não podemos aceitar um presidente de uma república federativa que deveria ser nosso irmão venha espalhar o ódio e a maledicência em relação aos ucranianos. E colocar-se ao lado da Federação Russa, que é o invasor. Hoje é o dia da liberdade", acrescentou.

"Não é porque ele foi preso ou não está mais preso, não temos nada a ver com isso", finalizou.

A cerca de 200 metros dali, brasileiros e portugueses se manifestavam a favor de Lula, mas em menor número.

Uma delas era Evones Santos, de Rondônia, que mora há 20 anos em Portugal e é integrante do Núcleo do PT, além de coordenadora do Comitê Popular de Mulheres da sigla.

"Vim protestar porque, em primeiro lugar, estou defendendo a democracia, independentemente de estar no Brasil ou em Portugal. Penso que é uma obrigação nossa combater o fascismo que é uma ideologia que vai contra os direitos humanos", disse.

"Em segundo lugar, porque acredito no governo do presidente Lula, que representa a maioria, a diversidade do povo brasileiro e a democracia", acrescentou.

A presença de Lula no Parlamento português havia causado polêmica antes mesmo de seu discurso.

Lula seria o primeiro chefe de Estado estrangeiro a discursar no Legislativo luso por ocasião da comemoração da Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura em Portugal.

A participação do petista chegou a ser anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, em visita ao Brasil.

"É a 1ª vez que um chefe de Estado estrangeiro faz um discurso nesta data", disse Cravinho em entrevista a jornalistas em Brasília.

Mas partidos de oposição, como PSD, IL e Chega, se manifestaram contra o convite e, após uma reunião entre lideranças políticas, chegou-se a um consenso de que Lula discursaria, mas numa sessão solene de boas-vindas, à parte das comemorações da Revolução dos Cravos.

Lula deixou o Parlamento português logo depois de discursar e foi direto para o aeroporto, onde viajou para Madri, na Espanha, última parada de sua viagem à Europa.

Na tarde desta terça-feira, ele se encontra com lideranças sindicais espanholas.

Na quarta-feira (26/4), são esperados encontros com o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, e o rei do país, Felipe 6º.

Seu retorno ao Brasil está previsto para a noite do mesmo dia.

 

Fonte: g1/BBC News Brasil

 

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