Dez fatos
sobre o campo de concentração de Auschwitz
Todos os anos,
o memorial inaugurado em 1947 no antigo campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polônia, recebe centenas de milhares de visitantes. Só em
2024, foram 1,8 milhão. Antes da pandemia, eram mais de 2 milhões.
O enorme complexo nazista ficava a 50 quilômetros de Cracóvia, às portas da pequena cidade
de Oswiecim (nome de Auschwitz em polonês). Hoje, além do memorial, o local
abriga um museu.
Até 1945, funcionava ali um
sistema de extermínio em massa de enormes dimensões. Ao lado dos três campos
principais, o campo de extermínio central incluía campos auxiliares e subcampos
de tamanhos variados. Para se ter uma ideia, somente o museu no campo principal
de Auschwitz e o extenso Memorial de Auschwitz-Birkenau ocupam 191 hectares.
As tropas soviéticas chegaram a Auschwitz, na Polônia, na
tarde de 27 de janeiro de 1945. Esta é a data
de libertação do campo de concentração. Em 2005, ou 60 anos depois,
a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas definiu que a data
seria o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, para que
o genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazistas e
seus colaboradores jamais seja esquecido.
<<<< A DW
resumiu os principais fatos e números sobre este que foi o pior campo de
extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
·
1. A cidade de Oswiecim (Auschwitz)
Muito antes de o nome se
tornar conhecido através do campo de concentração alemão, Auschwitz era uma
cidade pequena com uma história agitada. Chegou a fazer parte do território
austríaco, como Ducado de Auschwitz pertenceu ao reino da Boêmia, foi parte da
Prússia e, mais tarde, novamente da Polônia. O local, Oswiecim em polonês, foi
mencionado pela primeira vez por volta de 1200. Em 1348, ele foi incorporado ao
Sacro Império Romano, e o alemão tornou-se a língua oficial.
Quando Oswiecim tornou-se
ponto de parada para a ferrovia, em 1900, a cidade prosperou economicamente.
Foram construídos alojamentos para os muitos trabalhadores sazonais e migrantes
para as áreas industriais vizinhas da Alta Silésia e Boêmia. Mais tarde, os
prédios formariam a base do campo de concentração nazista de Auschwitz.
Logo após o início da
Segunda Guerra, em setembro de 1939, Oswiecim foi tomada por tropas nazistas e
anexada ao Império Alemão. Em 1940, a SS (Schutzstaffel ou esquadra de
proteção), o braço armado do partido nazista, comandada por Heinrich Himmler,
conseguiu rapidamente e sem muito trabalho converter o local em campo de
concentração, como documentam imagens históricas feitas pela Força Aérea
Americana e a Força Aérea Real Britânica.
·
2. A população judaica
Antes da Segunda Guerra
Mundial, cerca da metade dos 14 mil habitantes de Oswiecim eram judeus.
Enquanto o número de habitantes de origem alemã era insignificante, a
comunidade judaica havia crescido fortemente devido à imigração. Isso mudou
abruptamente depois da ocupação militar do país pelas tropas de Hitler, que
invadiram a Polônia em 1º de setembro de 1939.
A população judaica teve que
dar lugar a alemães reinstalados pela "limpeza racial" promovida
pelos nazistas. Os judeus poloneses que restaram passaram a viver aglomerados
em pequenos espaços, isolados do resto da população. A partir de 1940, muitos
deles foram utilizados pela SS como mão de obra barata na expansão do campo de
concentração.
·
3. Localização estratégica
A cidade de Oswiecim estava
localizada num cruzamento ferroviário no leste, de interesse estratégico dos
nazistas: aqui as linhas ferroviárias do sul, de Praga e Viena, cruzavam com as
de Berlim, Varsóvia e das áreas industriais do norte, da Silésia.
A equipe de planejamento da
SS e o Escritório de Segurança do Reich, de Berlim, encontraram ali todas as
condições para os transportes de massa planejados do chamado "antigo
Reich", ou seja, os territórios da Alemanha delimitados pelas fronteiras
de 1937.
Adolf Eichmann, responsável
pela logística das deportações em massa dos judeus para os guetos e campos de
concentração, coordenou o transporte ferroviário dos deportados para os campos
de extermínio. Ele havia preparado os detalhes operacionais da operação,
selada na Conferência de Wannsee, em 20
de janeiro de 1942.
A convite do chefe do
Gabinete Central de Segurança do Reich, Reinhard Heydrich, líderes de vários
departamentos do governo, da SS e do partido nazista NSDAP se reuniram numa
mansão junto ao lago Wannsee, perto de Berlim, para a implementação da
"solução final" para a questão judaica. A ata da reunião enumera
todos os países de onde os judeus na Europa seriam deportados por via
ferroviária.
·
4. O complexo de campos de concentração
Depois de Dachau,
Sachsenhausen, Buchenwald, Flossenbürg, Mauthausen e Ravensbrück, Auschwitz foi
o sétimo campo de concentração estabelecido pelos nazistas e, de longe, o
maior. A área nos arredores da pequena cidade polonesa de Oswiecim foi
planejada como um local para acampamentos de vários tamanhos: além do campo
principal (Auschwitz I), o enorme campo de extermínio de Birkenau (Auschwitz
II), onde estavam localizados os crematórios, e de campos externos
menores, havia os campos de trabalho de Buna e Monowitz.
Após as decisões da
Conferência de Wannsee, o campo de concentração de Auschwitz passou a ser
ampliado a partir da primavera europeia de 1942 para se tornar uma máquina de
extermínio sistemático e de assassinatos de proporções inimagináveis.
O executor dessa tarefa de
motivação racista foi Rudolf Höss, um comandante da SS. Até sua substituição,
em novembro de 1943, ele foi responsável pelos guardas da SS e por toda a
administração do campo de Auschwitz. Ele também foi incumbido da execução
técnica dos assassinatos em massa.
Anúncio
·
5. Área de influência da SS
O pessoal de segurança e os
cargos de chefia no acampamento eram controlados pela SS. Na primavera europeia
de 1942, havia 2 mil guardas da SS no complexo do campo. Inicialmente eram
apenas cidadãos alemães do Reich, mas mais tarde também os chamados Volksdeutsche (alemães étnicos) de
outros países.
Quase no fim da Segunda
Guerra Mundial, no final do verão europeu de 1944, mais de 4 mil membros da SS
cumpriam serviço em Auschwitz, entre guardas do acampamento, datilógrafos,
enfermeiras e outros. Eles eram funcionários da SS e não usavam insígnias.
O controle da indústria e de
outras empresas que se estabeleceram em volta de Auschwitz na época da
construção do campo também estava nas mãos da SS. O chamado "assentamento
SS", onde viviam os guardas e suas famílias, desenvolveu-se fora das
cercas do acampamento, num distrito com muitas comodidades para os moradores.
·
6. A fábrica da morte
Na primavera europeia de
1943 entraram em operação novos fornos no crematório do então já ampliado
campo de Auschwitz-Birkenau. A funcionalidade foi testada em um transporte de
prisioneiros: 1.100 homens, mulheres e crianças foram queimados numa câmara de
gás, após a morte agonizante pelo gás letal Zyklon B. Suas cinzas, e mais tarde
também as dos prisioneiros e deportados mortos no campo de
concentração, foram espalhadas pelos lagos ao redor.
O responsável técnico pela
construção do campo de concentração de Auschwitz, o engenheiro e
tenente-coronel da SS Karl Bischoff, escreveu: "A partir de agora, 4.756
corpos podem ser cremados em 24 horas."
Para acelerar a seleção na
chegada dos transportes foi construída em Birkenau uma rampa ferroviária
de três vias, que ainda pode ser vista em Auschwitz-Birkenau. Mais de dois
terços dos recém-chegados nem foram registrados como prisioneiros, sendo
imediatamente enviados para as câmaras de gás.
No final de
1944 chegaram a Auschwitz os últimos transportes de judeus de toda a
Europa.Anne Frank, de 15
anos, estava entre os deportados da Holanda ocupada. Depois da guerra, seus
diários se tornariam um impressionante documento da perseguição de judeus pelos
nazistas.
·
7. O número de mortos
O número exato de vítimas do
Holocausto que morreram em Auschwitz não pode ser determinado. A cada
ano são descobertos novos detalhes em arquivos históricos. Estimativas
científicas apontam que mais de 5 milhões de pessoas foram deportadas para os
campos de concentração nazista. Poucos deles sobreviveram.
Em dezembro de 2019 foi
publicado o resultado de uma pesquisa encomendada pelo memorial de
Auschwitz-Birkenau, segundo o qual puderam ser identificados mais de 60% dos
cerca de 400 mil prisioneiros registrados pela administração do campo na época.
Esse número, no entanto, não abrange cerca de 900 mil judeus (especialmente
idosos, doentes, mulheres e crianças pequenas) deportados para Auschwitz em
transportes de massa da Europa ocupada pela Alemanha e assassinados em câmaras
de gás imediatamente após a chegada.
Após a chegada a Auschwitz,
só eram tatuados com um número de prisioneiro os que haviam sobrevivido à
seleção na chamada "rampa de judeus". Eles eram registrados e usados para trabalhar nos próprios campos de concentração.
Segundo o memorial, mais de
1,1 milhão de pessoas morreram em Auschwitz-Birkenau. Noventa por cento
das vítimas eram judeus, vindos principalmente da Hungria, Polônia, Itália,
Bélgica, França, Holanda, Grécia, Croácia, Rússia, Áustria e Alemanha.
As vítimas também incluíam
membros das etnias nômades sinti e roma, homossexuais, praticantes da
denominação Testemunhas de Jeová, deficientes físicos e opositores
políticos da máquina de extermínio dos nazistas.
·
8. A libertação dos prisioneiros
Quando o Exército soviético
chegou ao campo de Auschwitz em 27 de janeiro de 1945, os
soldados foram confrontados com um cenário terrível: apenas cerca de 7 mil
prisioneiros esqueléticos e doentes terminais haviam sobrevivido, 500 deles
eram crianças. Poucos conseguiam ficar de pé, muitos estavam deitados no chão,
apáticos.
A SS havia limpado o campo
às pressas no final de janeiro e tentado remover os vestígios de suas máquinas
de assassinato: arquivos, registros, atestados de óbito, muitas coisas foram
queimadas às pressas. Apenas alguns documentos e fotos foram preservados. A
maioria das barracas, câmaras de gás e crematórios foram explodidos.
Em pleno inverno, quase
nenhum dos prisioneiros usava calçados ou roupas quentes. A maioria tinha
apenas as roupas finas de algodão usadas pelos prisioneiros do campo de concentração.
·
9. O memorial Auschwitz-Birkenau
No início de 1946, as
autoridades de ocupação soviética entregaram o antigo campo ao Estado
polonês. A partir de uma iniciativa de ex-prisioneiros e por decisão do
Parlamento polonês, foi fundado em 1947 o memorial Museu Estatal de
Auschwitz-Birkenau.
O memorial inclui as
instalações preservadas, prédios e barracas do campo de concentração de
Auschwitz I (campo principal) e a área quase vazia do campo de extermínio de
Auschwitz-Birkenau (Auschwitz II), bem como a área onde ficam os museus hoje. A
primeira exposição foi criada em colaboração com o memorial israelense Yad
Vashem.
Já no primeiro ano de
existência, o local foi visitado por 170 mil pessoas. Em 2019, foram mais de 2
milhões de visitantes. Principalmente jovens e estudantes de todo o mundo
visitam o museu e os locais onde aconteceram os crimes nazistas.
Auschwitz-Birkenau está na lista de Patrimônios Mundiais da Unesco desde 1979.
·
10. Últimas testemunhas vivas
A cada ano, em 27 de
janeiro, acontecem cerimônias para manter viva na memória coletiva a
lembrança da libertação do campo de concentração de Auschwitz em 1945. Uma
cerimônia solene também é realizada no Bundestag (Parlamento alemão)
neste dia.
No passado, ali foram
proferidos discursos emocionantes, seja por presidentes da Alemanha ou
políticos europeus, por judeus que sobreviveram ao Holocausto, como Ruth Klüger
e Anita Lasker-Walfisch, ou escritores e historiadores judeus de destaque, como
Marcel Reich-Ranicki e Saul Friedländer. O Dia Internacional da Lembrança do
Holocausto foi criado oficialmente pelas Nações Unidas em 1º de novembro de
2005.
Restam poucas testemunhas que
sobreviveram ao campo de concentração de Auschwitz e que podem contar suas
histórias. Durante a chamada "Marcha dos
Vivos", realizada todos os anos a partir do antigo campo
de concentração de Auschwitz até Birkenau, os últimos prisioneiros
sobreviventes do campo de concentração caminham de mãos dadas com jovens de
todo o mundo. Os filhos, netos e bisnetos – não apenas das famílias
judaicas – em breve terão que manter vivas as lembranças sozinhos.
Fonte: DW Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário