Arcturus:
o que se sabe sobre a nova variante do coronavírus
A Organização
Mundial da Saúde (OMS) elevou a sublinhagem Ômicron de rápido
crescimento XBB.1.16 como uma nova variante de interesse e diz que ela está
superando a XBB.1.5 anteriormente dominante em muitas regiões.
XBB.1.16 é um descendente da XBB recombinante, que é
um misto de duas sublinhagens BA.2. Nas redes sociais, a variante foi apelidada
de Arcturus, como a estrela mais brilhante do hemisfério celeste Norte.
Atualmente, é a variante dominante na Índia, onde está causando uma onda de
doenças leves. Mas foi detectada em 32 outros países, incluindo os Estados
Unidos.
Esta ramificação está intimamente relacionada com
XBB.1.5. Ela tem duas alterações genéticas diferentes, incluindo uma em sua
proteína Spike, disse François Balloux, diretor do UCL Genetics Institute, da
University College London, em um comunicado à imprensa.
Balloux afirmou que espera um bom desempenho em
países que não tiveram uma onda considerável de casos causados pela sublinhagem
XBB.1.5, como China e Índia. Ele diz que não espera que isso tenha muito
impacto nos números de casos no Reino Unido, por exemplo.
Estudos mostraram que se uma variante causará uma
onda de casos em um país depende muito da imunidade da população, bem como da
variante que foi a última causa dominante de infecções naquele país.
A OMS diz que, embora essa variante pareça estar se
espalhando mais rapidamente do que as variantes anteriores e escape da
imunidade – mesmo em pessoas que tiveram recentemente a cepa XBB.1.5 – ela não
parece estar causando doenças mais graves. Portanto, a OMS diz que o risco
dessa variante é baixo.
Na semana passada, nos Estados Unidos, a XBB.1.16
foi responsável por cerca de 10% dos casos de Covid-19 em todo o país, acima
dos 6% da semana anterior. A variante XBB.1.5 continua a ser a causa dominante
de novas infecções nos EUA, de acordo com dados dos Centros de Controle e
Prevenção de Doenças (CDC).
A OMS recomenda que os países compartilhem
informações sobre essa variante, bem como realizem testes para ver como a
imunidade de suas populações se defenderá contra ela. A instituição também pede
aos países que fiquem de olho em certos indicadores de gravidade da doença à
medida que essa sublinhagem se espalha.
Ø Até quando surgirão
novas variantes do coronavírus?
A emergência de uma nova
variante do coronavírus representa preocupação
diante da possibilidade de novas ondas da Covid-19, de impactos
para as vacinas e testes de diagnóstico disponíveis, e riscos de aumento da
gravidade da doença.
Desde 11 de janeiro de 2020, quando o código
genético do SARS-CoV-2 se tornou conhecido, linhagens e variantes do vírus passaram a ser
amplamente monitoradas e estudadas pela comunidade científica global.
Atualmente, a variante XBB.1.5, um recombinante das
sublinhagens BA.2.10.1 e BA.2.75, ambas da variante Ômicron, tem sido associada
ao aumento significativo de casos de Covid-19 nos Estados Unidos. Considerada
altamente transmissível, a linhagem foi detectada
pela primeira vez no Brasil recentemente.
Vírus são microrganismos com estruturas
relativamente simples, compostos basicamente de proteínas e de informações
genéticas. Essa característica faz com que eles tenham uma alta capacidade de
mutação.
Especialistas em virologia afirmam ser difícil
prever o surgimento de novas variantes. No entanto, o fenômeno ganha impulso
com o aumento da circulação viral. Embora algumas mutações não representem
qualquer tipo de alteração nas características virais, outras podem conferir
vantagens como o aumento da transmissibilidade.
A pesquisadora Paola Resende, do Laboratório de
Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto
Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), explica que nem todas as
variantes são preocupantes.
“Todas as variantes são monitoradas, mas temos
diferentes classificações de variantes, dependendo do impacto global ou
regional. As variantes de preocupação são aquelas que se expandiram
globalmente. As variantes Alfa, Beta, Delta e Gama circularam no passado. Atualmente, a Ômicron predomina em
todo o mundo. Nós já tivemos também variantes de interesse, como foi o caso da
Zeta no Brasil. Estas variantes foram monitoradas, mas tiveram impacto menor do
que as variantes de preocupação e já deixaram de circular”, afirma Paola, uma
das curadoras da plataforma Gisaid, o principal banco de dados genéticos do
coronavírus do mundo.
·
Monitoramento
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),
o vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, continua a evoluir. No início de
janeiro, a instituição divulgou um comunicado afirmando que, após reunião com a
China realizada em dezembro, não foi identificada nenhuma
nova variante do coronavírus.
A escalada no número de casos no país asiático
motivou o encontro entre especialistas da OMS, da Comissão Nacional de Saúde da
China e da Administração Nacional de Controle e Prevenção de Doenças. Após o
encontro, o Grupo Consultivo Técnico sobre Evolução do Vírus SARS-CoV-2
(TAG-VE, em inglês) reforçou a necessidade crítica de mais dados sobre os vírus
em circulação na China.
Nesta quarta-feira (11), o grupo que assessora a OMS
informou a avaliação
de risco sobre a subvariante XBB.1.5 é baixa. No
entanto, há possibilidade de um aumento na incidência de casos de Covid-19 a
nível global devido à circulação da subvariante.
Única brasileira no grupo, que reúne 25
especialistas, a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo da
Fiocruz, Marilda Siqueira, ressalta que ampliar a cobertura vacinal, usar máscaras e manter a vigilância são as principais recomendações nesse
momento.
“Temos dois cenários que requerem maior atenção e
que foram discutidos na primeira reunião do ano: a disseminação, nos Estados
Unidos e em outros países, da variante XBB.1.5, que é altamente transmissível,
e a escalada de casos na China, onde vemos possível subnotificação e baixo
número de sequenciamentos genéticos”, diz Marilda.
A sublinhagem está associada a um rápido crescimento
do número de casos. Nos Estados Unidos, em novembro, cerca 4% das linhagens
detectadas eram XBB.1.5. No final de dezembro, o índice já estava em 41%,
afirma Marilda.
“As autoridades americanas também relataram aumento
do número de internações. Em testes em laboratório, essa linhagem apresentou menor chance de ser neutralizada por
anticorpos do que outras subvariantes da Ômicron, como BA.2, BA.4 e BA.5, que
tiveram grande circulação. Porém, isso não significa que ela vai ser mais
grave. É uma situação que estamos acompanhando”, detalha.
Na semana passada, cientistas identificaram o
primeiro caso de Covid-19 no Brasil causado pela variante XBB.1.5. O caso
confirmado pela Rede Dasa é de uma paciente de 54 anos de Indaiatuba, no
interior de São Paulo.
A pesquisadora da Fiocruz afirma ser difícil prever
o impacto da circulação da linhagem no país, mas enfatiza a necessidade de
ampliação da cobertura
vacinal e da adoção de medidas de prevenção.
·
Linhagens e variantes
A pesquisadora Paola Resende explica que grande
parte das variantes que têm surgido recentemente são derivadas da Ômicron.
“Quando a Ômicron foi introduzida no Brasil, as
sublinhagens predominantes eram BA.1 e BA.2. Ao longo do tempo, elas foram
sendo substituídas por BA.4 e BA.5. Hoje, temos algumas linhagens que a
Organização Mundial da Saúde classifica como subvariantes da Ômicron sob
monitoramento, que devem ser acompanhadas com atenção porque podem ter maior
impacto na circulação da Covid-19. Nesse grupo, temos, por exemplo, a
subvariante XBB e suas linhagens, incluindo a XBB.1.5”, detalha.
Variantes e linhagens são classificações dos vírus.
Para padronizar a classificação do SARS-CoV-2, foi estabelecido um sistema
chamado de Pangolin. O sistema considera a presença de mutações pontuais ao
longo do genoma, que são compartilhadas por vários vírus e são consideradas como assinaturas genéticas.
“Já foram descritas mais de 2.500 linhagens do
SARS-CoV-2. Entretanto, nem todas essas linhagens tiveram sucesso evolutivo.
Nem todas conseguiram se dispersar por diferentes localidades ou diferentes
países, e muitas delas já deixaram de circular. Hoje, apenas algumas dessas
2.500 linhagens circulam, porque o padrão é uma linhagem substituir a outra ao
longo do tempo”, afirma Paola.
Entre essas linhagens, algumas delas se destacam
epidemiologicamente, pelo número de casos ou por terem mutações
importantes ao longo do genoma. Para essas linhagens que se destacam, a OMS
determinou um sistema de classificação de variantes, que são identificadas por
letras do alfabeto grego.
“Todos os casos sequenciados no Brasil são da
variante Ômicron. Entre as subvariantes, a maior parte das linhagens
sequenciadas em dezembro foi de BQ.1.1, com 58 genomas (50% do total), e BQ.1, com 24 genomas (21% do total).
Ambas são sublinhagens de BA.5 que estão sob monitoramento porque possuem
mutações adicionais no genoma. Também houve detecção de BA.5, com 11 genomas
(quase 10% do total)”, afirma Paola.
Desde o começo da pandemia, a Rede Genômica Fiocruz
sequenciou mais de 68 mil genomas do coronavírus, sendo cerca de 30 mil
decodificados pelo Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do
IOC/Fiocruz.
“De novembro para cá, detectamos 487 casos de BA.5 e
1.189 casos de sublinhagens de BA.5, incluindo BQ.1.1, BQ.1 e BF.7, que são subvariantes sob monitoramento.
Além disso, identificamos 74 casos de BA.4.6 e 18 casos de XBB. Ambas também
são subvariantes sob monitoramento”.
A notificação das novas linhagens detectadas no país
é feita diretamente ao Ministério da Saúde, às secretarias estaduais de Saúde e
Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Laces). Dentro do Ministério
da Saúde, dois órgãos são notificados: a Coordenação Geral
de Laboratórios (CGLab) e a Coordenação Geral da Gripe (CGGripe), que coordenam
o monitoramento dessas variantes no país.
“Essa notificação é feita imediatamente após o
sequenciamento genômico e análise dos dados. Além disso, nós depositamos as
sequências genéticas decodificadas no banco de dados da plataforma
internacional Gisaid, para compartilhamento de informações com a comunidade
científica”, explica.
Fonte: CNN Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário