sábado, 15 de abril de 2017

Quem vai juntar os cacos do Brasil? Por Tereza Cruvinel

Esta pergunta já foi título de outra coluna aqui no 247. Isso quando a marcha da Lava Jato, buscando a deslegitimação do sistema político (objetivo defendido pelo próprio Sergio Moro naquele seu tão citado artigo louvando a Mãos Limpas) indicava que o Brasil acabaria se espatifando. Na marcha insana contra o PT e contra Lula, em nome da moralidade os desastres foram se sucedendo até chegarmos ao momento atual: feriu-se a democracia com um golpe, desorganizou-se a economia com a posse de um presidente ilegítimo e a adoção de uma política econômica equivocada para o momento recessivo e, finalmente, o sistema político foi implodido. E agora, o que propõem os que conduziram a detonação? Quem apontará e viabilizará a saída política pela democracia, pelas eleições gerais ou pelo estabelecimento de um novo pacto político através de uma Constituinte?

A implosão foi obra de um moralismo hipócrita, conduzida por políticos ressentidos com a hegemonia petistas ao longo de 12 anos, pelo Ministério Público e setores do Judiciário imbuídos de um sentido de missão redentora e pela mídia monopólica, ditadora de regras. Uma das passagens que mais chamariam a atenção de um estrangeiro nos vídeos na delação da Odebrecht é aquele monólogo do patriarca da família, Emílio Odebrecht, onde confessa seu incômodo com a hipocrisia geral. “O que me entristece é que a imprensa toda sabia. Por que não fizeram isso há 10, 15 anos atrás? Ver vocês, jovens procuradores, querendo mudar as coisas, eu compreendo. Mas os mais velhos, os da minha geração, de todas as áreas, não aceita. Esta imprensa sabia de tudo e agora fica com esta demagogia”. Desconcertado, um procurador balbucia algumas palavras sobre “melhorar o nosso país”. Mas o que está melhorando com esta demolição?

Na implosão, a bomba de denúncias misturou crimes de corrupção efetiva com financiamento ilegal de campanhas. O caixa dois, “modelo que sempre reinou”, ainda segundo o velho Odebrecht, e o pagamento de propinas para a obtenção de vantagens nos negócios com o Estado. Não há mais como separar os feridos pela detonação. O que temos agora são dois poderes esfacelados. Um Congresso sem legitimidade para aprovar nada, e muito menos reformas que tiram direitos, e um Executivo que não tem a menor condição de governar. Além dos desastres que já produziu, seu chefe agora é apontado como chefe de um dos esquemas partidários de corrupção, tendo até negociado uma propina de US$ 40 milhões.

Resta o Judiciário, que finge ignorar as consequências da devastação para a qual contribui, por ação ou omissão. Não pode o Judiciário achar que seu único papel agora será o de julgar e punir os investigados que tenham seus crimes provados. Cabe-lhe também ajudar a encontrar a saída, apontando as brechas constitucionais que podem ser usadas para abrir a porta.


Quando foi que tudo começou? Não foi em 2014, com a Lava Jato. Não foi em 2015, com a reação dos derrotados à vitória de Dilma, impetrando a ação no TSE de cassação no TSE e insuflando o movimento pelo impeachment. Na verdade, tudo começou em 2003/2004, quando viu-se que o governo de Lula não seria o fracasso esperado. O preconceito, a implicância, o esforço de desmoralização, a busca desesperada por denúncias de corrupção, tudo isso começou lá atrás. Lula, por seu forte instinto de sobrevivência, sua habilidade política e popularidade, sobreviveu. Dilma, não. Os tempos também eram outros. Para remover o PT do governo, já havia disposição para espatifar o país e até para imolar aliados, se fosse preciso. Como acontece agora, com petistas, tucanos, peemedebistas e outros adversários jogados na mesma vala.

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