sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Moisés Mendes: Zuckerberg atrai bajuladores interessados em atacar Alexandre de Moraes

Glenn Greenwald está de volta com o cansativo causo das ‘mensagens e ordens secretas’ de Alexandre de Moraes. Greenwald já usou essa embromação das conversas em 2023 e em agosto do ano passado, quando ele e a Folha trataram do assunto, em tom de denúncia grave, como coisas “fora do rito”.

O jornalista e advogado constitucionalista (é assim que se apresenta) volta a atacar tentando vincular as mensagens à fala do mais novo trumpista Mark Zuckerberg de que há tribunais de exceção na América Latina, numa referência clara ao STF.

Greenwald repete, em artigo na mesma Folha, o argumento do homem da Meta de que "países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar que empresas removam conteúdos de maneira silenciosa".

E escreve assim sobre essa insinuação de Zuckerberg, enquanto acusa os jornalões de disseminar fake news:

“O motivo pelo qual esse comentário foi associado ao Brasil é simples: isso acontece no Brasil. Ironicamente, os mesmos grandes veículos de mídia e autoridades governamentais que protestaram contra a nova política da Meta, alertando sobre os perigos da "desinformação" – e insistindo que só eles podem definir a verdade – espalharam desinformação em resposta”.

O título do artigo é forte: ‘Zuckerberg está certo sobre as ordens secretas de censura de Moraes’. Segundo o jornalista e advogado, ao contrário do que dizem os jornalões brasileiros, inclusive a Folha para a qual ele escreve, há “evidências claras e abundantes” de que o STF atua como tribunal secreto.

“Em janeiro de 2023, obtive e publiquei uma dessas muitas ordens secretas de censura emitidas por Moraes”, escreve Greenwald. Ele tem certeza de que as ordens de ‘censura’ são evidências da existência do tribunal que delibera secretamente contra as big techs.

O que Greenwald precisa é mostrar o que havia nos seis gigabytes de arquivos secretos que ele dizia ter e que guardariam conversas entre Moraes e auxiliares. Escreveu sobre isso em agosto, como ameaça, como se fosse um miliciano avisando: cuidado, eu tenho uma granada de seis gigabytes.

O jornalista advertiu que iria divulgar os arquivos, mas recuou ao perceber, com o que lhe sobrava de escrúpulos, que estava fazendo descaradamente o jogo da extrema direita.

Agora, faz o jogo do homem do Facebook e dá a entender que pode abastecer a Meta com provas de que existe um tribunal secreto no Brasil, para atacar Moraes.

Greenwald topa qualquer empreitada e está oferecendo armas e munições ao sujeito que desafia a autoridade de governantes, legisladores e instituições dos sistemas de Justiça do Brasil e da Europa.

Depois de tentar bajular a Folha para desqualificar Moraes com os arquivos secretos de mensagens, em agosto (dos quais ele nunca mais falou), agora se dispõe a prestar serviços à terra sem lei de Zuckerberg.

Greenwald constrange os próprios colegas, incluindo alguns da direita, que veem o jornalismo como única possibilidade de enfrentamento das estruturas mafiosas das big techs.

Mas o que importa para o jornalista e advogado constitucionalista é juntar-se às vozes que convocam o ativismo fascista das redes sociais para que, sem qualquer controle, ataque Alexandre de Moraes, o STF, Lula, gays, negros e diferentes. Greenwald não desiste.

 

¨      Meta não vai mais checar fatos, e esse é o menor dos problemas. Por NATASHA LENNARD

Em um ato de vergonhosa genuflexão perante o iminente governo Trump, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou na terça-feira que suas redes sociais — que incluem o Facebook e o Instagram — abandonarão as parcerias de checagem de dados, que serão substituídas pelo modelo de “notas da comunidade”, como já existe no X.  Não há muita dúvida sobre a quem a Meta pretende agradar com essas mudanças: Donald Trump e seu movimento político de extrema-direita.

Em uma mensagem de vídeo explicando seu anúncio, Zuckerberg enquadrou as novas políticas no léxico da “liberdade de expressão” contra a “censura”, ecoando as alegações da extrema direita de que os verificadores independentes das plataformas teriam uma tendência a “viés político”. O fim do programa de checagem de fatos foi uma demanda direta de Brendan Carr, indicado por Trump para a presidência da Comissão Federal de Comunicações, e atual integrante da comissão, segundo o site The Verge.  Houve também a escolha do cenário: as mudanças foram anunciadas pela primeira vez por Joel Kaplan, diretor de assuntos globais da Meta, em uma entrevista exclusiva ao programa favorito de Trump, “Fox & Friends”. 

A bajulação descarada de Zuckerberg e seus executivos é digna de desprezo, assim como a decisão do magnata da tecnologia, no mês passado, de doar 1 milhão de dólares (6 milhões de reais) para o fundo de posse de Trump. Zuck é apenas um entre os importantes bilionários do Vale do Silício dispostos a lamber as botas do presidente eleito. Sam Altman, CEO da OpenAI, e Jeff Bezos, da Amazon, também doaram 1 milhão de dólares para o fundo de Trump. E não é preciso nem mencionar a performance ultra-MAGA de Elon Musk. Não há nada de surpreendente nas tramoias dos super ricos quando se trata de alinhamento com o poder.

Os efeitos completos da mudança em suas práticas comerciais para ter menos responsabilidade ainda estão por vir, mas podemos ter certeza de que isso irá contaminar o discurso com mais lixo de direita. As plataformas da Meta agora devem seguir os passos do X, e cada vez mais inundadas por teorias conspiratórias desgovernadas e consistentemente racistas, e pela proliferação de perfis neonazistas, discurso de ódio, e violência. O próprio Zuckerberg admitiu em seu anúncio que “vamos detectar menos coisas ruins”. Mas nada disso deveria levar a conclusões equivocadas sobre o valor da checagem de fatos nas redes sociais, ou da própria checagem de fatos, de forma mais ampla, no combate à extrema-direita e ao apelo de sua visão de mundo conspiratória. Já faz uma década que os liberais estadunidenses vêm tratando equivocadamente a ascensão de Trump como um problema de desinformação descontrolada, que poderia ser resolvido com suficiente verificação dos fatos.

Um caso a se examinar é o próprio segundo mandato de Trump: ele conquistou novamente a Casa Branca enquanto despejava mentiras racistas completamente infundadas sobre imigrantes haitianos roubando e comendo animais de estimação, entre outras falsidades — mentiras que foram desmascaradas diversas vezes em todos os principais meios de comunicação. Toda uma indústria artesanal de checagem de fatos propagados por Trump e seus aliados nas notícias e nas redes sociais, que chegou a removê-lo das principais plataformas, não diminuiu seu apoio nem eliminou a perigosa desinformação das câmaras de eco preparadas para recebê-la e disseminá-la. No entanto, vale a pena examinar o fim da era da checagem de fatos, porque ela anuncia outro fracasso liberal, e há pouco a se oferecer em termos de alternativas. É apenas mais uma capitulação na batalha contra o fascismo. Os liberais americanos, no fim das contas, nunca foram realmente a “resistência” que fingiam ser. Chega a ser ridícula a ideia de que Zuckerberg esteja agindo com base em um compromisso renovado com a “liberdade de expressão”, em um momento tão conveniente, e o melhor que fazemos é presumir cada vez mais conivência com os caprichos de Trump e do Partido Republicano.

<><> A Indústria da Checagem de Fatos

O Facebook apresentou seu programa de checagem de fatos independente em 2016, após a primeira vitória eleitoral de Trump. O sistema contava com 90 organizações em todo o mundo para lidar com a “desinformação viral”. Em 2021, em resposta ao papel de Trump no ataque contra o Capitólio dos EUA, em 6 de janeiro, a Meta baniu o então presidente de suas plataformas. Naquelas época, mais de 800 grupos da conspiração QAnon foram removidos do Facebook. A censura nas redes sociais se transformou em uma das polêmicas favoritas de Trump e sua extrema-direita movida a indignação. Mas nada na pauta da extrema direita dizia respeito à liberdade de expressão para todos. Basta pensar, por exemplo, que na mesma época a direita estava defendendo a proibição de alguns livros em escolas. Eles não deram nem um pio quando uma matéria do Intercept, em 2020, mostrou que dezenas de grupos de esquerda e antifascistas também haviam sido banidos do Facebook. E a Meta vem praticando em suas plataformas o que foi chamado pela organização Human Rights Watch de censura “sistemática e global” de conteúdo palestino ou solidário aos palestinos.

Apesar de tudo isso, a direita conseguiu criar uma narrativa vitimista sobre a moderação de conteúdo.  Eis que chega Zuckerberg, com a completa falta de sutileza de seu anúncio. Essas novas políticas claramente não têm o objetivo de favorecer a esquerda política ou os usuários pró-Palestina censurados. “Vamos remover uma série de restrições sobre temas como imigração, identidade de gênero e gênero, que são objeto frequente de discursos e debates políticos”, disse o CEO da Meta, dando um recado pouco discreto de que o ódio contra pessoas trans e imigrantes passará a enfrentar menos obstáculos. Usando a história como referência, é quase impossível imaginar que o discurso pró-Palestina, assim como o discurso em favor da justiça ambiental, racial e de gênero, não enfrentem policiamento durante o governo Trump. O Congresso controlado pelos republicanos já está a postos para enquadrar esse tipo de ativismo como terrorismo.

<><> Destruindo Frases de Efeito

Às vésperas do segundo mandato de Trump, as frases de efeito dos liberais estadunidenses, como dizer a verdade ao poder, estão mais do que ultrapassadas. Quando a Meta imita a abordagem permissiva do X em relação ao alarmismo de direita, não se trata de um desdobramento favorável, assim como também não é favorável a perda do financiamento que organizações jornalísticas e de pesquisa recebiam pela parceria com a Meta para verificar fatos. Ainda assim, a checagem de fatos nunca nos libertaria do contexto político em que a propaganda de extrema-direita prospera: um contexto de alienação, austeridade, desigualdade e medo. 

Não sou a primeira a apontar que as narrativas sobre a atual calamidade de desinformação, em grande parte divulgadas por meios de comunicação tradicionais, temerosos pela perda de sua autoridade, não explicam por que certas mentiras e conspirações conseguem atingir parcelas enormes, mas específicas, da população.

A desinformação, porém, tem sido uma narrativa conveniente para o establishment do Partido Democrata, que não está disposto a reconhecer seu próprio papel na manutenção de narrativas contra imigrantes, na repetição do alarmismo infundado sobre as taxas de criminalidade, ou na falta de apoio à classe trabalhadora multirracial. Em um ensaio que questiona narrativas conhecidas sobre a “indústria da desinformação”, Joe Bernstein conta que as publicações sinalizadas como falsas pelo Facebook só tiveram o compartilhamento reduzido em 8% — mostrando como esse rótulo não impede que a informação se dissemine. Bernstein observa que a narrativa da desinformação pôde ser usada em benefício das gigantes da tecnologia, uma vez que sua premissa original — de que o conteúdo das redes sociais tem uma capacidade quase onipotente de convencer e persuadir os usuários — é útil para convencer os anunciantes. Mas ela também é, em grande parte, infundada.

O poder de persuasão das publicações em redes sociais vem sendo exagerado, enquanto os contextos políticos e socioeconômicos em que as conspirações proliferam vem sendo significativamente subestimado nos discursos sobre a desinformação. O QAnon tem um apelo desproporcionalmente grande entre os evangélicos, por exemplo, e o negacionismo da COVID ganhou espaço em decorrência das experiências que formam a opinião dos estadunidenses sobre as autoridades de saúde pública. “Não há nada magicamente persuasivo nas plataformas das redes sociais”, escreve Bernstein. Os pregos já estão todos no caixão, e ele já foi até enterrado: está morta há muito tempo a ideia de que redes sociais como X e Instagram seriam editores de notícias confiáveis, sites para a construção libertadora de comunidades, ou pontos de convergência da democracia digital. Em vez disso, é preciso pensar na internet como um espaço movido exatamente pelas motivações das pessoas que detêm essas plataformas, e lucram com elas. “A internet já foi considerada um recurso comum de informação, mas isso já faz muito tempo”, escreveu Rob Horning, teórico de mídias, em uma newsletter recente. “Agora, o principal objetivo da internet é manter seus usuários sob vigilância, para que ninguém faça nada sem gerar dados, e para garantir que paywalls, taxas, e outros tipos de cobrança por uso possam ser extraída por informações que podem ter parecido gratuitas, mas talvez não quisessem ser.” As redes sociais são enormes corporações para as quais nós, usuários, produzimos dados que podem ser extraídos como commodities e vendidos aos anunciantes — e  e aos órgãos do governo. Os CEOs dessas empresas são gananciosos e estão sedentos pelo poder.  Não nos esqueçamos que Zuckerberg ainda está enfrentando um processo concorrencial, na Comissão Federal de Comércio, sob a alegação de que a Meta teria comprado o Instagram e o WhatsApp para aniquilar a concorrência. Para a sorte dele, Trump gosta de quem lambe suas botas. 

 

¨      Democracia com digitais fascistas. Por André Barbosa Filho

A mostra das garras do babyboy Zuckerberg, que molhou as fraldas na última audiência no Congresso em 2022, agora respaldado por um ambiente autoritário, é de uma perversidade cuja crueldade refuta as regras da decantada liberdade estadunidense proclamada por Adams, Jackson e Lincoln, reunidas nas súmulas da Doutrina Monroe, onde está escrito que a postura dos EUA deve ser de respeito aos ideais liberais, considerados como direitos maiores da humanidade, como o de ir e vir, da livre expressão das ideias, da defesa da vida e do patrimônio, e que referendariam os conceitos de "Defensor da Justiça" no mundo.

As regras do acordo Meta/Trump terceirizam o controle dos filtros, tendo como base a máxima de abolir a censura (mesmo que os direitos individuais, tão aclamados pela democracia estadunidense, sejam violados sem dó).

A imposição de uma política que superestima os conceitos de patriotismo, cujo relevo, historicamente, nos conduz a políticas de cerceamento do livre pensamento e à truculência na obediência da ordem em vigor.

É imperiosa a defesa das Nações constituídas na medida em que os princípios e valores de cada país estejam ameaçados por ações inescrupulosas que visam o domínio do pensamento e das atitudes do cidadão nacional.

Nunca, na linha do tempo da humanidade, estivemos tão sujeitos à escravidão das ideias e comportamentos que não estejam de acordo com a mão de ferro que se impõe às sociedades democráticas.

Isso passa pelo desatrelamento do império das ‘Big Techs’ e das 'Social Media'. Para tanto, é necessário restabelecer as políticas de desenvolvimento científico nacional de ponta, onde a Inteligência Artificial é apenas um dos pontos com grande significado.

Retomar projetos como o do Genoma e da TV Digital, onde os esforços reuniram grande parte dos setores da pesquisa no Brasil, com a fusão do regionalismo e a colaboração com a iniciativa privada.

Alea jacta est.

 

Fonte: Brasil 247/The Intercept

 

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