terça-feira, 25 de março de 2025

Migrantes já sentem no bolso as políticas de Trump: ‘O trabalho está quase morto’

“O trabalho está quase morto“, resume Nader, obrigado a fechar sua loja de móveis em Corona, um dos bairros mais latinos do Queens, onde a política anti-imigratória de Donald Trump deixou as casas praticamente vazias pelo medo e a incerteza.

“Desde janeiro de 2025 (…) ninguém sai para a rua nem compra móveis porque as pessoas têm medo” de serem detidas ou deportadas, disse à AFP este americano de origem palestina, que assegura que é “a pior crise” que viveu em seus 35 anos no ramo dos móveis, nove deles neste bairro.

A outrora movimentada praça de Corona, o epicentro do Queens, um dos bairros mais multiculturais de Nova York, está quase vazia e os poucos transeuntes caminham rapidamente.

“Às vezes, passam até três dias sem nenhuma venda”, diz o vendedor, de 57 anos, desolado pelo futuro incerto.

Sua clientela, majoritariamente da Guatemala, muitas vezes sem documentos, como muitos moradores desse bairro do interior do Queens, está ameaçada pela política de ‘deportação em massa’ anunciada pelo presidente republicano.

Quase ninguém se arrisca a comprar um colchão ou uma cômoda diante da perspectiva de ter que deixar tudo para trás em caso de deportação, disse ele.

Lojas de roupa, mercearias, restaurantes, agências de transferências de dinheiro e barracas de comida também se queixam que o negócio caiu entre 40% e 60% desde o início do ano.

Na operadora de telefones onde Javier taralha, as vendas caíram pela metade. Seus clientes reduziram os planos ou se limitam a pagar o mínimo para não perder a linha. A maioria prefere esperar antes de comprar um aparelho novo, diz.

“As pessoas antes gastavam sem nenhum problema. Tenho trabalho, tenho dinheiro. Agora, saem do trabalho e podem não voltar para casa”, diz o mexicano, de 31 anos.

Embora diferentemente dos primeiros dias do governo Trump, os agentes do ICE, encarregados de prender e deportar imigrantes sem documentos, raramente sejam vistos na vizinhança, o medo ainda está presente. E “isso vai continuar por quatro anos”, ele prevê.

“O que vai acontecer se eles continuarem a deportar?”, se pergunta. Os pequenos negócios do bairro “vivem do mesmo latino. É uma economia que está simplesmente distribuída aqui”.

Segundo dados do ICE, entre 20 de janeiro e 12 de março, 28.319 pessoas foram deportadas em todo o país.

Os estrangeiros na mira são os que “cometem delitos” e aqueles “que violaram as leis de imigração” americanas, segundo as autoridades. Os sem documentos – mais de 11 milhões no país – que entraram ilegalmente se enquadram nessa categoria.

·        Medo à flor da pele

Por precaução, Javier, como muitos de seus conhecidos, levou todas as suas economias para o México.

Além do fechamento dos comércios e das demissões, os empregadores começaram a dispensar os trabalhadores sem documentos, antecipando as possíveis consequências.

O equatoriano Francisco López, que trabalha em construção, se queixa de que agora a cada “quinze dias” os empregadores trocam de funcionários. Ele foi pago com um cheque sem fundo, diz ele com uma raiva que lhe enche os olhos.

A mexicana de 53 anos, Acelina (nome fictício), que tem uma barraca de comida na praça de Corona, também sofreu com as consequências da política anti-imigração atual.

No ano passado, ganhava diariamente em torno de “400 a 500 dólares” (de 2,2 a 2,8 mil reais na cotação atual). Com esse dinheiro, ela precisa pagar pelo transporte, alugar sua cozinha e barraca, comprar suprimentos e sustentar seus quatro filhos, que são cidadãos americanos.

Agora, tem dias que ela não ganha mais que 140 dólares por dia (792 reais na cotação atual).

“Tenho que vir trabalhar mesmo com medo”, diz essa mulher que tenta tranquilizar seus filhos mais novos, que temem que ela possa ser deportada.

Ela pensa em dar à sua filha mais velha, de 21 anos, a guarda dos irmãos caso algo aconteça com ela.

“Vocês são americanos, podem ir me visitar no México”, diz para tranquilizá-los.

“Se o Sr. Trump dissesse: ‘Ninguém vai tocar nessas pessoas que não têm documentos'”, a situação melhoraria. “Em vez disso, ele diz que quer expulsar ainda mais pessoas”, lamenta Nader.

<><> Altas tarifas e o efeito bumerangue

As tarifas unilaterais impostas sobre o comércio exterior são medidas prejudiciais, afetando a economia e o desenvolvimento global.

O governo atual dos EUA, buscando criar medidas protecionistas a sua indústria de aço e alumínio, impôs tarifas de 20% sobre as importações de países fornecedores desses bens.

A maioria desses produtos são exportados para os EUA pelo México, Canadá, Brasil, Argentina, etc.

Esses produtos atendem partes das cadeias produtivas das indústrias americanas de veículos, dos segmentos aero espaciais, da construção civil, etc.

Tais medidas afetarão as empresas exportadoras e as importadoras que utilizam esses bens nos EUA, ou seja, as locais que sofrerão efeitos "bumerangues"...

São situações geradoras de inflações de custos dos bens na cadeia produtiva.

Tarifas elevadas gerarão enormes entraves para a produção interna desses bens, pois, efeitos protecionistas não serão imediatos.

O aço e o aluminio requerem investimentos planejados e realizados a médio e longo prazo.

Tais medidas afetam diretamente as relações do comércio internacional que exigem reciprocidades.

Nesse mundo atual globalizado, multipolar, interdependente, todas as medidas que envolvem 02 ou mais nações, devem ser tomadas sobre a égide de diálogos diplomáticos.

¨      “Trump está triplicando as apostas e pode acelerar o declínio dos EUA”, diz José Kobori

Desde a posse de Donald Trump para seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, em janeiro de 2025, uma nova onda de protecionismo comercial se intensificou no mundo. As medidas tarifárias impostas pela Casa Branca afetam diversos países, mas têm como alvo principal a China. Mais do que uma guerra comercial, trata-se de uma disputa geopolítica que coloca em xeque a hegemonia econômica dos EUA. O tema foi debatido no programa 20 Minutos, conduzido pelo jornalista Breno Altman, que teve como entrevistado o especialista em finanças empresariais José Kobori.

Kobori, graduado em marketing e especialista em administração financeira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), destacou que a guerra tarifária representa um momento de inflexão no capitalismo global. "Trump está triplicando as apostas ao tentar proteger a economia americana, mas, no fundo, isso pode acelerar ainda mais o declínio da hegemonia dos EUA", analisou. Segundo ele, a financeirização da economia ocidental tem aprofundado as desigualdades, enquanto a China, ao controlar seu sistema financeiro e manter um modelo de socialismo de mercado, conseguiu sustentar seu crescimento sem crises recorrentes.

<><> O modelo chinês e a estabilidade econômica

Um dos pontos mais debatidos na entrevista foi a forma como a China conseguiu evitar os ciclos de crise que atingiram o capitalismo ocidental. Kobori destacou que a inclusão de milhões de chineses no mercado consumidor interno foi fundamental para o fortalecimento da economia do país. "Enquanto os EUA concentram riquezas e aumentam desigualdades, a China segue o caminho inverso: fortalece seu mercado interno e investe pesadamente em educação, ciência e tecnologia", explicou.

Outro diferencial da economia chinesa, segundo Kobori, é o controle estatal sobre o setor financeiro, o que impede crises especulativas como a que ocorreu com a bolha imobiliária da Evergrande. "Muitos apostaram que a China teria seu 'Lehman Brothers', mas o que aconteceu foi o oposto. O governo chinês conseguiu intervir de forma rápida e evitar um colapso", analisou.

<><> China: socialismo de mercado ou capitalismo de Estado?

A discussão também abordou a natureza do modelo econômico chinês. Para Kobori, a China criou uma evolução histórica do socialismo, aprendendo com os erros da União Soviética e mantendo um sistema de planificação econômica com espaço para a livre iniciativa. "A China soube combinar as forças de mercado com o planejamento estatal. O governo controla os setores estratégicos, mas permite que as pessoas empreendam e inovem dentro de um modelo regulado", afirmou.

A estabilidade política também foi apontada como um fator que diferencia a China dos países ocidentais. "Os bilionários chineses sabem que não podem usar seu poder econômico para influenciar a política, como ocorre nos EUA. O caso de Jack Ma é um exemplo: ele foi 'enquadrado' pelo Partido Comunista quando tentou desafiar as diretrizes estatais", explicou Kobori.

<><> Inteligência artificial e disputa tecnológica

Outro aspecto essencial no embate entre EUA e China é a corrida tecnológica. Kobori lembrou que, apesar das sanções impostas pelos EUA à exportação de chips avançados para a China, o país asiático segue avançando. "A China demonstrou que pode desenvolver suas próprias tecnologias e, em alguns casos, está até à frente dos EUA, como na computação quântica", afirmou. Ele também citou os avanços chineses em inteligência artificial e a estrutura de pesquisa superior das universidades chinesas em relação às norte-americanas.

<><> A nova guerra fria comercial e as consequências globais

Ao ser questionado sobre o impacto da guerra tarifária para a China, Kobori destacou que, apesar dos prejuízos, Pequim está melhor preparada para enfrentar as adversidades do que os EUA. "Os Estados Unidos estão criando inimigos pelo mundo e perdendo aliados. Ao mesmo tempo, a China fortalece suas relações comerciais com o Brics e com países da África, da América Latina e do Sudeste Asiático", analisou.

Ele também comentou sobre a Nova Rota da Seda, programa chinês de infraestrutura que visa integrar mercados ao redor do mundo. "Diferente do imperialismo clássico ocidental, que impõe cartilhas políticas e econômicas, a China oferece financiamento para projetos que impulsionam o desenvolvimento dos países parceiros", disse.

<><> E o Brasil?

Em relação ao Brasil, Kobori acredita que o país precisará definir melhor sua posição geopolítica. "O Brasil historicamente tenta ficar em cima do muro, mas, em algum momento, precisará tomar partido. Se deseja se reindustrializar e fortalecer sua economia, precisa aproveitar as oportunidades do Brics e negociar transferência de tecnologia com a China", destacou.

Ele também defendeu uma mudança estrutural na economia brasileira, com maior investimento em educação e inovação. "O Brasil já foi uma potência industrial nos anos 1980 e poderia voltar a ser se tivesse um projeto de nação claro", argumentou. 

¨      SpaceX, de Elon Musk, negocia bilhões em novos contratos federais com Trump

O papel de Elon Musk na Casa Branca permite que ele cancele contratos e influencie políticas, potencialmente beneficiando suas empresas. No Departamento de Defesa do governo Trump, o foguete SpaceX, do empresário, está sendo promovido como uma maneira eficiente para o Pentágono mover cargas militares rapidamente ao redor do globo.

No Departamento de Comércio, o serviço de Internet via satélite Starlink da SpaceX agora será elegível para o impulso de banda larga rural de US$ 42 bilhões (cerca de R$ 240,8 bilhões) do governo federal, após ter sido amplamente excluído durante a era Biden.

Dentro da NASA, a agência está sendo pressionada a voltar seu foco para Marte, permitindo que a SpaceX busque contratos federais para fazer chegar os primeiros humanos ao planeta distante. Antenas parabólicas Starlink foram instaladas na Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) e na Casa Branca para expandir o acesso à Internet do governo federal.

De acordo com uma matéria do The New York Times, Elon Musk, que lidera o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), provocou o caos ao expulsar cerca de 100.000 funcionários federais e fechar várias agências — embora o governo não tenha sido claro sobre a extensão de seu poder. 

Mas, em pontos selecionados do governo, a SpaceX está se posicionando para obter bilhões de dólares em novos contratos governamentais, conforme disseram autoridades federais atuais e antigas. O aumento nos gastos federais para a SpaceX virá em parte como resultado de ações do presidente Trump e dos aliados e funcionários de Musk que agora ocupam cargos no governo.

A empresa também se beneficiará das políticas de Trump que priorizam a contratação de fornecedores comerciais para tudo no setor espacial, desde sistemas de comunicação até fabricação de satélites, áreas nas quais a SpaceX agora domina.

Os novos contratos com o governo virão além dos bilhões de dólares em novos negócios que a SpaceX poderia arrecadar ao garantir permissão da administração Trump para expandir seu uso de propriedade federal. 

A SpaceX tem pelo menos quatro solicitações pendentes na FAA e no Pentágono para construir novas plataformas de lançamento de foguetes ou para lançar com mais frequência de bases espaciais federais na Flórida e na Califórnia, o que mais que dobrou o número anual de lançamentos da SpaceX de seu foguete Falcon 9 a partir da Base da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida, que chegaram a 120.

Segundo a apuração, o novo fluxo de receita para a SpaceX vem após Musk doar quase US$ 300 milhões (mais de R$ 1,7 bilhão) para a campanha de 2024 de Trump, que o colocou no comando do esforço de corte de custos, permitindo-lhe influenciar políticas e eliminar contratos. A empresa do sul-africano se tornou uma das maiores contratadas antes do segundo governo Trump, garantindo US$ 3,8 bilhões (cerca de R$ 21,7 bilhões) em compromissos para o ano fiscal de 2024.

Especialistas em contratação governamental ouvidos pelo The New York Times estão preocupados que Musk esteja garantindo favores especiais, especialmente após Trump demitir funcionários encarregados de investigar violações éticas e conflitos de interesse.

De acordo com a diretora executiva do Projeto em Supervisão Governamental, Danielle Brian, nunca saberemos se a SpaceX venceria autenticamente as competições para esses contratos, devido à desestruturação dos escritórios do governo destinados a prevenir corrupção e conflitos de interesse.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que Musk recebeu instruções sobre limites éticos e cumpriria todas as leis federais aplicáveis. No entanto, o abuso de poder e a corrupção nas agências federais devido às funções duplas de Musk são preocupantes, disse Brian à mídia.

Atualmente a Força Aérea dos EUA planeja construir uma plataforma de pouso de foguetes no Atol Johnston para testar esses pousos de carga, com a meta de mover 100 toneladas por voo, algo com que apenas a Starship pode lidar. O projeto de defesa antimísseis Golden Dome (Domo Dourado), ordenado por Trump, busca abater mísseis nucleares e hipersônicos, podendo custar US$ 100 bilhões (mais de R$ 573,4 bilhões) anualmente. 

A SpaceX está posicionada para lidar com uma grande parte dos trabalhos de lançamento militar do Pentágono, junto com a Blue Origin de Jeff Bezos e United Launch Alliance, uma joint venture entre Lockheed Martin Space e Boeing Defense, Space & Security.

Na última década, apenas a NASA já pagou à SpaceX US$ 13 bilhões (cerca de R$ 74,5 bilhões) em contratos, incluindo um recente contrato de US$ 100 milhões (aproximadamente R$ 573,4 milhões) para lançar um telescópio espacial 

 

Fonte: AFP/Brasil 247

 

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