sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Vida e obra de Augusto Ruschi, patrono da Ecolologia Brasileira

em 12 de dezembro de 1915, nascia o naturalista Augusto Ruschi, Patrono da Ecologia no Brasil.

Pioneiro do movimento ecológico brasileiro, Ruschi liderou esforços pela criação de parques e reservas e denunciou o desmatamento da Amazônia e da Mata Atlântica durante a ditadura militar (1964-1985)

Além disso, Ruschi enfrentou projetos nocivos ao meio ambiente conduzidos por autoridades públicas e grandes corporações.

·        Quem foi Augusto Ruschi

Augusto Ruschi nasceu em Santa Teresa, na região serrana do Espírito Santo, como um dos 12 filhos do casal de imigrantes italianos Giuseppe Ruschi e Maria Roatti.

Cursou as primeiras letras no Seminário Capuchinho, prosseguindo com o ensino básico no Colégio Ítalo-Brasileiro.

Ingressou posteriormente no Ginásio Espiritosantense, em Vitória, onde foi aluno da pesquisadora Maria Stella de Novaes, que incentivou o interesse pelas ciências naturais.

Desde a infância, Ruschi gostava de observar e coletar plantas e insetos. Na adolescência, começou a organizar cientificamente suas coleções e manteve contato com os pesquisadores do Museu Nacional.

As observações de Ruschi acerca de uma espécie de lagarta que atacava os laranjais do Espírito Santo chegaram a ser incorporadas a uma pesquisa internacional desenvolvida pelo entomologista italiano Filippo Silvestri.

Impressionado, o professor Cândido Firmino de Mello Leitão, diretor da Seção de zoologia do Museu Nacional, passou a tutelá-lo.

Aos 17 anos, Ruschi aceitou o convite de Mello Leitão e tornou-se colaborador do Museu Nacional, com a incumbência de coletar exemplares de fauna e flora para a instituição.

Desenvolveu um importante trabalho como taxonomista autodidata, ajudando a identificar e classificar novas espécies de plantas e vegetais.

Em 1934, Ruschi ingressou no curso de Engenharia Agronômica da Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa, onde estudou agricultura racional, silvicultura, reflorestamento e pragas agrícolas.

Transferiu-se posteriormente para a Escola Superior de Agricultura de Campos, onde se graduou em 1938.

No ano seguinte, ingressou nos quadros do Museu Nacional, na condição de assistente voluntário. Especializou-se em botânica nessa instituição, onde foi aluno de Frederico Carlos Hoehne e Alexander Curt Brade.

·        Augusto Ruschi e a fauna brasileira

De volta ao Espírito Santo, Ruschi prosseguiu com seu trabalho de identificação e catalogação de espécies da flora e fauna do Brasil, dando enormes contribuições aos estudos sobre orquídeas, bromélias, beija-flores, morcegos e macacos.

O naturalista foi responsável por catalogar mais de 600 espécies de orquídeas e identificar 50 espécies novas. 

Fascinado por beija-flores, Ruschi se tornou a maior autoridade mundial no assunto, respondendo pela catalogação de 80% das espécies de beija-flor existentes no Brasil e descobrindo duas espécies novas.

Ele foi o primeiro cientista a conseguir obter a reprodução de beija-flores em cativeiro e tornou-se uma referência internacional em técnicas inovadoras de captura, transporte e criação dessas aves.

Em 1963, Ruschi foi objeto de uma extensa matéria publicada pela National Geographic, versando sobre sua alegada capacidade de se comunicar com os beija-flores, escrita pelo pesquisador norte-americano Luis Marden.

Ruschi notabilizou-se ainda como pioneiro do preservacionismo no Brasil. Em Santa Teresa, ele dirigiu por décadas a Estação Biológica de Santa Lúcia.

Vinculada ao Museu Nacional, a reserva ambiental abrange 440 hectares de Mata Atlântica e é considerada uma das regiões mais ricas em vegetação epífita do mundo.

Em 1949, Ruschi fundou o Museu de Biologia Professor Mello Leitão, batizado em homenagem ao seu antigo mentor.

O museu é hoje uma das principais instituições científicas do Espírito Santo, preservando um valioso acervo zoobotânico, com mais de 40.000 itens.

O “Boletim do Museu de Biologia Professor Mello Leitão” se destacaria pelo pioneirismo na publicação de trabalhos sobre desenvolvimento agrícola autossustentável.

Um ano depois, em 1950, Ruschi graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Espírito Santo.

Três anos depois, foi efetivado como professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Prestou consultoria em temas ambientais e agrícolas para o governo do Espírito Santo e para os Ministérios da Agricultura e da Educação e organizou os primeiros cursos de educação ambiental instituídos no Brasil.

Em 1951, ganhou ampla notoriedade ao defender a criação de reservas ecológicas como bancos genéticos durante um congresso florestal da ONU.

Ruschi liderou o movimento em prol da preservação dos biomas no Brasil, articulando a criação de inúmeras reservas ambientais e parques — nomeadamente o Parque Nacional de Caparaó, unidade de conservação com 32 mil hectares, localizada na divisa dos estados de Espírito Santo e Minas Gerais.

O naturalista fundou, em 1970, com seus próprios recursos uma reserva de biologia marinha no município de Aracruz — a Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi.

Suas ações em prol da preservação ambiental tiveram grande repercussão internacional.

O artigo “O Éden de Augusto Ruschi”, publicado em 1960 pela Reader’s Digest, por exemplo, serviu de inspiração para o estabelecimento de reservas ecológicas no continente africano.

·        Oposição à ditadura

Ruschi foi um dos principais opositores da política de exploração predatória e desmatamento desenfreado implementada pela ditadura militar na Amazônia.

Em 1971, Ruschi denunciou as ações ilegais da empresa Aracruz Celulose, que havia expulsado 700 famílias indígenas e se apoderado de suas terras para o plantio de eucaliptos.

Ele também impediu que a Vale do Rio Doce adquirisse as terras da Reserva Biológica de Sooretama e derrubasse a mata nativa para produzir dormentes.

Por fim, em 1975, Ruschi conseguiu impedir que Vale e Aracruz se apropriassem da Reserva Biológica de Comboios, logrando a federalização do território.

As ações de Ruschi lhe granjearam enorme respeito e admiração, mas também despertaram o ódio de latifundiários, madeireiros, empresários e políticos, que usaram de difamação, ataques e ameaças para intimidá-lo.

Em 1977, Ruschi se envolveria em uma nova contenda, dessa vez com o governador do Espírito Santo, Élcio Álvares, que pretendia desapropriar a Estação Biológica de Santa Lúcia e transformá-la em uma fábrica de palmitos enlatados.

Ruschi recebeu os emissários do governador com uma espingarda na mão e mandou um recado: “avisem ao governador que ou ele muda de ideia, ou amanhã cedo eu vou lá matar ele pessoalmente, no Palácio”.

O governador acionou a Polícia Federal e denunciou a ameaça à imprensa, mas a polêmica acabou favorecendo Ruschi, que ganhou a simpatia da opinião pública, sensibilizada por sua defesa apaixonada da reserva.

O projeto foi descartado após Ruschi apresentar documentos desmentido a alegação do governo de que as terras da reserva eram devolutas.

·        Morte de Augusto Ruschi

Nos anos 80, Ruschi viu-se obrigado a diminuir o ritmo de suas atividades, em função da saúde declinante.

Seus problemas de saúde começaram após o naturalista ter sido acidentalmente envenenado por sapos durante uma viagem ao Amapá.

O quadro se agravou em função da hepatite e das sequelas deixadas por doenças como malária e esquistossomose, contraídas durante as expedições.

Gravemente enfermo e desenganado por seus médicos, Ruschi se submeteu a um ritual de cura indígena conduzido pelo Cacique Raoni e pelo Pajé Sapaim em 1986.

O tratamento trouxe alívio temporário ao paciente e estimulou a discussão sobre a efetividade das plantas medicinais indígenas.

Ruschi faleceu alguns meses depois, em 3 de junho de 1986, aos 70 anos. Seu corpo foi sepultado na Estação Biológica de Santa Lúcia, conforme ele havia requisitado.

Ao longo de sua vida, Augusto Ruschi publicou 20 livros e quase 500 artigos científicos abordando os biomas brasileiros e a importância da preservação ambiental.

Sua obra constitui um dos mais completos registros documentais sobre a fauna e a flora da Mata Atlântica e seus trabalhos sobre orquídeas e beija-flores seguem até hoje como referências basilares.

Em reconhecimento ao seu papel como pioneiro da causa preservacionista, às suas ações em prol da criação de reservas ambientais e à sua luta contra a agricultura predatória e o desmatamento, Ruschi recebeu em 1994 o título de Patrono da Ecologia no Brasil.

 

Fonte: Opera Mundi

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