Carta aberta
ao presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo
Em tempos de desafios econômicos globais e mudanças estruturais
profundas, a atuação do Banco Central do Brasil (BCB) torna-se ainda mais
crucial para contribuir com a estabilidade, a soberania e o desenvolvimento
sustentável do país. Desse modo, é preciso fortalecer a instituição e promover
uma atuação integrada com o governo federal.
1. Abertura
de Canal de Negociação
O diálogo
transparente e participativo é essencial para a construção de um ambiente
de trabalho saudável e produtivo. É imperativo abrir um canal de
negociação que envolva a participação ativa dos representantes legais da
categoria dos servidores do BCB. Isso inclui os interesses de ativos,
aposentados e pensionistas, por meio de sua representação sindical, para a
discussão de temas de interesse da categoria. Infelizmente, o clima
organizacional no BCB tem se deteriorado significativamente nos últimos dois
anos, o que não favorece a cooperação entre os servidores da Casa. Essa
condição adversa prejudica o cumprimento da missão institucional do Banco
Central, afetando sua capacidade de atuar de maneira eficaz e coesa. Portanto,
a abertura de um canal de negociação transparente e participativo é condição
necessária para restaurar um ambiente de trabalho saudável e produtivo,
promovendo a colaboração necessária para que o BCB possa cumprir sua missão com
excelência.
2. Preservação da
Carreira dos Servidores
A preservação da
carreira dos servidores do BCB no Regime Jurídico Único (RJU) é vital para
assegurar a continuidade e a qualidade do serviço público prestado. A
valorização desses profissionais reflete diretamente na eficiência das
operações do Banco Central do Brasil. Contar com servidores públicos estáveis
na organização traz inúmeras vantagens. Com suas carreiras preservadas no RJU,
as pessoas garantem a continuidade das operações e a manutenção do conhecimento
institucional, fatores essenciais para a estabilidade e a qualidade do serviço
prestado à sociedade brasileira. A estabilidade desses servidores permite um
planejamento de longo prazo mais eficaz, assegurando que as políticas e
diretrizes do BCB sejam implementadas de maneira consistente e eficiente.
Ademais, a valorização desses funcionários resulta em ambiente de trabalho mais
motivado e comprometido, o que se reflete diretamente na eficiência e na
confiança depositada na instituição. Além disso, um quadro de servidores
estáveis no BCB protege o próprio Estado brasileiro contra interferências
indevidas.
3. Sustentabilidade
do Plano de Saúde
É necessário
assegurar a sustentabilidade financeira do Plano de Saúde dos servidores do
BCB. Uma assistência à saúde robusta e confiável contribui para o bem-estar dos
funcionários e, consequentemente, para a produtividade e a qualidade do
trabalho realizado. Além disso, é fundamental reconhecer que os servidores
aposentados e pensionistas, que também são usuários do plano de saúde, já deram
uma importante contribuição ao BCB ao longo de suas carreiras profissionais. A
continuidade de um plano de saúde sustentável e eficaz não apenas honra o compromisso
com esses profissionais que tanto fizeram pela instituição, mas também garante
que todos, ativos e inativos, possam usufruir de uma assistência à saúde de
qualidade.
4. Arquivamento da
PEC 65/2023
Dada a atual
conjuntura de divisão social e intenso conflito distributivo no Brasil, a
discussão sobre a PEC 65/2023, rejeitada pela ampla maioria do funcionalismo
(74,5% em votação eletrônica), não é oportuna. Insistir nesse debate pode
agravar a desorganização social e fomentar a desagregação do ambiente político.
Portanto, a nova direção do Banco Central deve priorizar a recomendação ao
Senado Federal pelo arquivamento da PEC 65/2023, concentrando esforços em uma
proposta que assegure uma atuação articulada e integrada com o governo federal,
visando o desenvolvimento soberano e estável do país, sem interferências
externas danosas. Além disso, antes de discutir a PEC 65/2023, deve-se avaliar
criteriosamente os efeitos da Lei Complementar 179/2021 desde sua vigência.
Compreender o impacto desta legislação nos ambientes político e econômico é
primordial para garantir que quaisquer mudanças propostas sejam bem
fundamentadas, coesas e eficazes. Apenas com uma análise abrangente e
responsável pode-se assegurar que o BCB atue de forma alinhada com os melhores
interesses da economia nacional e da sociedade brasileira.
5. Regulamentação
da Lei Complementar 179/2021
É urgente
articular, em conjunto com as autoridades do governo e do congresso nacional, a
alteração e regulamentação da Lei Complementar 179/2021. Isso visa a melhorar a
governança do BCB e evitar potenciais conflitos de interesse e interferências
indevidas do poder econômico, disciplinando regras de quarentenas mais severas
para dirigentes do BCB, mediante estabelecimento de critérios mais rigorosos
tanto para ingresso na instituição quanto para ex-diretores do BCB assumirem
cargos em instituições reguladas. Essas medidas não apenas garantem a
independência e a integridade das decisões tomadas pelo Banco Central, mas
também protegem a instituição de influências não republicanas, sejam elas
provenientes ou não do poder econômico. É oportuno lembrar que nos últimos
20 anos, cerca de 2/3 dos ocupantes da diretoria colegiada do BCB atravessaram
a “porta giratória” e se transferiram para instituições financeiras privadas,
quase que imediatamente após deixarem o cargo, conduta que pode comprometer a
imagem da autoridade monetária perante a sociedade brasileira. Portanto, ao
fortalecer as regras de quarentena e os critérios de ingresso, assegura-se que
o BCB opere de forma transparente e justa no melhor interesse da sociedade,
promovendo a confiança pública e a estabilidade do sistema financeiro. Ademais,
numa discussão sobre o papel do BC, deveria entrar em pauta o próprio uso
volumoso e intensivo de operações compromissadas para executar a política
monetária.
6. Financiamento
das Atividades Estratégicas
A alocação adequada
de recursos garante que o Banco Central possa desempenhar suas funções de
maneira eficiente e eficaz. Numa perspectiva de longo prazo, buscar
soluções dentro do Orçamento Geral da União para o financiamento das atividades
do BCB é uma estratégia mais sustentável. É notório que as restrições de
ordem fiscal atualmente presentes são uma realidade que se aplica a todas as
instituições e órgãos do governo federal. Seria um contrassenso com seu próprio
papel institucional o BCB pretender superar tais restrições por meio de um
subterfúgio, ignorando a solução global que precisa ser encontrada. Mais ainda,
o uso independente, por uma única instituição, das receitas de senhoriagem,
como prevê a PEC 65/2023, configuraria uma apropriação indevida de um recurso
que é público. Permanecendo no Orçamento Geral da União, o BCB não só promove a
confiança pública na instituição, mas também assegura a execução eficiente e
eficaz de suas funções essenciais para a estabilidade econômica do Brasil.
7. Fortalecimento
dos Instrumentos para lidar com Crises
Fortalecer os
instrumentos à disposição do Banco Central do Brasil (BCB) para lidar com
crises sistêmicas ou ataques especulativos contra a moeda nacional é
indispensável. A capacidade de resposta rápida e eficaz a eventos de alto
impacto garante a estabilidade econômica e a confiança no sistema financeiro.
Um Banco Central preparado e bem equipado é essencial para a resiliência
econômica do país. Dessa forma, o BCB estará apto a agir rapidamente diante de
riscos que possam ameaçar a estabilidade financeira, assegurando a confiança
pública e protegendo a economia nacional de choques adversos. Isso garante o
ambiente econômico estável e previsível para o desenvolvimento do Brasil.
8. Integração com
Políticas de Desenvolvimento
O Banco Central do
Brasil, no âmbito de suas atribuições, deve se integrar às demais políticas de
desenvolvimento da economia nacional. A atuação conjunta e coordenada
maximiza os resultados das políticas públicas e fortalece o desenvolvimento
sustentável. A organização do BCB como uma autarquia pública alinhada com os
programas governamentais de desenvolvimento traz várias vantagens, como a flexibilidade
e a capacidade de implementar políticas econômicas eficazes e adaptativas. Isso
permite que o BCB reaja prontamente às necessidades do país, promovendo um
ambiente de estabilidade e confiança. Ademais, a integração com programas
governamentais amplifica o impacto das políticas públicas e fortalece o
desenvolvimento sustentável. Também não se pode perder de vista os desafios do
ambiente externo, que exigem uma instituição resiliente e preparada para
antecipar e mitigar riscos. A atuação coordenada do BCB garante uma resposta
mais ágil e eficaz a esses desafios, contribuindo para o crescimento econômico
do Brasil.
9. Convergência da
Taxa Selic
Uma autoridade
monetária tem o compromisso de participar da regulação da economia numa
perspectiva de curto prazo, mas sem deixar de olhar para o futuro. Nesse
sentido, o BCB deveria avaliar os impactos das operações de negociações em
juros futuros e dimensionar os efeitos desse movimento na dinâmica da economia
brasileira. Uma possibilidade a considerar seria a implementação de um programa
que tenha como meta a convergência da taxa básica de juros real para a média
dos países do G20 até 2030. Assim, o BCB prestará importante contribuição na
promoção do crescimento econômico sustentável, melhorando a competitividade do
Brasil no cenário internacional. Em última análise, a redução dos custos
financeiros não só promoveria a estabilidade econômica e a sustentabilidade da
dívida pública, mas também criaria um ambiente propício para o investimento
sustentável, garantindo que o Brasil esteja bem posicionado para fomentar o
crescimento de longo prazo. Esse equilíbrio entre a regulação de curto prazo e
a visão estratégica de longo prazo é essencial para assegurar um
desenvolvimento econômico robusto e resiliente, capaz de enfrentar os desafios
e aproveitar as oportunidades no cenário global.
10.
Ampliação do Público-Alvo nas Pesquisas do Banco Central
Para aprimorar a precisão e a abrangência das políticas monetárias e
econômicas, é desejável que o BCB amplie o público-alvo de suas pesquisas. Isso
permitirá que o BCB obtenha uma visão mais abrangente das expectativas e
percepções econômicas. Além de analistas de mercado ligados a instituições
financeiras, como ocorre atualmente, poderiam ser incluídos outros a
públicos-alvo, por exemplo: 1) Empresários e Executivos do setor não financeiro
da Economia: representantes de empresas de diversos setores podem oferecem
percepções valiosas sobre expectativas de investimento, produção e preços,
refletindo as condições econômicas reais do mercado; 2) Acadêmicos e
Pesquisadores de Universidades: envolver especialistas do meio acadêmico em
discussões e workshops pode
trazer perspectivas teóricas e empíricas que enriqueçam a compreensão das
tendências econômicas; 3) Governo e Políticos: membros do governo e políticos
podem oferecer visões sobre políticas fiscais e suas possíveis implicações
econômicas, contribuindo para uma abordagem mais integrada entre política
monetária e fiscal; 4) Representação de trabalhadores: entender as expectativas
da população sobre inflação, condições econômicas e sua própria situação
financeira é crucial para avaliar a confiança do público e o sentimento
econômico; 5) Mercado de Trabalho: pesquisas focadas no mercado de trabalho
ajudam a captar expectativas relacionadas a emprego, salário e produtividade,
fornecendo um panorama completo das condições econômicas. Nesse sentido,
iniciativas como a Firmus-Pesquisa com Empresas, em etapa piloto desde o último
trimestre de 2023, devem ser incentivadas, pois, ao expandir suas pesquisas
para incluir outros públicos, o BCB estará mais bem preparado para exercer suas
atribuições levando em conta as reais necessidades e expectativas da economia
brasileira, promovendo uma gestão econômica mais eficiente e eficaz.
Em suma, a construção de um Banco Central forte, integrado e preparado
para os desafios contemporâneos e futuros é um passo decisivo para garantir a
estabilidade e o desenvolvimento econômico sustentável do Brasil.
¨ Mercadante:
quem apostar contra o novo Brasil vai perder
O presidente
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio
Mercadante, publicou nesta quinta-feira (9), na Folha de S. Paulo, um artigo contundente em defesa do novo ciclo econômico
e social promovido pelo governo Lula (PT). O texto reforça a centralidade da
inclusão social, do combate à pobreza e da retomada do desenvolvimento
sustentável como pilares fundamentais para o Brasil.
Mercadante
relembra um artigo escrito em 2007, no qual exaltava a ascensão social de
milhões de brasileiros durante o segundo governo Lula. Agora, segundo ele, o
país vive um momento semelhante, após um período de retrocesso político e
econômico. “Democraticamente, o Brasil se levantou, sacudiu a poeira e o mofo
de uma agenda antipopular e autoritária”, afirmou.
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Os números da retomada
O presidente
do BNDES destacou que, em 2023, o Brasil registrou os menores índices de
pobreza extrema desde o início da série histórica, em 2012. Apenas 4,4% da
população vive em extrema pobreza, o que representa 9,5 milhões de pessoas.
Além disso, cerca de 13 milhões de brasileiros saíram da fome, com o país
prestes a deixar novamente o Mapa da Fome da ONU.
A recuperação
econômica é outro ponto de destaque no artigo. Mercadante ressaltou que a taxa
de desemprego atingiu 6,1%, a menor da nova série histórica do IBGE. A massa
salarial alcançou um recorde de R$ 332,7 bilhões, enquanto o crescimento
industrial posicionou o Brasil 30 posições acima no ranking mundial de
produção.
"O plano
Nova Indústria Brasil está retomando o processo de industrialização, e o BNDES
já aprovou créditos com uma média de R$ 190,6 bilhões nos dois últimos anos,
contra a média de R$ 92 bilhões dos quatro anos do governo anterior. O volume
de crédito aprovado nestes dois anos de governo Lula já é superior aos quatro
anos anteriores, sendo mais de R$ 171 bilhões para a indústria, com recorde
histórico do financiamento para a inovação e a liderança do setor de alto valor
agregado, como a indústria aeronáutica, a farmacêutica e a automotiva",
afirmou.
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Intolerância ideológica e combate ao rentismo
Mercadante
criticou o que chamou de "intolerância ideológica" por parte de
setores políticos e econômicos que resistem às políticas inclusivas do governo.
Segundo ele, a oposição tenta perpetuar privilégios e “tirar os pobres do
Orçamento”.
“O que há é
uma campanha política para manter um rentismo injustificável e incapaz de
promover o desenvolvimento. Mas quem apostar contra esse novo Brasil que está
ressurgindo irá perder”, alertou.
O presidente
do BNDES também rebateu acusações de “gastança” feitas ao governo Lula,
afirmando que os investimentos em programas sociais, infraestrutura e
preservação ambiental têm gerado crescimento econômico e fortalecido a
democracia. “Não é gastança, é investimento no futuro do Brasil”, enfatizou.
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Liderança ambiental e social
O Brasil
também se destaca no cenário internacional, segundo Mercadante. O país lidera o
G20 em energia limpa e renovável, além de ter registrado a menor taxa de
desmatamento na Amazônia nos últimos nove anos.
Esses avanços
contribuíram para que o Brasil se tornasse o segundo maior receptor de
investimentos estrangeiros diretos no mundo. “O planeta vê o potencial sólido
do nosso país e sua liderança no enfrentamento da grave crise climática”,
afirmou.
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Um futuro de esperança
Ao encerrar o
texto, Mercadante reforçou que o retorno da esperança é essencial para
consolidar a democracia. “Quando a esperança volta, o ódio, o grande inimigo
atual da democracia, some”, escreveu.
Com os
investimentos voltados para o povo brasileiro, Mercadante acredita que o país
não pode retroceder novamente. “O Brasil voltou porque o povo brasileiro
voltou. Voltou ao lugar que lhe cabe no país e na história, e, desta vez, não
podemos retroceder. Eles estão voltando para ficar”, concluiu.
Fonte: Seção Sindical do Sindsep no Banco Central/Brasil 247
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