Julimar
Roberto: Não deixem o golpe virar lei
Não
basta tentar derrubar a democracia — agora querem legalizar esse crime. O
Projeto de Lei 2.858 – PL da Impunidade -, apresentado pelo deputado bolsonarista
Major Vitor Hugo (PL-GO), e seu substitutivo proposto por Pedro Valadares
(UB-SE), é um verdadeiro túmulo caiado legislativo. Por fora, falam em
pacificação. Por dentro, o que escondem é a tentativa de limpar a ficha suja de
Bolsonaro e dar carta branca aos golpistas.
A
narrativa é ensaiada. Dizem que é uma “anistia ampla”, “pelo bem do país”. Mas
a verdade é que essa proposta nunca foi para seu João ou Dona Maria que, num
belo dia, acordaram com uma vontade irresistível de vandalizar os Três Poderes.
Não é por eles. É por quem financiou, convocou, discursou e planejou. O alvo é
claro, querem devolver os direitos políticos a Jair Bolsonaro, anular
condenações, blindar os financiadores do golpe e abrir caminho para que novos
ataques à democracia aconteçam sem consequência alguma.
O que o
projeto faz é justamente suspender investigações, apagar penas, proibir novos
processos e, como se não bastasse, transformar em criminoso quem ousar seguir
com as apurações. Polícia, Ministério Público e Judiciário ficariam de mãos
atadas, ameaçados com acusações de “abuso de autoridade”. Seria cômico, se não
fosse trágico, mas a intenção do PL seria punir quem quer justiça e absolver
quem tramou contra a democracia e a liberdade.
O
substitutivo ainda muda trechos do Código Penal para dificultar punições
futuras. Para ser considerado crime de golpe, será preciso provar violência
física contra pessoas, individualmente. Ou seja, invadir o Congresso, depredar
prédios públicos, fazer barricadas e ameaçar autoridades pode. Até umas
pancadinhas nos policiais, na imprensa, nos opositores, pode dar, desde que
ninguém sangre. Se não houver sangue, não tem crime. E mais, a proposta ainda
extingue o crime praticado por multidões — justamente o que permitiu o
julgamento dos atos de 8 de janeiro.
O PL da
Impunidade não passa de um embuste traiçoeiro que querem nos enfiar goela
abaixo. Mas a verdade é que a medida nada mais é que uma armadilha para
institucionalizar o golpismo e garantir impunidade a quem atentou contra a
Constituição. O problema é que onde passa boi, passa boiada — e é essa porteira
que eles querem escancarar.
Por
isso, precisamos manter a firmeza do discurso. Movimentos sindicais e sociais,
entidades democráticas e todos os que acreditam no valor da justiça precisam
repudiar qualquer forma de anistia.
Se o
Congresso aprovar o PL 2.858, o recado dado será de que democracia pode ser
rasgada impunemente, desde que se tenha as costas quentes. Mas ainda dá tempo
de barrar esse remédio envenenado. E como em toda luta popular, é o grito das
ruas que decidirá o rumo da história.
Golpista
não merece anistia, merece julgamento.
Sem
anistia para golpistas!
• Depois da barbárie, andar de cima quer a
volta do jeitinho. Por Paulo Moreira Leite
Ninguém
precisa ficar surpreso com a desfaçatez de ricos e poderosos que planejaram a
mais violenta a tentativa de golpe de Estado de que se tem notícia em nossa
história recente.
Responsáveis
por um plano selvagem de assalto à democracia, alimentado com vários elementos
de crueldade e sadismo num grau jamais visto em nossa história política, após a
derrota os golpistas de 8 de janeiro tentam negociar um perdão inaceitável, sem
punição nem prestação de contas, num país que luta 24 horas por dia para
reconstruir uma democracia ainda sob ameaça permanente.
Ao
contrário do que ocorreu nos anos finais da ditadura cívico-militar de 1964,
quando a anistia a presos políticos tornou-se um elemento capaz de fortalecer
uma democracia recém-recuperada, o perdão sem lastro articulado pelos golpistas
de 2025 nada mais é do que uma volta atrás na roda da história.
O que
eles pretendem é abrir caminho para instalar um regime de insegurança política
e violência permanente, uma ditadura sob medida para impedir o povo de exercer
o direito de escolher governantes capazes de reorganizar o país conforme
vontade da maioria de brasileiros e brasileiras.
Alguma
dúvida?
• PL da Anistia só tem impulso para
beneficiar os mentores’, diz Gilmar Mendes
O
ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou em
entrevista ao O Globo que vê com preocupação a articulação política que busca
anistiar os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Segundo ele,
a proposta impulsionada por setores ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro
mira, principalmente, livrar de responsabilização os mentores da tentativa de
ruptura institucional.
“A
minha experiência política, nesses anos todos, revela que esse projeto só tem
impulso com o objetivo de beneficiar os mentores”, declarou o magistrado.
Na
avaliação de Gilmar, os episódios de janeiro do ano passado não podem ser
minimizados. Ele afirma que o país esteve diante de uma trama de extrema
gravidade e que muitos condenados já foram, ou serão, beneficiados pela
legislação penal vigente, como progressão de regime e prisão domiciliar.
“As
pessoas estão minimizando aquilo que ocorreu. Se viu nessa investigação que
havia ameaças muito sérias, inclusive de matar pessoas. Então, não estamos
falando de um passeio no parque. É algo grave. Nossa missão é esclarecer que
não se trata de algo banal”, explicou.
O
ministro refutou críticas de que o STF tenha julgado os primeiros casos do 8 de
janeiro sob forte emoção, como sugeriu o colega Luiz Fux. “Não concordo. Não
acho que nós sejamos pessoas submetidas a fortes emoções. Normalmente, não é o
nosso caso. [...] Dentro de um quadro extremamente preocupante, com omissão da
polícia, é todo um conluio que justificava os temores que depois foram
infelizmente confirmados, que se tratava de uma trama”, disse.
Gilmar
também defendeu que o STF não deverá rever as condenações já aplicadas, embora
haja espaço para análises individualizadas conforme previsto na legislação. “Eu
não espero que isso se dê. O que poderá haver é a análise de situações
individualizadas que justifiquem ou progressão, que já está prevista na
legislação, ou a aplicação de prisão domiciliar em casos previstos na lei”,
afirmou.
Sobre
os efeitos políticos da proposta de anistia, o ministro afirmou que, mesmo que
o discurso público da medida se concentre em casos de menor gravidade, o real
objetivo é proteger os responsáveis intelectuais pelo movimento golpista.
“Ainda
que o melhor invólucro seja a Débora do Batom, para supostas justificativas de
exageros do Supremo, o projeto tem outra mira. [...] Não podemos minimizar se
pensamos em matar o presidente da República (Lula), o ministro do Supremo
(Alexandre de Moraes), o vice-presidente da República (Geraldo Alckmin),
eliminar a cúpula do Poder Executivo. Não sei se podemos imaginar fatos mais
graves do que esses”, lamentou.
Gilmar
Mendes reiterou a importância de respeitar o resultado das urnas e advertiu que
a tentativa de subverter a alternância de poder ataca diretamente os
fundamentos da democracia. “Na medida em que alguém perde a eleição e não
aceita a alternância de poder, encerrou-se o ciclo democrático tal como nós o
conhecemos. Adversários não são inimigos. Essa é a lógica”.
Ao
comentar os diálogos com o Congresso, o decano revelou que mantém conversas
constantes com o presidente da Câmara, Hugo Motta, e com o senador Davi
Alcolumbre. Ele acredita que há um ambiente institucional de diálogo entre os
Poderes, apesar da “muita espuma” em torno do tema. “Temos um ambiente
institucional muito tranquilo. Tem muita espuma, mas nós estamos num momento de
bom diálogo dos Poderes, do Supremo com o Congresso”.
Sobre a
possibilidade de julgamento ainda este ano do caso que envolve o ex-presidente
Jair Bolsonaro, Gilmar foi sucinto. “Sim, mas vamos aguardar”, disse.
Ao ser
questionado sobre a chance de reversão das penas de inelegibilidade impostas a
Bolsonaro pela Justiça Eleitoral, como mencionado pelo ministro Alexandre de
Moraes, Gilmar reconheceu o histórico de poucas revisões, mas preferiu cautela.
“Se olharmos os casos de discussão e decisões do TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), são raros os casos de reversão. Mas vamos aguardar.”
Na
entrevista, Gilmar também comentou sobre o conservadorismo crescente no
Congresso e a relação do Judiciário com os parlamentares, além de defender a
revisão do atual modelo de emendas e justificar a decisão de suspender
processos envolvendo trabalhadores contratados como pessoa jurídica. Em todas
essas frentes, o ministro reforçou a necessidade de diálogo institucional e
estabilidade jurídica como fundamentos da democracia.
• Wagner descarta qualquer negociação
sobre projeto de anistia dos atos golpistas de 8 de janeiro
Em
contundente entrevista publicada nesta segunda-feira (15) pelo jornal Valor
Econômico, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou ser
totalmente contrário ao projeto de anistia que visa beneficiar os envolvidos
nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O senador declarou que não há
espaço para acordos ou negociações em torno da proposta: “Comigo não tem
acordo, eu sou contra o projeto da anistia em qualquer hipótese”.
Para
Wagner, os atos representaram a maior afronta à democracia brasileira desde o
fim da ditadura militar, em 1985. “Depredaram três Casas aqui [na Praça dos
Três Poderes], símbolos da democracia. Então, estou pouco me lixando se
Bolsonaro vai ser ou não vai ser candidato em 2026”, disse. Ele rejeita a ideia
de que sua posição tenha motivação eleitoral, embora reconheça que uma eventual
candidatura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, serviria de
inspiração para os bolsonaristas. Segundo Wagner, se Jair Bolsonaro for
candidato, “será o mais fraco” entre os nomes da oposição.
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Pressão das redes e base parlamentar fragmentada
Ao
comentar a adesão de 146 deputados da base governista ao pedido de urgência
para a tramitação da proposta de anistia, Wagner culpou a influência das redes
sociais. Mostrando seu celular ao repórter, disse: “Isso tem a ver com isso
aqui, uma gente que é escrava da rede social, que ouviu ‘assine, assine,
assine’”.
O
senador também criticou o pragmatismo parlamentar em torno das emendas: “Os
deputados se movimentam em torno do governo ou das emendas? Esse que é o
problema. Alguns têm mais de R$ 80 milhões [em emendas parlamentares]”. Segundo
ele, há uma percepção generalizada entre os parlamentares de que esses recursos
representam “direitos adquiridos”.
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Contra comparações com a anistia de 1979
Wagner
rejeitou comparações entre a proposta atual e a Lei da Anistia de 1979:
“Vivíamos na ausência da democracia. Terminava uma página da história
brasileira. Agora o que foi que virou na página? A única coisa que virou é que
a gente conseguiu impedir um golpe, que tinha como proposta matar o presidente
da República, o presidente do TSE, o vice-presidente”. Para ele, se o Congresso
aprovar a anistia, “a classe política pirou”.
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Críticas à PEC da Segurança e avaliação do governo
Na
entrevista, o senador também falou sobre segurança pública e a chamada PEC da
Segurança. Ele defendeu o debate em torno do tema, mas rejeitou a retórica de
“bandido bom é bandido morto”: “Vou perguntar aos nossos queridos irmãos
religiosos se eles vão pregar ‘bandido bom é bandido morto’. Só isso. Precisa
saber o que a sociedade quer”.
Sobre a
baixa aprovação do governo Lula em pesquisas recentes, Wagner identificou o
preço dos alimentos como principal fator negativo. “Dói muito mais no povo a
carestia do que as pautas identitárias”, afirmou. Apesar disso, acredita que a
situação pode se reverter: “Faço a mesma leitura que fiz em 2005. Lula estava
morto politicamente e se reelegeu em 2006”.
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Projeções para 2026 e relação com aliados
Wagner
vê a eleição de 2026 como um desafio que exigirá articulação e aliança com
setores moderados do Congresso. Ele defende uma frente ampla e não descarta
disputas internas no PT, especialmente na Bahia, onde ele, o ministro Rui Costa
e o senador Angelo Coronel (PSD) poderão disputar duas vagas ao Senado.
Para
ele, Lula ainda é o nome mais forte para a eleição presidencial de 2026: “Ele
não é esquerda tradicional. Quando se diz que ele é um cristão justiceiro, esse
é o mote dele. Tem fé, tem uma referência da mãe fortíssima e empolga pela
justiça social, até porque ele foi sofredor da injustiça social na pobreza”.
Wagner
encerra afirmando que o presidente Lula sabe usar a política como principal
ferramenta de articulação. “Ele já tinha gratidão ao Davi [Alcolumbre]. O Hugo
[Motta] ele não conhecia. O Lula sabe que a grande ferramenta, a grande arma
dele, é o exercício da política”.
Fonte:
Brasil 247

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