Sem
experiência eleitoral anterior, o candidato tucano à prefeitura de São Paulo
consegue em poucas semanas de exposição na mídia tornar-se amplamente conhecido
e vencer no primeiro turno as eleições municipais. Tal sucesso tem uma
explicação: o poder da televisão em nosso país. Daí a disputa acirrada de
partidos e candidatos pelos espaços nos horários reservados à propaganda
política. O vencedor em São Paulo teve 30% do tempo fixo total, o maior entre
todos os concorrentes. Além de contar com experiência anterior diante das
câmeras e de uma certa visibilidade por apresentar programas de entrevistas e
entretenimento.
A
condução da política moderna está nas mãos do Príncipe Eletrônico, a televisão,
na feliz definição do professor Octavio Ianni. É ela que conduz a ação política
nos nossos dias, como antes o fizeram o príncipe de Nicolau Maquiavel ou o
príncipe moderno, na forma de partido político, como concebido por Antonio
Gramsci. O crescimento do acesso à internet e às redes sociais por meio dos
mais diferentes dispositivos, dos computadores de mesa aos telefones celulares,
ainda não é suficiente para abalar o poder da televisão. Ela segue na frente
fazendo a cabeça das pessoas, como mostram as pesquisas sobre consumo de mídia
e as evidências de sua importância nas campanhas eleitorais. Não cabe aqui o
argumento dos que – principalmente na academia – acreditam na possibilidade do
livre arbítrio do telespectador que seria, segundo eles, capaz de exercer um
olhar crítico sobre as mensagens recebidas e refutá-las.
Isso
pode até acontecer, mas em proporções residuais, se levarmos em conta o total
da população. O que se vê no Brasil é um verdadeiro massacre eletrônico, com as
emissoras de televisão e de rádio alinhadas na defesa de um único conjunto de
ideias. A possibilidade do contraditório inexiste.
A
exposição no horário eleitoral obrigatório combina-se com a criminalização
cotidiana da política realizada especialmente nos noticiários de maior
audiência. A mídia brasileira, incluindo aí além da TV as emissoras de rádio,
jornais e revistas, conseguiu impregnar na sociedade a ideia de que política é
algo repulsivo que precisa ser execrado.
Claro
que muitos políticos dão motivos para isso, mas não são todos – e nem a
atividade política é nefasta em si. Ao contrário, trata-se de elemento vital
para a vida em sociedade. Aos que diziam não gostar de política, Platão na
República lembrava que não existia nada de errado com essas pessoas, mas elas
seriam simplesmente “governadas por aqueles que gostam”. Cabe lembrar que quase
2 milhões de eleitores paulistanos se abstiveram de votar nas eleições
municipais. Exatos 21,84% dos que tinham direito ao voto deixaram de ir às
urnas. Sem falar nos que votaram nulo ou em branco, 11,35% e 5,29%,
respectivamente. Ao fazer com que as pessoas rejeitem a política, a televisão
entrega essa atividade para aqueles que gostam e, em grande maioria, a usam em
proveito próprio, muito distante dos interesses dos que os elegeram.
O
candidato que venceu as eleições paulistanas afinou o seu discurso com o das emissoras
de TV, apresentando-se ao público como um não-político, um empresário incapaz
de participar dessa atividade tão malvista. Cansou de repetir durante a
campanha o bordão “não sou político, sou empresário”, como se isso fosse uma
grande virtude. Dessa forma, fechou-se o cerco.
A
TV – e a mídia em geral – criminalizando a política e, ao mesmo tempo, um
partido oferecendo ao eleitor um candidato que diz não ser político, que é
imune aos vícios da política. Tabelinha perfeita realizada diante das urnas. Não
há livre arbítrio que resista a isso, como provam os resultados eleitorais
paulistanos. O candidato explorou com sucesso essa combinação de fatores. Sua
vitória é a derrota da política como criação humana, indispensável para a vida
em sociedade.
Infelizmente é uma verdade, principalmente na formação de opinião que apenas defendam seus interesses
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