A
retomada do modelo neoliberal, fracassado nos anos 1990, derrotado
sucessivamente em 2002, 2006, 2010 e 2014, só pode se dar mediante um governo
não democrático. Golpista no acesso ao poder, porque não obteria maioria
democrática nos processos eleitorais com um projeto tão antipopular e
autoritário, porque tem que governar contra o interesse da grande maioria da
população.
Um
governo que se coloca como objetivo a aplicação de um duro ajuste fiscal, que
corta direitos adquiridos pela massa da população, que acentua ainda mais a
recessão econômica e, com ela, o desemprego e a perda de poder aquisitivo dos
salários, é incompatível com a democracia, porque governa contra a grande
maioria dos brasileiros. Temer disse que se conforma com ter o apoio de 5% da
população, porque sabe que governa para essa minoria. Mesmo contando com o
apoio da velha mídia, não conseguiria obter apoio popular para um programa tão
antipopular.
Daí
o endurecimento não apenas repressivo do governo, mas das ações concertadas com
a Polícia Federal, com promotores, com a Procuradoria-Geral da República, com o
Supremo Tribunal Federal, para blindar o sistema politico, para dificultar ao
máximo que as forças populares possam voltar a ganhar eleições presidenciais e
desfazer o que o governo golpista está fazendo.
O
pouco tempo em que está governando foi suficiente para demonstrar que o governo
golpista não tem nem discurso e nem medidas que possam conquistar um mínimo de
apoio na sociedade. Seu núcleo estratégico, a equipe econômica, só tem a
prometer um duro ajuste fiscal, com a esperança de recuperar o que considera o
equilíbrio das contas públicas em 2017 ou talvez só em 2018. Não tem o mínimo
que se pudesse chamar de projeto hegemônico, que conseguisse organizar um bloco
social coerente para governar e um bloco social de apoio.
Ao
contrário, o Temer foi indispensável para o golpe, pelo seu cargo de
vice-presidente, nada mais do que isso. Seu discurso inicial de
"reunificação" do país se choca com o seu isolamento absoluto. A
recuperação da economia não tem horizonte futuro algum. Até o equilíbrio
fiscal, que poderia ser o objetivo essencial, está afetado pelos gastos
desequilibrados do governo.
Não
lhe resta discurso algum, senão o da ordem e o da economia de recursos, que se
traduzem em repressão às manifestações e em medidas antipopulares. Temer se
resigna, dizendo que não lhe importaria ter 5% de apoio, se "colocar a
economia nos trilhos", mas em trilhos que atendem a esses 5% e não à
grande maioria.
Em
escala mundial o neoliberalismo produz governos impopulares, que têm pânico das
eleições e só se mantêm pela repressão. As políticas de austeridade na Europa
desgastam a todos os governos que as assumem e causam crise permanente de
legitimidade. Na América Latina, em países como o México, o Peru, o Chile, os
governos se desgastam logo que são eleitos e mantêm o modelo neoliberal, nunca
conseguem eleger seus sucessores. As pessoas se interessam cada vez menos pela
política, porque os partidos se sucedem, mas reproduzem o programa de governo.
O
capitalismo, na sua fase neoliberal, se choca assim, frontalmente, com a
democracia. Tem que apelar, cada vez mais, para a repressão, para blindar os
sistemas político-eleitorais, para tentar impedir que a esquerda eleja
presidentes que ponham em prática projetos alternativos aos seus.
No
Brasil, conforme a direita retoma o mesmo modelo neoliberal, a impopularidade
fará com que o governo se choque, cada dia mais, com a democracia, se torne
cada vez mais autoritário e impopular. Viveremos dois anos de grande disputa
política em torno da continuidade desse modelo ou de uma nova derrota sua, se
conseguimos recuperar para o povo o direito de decidir sobre os seus destinos.
E não cabe mesmo. Neoliberalismo é simplesmente a ditadura do capital
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