quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Gibran Jordan: Big tech + big Money - Meta se alinha a Trump para disputar a geopolítica global

Para quem teve a oportunidade de ler obra de ficção científica de autoria do grande cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que leva o título “Nada Mais Será Como Antes”, pode notar a impressionante semelhança com os acontecimentos da realidade contemporânea. Não vamos dar spoilers, recomendamos a leitura do livro, pois o anúncio de Zuckerberg sobre a política global da Meta e suas redes sociais, dias antes da posse de Trump a presidência dos EUA, é quase um spoiler da vida real que consta nessa obra do cientista brasileiro. Trata-se de um grande alerta sobre os perigos dos planos de poder imperialistas que ameaçam a humanidade.

Existem motivos de grande envergadura política e econômica que estão realinhando grande parte das BigTechs norte-americanas com a extrema direita trumpista, alguns por puro pragmatismo econômico, já outros evoluíram para aproximações ideológicas. No caso da Meta, nem sempre a capitulação foi tão explícita e quase absoluta como foi anunciado pelo seu dono nesta terça feira dia 07 de janeiro, chocando até quem estava distraído sobre o tema. Em setembro de 2024, Trump em meio a sua campanha presidencial lançou um livro com o título “Salve América”, entre fotos e comentários sobre sua última administração na Casa Branca, havia um recado hostil para Mark Zukerberg, uma ameaça de levá-lo à cadeia caso as suas redes sociais atuassem para prejudicar a sua campanha. Na avaliação de Trump, tanto o facebook como o instagram ajudaram Biden a vencê-lo na disputa eleitoral de 2020. Na ocasião da invasão do Capitólio em 2021, as redes da Meta chegaram a excluir os perfis de Trump na época. Houve também uma tentativa de aproximação pragmática e oportunista com a administração de Biden, visando evitar conflitos que pudessem atrapalhar seus negócios, já que algumas empresas, incluindo a Meta, estão enfrentando processos na justiça que envolvem ações antitruste.

Acontece que Trump, o cara que ameaçou prender o dono da Meta, venceu com folga a eleição tanto no voto popular como em relação ao número de delegados, os republicanos têm ainda o controle do senado e da câmara de deputados, além de ter também uma forte influência na suprema corte norte-americana. Convenhamos, é um combo de poder tão violento, que cria uma força de gravidade capaz de atrair toda sorte de canalhas gananciosos que comandam o mercado das Big Techs, que enfrentam ações na justiça em vários países, como também uma pesada disputa com as forças tecnológicas chinesas e russas na disputa por mercados. Diante desse cenário, em novembro, logo após o resultado da disputa presidencial, Mark Zuckerberg começou uma série de acenos visando se aproximar de Trump. Primeiramente se encontrou com o republicano num jantar reservado na Flórida, semanas após esse encontro, a Meta doou US$1 milhão para a posse de Trump. Em janeiro deste ano, a META trocou seu diretor de assuntos globais, saiu Nick Clegg e entrou Joel Kaplan, esse último, é um republicano que já teve cargos de alto escalão na administração Bush. No dia 06/01, foi anunciado o trumpista Dana White, chefão do UFC, como o mais novo membro do conselho da Meta. Na terça feira, dia 07/01, o próprio Mark Zuckerberg, vai a público anunciar o fim do sistema de checagem de fatos feita por agências, apresentando um falso argumento típico da extrema direita que envolve o tema da “liberdade de expressão” e o mais bombástico, lança a unidade com o governo Trump contra outros governos pelo mundo:

“Vamos trabalhar com o presidente Trump para resistir a governos ao redor do mundo, que vão contra empresas dos Estados Unidos, e que queiram censurar mais (…). A Europa tem um crescente número de leis que institucionalizam a censura, tornando difícil criar qualquer coisas inovadora por lá. Países da América Latina têm cortes secretas, que exigem que companhias removam conteúdos na surdina. A China censura nossos apps de funcionarem lá. A única força de resistir a essa tendência global é com o apoio do governo dos EUA”. ( Mark Zuckerberg)

·        A unidade estratégica com as Big Techs fortalece Trump na disputa da hegemonia global

O anúncio histórico do dono das maiores redes sociais do mundo foi uma declaração de guerra na disputa pela hegemonia global, como também é uma demonstração de uma vitória inicial e bastante qualitativa de Trump, em conseguir a unidade de setores importantes das BigTechs com base a um projeto estratégico, antes mesmo da sua posse. Não custa recordar que Elon Musk, o dono do X/Twitter, já é um aliado de primeira linha, integrado ao futuro governo, e descaradamente vem fazendo intervenções em disputas políticas de outros países. Foi assim no Brasil, na queda de braço com o STF, anos atrás chegou a declarar que daria golpes “onde eles quisessem”, no caso da tentativa de golpe de estado que ocorreu na Bolívia e agora está se metendo sem nenhum pudor na eleição para primeiro ministro na Alemanha, declarando apoio a AFD, partido herdeiro de Hitler, e publicando ofensas pesadas contra Olaf Scholz.

Outros chefes de grandes empresas tecnológicas vem ultimamente manifestando direta ou indiretamente atitudes que revelam adesão ao novo governo Trump. Várias doações financeiras foram feitas para a campanha e/ou para a posse de Trump, que saíram dos cofres da Uber, Amazon, OpenAI e várias gigantes digitais do ramo de criptomoedas como a Kraken, OndoFinance, Ripple, Coinbase e Jump Crypton. Recentemente um fato bem curioso que revela a hipocrisia do discurso relacionado ao tema da liberdade de expressão abateu o jornal “The Washington Post”, cujo dono é Jeff Bezos, o mesmo chefão da Amazon. A ilustradora Ann Telnaes, que já ganhou um prêmio Pulitzer, anunciou sua demissão do jornal de Bezos, após acusar o jornal de censurar um cartum que mostra um desenho dos magnatas Mark Zuckerberg, dono do Facebook, Sam Altman, CEO da OpenAI, e o fundador da Amazon e dono do Washington Post, Jeff Bezos, oferecendo sacolas de dinheiro aos pés de Donald Trump.

Por todos os ângulos que se pode analisar, essa unidade estratégica das BigTechs com o governo de Donald Trump é uma ameaça que coloca a humanidade em risco em vários aspectos. Em primeiro lugar ameaça a soberania de vários países, somente nas últimas duas semanas Donald Trump deu declarações hostis em relação a guerra comercial com a China, anunciou possíveis medidas intervencionistas com uso de recursos militares sobre o Canal do Panamá, sobre a Groenlândia, anunciou a proposta de anexar o Canadá e prometeu transformar a região do Oriente Médio num inferno ( como se não tivesse um inferno já instalado em Gaza) se os reféns de Israel não forem libertados até a sua posse. Também está colocado em risco a democracia, os direitos trabalhistas e o equilíbrio ambiental de vários países. Isso porque entre as gigantes tecnológicas existem aquelas com imenso poder de manipular a opinião pública via redes sociais, há também aquelas que precarizam o mundo do trabalho via aplicativos digitais e em relação às plataformas de criptomoedas a sua existência depende da mineração via blockchain que consome imensa quantidade de energia, água e minérios.

Outra consequência grave da ofensiva da unidade estratégica de Trump com as BigTechs é o aumento das tensões militares, especialmente com a China. Na mensagem de ano novo, o presidente da China, Xi Jinping, fez um discurso de balanço do seu governo pela emissora estatal CCTV, e fez questão em destacar que “ninguém pode interromper a reunificação da China com Taiwan”. Essa declaração se dá num momento onde Pequim vem intensificando a pressão militar próxima de Taiwan, mobilizando navios de guerra e aviões em torno da ilha. Acontece que 90% da produção de chips de alta tecnologia que são determinantes para abastecer os projetos das empresas de tecnologias norte americanas são fabricados em Taiwan. É uma parte mais que significativa do PIB dos EUA que está em jogo, motivo suficiente para a eclosão de um conflito militar sem precedentes entre duas grandes potências.

·        O Brasil segue na mira do golpismo high-tech

Mal tivemos paz para comemorar a premiação, merecidamente conquistado pela nossa querida Fernanda Torres no Globo de Ouro, por interpretar Eunice Paiva no filme “Ainda Estou Aqui”. Não há dúvidas que a declaração de Zukerberg teve um recado explícito contra as decisões do STF que vem tentando controlar exageros que envolvem publicações criminosas e que afetam a soberania do país, no qual as plataformas digitais não querem se responsabilizar. A extrema direita no Brasil e os bolsonaristas em geral comemoraram o anúncio da Meta que vai de encontro aos planos de Trump, consequentemente fortalece os projetos reacionários e conservadores no Brasil. As tentativas de regulamentação das redes sociais e das plataformas de aplicativos fracassaram via congresso nacional, o terreno está livre para a atuação das BigTechs no país, os efeitos já demonstram o alcance das ideias neoliberais e de extrema direita no imaginário social da classe trabalhadora inclusive.

A resistência institucional tem ficado até agora nas mãos de algumas ações dos ministros do Supremo Tribunal Federal, o que apresenta limites e pouca margem de manobra para impedir abusos. Deixando setores sociais vulneráveis ao discurso de ódio e a desinformação ainda mais desprotegidos, cada vez mais impossibilitados de impedir a disseminação de ideias absurdas como tratar pessoas trans e homoafetivas em geral como “doenças mentais”, o aumento da violência misógina, as ideias racistas, a xenofobia, o bullying, a pedófilia e a ação de grupos criminosos que usam as redes sociais para ampliar seus objetivos. Todo o trabalho de mobilização de ativistas golpistas que participaram inclusive das ações de violência contra a democracia no 8 de janeiro tiveram livremente as redes sociais como um espaço de articulação determinante para o fluxo de mensagens, orientações e organização de um golpe de estado. Não seria um exagero imaginar que novamente as redes sociais irão cumprir um papel reacionário na disputa política do país com consequências dramáticas em relação a prisão de Bolsonaro e dos generais golpistas, bem como no resultado da eleição em 2026. A eleição municipal de 2024 já mandou sinais… O desafio de combater essa ofensiva das forças do imperialismo ocidental contra os povos do mundo será ainda mais complexa e difícil após o dia 20 de janeiro com a posse na presidência dos EUA do maior líder dessa espécie de “Internacional Reacionária High-Tech”.

Contra essa ameaça sem precedentes de uma rede de conspiradores poderosos e dispostos a tudo... Faça parte da resistência! Não tenha medo, é a humanidade e o planeta que estão em jogo.

 

¨      Por que fim de checagem de fake news no Facebook e Instagram aproxima Zuckerberg ainda mais de Trump

A Meta anunciou que está abandonando o uso de checagem independente de fatos no Facebook e no Instagram, substituindo-os por "notas da comunidade", em um modelo semelhante ao do X, em que comentários sobre a precisão do conteúdo das postagens são deixados a cargo dos próprios usuários.

Em um vídeo publicado no blog da empresa nesta terça-feira (7/1), o presidente-executivo da empresa, Mark Zuckerberg, disse que os moderadores profissionais são "muito tendenciosos politicamente" e que era "hora de voltar às nossas raízes, em torno da liberdade de expressão".

Joel Kaplan, que substituiu Nick Clegg e é hoje o principal executivo de políticas da Meta, escreveu que a dependência da empresa de moderadores independentes era "bem intencionada", mas muitas vezes resultava na censura dos usuários.

Ativistas contra o discurso de ódio na internet criticaram a medida — e sugeriram que a mudança é motivada pela intenção de Zuckerberg de se aproximar de Donald Trump, que toma posse no próximo dia 20 de janeiro.

"O anúncio de Zuckerberg é uma tentativa flagrante de agradar a próxima administração Trump — com implicações prejudiciais", disse Ava Lee, do Global Witness, grupo que se descreve como dedicado a cobrar a responsabilização das grandes empresas de tecnologia por seus atos.

"'Alegar evitar a 'censura' é uma manobra política para evitar assumir a responsabilidade pelo ódio e pela desinformação que as plataformas encorajam e facilitam", acrescentou.

·        Copiando o X

O atual programa de verificação de fatos da Meta, criado em 2016, avalia publicações que parecem falsas ou enganosas por organizações independentes de checagem.

Publicações sinalizadas como imprecisas podem ganhar rótulos com informações adicionais aos usuários e serem movidas para baixo nos feeds dos usuários.

Isso agora será substituído, inicialmente nos Estados Unidos, pelo que é conhecido como "notas da comunidade", feitas pelos próprios usuários, que podem acrescentar contexto ou esclarecimentos a postagens que consideram incorretas ou imprecisas.

A Meta diz que "não tem planos imediatos" para dispensar seus checadores de fatos terceirizados no Reino Unido ou na União Europeia.

O novo sistema de notas da comunidade foi copiado do X, que o introduziu após ser adquirido e rebatizado por Elon Musk.

A Fundação Molly Rose, do Reino Unido, descreveu o anúncio como uma "grande preocupação com a segurança online".

"Estamos esclarecendo urgentemente o âmbito dessas medidas, incluindo se elas se aplicarão ao suicídio, à automutilação e ao conteúdo depressivo", disse o seu presidente, Ian Russell.

"Essas medidas podem ter consequências terríveis para muitas crianças e jovens."

A organização de checagem de fatos Full Fact — que participa do programa do Facebook para verificação de publicações na Europa — disse que "refuta as alegações de parcialidade" feitas pela empresa.

O presidente-executivo do órgão, Chris Morris, descreveu a mudança como "decepcionante e um retrocesso que corre o risco de ter um efeito inibidor em todo o mundo".

·        'Uma mudança radical'

A publicação no blog do Meta informa que também "reverteria o avanço da missão" na área de regras e políticas, destacando a remoção de restrições em assuntos como "imigração, gênero e identidade de gênero" e argumentando que o tema tem gerado discussões e debates políticos.

"Não é certo que coisas possam ser ditas na TV ou no plenário do Congresso, mas não em nossas plataformas", diz o texto.

As mudanças ocorrem no momento em que as empresas de tecnologia e seus executivos se preparam para a posse do presidente eleito, Donald Trump, no dia 20 de janeiro.

Trump já foi um crítico voraz da Meta e de sua abordagem à moderação de conteúdo, chamando o Facebook de "um inimigo do povo" em março de 2024.

Mas as relações entre ele e Zuckerberg melhoraram desde então: o CEO da Meta jantou na casa de Trump na Flórida, em Mar-a-Lago, no último mês de novembro e a empresa doou US$ 1 milhão (cerca de R$ 6,2 milhões) para um fundo para o evento de posse de Trump.

Em mais um gesto de aproximação, Zuckerberg anunciou na segunda-feira (6/1) que Dana White, presidente-executivo do Ultimate Fighting Championship (UFC) e apoiador de longa data de Trump, passaria a fazer parte do conselho administrativo da Meta.

"As eleições mais recentes parecem sinalizar um ponto de virada cultural para, mais uma vez, dar prioridade à liberdade de expressão", disse Zuckerberg no vídeo que publicou nesta terça-feira.

A substituição de Nick Clegg — um liberal-democrata britânico — por Kaplan por como principal executivo de políticas da Meta também foi interpretada como um sinal da mudança da empresa em relação à moderação e de realinhamento de suas prioridades.

Kate Klonick, professora associada da Faculdade de Direito da Universidade de St John, disse que as mudanças refletem uma tendência "que parecia inevitável nos últimos anos, especialmente desde a aquisição do X por Musk".

"A gestão privada do discurso nestas plataformas tornou-se cada vez mais um ponto político", disse ela à BBC News.

Enquanto, no passado recente, as empresas de tecnologia enfrentaram pressão para criar mecanismos de confiança e segurança para lidar com questões como assédio, discurso de ódio e desinformação, está agora em curso um "retrocesso radical na direção oposta", ela acrescenta.

·        'Convite à extrema direita'

No Brasil, o governo Lula reagiu à decisão por meio do secretário de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, João Brant, que criticou o fim da checagem profissional em um post no LinkedIn: "Significa um convite para o ativismo da extrema direita reforçar a utilização dessas redes como plataformas de sua ação política."

"Facebook e Instagram vão se tornar plataformas que vão dar total peso à liberdade de expressão individual e deixar de proteger outros direitos individuais e coletivos", completou.

Ele também comentou sobre o fato de Zuckerberg ter feito referência, no vídeo em que postou detalhando as medidas, a "cortes secretas" na América Latina. Para ele, o CEO da Meta fez tacitamente referência ao Supremo Tribunal Federal (STF).

 

Fonte: BBC News Brasil

 

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