Democracias
políticas, ditaduras econômicas
“A
dificuldade de um único país resistir a essa aceleração do roubo das classes trabalhadoras [reformas
previdenciárias] se deve ao fato de que essas políticas neoliberais têm alcance global. Os países são reféns do
grande capital que migra de um país para outro em questão de horas,
aterrorizando as populações com a ameaça de outra crise econômica e obrigando seus governantes, democráticos ou
não, a se ajoelharem diante desses senhores feudais”. A reflexão é de Jorge Majfud, escritor
uruguaio.
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Eis o artigo.
Da França ao Uruguai, não por acaso, os governos neoliberais propuseram
uma reforma previdenciária que eleva a idade da aposentadoria
(dois na França; até cinco
no Uruguai). A narrativa
que justifica o aumento da idade da aposentadoria é dupla: (1) as pessoas vivem
mais e, portanto, devem trabalhar mais; (2) se essas “reformas necessárias e
dolorosas” não forem feitas, o sistema ficará sem recursos e o país perderá
competitividade no mundo, pois outros países aplicaram essas mesmas
medidas, necessárias para a classe financeira e dolorosas para
a classes produtivas.
O
mesmo discurso, acrescido de uma terceira ameaça, se repete há décadas
nos Estados Unidos: (3)
o Social Security (uma invenção
do “presidente comunista” Franklin D.
Roosevelt durante
a Grande Depressão) não é
sustentável, razão pela qual é preciso elevar a idade de aposentadoria e, na
medida do possível, privatizá-lo. Não importa que seja e sempre tenha sido
autossustentável. Os seguros sociais são isso: seguros, não investimentos de
risco.
A
privatização foi colocada em prática pela primeira vez em países periféricos. A
destruição da democracia socialista de Allende há cinquenta
anos e a imposição da ditadura de Pinochet tinham a
intenção declarada de preservar a liberdade do capital e usar este país
como laboratório para as
teorias neoliberais de Hayek e Friedman. O “milagre
chileno” se destacou por suas crises sociais e econômicas, apesar do tsunami de
dólares que afluíram para lá de Washington e
das grandes corporações. O modelo de pensões semiprivadas foi levado para
o Uruguai em 1996 e
levou apenas vinte anos para fracassar. O maldito Estado teve que vir em
socorro dos prejudicados pelos gênios dos investimentos.
A
dificuldade de um único país, seja a França ou o Uruguai,
resistir a essa aceleração do roubo das classes trabalhadoras se deve ao fato
de que essas políticas neoliberais têm alcance global. Os países são reféns do
grande capital que migra de um país para outro em questão de horas,
aterrorizando as populações com a ameaça de outra crise econômica e obrigando
seus governantes, democráticos ou não, a se ajoelharem diante desses senhores
feudais.
Por
outro lado, as maiores instituições financeiras do mundo, como o FMI e o Banco Mundial, são aliadas dessa
máfia. O Banco Mundial se define
como um banco de desenvolvimento, mas sua prática indica o
contrário: está a serviço dos benefícios do capital, informando em tempo real
quais países planejam votar uma lei para proteger seus trabalhadores ou
controlar os bancos com legislações. Assim, seus sócios e clientes podem
proteger seus investimentos transferindo seus milhões de um país soberano para
outro mais friendly, melhor colocado no ranking de
“liberdade de negócios”, outra daquelas velhas ficções funcionais.
Desde
a década de 1980, a produtividade dos trabalhadores nos Estados Unidos e em todo o mundo
tem crescido constantemente, enquanto seus salários permaneceram estagnados ou
perderam poder de compra. Não precisa ser um gênio para entender onde foi parar
essa diferença entre produtividade e salário. Mas eles querem mais.
Outra
explicação para legislar contra a vontade do povo consiste na ideia clássica de
que não são os sindicatos que governam, mas os governos eleitos. Mas só
na França, 70% da população
é contra a reforma previdenciária e seu “governo eleito pelo povo” se recusa a
ouvi-la. Essa surdez é clássica e, por sua vez, é justificada por outra
ideologia: “o governo deve agir com responsabilidade, não com demagogia”.
Novamente: responsabilidade perante o capital do assédio; demagogia para o
exercício da democracia, dando ao povo o direito de decidir.
Tudo
isso poderia ser resolvido com um sistema de democracia mais direta, algo sobre
o qual muitos de nós escrevemos há décadas, especialmente com as novas
ferramentas digitais. Se os franceses pudessem decidir em referendos regulares,
as manifestações em massa e os quebra-quebra urbanos que duram semanas não
teriam ocorrido na França.
Mas o cidadão comum não tem outra ferramenta eficaz senão a rebelião, em alguns
casos violenta. Obviamente, essa ideia de democracia direta é perigosa porque é
uma ideia a favor de uma democracia real.
Como
mostra a história, o capitalismo é por natureza antidemocrático. Ele se
desenvolveu a partir da brutalidade e da carnificina em suas colônias;
fortaleceu-se com a escravidão; e consolidou-se com as múltiplas ditaduras militares na Ásia, África e América
Latina. Mesmo ultimamente, tem se sentido mais do que confortável com o
comunismo chinês.
Quando
o capitalismo conviveu com as democracias liberais, não foi porque fosse um
sistema democrático, mas porque é um grande manipulador, a ponto de convencer
meio mundo de que democracia e capitalismo são a mesma coisa, já que ambos se
baseiam na liberdade. O que ele esquece de esclarecer é que a democracia se
refere à liberdade do povo e o capitalismo a entende como a liberdade do capital, ou seja, da elite
ditatorial que hoje não apenas detém a maior parte da riqueza mundial, mas
também o controle do sistema financeiro global e o quase monopólio da mídia
dominante.
Os franceses têm uma longa tradição
de protestos sociais, mas também podem se dar ao luxo de se rebelar nas ruas,
já que poucos os acusarão de subdesenvolvidos. Os uruguaios, apesar de sua longa tradição de instituições
democráticas como a educação, a saúde e os direitos individuais, são muito mais
tímidos em suas reivindicações. Sua oligarquia, como todas, também tem uma
longa tradição de estigmatizar os avanços da democracia real, acusando qualquer
reivindicação popular de comunista (receita inoculada pela CIA nos anos 1950 e que sobrevive
trinta anos após a Guerra Fria)
no mesmo tempo que fazem isso em nome da democracia e da liberdade.
A
(re)solução para a França não
é fácil num contexto internacional sequestrado pelos senhores do capital que
exigem e até convencem os seus escravos a trabalharem mais anos pela mesma
ração e, ainda por cima, a fazê-lo por vontade própria. Para o Uruguai, por seu contexto e tamanho, é
mais do que difícil. Mas em ambos os casos, se a resistência aos ditames
econômicos for bem-sucedida, eles podem se tornar exemplos perigosos.
Por
essas razões, a única solução de longo prazo é a união de uma nova corrente
de Países Não Alinhados ou
associados por interesses comuns (culturais e econômicos) como, por exemplo,
a América Latina.
Mas
claro, todos sabemos que a solução centenária do capitalismo imperial tem sido
a desunião, a desmobilização e a desmoralização das colônias e de seus próprios
trabalhadores. Tão longa é esta inoculação ideológica que hoje, nas
ex-colônias, os movimentos nacionalistas estão em ascensão. Com um detalhe: não
são o nacionalismo anticolonialista dos anos 1960 na África, por exemplo, mas um reflexo
sipaio e parasitário do nacionalismo imperial em suas próprias colônias.
Ø
Existe
outra modernidade possível? Entrevista com Pablo Blitstein, no Clarin
Responder
às perguntas de uma entrevista pode ser um trabalho versátil. Você pode
começar, digamos, em um bar, diante de um computador. E continuar no metrô, de
um celular, para terminar na metade do caminho entre um táxi e um avião que
cruzará os Andes, de Buenos Aires a Santiago do Chile.
É
assim que se dá o diálogo com o pesquisador argentino Pablo Blitstein, professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) e especialista em história
da China medieval e
imperial tardia (séculos XIX e inícios do XX). Blitstein também trabalha em outra área: a modernidade.
Assim,
antes que o copinho de café derrame por causa de uma turbulência no voo, o
estudioso responderá às perguntas da revista Ñ,
antecipando sua presença na Noite das Ideias.
·
Em que momento de sua formação acadêmica a China
medieval se transformou em um tema a ser explorado e que aspectos dele foram
determinantes em sua escolha?
O
meu interesse pela China chamada
“medieval” (aproximadamente dos séculos III a X) surgiu durante a
minha primeira estadia em Taipei,
quando ainda não havia terminado a licenciatura na Faculdade de Filosofia e Letras (UBA). Naquela época, eu tinha uma dupla inquietação: por um lado,
uma curiosidade antropológica por mundos desconhecidos, com linguagens e modos
de raciocínio próprios; por outro, a necessidade de compreender a pluralidade
de itinerários históricos que moldaram nosso mundo.
A China medieval me permitia
satisfazer as duas inquietações: era um contexto suficientemente alheio para
poder desnaturalizar meus próprios modos de pensar o mundo, e importante o
suficiente na história para compreender, através das suas peripécias, como um
“medieval” diferente poderia dar lugar a uma “modernidade” diferente.
As
instituições chinesas contemporâneas, da organização territorial e
administrativa até a relação entre as elites políticas e a população, não são
produto do acaso, mas de uma série de trajetórias. Muitas dessas trajetórias
remontam aos séculos XIX e XX; outras, ao mundo pós-conquistas mongóis, no
século XIV; e outras, finalmente, à Idade Média e à “alta” Idade Média
(220-589). Então, eu me interessei por esta última. Hoje, trabalho tanto sobre
esse período quanto sobre os séculos XIX e XX.
·
A economia chinesa é o principal motor do
capitalismo atual, senão ao menos um deles. É possível compreender esta
evolução e este presente, a partir do estudo da China Medieval?
Depende
de como você aborda o problema. Se alguém deseja entender o capitalismo chinês hoje, é claro
que o mais importante é entender a conjuntura após a Reforma e a Abertura (a partir de
1978). Para entender essa conjuntura, é preciso entender como uma série de
líderes com formação marxista pôde recorrer a mecanismos de mercado para
transformar a sociedade.
Contudo,
se alguém deseja entender os movimentos históricos de longo prazo, a “Idade Média chinesa” (uma categoria
historiográfica popularizada por uma corrente historiográfica japonesa) é
fundamental. Esse período medieval marcou a forma como a chamada China “imperial” e outras regiões do Leste Asiático organizaram suas
instituições políticas até o século XX. Em alguns casos, foram marcadas pelo
tipo de instituições que deixou, por exemplo, na forma de constituir uma
administração (modelo histórico das chamadas “meritocracias” atuais); em outros
casos, pela forma como as elites posteriores se posicionaram em relação às
forças herdadas do mundo medieval.
O
fato de o capitalismo ter
encontrado seu lugar em uma China politicamente unificada, e não em um território
dividido em múltiplas unidades políticas (como é hoje a Europa e como era
a China da “alta”
Idade Média), deve-se em grande parte aos esforços em preservar a herança
medieval da unificação política.
Em
relação ao capitalismo, os primeiros a
pensar o capitalismo contemporâneo na China foram as elites
imperiais do século XIX, e muitas de suas referências intelectuais, políticas e
jurídicas provinham da época medieval. A Idade Média havia deixado importantes
experiências históricas de regulamentações jurídicas, de políticas fiscais e de
gestão pública da terra.
Já
desde a antiguidade, as elites se perguntavam quanta supervisão política a
produção de riqueza deve ter, quanto as considerações éticas devem pesar na
produção e distribuição de riquezas, como a posse da terra e os frutos do
comércio devem ser tratados e como os preços podem ser regulados. Suas
respostas deram origem, em seu momento, a soluções eficazes para resolver os
problemas de conjuntura.
Mesmo
quando os atores reivindicam uma descontinuidade com esses modos de pensar, é
possível reconstituir como certas reflexões e disposições políticas e
econômicas passaram das elites imperiais às elites republicanas, e das elites
republicanas às da República Popular. Um fio condutor é que, para
grande parte delas, a economia não é uma esfera autônoma, mas simplesmente uma
dimensão de toda construção política.
·
Em alguns de seus artigos, propõe a pertinência de
estabelecer uma releitura do conceito de modernidade. Por que considera esta
releitura necessária e que elementos precisam ser revistos ou deixados de lado?
Ao
menos desde o século XIX, tenta-se definir a modernidade como se fosse algo fechado e definível ou, pior,
como se fosse uma coisa que se pode ou não possuir. Diante dessa ideia de modernidade, com meus colegas sociólogos
e historiadores, no seminário “Paradoxos
da modernidade”, identificamos duas atitudes a partir da terminologia
de Claude Grignon e Jean-Claude Passeron:
a atitude miserabilista, que a partir de uma definição predeterminada do
“pacote” moderno, classifica diferentes grupos e regiões com base no que lhes
falta para serem modernos; e a atitude populista, que rejeita o “pacote”
moderno como alheio a esta ou aquela “cultura”
ou “nação”.
As
duas atitudes pensam a modernidade como
uma coisa ou um tipo ideal definível e, de fato, apesar de sua oposição mútua,
ambas compartilham uma mesma linguagem. Contra esta ideia, propomos um conceito
metodológico: a modernidade-presente. Ou seja, propomos tomar a
humanidade tal e como é no presente, na unidade social e histórica que lhe
confere o fato de pisar em um mesmo solo e compartilhar uma mesma atmosfera
terrestre. A partir dessa constatação, propomos considerar que tudo o que
acontece no mundo é moderno, pois tudo o que existe caracteriza nosso presente
comum no globo.
Com
base neste conceito puramente metodológico, a questão, então, não é se
perguntar quem é moderno e quem não é, ou como o moderno substitui o não
moderno. A questão é explorar como o movimento do presente se inscreve em uma
pluralidade de trajetórias sociais que remontam a diferentes passados, e que
desembocam em futuros também diferentes.
·
É justamente nesse seminário que você analisa os
paradoxos que as mudanças que conduzem à modernidade tendem a gerar nas
práticas sociais. Quais são esses paradoxos e tensões?
Um
desses paradoxos aparece com as definições tipológicas da modernidade. Por um lado, a modernidade tem sido tratada como
se fosse um tipo ideal, uma substância, uma coisa que alguns possuem e outros
não. Por outro, é claro que a modernidade não
só tem pontos de partida diferentes (se alguém estuda a história dos concursos
e das “meritocracias” acabará chegando
à China medieval...), como ainda não sabemos
se podemos conferir a ela um final. E conforme o tempo segue o seu curso, o que
ontem poderia parecer um traço específico e duradouro da modernidade, hoje, dissipa-se e nos
obriga a repensar nossas definições.
Se
alguém tivesse perguntado a um veneziano ou genovês, da primeira modernidade, o que caracterizava
sua modernidade política, talvez teria dito a
“cidade-estado”; se tivesse perguntado a um membro das elites monárquicas
chinesas, em inícios do século XX, teria olhado para o Japão de Meiji e
dito: a monarquia constitucional. Contudo, a forma “Estado-nação” substituiu a
forma “cidade-estado” em quase todo o mundo, e
a China, diferente do
Japão, tornou-se república.
Se
hoje nos perguntassem pela modernidade política, será que deveríamos dizer
que é o Estado-nação? Não correríamos o mesmo risco
de um veneziano em relação à sua cidade-estado? O que garante que o
Estado-nação não seja um fenômeno efêmero, um parêntese em um processo mais
longo e complexo? É muito cedo para pensar em definições que encerrem nosso
presente. No momento, só nos cabe pensar neste presente aberto, com sua
pluralidade de trajetórias, e ser conscientes de que nosso mundo atual, longe
de ser a medida de todas as coisas, é apenas uma configuração efêmera de
movimentos mais amplos.
·
Na programação da “Noite das Ideias”, anuncia-se que
sua apresentação abordará a abundância entre o Leste Asiático e as Américas.
Qual é a origem do mandato que nos incita a crescer e produzir sem parar e de
que modo a China e a América respondem a esse imperativo?
Não
estou certo de que seja possível pensar em uma origem dessa ideia, mas, sim, em
quando se torna predominante no mundo. Esse momento-chave é o século XIX. É um
momento em que as elites europeias,
com suas preocupações provincianas, passam a dominar os desenvolvimentos
políticos, econômicos e intelectuais do resto do mundo. Não se trata apenas
da colonização, sem dúvida um
fenômeno central e já velho de vários séculos, mas do aprofundamento das
interconexões sociais, políticas e intelectuais entre regiões muito distantes.
As elites liberais europeias e americanas pensam o mundo com uma espécie
de otimismo civilizatório, convencidas de que o
progresso humano é retilíneo, os recursos ilimitados e a riqueza multiplicável
ao infinito.
Entre
as elites do Leste Asiático, o otimismo é mais moderado, sobretudo após as
Guerras do Ópio, em meados do século XIX, mas entra no mandato produtivista a
partir de outros fundamentos intelectuais, em particular do pensamento
legalista sobre a “riqueza e a força” e uma renovação do pensamento
confuciano (penso
em um personagem central como Wei Yuan). Em resumo: não houve na China “importação” do mandato
produtivista, mas, sim, convergência de ideais a partir de trajetórias
históricas diferentes.
·
Tomo, aqui, uma das questões propostas nessa
conversa com Jimena Caravaca: você considera que existem formas de pensar a
abundância fora das categorias da ciência econômica?
Sim.
Em primeiro lugar, porque tanto as elites
do Leste Asiático como as elites europeias, muito antes do surgimento da “economia” como ciência,
durante séculos, pensaram a produção e a gestão de riquezas, e isso não apenas
em contextos “simples” como os da produção agrícola, mas também em contextos
complexos de desenvolvimento mercantil.
Em
segundo lugar, como bem sabiam os próprios fundadores da ciência econômica, os intercâmbios
que chamamos de “econômicos” nada mais são do que intercâmbios sociais, que
supõem uma série de comportamentos orientados não apenas pela maximização do
lucro, mas também pelos marcos sociais, históricos e jurídicos da produção e do
intercâmbio.
·
Por
exemplo, não há nada de natural no fato de que o direito de propriedade seja
definido como usus, abusus, fructus, este
princípio retomado do direito romano, e que possa destruir o produto do
trabalho só porque tem um título legal que permite isto. Por acaso, não é
possível abolir o “abuso” da
propriedade ou limitar a livre disposição do “fruto” de um “capital”?
No Leste Asiático, como em vários lugares
da Europa do Antigo Regime, essas questões podiam ser
levantadas como um problema social e político, e podiam ser motivo para
repensar um melhor uso da natureza e dos frutos do trabalho humano. A partir do século XIX, certas
vertentes da ciência econômica (não
todas) reduzem suas análises ao funcionamento do mercado e
apagam de seus livros considerações mais gerais sobre a história, a sociedade e
a natureza. Esquecem-se das particularidades das coisas, do tipo de objeto que
vale a pena produzir, da limitação dos recursos, dos tempos das necessidades
sociais e vitais, da interconexão das atividades humanas, remuneradas ou não.
Suas análises costumam ficar reduzidas a pedidos de princípios: “se as coisas
fossem como supõem os axiomas de nossa disciplina...”. O problema é que as
coisas são o que são.
Fonte:
Página/12. Tradução do Cepat, para IHU
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