terça-feira, 8 de abril de 2025

Entenda os principais episódios da última semana e seus efeitos pelo mundo, após tarifaço de Trump

A última semana foi bastante agitada para os mercados financeiros e o comércio global, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trumpdeclarar o "Dia da Libertação" americana na quarta-feira, 2 de abril.

O dia marcou o início de uma série de novas taxas de importação e o detalhamento das chamadas "tarifas recíprocas" — um conjunto de tarifas contra mais de 180 países que, segundo Trump, "libertariam" os EUA de produtos estrangeiros.

A decisão de Trump fez as bolsas de valores ao redor do mundo despencarem, devido ao receio de que sua agenda protecionista possa causar um aumento nos preços e nas taxas de juros nos EUA, afetando a economia global.

  • 🔍 A agenda protecionista de Trump visa favorecer e priorizar a economia doméstica dos EUA, limitando a concorrência estrangeira. Por isso, ele decidiu aumentar as taxas de importação de produtos estrangeiros, incentivando a indústria americana.

Diversos países reagiram ao anúncio de Trump, prometendo retaliações com novas tarifas e orientando suas empresas a suspenderem investimentos nos EUA. A situação causou pânico nos mercados, que esperam uma guerra comercial generalizada entre grandes economias.

<><> O tarifaço no ‘Dia da Libertação’

Na quarta-feira (2), Trump detalhou a aplicação das "tarifas recíprocas" — um conjunto de taxas para mais de 180 países, com taxas que variam de 10% a 50% e que passam a valer deste sábado (5) até o dia 9.

O republicano chamou a data de "Dia da Libertação" dos EUA, afirmando que seria "para sempre lembrada como o dia em que a indústria americana renasceu e o destino da América foi recuperado".

 Por que isso é importante? 

As tarifas recíprocas anunciadas por Trump se somam a uma série de outras taxas de importação já impostas pelos EUA e podem acabar alterando a dinâmica do comércio internacional.

Tarifas maiores sobre produtos que chegam aos EUA devem encarecer os próprios produtos e insumos para bens e serviços no país. Especialistas avaliam também que esse encarecimento deve pressionar a inflação e diminuir o consumo, o que pode provocar uma desaceleração ou até recessão da atividade econômica da maior economia do mundo

Além disso, as taxas forçam países que já têm algum relacionamento com os EUA a buscarem novos parceiros. Em comunicado, a Organização Mundial do Comércio (OMC) estimou que as tarifas de Trump devem reduzir os negócios globais em 1% em 2025.

<><> As reações pelo mundo

A decisão de Trump causou uma onda de reações pelo mundo, com diversos países rechaçando as novas tarifas e prometendo suas próprias contramedidas.

>>>> Veja algumas das reações:

  • Reino Unido: o secretário de comércio, Jonathan Reynolds afirmou que o país é um "aliado próximo" dos EUA e que focará seus esforços em fazer um acordo para mitigar os efeitos das novas tarifas.
  • França: o presidente francês, Emmanuel Macron, já havia afirmado que as tarifas "não eram coerentes" e que significariam "quebrar cadeias de valor, criar inflação e destruir empregos". Após o anúncio da tarifa, o presidente francês pediu que empresas europeias suspendam os investimentos planejados nos Estados Unidos.
  • União Europeia: a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, disse que via a política comercial de Trump como um passo na direção errada e que tinha um "plano forte" para retaliar Washington. "Não queremos necessariamente retaliar. Mas se for necessário, temos um plano forte para retaliar e o usaremos", afirmou,
  • China: o governo chinês afirmou que as tarifas prejudicariam o sistema de comércio global e na sexta-feira (4) já anunciou tarifas de 34% (a mesma taxa que Trump disse que cobraria) aos produtos importados dos Estados Unidos. A nova taxa passa a valer na próxima quinta-feira (10).

➡️ E o Brasil? 

Trump afirmou que os EUA passaram a cobrar 10% de todas as importações do Brasil, como parte do decreto que estabelece as tarifas recíprocas. A decisão repercutiu no Congresso Nacional: parlamentares criticaram a medida, alertaram para impactos ao setor produtivo e defenderam reação coordenada do governo brasileiro.

Na véspera do anúncio, o Senado Federal aprovou um projeto que cria a chamada Lei da Reciprocidade Econômica. A proposta permite que governo brasileiro retalie países que imponham barreiras comerciais aos seus produtos, inclusive por meio da suspensão de concessões comerciais e de direitos de propriedade intelectual.

O texto teve apoio amplo no Congresso e no governo federal, e é uma resposta direta às declarações de Trump, que citou explicitamente o Brasil como exemplo de país que será alvo de novas tarifas.

 Por que isso é importante? 

O aumento da tensão é mais um passo na direção de uma possível guerra comercial. No caso do Brasil, isso pode resultar em um impacto significativo na balança comercial — chegando ao fim à cotação do dólar, e à inflação.

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Como o g1 já mostrou, essa troca de tarifas pode impactar diretamente setores específicos — como o etanol e outros produtos agrícolas —, reduzir a compra e venda de produtos entre os países, e forçar o Brasil a estreitar relações com outros parceiros comerciais.

<><> Os impactos nos mercados financeiros

A imposição de tarifas por parte de Trump também causou reações nos mercados financeiros globais, com uma queda generalizada de bolsas de valores pelo mundo e avanços expressivos do dólar.

A imposição de tarifas por Trump também causou reações no mercado financeiro, com uma queda generalizada das bolsas de valores.

Na sexta-feira, os principais índices acionários da Ásia e da Europa encerraram em forte queda, em repercussão ao "tarifaço". As bolsas dos EUA derretem 10% na semana e perderam US$ 6 trilhões em valor de mercado em apenas dois dias.

Por aqui, o dólar subiu mais de 3% na sexta-feira e encerrou cotado a R$ 5,83, no maior valor em quase um mês. O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, fechou com queda de 2,96%, aos 127.256 pontos.

Por que isso aconteceu? 

O principal motivo dessa movimentação nos mercados é a cautela dos investidores quanto aos efeitos das novas tarifas de Trump na economia global.

Há temores de que as tarifas impostas pelos EUA aumentem os preços dos produtos e insumos que chegam ao país, o que pode elevar a inflação local para o consumidor. Com isso, a expectativa é de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) precise iniciar um novo ciclo de alta de juros.

A situação pode resultar em uma redução do consumo e uma desaceleração econômica, com o receio de que, em um cenário prolongado, haja um período de recessão econômica no país.

Além disso, há preocupações sobre o impacto desse ambiente de pressão inflacionária e juros elevados em outros países, potencialmente levando a uma desaceleração global.

No mercado financeiro, quanto maior a preocupação e a cautela dos investidores, maior a tendência de optar por ativos de menor risco — como o dólar, considerado uma das moedas mais seguras do mundo —, evitando países emergentes e investimentos em bolsas de valores.

¨      Bolsas da Ásia e da Europa despencaram nesta segunda após Wall Street derreter na sexta

As ações da Ásia e da Europa despencaram na abertura do mercado desta segunda-feira (7), no horário local - noite do domingo (6) em Brasília. O resultado vem após o derretimento de Wall Street na última sexta (4), causado pela reação chinesa ao tarifaço imposto por Donald Trump.

📉 Veja o desempenho das principais bolsas asiáticas:

  • O índice CSI300 (.CSI300), que reúne as principais ações de grandes empresas da China, caiu mais de 5%, com vendas em praticamente todos os setores. O yuan chinês (CNY=CFXS) recuou para seu menor nível desde janeiro, enquanto os títulos públicos se valorizaram fortemente.
  • O índice Nikkei 225 de Tóquio perdeu quase 8% logo após a abertura do mercado. Uma hora depois, caía 7,1%, a 31.375,71 pontos.
  • O Kospi da Coreia do Sul perdeu 5,5%, indo para 2.328,52.
  • O S&P/ASX 200 da Austrália despencou 6,3%, a 7.184,70 pontos.

O mercado futuro dos Estados Unidos também sinalizou fraqueza. O futuro do S&P 500 caiu 4,2%, enquanto o do Dow Jones Industrial Average perdeu 3,5%. O Nasdaq caiu 5,3%.

<><> Na Europa, as ações despencaram para o menor índice em 16 meses. O índice pan-europeu STOXX 600 caiu 5,8% às 04h22 (horário de Brasília), após registrar na sexta-feira a sua maior queda percentual diária desde a pandemia de Covid-19.

O índice de referência da Alemanha caiu 6,6%, sendo um dos mais afetados, com o Commerzbank e o Deutsche Bank perdendo 10,7% e 10%, respectivamente.

Os preços do petróleo também afundaram: o petróleo bruto de referência dos EUA caiu 4%, ou US$ 2,50, para US$ 59,49 por barril. O Brent, referência internacional, cedeu US$ 2,25, ficando em US$ 63,33 o barril.

<><> Movimento nas moedas

O dólar americano caiu para 145,98 ienes japoneses, ante 146,94. A moeda japonesa é frequentemente vista como um porto seguro em tempos de turbulência.

O euro subiu para US$ 1,0967, ante US$ 1,0962.

<><> Crise em Wall Street

Na sexta-feira (4), a pior crise de Wall Street desde a Covid entrou em uma nova fase. O S&P 500 despencou 6%, o Dow caiu 5,5% e o Nasdaq recuou 5,8%.

Em Wall Street, ações de empresas com forte presença na China registraram algumas das maiores quedas.

A DuPont caiu 12,7% depois que a China anunciou uma investigação antitruste contra a subsidiária DuPont China Group. É uma das várias medidas mirando empresas americanas em retaliação às tarifas dos EUA.

A GE Healthcare, que obteve 12% de sua receita no ano passado na região da China, caiu 16%.=

No mercado de títulos, os rendimentos dos Treasuries caíram, mas reduziram as perdas após as declarações cautelosas de Powell sobre a inflação. O rendimento do título do Tesouro de 10 anos caiu para 4,01%, ante 4,06% na tarde de quinta-feira e cerca de 4,80% no início do ano. Chegou a cair abaixo de 3,90% pela manhã.

As perdas vieram após a China reagir ao grande aumento de tarifas de Trump anunciado na semana anterior, elevando as apostas em uma guerra comercial que pode terminar em uma recessão global. Nem mesmo um relatório melhor do que o esperado sobre o mercado de trabalho dos EUA, normalmente o destaque econômico do mês, conseguiu frear a queda.

Até agora, houve poucos ou nenhum vencedor nos mercados financeiros com a guerra comercial. As ações de 486 das 500 empresas do S&P 500 caíram na sexta-feira. O S&P 500 está 17,4% abaixo do recorde registrado em fevereiro.

A resposta da China às tarifas dos EUA causou uma aceleração imediata das perdas nos mercados ao redor do mundo. O Ministério do Comércio de Pequim anunciou que responderia às tarifas de 34% impostas pelos EUA sobre importações da China com sua própria tarifa de 34% sobre todos os produtos dos EUA a partir de 10 de abril, entre outras medidas.

<><> Trump não está incomodado

Trump parecia despreocupado. De Mar-a-Lago, seu clube particular na Flórida, ele foi ao seu campo de golfe a poucos quilômetros de distância após escrever nas redes sociais: “Esse é um ótimo momento para ficar rico".

Mais cedo neste domingo (6), o presidente dos EUA postou na sua rede social Truth Social que as tarifas 'já estão trazendo dezenas de bilhões de dólares' para o país e que 'são uma coisa linda de se ver'. Segundo ele, as tarifas seriam a única maneira de curar os déficits financeiros com a China, a União Europeia e outros países.

"Temos enormes déficits financeiros com a China, a União Europeia e muitos outros. A única maneira de curar esse problema é com TARIFAS, que agora estão trazendo dezenas de bilhões de dólares para os EUA. Elas já estão em vigor e são uma coisa linda de se ver. O superávit com esses países cresceu durante a "presidência" do sonolento Joe Biden. Vamos reverter isso, e reverter RAPIDAMENTE. Algum dia as pessoas perceberão que as tarifas, para os Estados Unidos da América, são uma coisa muito linda!'", escreveu o, presidente.

¨      Trump chama tarifas de 'remédio' e diz que países terão que pagar 'muito dinheiro' para suspensão

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que os países terão que pagar "muito dinheiro" para que tarifas sejam suspensas. Ele também caracterizou os encargos como um "remédio".

Falando a repórteres a bordo do Air Force One no domingo (6), Trump indicou que não estava preocupado com as perdas que já apagaram trilhões de dólares em valor dos mercados acionários ao redor do mundo.

"Eu não quero que nada caia. Mas, às vezes, é preciso tomar um remédio para consertar algo", disse ele ao retornar de um fim de semana de golfe na Flórida.

Trump disse que conversou com líderes da Europa e da Ásia durante o fim de semana, que esperam convencê-lo a reduzir as tarifas, que podem chegar a até 50% e devem entrar em vigor nesta semana.

"Eles estão vindo para a mesa. Querem conversar, mas não há conversa a menos que nos paguem muito dinheiro anualmente", afirmou Trump.

O anúncio das tarifas por Trump na semana passada abalou economias ao redor do globo, provocando tarifas retaliatórias da China e alimentando temores de uma guerra comercial global e uma recessão.

As ações asiáticas registraram fortes perdas nas negociações iniciais, e os futuros das bolsas americanas abriram em queda acentuada, à medida que os investidores manifestaram preocupação de que as tarifas de Trump possam levar a preços mais altos, demanda mais fraca, menor confiança e, potencialmente, a uma recessão global.

Investidores e líderes políticos têm dificuldades para saber se as tarifas de Trump vieram para ficar, se são parte de um novo regime permanente ou apenas uma tática de negociação para obter concessões de outros países.

Nos programas de entrevistas de domingo pela manhã, os principais assessores econômicos de Trump tentaram apresentar as tarifas como uma reconfiguração inteligente da posição dos EUA na ordem comercial global.

O secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que mais de 50 países iniciaram negociações com os EUA desde o anúncio da última quarta-feira. O secretário de Comércio, Howard Lutnick, disse no programa Face the Nation, da CBS News, que as tarifas permanecerão em vigor "por dias e semanas".

O Japão, um dos aliados mais próximos de Washington na Ásia, é um dos países que esperam conseguir algum acordo, mas seu líder, Shigeru Ishiba, disse na segunda-feira que os resultados "não virão da noite para o dia".

Os investidores, no entanto, não estão esperando.

Enquanto Ishiba falava no parlamento, o índice Nikkei de Tóquio (.N225) despencava para o nível mais baixo em um ano e meio, liderado pelas ações dos bancos do país — alguns dos maiores credores em ativos do mundo — que já perderam quase um quarto de seu valor de mercado nos últimos três dias de negociação.

A liquidação ampla do mercado vista nesta segunda-feira ocorre à medida que os investidores apostam que o crescente risco de recessão pode levar o Federal Reserve a cortar as taxas de juros já em maio.

O assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, tentou acalmar os temores de que as tarifas fossem parte de uma estratégia para pressionar o Fed a reduzir as taxas de juros, dizendo que não haverá "coerção política" sobre o banco central.

Economistas do JPMorgan agora estimam que as tarifas resultarão em uma queda de 0,3% no PIB anual dos EUA, em comparação com uma estimativa anterior de crescimento de 1,3%, e que a taxa de desemprego subirá de 4,2% para 5,3%.

O bilionário gestor de fundos Bill Ackman, que apoiou a candidatura de Trump à presidência, disse que Trump está perdendo a confiança dos líderes empresariais e alertou para um "inverno nuclear econômico" a menos que ele dê uma pausa.

Compartilhar vídeo

<><> Negociações sobre tarifas

Agentes alfandegários dos EUA começaram a cobrar a tarifa unilateral de 10% de Trump sobre todas as importações de muitos países no sábado. Tarifas "recíprocas" mais altas, variando de 11% a 50%, para países específicos, devem entrar em vigor na quarta-feira, às 12h01 (horário de Nova York) / 4h01 GMT.

Alguns governos já sinalizaram disposição para negociar com os EUA e evitar os encargos.

O presidente de Taiwan, Lai Ching-te, ofereceu no domingo tarifas zero como base para negociações com os EUA, comprometendo-se a remover barreiras comerciais e dizendo que as empresas taiwanesas aumentarão seus investimentos nos Estados Unidos.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse que buscará isenção de uma tarifa de 17% sobre os produtos do país durante uma reunião planejada com Trump nesta segunda-feira.

Um funcionário do governo indiano disse à Reuters que o país não pretende retaliar contra uma tarifa de 26% e que as conversas com os EUA sobre um possível acordo já estão em andamento.

Na Itália, a primeira-ministra Giorgia Meloni — aliada de Trump — prometeu no domingo proteger as empresas que sofrerem com os danos causados por uma tarifa planejada de 20% sobre produtos da União Europeia.

Produtores de vinho italianos e importadores americanos presentes em uma feira de vinhos em Verona no domingo disseram que os negócios já desaceleraram e temem danos mais duradouros.

O líder vietnamita To Lam concordou, em uma ligação telefônica com Trump na sexta-feira, em discutir um acordo para remover as tarifas, após o centro industrial do Sudeste Asiático ter sido atingido com algumas das taxas mais altas do mundo.

Trump chamou a conversa de "muito produtiva".

 

Fonte: g1/Reuters

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário