segunda-feira, 21 de abril de 2025

Secretário de Segurança de Ribeirão Pires (SP) é condenado por furtar carne em açougue. Prefeito o absolve. Entenda

O atual secretário de Segurança Urbana de Ribeirão Pires, Sandro Torres Amante, foi condenado a 2 anos e 11 meses de prisão por furto qualificado. A decisão foi tomada em segunda instância pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), e o caso envolve crimes cometidos em 2018, quando ele era subcomandante da Guarda Civil Municipal (GCM) da cidade na Grande São Paulo.

O secretário e outras quatro pessoas também são acusados pelo Ministério Público de integrar uma milícia particular ao menos entre os anos de 2019 e 2023. Os agentes teriam se estruturado para cometer crimes como furtos e extorsões no município.

Segundo o MP, o grupo reúne todas as características do crime, como número de integrantes, organização, divisão de tarefas, uso de armamento e até conexões com empresas privadas de segurança.

📍 O que aconteceu?

•        Em 18 de junho de 2018, dois açougues localizados no centro de Ribeirão Pires foram furtados durante a madrugada.

•        Os furtos ocorreram com poucos minutos de diferença e envolveram o roubo de quase 60 kg de carne e R$ 28 mil em dinheiro;

•        Além de cheques, câmeras de vigilância, roteadores e um cofre

👥 Quem são os envolvidos?

•        Sandro Torres Amante — atual secretário e, na época, subcomandante da GCM

•        Gutembergue Martins Silva — inspetor-chefe da GCM à época

•        Marcelo Cruz Dallavali — ajudante geral

Todos eles foram condenados por furto qualificado.

🔎 Como o crime foi planejado?

•        Segundo o Ministério Público, os furtos não foram acidentais ou de ocasião, mas planejados. Entre as evidências:

•        Câmeras da prefeitura foram propositalmente desviadas do local dos crimes por Gutembergue.

•        Foi feita uma falsa denúncia anônima para tirar efetivos da GCM e da PM do Centro da cidade.

•        Testemunhas protegidas relataram o envolvimento direto dos acusados e entregaram imagens de vídeo.

Depois, câmeras flagraram os acusados dividindo as mercadorias furtadas e se deslocando em três veículos:

1.       Peugeot vermelho (Gutembergue)

2.       Fiat 500 branco (Marcelo)

3.       Hyundai i30 preto (Sandro)

🧾 O que diz a Justiça?

•        Em 1ª instância, apenas Gutembergue foi condenado.

•        O Ministério Público recorreu, e o TJ-SP condenou também Sandro e Marcelo em janeiro de 2025.

•        O TJ considerou comprovadas a materialidade e autoria dos crimes com base em vídeos, boletins de ocorrência e depoimentos.

🛑 Indícios de milícia e extorsão

O Ministério Público investiga uma possível formação de milícia privada dentro da GCM, entre 2019 e 2023. O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) aponta que:

•        Guardas civis estariam oferecendo segurança privada para comerciantes em troca de dinheiro.

•        A tática seria “criar dificuldades para vender facilidades” — ou seja, permitir crimes para depois vender proteção.

•        Testemunhas relataram até envolvimento com tráfico de drogas, propina e extorsão.

🏍️ Moto apreendida em outra cidade

•        Um vídeo foi publicado nas redes sociais do secretário Sandro Torres Amante.

•        No vídeo, é mostrada a apreensão de uma moto que havia sido roubada em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo.

•        Sandro afirma que recuperou a moto na Zona Leste de São Paulo.

•        No entanto, o boletim de ocorrência registra que o veículo foi recuperado em Mauá, cidade vizinha.

•        A recuperação da moto ocorreu sem o conhecimento da guarda municipal de Mauá.

🚨 Nomeado mesmo condenado

•        Em dezembro de 2023, mesmo respondendo ao processo, Sandro foi nomeado secretário da Segurança pelo prefeito Gustavo Volpi (PL).

•        A Prefeitura alegou não ter sido notificada da condenação em segunda instância.

📢 O que dizem os envolvidos?

•        Sandro nega envolvimento e afirma que foi absolvido em 1ª instância. A defesa dele e dos outros acusados acionaram o Superior Tribunal de Justiça para reverter a decisão.

•        A Prefeitura diz que aguarda manifestação oficial da Justiça para tomar providências.

•        O prefeito disse, em nota publicada em sua rede social, que acredita na inocência do secretário e não pensa em tirá-lo do cargo.

<><> Prefeito garante que secretário é inocente e que irá mantê-lo no cargo

O prefeito de Ribeirão Pires, Guto Volpi (PL), afirmou nesta quinta-feira (17) que pretende manter Sandro Torres Amante no cargo de secretário da Segurança Pública do município da Grande São Paulo.

Conforme revelado pelo g1 e pela TV Globo, Sandro foi condenado a 2 anos e 11 meses de prisão por furtos cometidos em açougues da cidade em 2018. Uma câmera gravou o secretário guardando o material furtado em um carro. Ele nega as acusações e diz que foram "crimes inventados".

Em nota publicada em seu perfil no Instagram, Guto afirmou que acredita na inocência de seu secretário e enalteceu o servidor: "Destaco aqui a trajetória do Sandro, guarda municipal com 30 anos de carreira na Prefeitura e contribuições à cidade".

Além de Sandro, o guarda civil Gutembergue Martins Silva recebeu a mesma pena. Ele foi afastado de suas atividades, mas segue recebendo salário.

O Tribunal de Justiça também decretou a perda dos cargos públicos dos agentes. O prefeito disse que "toda e qualquer decisão da Justiça será cumprida" pelo governo.

Sandro Torres foi nomeado por Guto Volpi em dezembro de 2023, quando já figurava como réu pelo caso dos furtos.

O procurador Nadir Campos Júnior, que recorreu pela condenação do secretário, afirmou que é grave o fato de uma pessoa condenada por furto comandar a segurança da cidade.

"Não é possível que alguém acusado de colocar em risco a segurança pública seja, ao mesmo tempo, o secretário municipal, o prestador do serviço de segurança pública", lamentou Nadir.

A decisão do Tribunal de Justiça aponta que, quando não houver mais possibilidade de recurso, os três condenados devem iniciar o cumprimento da pena, e que Sandro e Gutembergue devem perder seus cargos públicos.

Nota do prefeito de Ribeirão Pires — Foto: Reprodução

•        Prefeitura familiar

Guto Volpi é prefeito da cidade desde 2022, quando "herdou" a prefeitura do pai – Clóvis Volpi – que foi cassado pela Justiça Eleitoral. À época, Guto era presidente da Câmara Municipal de Ribeirão Pires e assumiu a cadeira de prefeito até que uma nova eleição fosse convocada, uma vez que o vice do pai também foi cassado.

O prefeito do PL disputou o pleito em dezembro de 2022, venceu e foi reeleito em outubro de 2024.

Neste novo mandato, Guto Volpi nomeou o pai como secretário de Saúde e o irmão, Rafael Volpi, como secretário da Educação.

O pai, Clóvis Volpi, foi prefeito da cidade em outros dois mandatos, governando a cidade ininterruptamente entre 2005 e 2012.

O prefeito de Ribeirão Pires, Guto Volpi (PL), ao lado do pai, Clóvis Volpi, e da mãe, Lígia Volpi, no 1° turno da eleição de 2024. — Foto: Divulgação

<><> MP vê milícia na GCM da cidade

Guardas civis municipais de Ribeirão Pires, cidade da Grande São Paulo, são acusados pelo Ministério Público de integrar uma milícia particular ao menos entre os anos de 2019 e 2023. Os agentes teriam se estruturado para cometer crimes como furtos e extorsões no município.

Segundo o MP, o grupo reúne todas as características do crime, como número de integrantes, organização, divisão de tarefas, uso de armamento e até conexões com empresas privadas de segurança.

A denúncia indica ao menos cinco GCMs como membros dessa milícia, sendo que um deles seria Sandro Torres Amante. Outro integrante do grupo seria Gutembergue Martins.

Ambos foram condenados por furtar R$ 28 mil e 57 kg de carne em dois açougues do município.

O documento aponta que os guardas denunciados utilizavam o conhecimento e a estrutura da Guarda Civil Municipal para encobrir e facilitar crimes.

Em algumas das ações, eles contaram com o apoio de civis e até usaram câmeras de vigilância da prefeitura para evitar que fossem flagrados.

Em depoimentos ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), testemunhas protegidas relataram que os agentes atuavam junto de empresas de segurança legalizadas:

"Os serviços de segurança oferecidos aos clientes parecem ter como função principal a obtenção de pagamentos para que os estabelecimentos comerciais não sejam vítimas da própria criminalidade do grupo, como ocorreu nos dois furtos ora denunciados", aponta trecho da denúncia.

O MP também aponta que denunciantes apresentaram elementos de prova que ligam o secretário Sandro Torres "a outros delitos, como corrupção passiva decorrente de recebimento de propina de traficantes".

Embora a Justiça não tenha aceitado a denúncia por milícia, as investigações relativas a esses e outros crimes continuam.

"O Ministério Público continua investigando pessoas que formaram a verdadeira milícia particular dentro da GCM. Isso fez parte da investigação do Gaeco, que apontou que o trabalho de segurança privada para o município era desvirtuado da função de segurança pública para que os membros da própria guarnição pudessem desviar o foco das câmeras para que crimes de furto pudessem ser praticados na comarca de Ribeirão Pires", explicou o procurador Nadir Campos.

•        Medo de represálias

O g1 e a TV Globo ouviram duas pessoas que conhecem o funcionamento da guarda e decidiram denunciar a forma como a corporação vem sendo conduzida e liderada. Por medo de represálias, elas preferiram não se identificar.

De acordo com elas, parte da corporação é corrompida e age apenas por interesse próprio, deixando a segurança da cidade em segundo plano.

"Eles criam a dificuldade para vender a facilidade. De que forma? Seu comércio, sua residência é furtado e você faz o boletim de ocorrência. Sabendo disso, ele [Sandro], até porque participa dos crimes, vai até esse local e oferece serviços [de segurança privada]. Você está fragilizado e acaba aceitando", relatou uma das pessoas.

Para o procurador Nadir de Campos Júnior, essa é, de fato, uma das estratégias do grupo:

"Me parece bem claro isso. A tática era criar dificuldades para vender facilidades, ou seja, a população, atemorizada com esses crimes praticados [...], precisa da prestação do serviço de segurança, e me parece que aumentava-se, inclusive, o valor para a prestação desses serviços".

"Está muito caracterizado que a empresa Ecam, e algumas outras pelas quais já haviam passado esses guardas civis municipais, todos eles encontraram uma situação de divisão da herança correspondente aos crimes por eles praticados", pontuou o procurador.

Em conversa com a reportagem, umas das denunciantes relatou que já presenciou, inclusive, uma viatura da ROMU — agrupamento especial da GCM na cidade — "pegando dinheiro do tráfico de droga, soltando traficante, extorquindo comerciante para que pague pelo serviço de monitoramento da empresa e negociando valores de propina".

A denunciante também contou que guardas são colocados para trabalhar sozinhos em postos onde há perigo iminente.

"Os estabelecimentos comerciais do Centro de Ribeirão Pires foram todos colocados numa situação de insegurança, porque o próprio prestador de serviço de segurança anunciava uma ocorrência num bairro distante, enquanto que uma outra parte desse grupo criminoso entrava nos estabelecimentos e destinavam câmaras para outro setor para poder facilitar a prática de crime", destacou o procurador.

"Quando nós temos agentes do próprio Estado violando essas regras e quebrando compromissos feitos com um servidor público, nós colocamos a própria segurança pública em cheque, é por isso que esses crimes precisam ser devidamente recriminados nos termos e nos vigores da lei", afirmou Nadir.

<><> O que diz a Prefeitura

"Em atendimento à solicitação da TV Globo, a Prefeitura de Ribeirão Pires informa que não foi notificada pela Justiça sobre eventual condenação, em segunda instância, em processo movido contra Sandro Torres, Secretário de Segurança do município.

Sandro Torres é Guarda Civil Municipal de carreira na Prefeitura de Ribeirão Pires há 30 anos. Atuou como inspetor de policiamento padrão, chefiou a Romu (equipe ostensiva) e foi comandante da corporação.

Em relação ao GCM Gutembergue Martins Silva, a Prefeitura esclarece que houve ordem judicial para afastamento das funções na Guarda Civil Municipal, sem prejuízo de vencimentos e sem, até o presente momento, determinação contrária.

A Prefeitura de Ribeirão Pires permanece à disposição para prestar informações e eventuais esclarecimentos."

 

Fonte: g1

 

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