sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Três em cada quatro brasileiros enfrentam barreiras no acesso a serviços de saúde, mostra estudo global

O Brasil apresenta dados contraditórios quando o assunto é inclusão em saúde. Três em cada quatro brasileiros (74%) relatam ter passado por pelo menos uma barreira ao buscar acesso a serviços de saúde. No entanto, quando acessam o sistema, a maioria (75%) afirma que sua saúde é discutida de uma forma compreensível, com explicação de termos médicos. E a discriminação parece ser ainda um problema: metade da população marginalizada e de pessoas com doenças crônicas têm a percepção de que a qualidade do atendimento foi ruim por causa de informações demográficas ou de histórico de saúde.

Os dados fazem parte de um estudo global realizado pela Haleon, em parceria com a Economist Impact e pesquisadores da University College London, que mede o índice de inclusão de saúde de 40 países. Para isso, foram ouvidos mais de 42 mil entrevistados quanto ao acesso a serviços de saúde, buscando lacunas no cuidado.

Em sua segunda edição, a pesquisa analisou três barreiras para a inclusão à saúde: a literacia em saúde, a acessibilidade e a discriminação. Enquanto a primeira se refere à capacidade de compreender e utilizar os serviços disponíveis, a segunda tem relação com o custo dos tratamentos ou disponibilidade do serviço, e a terceira, com percepções sobre qualidade do atendimento. “Nós vimos que as pessoas estavam sendo restringidas e enfrentando barreiras significativas para poder acessar uma saúde melhor por conta de como seriam tratados, de como se sentiriam vivenciando o cuidado à saúde”, diz Vicky Edmonds, diretora de Impactos Sociais da Haleon. 

Dentre os principais entraves para o acesso a recursos de saúde, no Brasil, estão a falta de consultas disponíveis (56%) e os horários inconvenientes dos serviços (29%). A grande distância ou custo do transporte também são obstáculos para 15% dos brasileiros — e chega a afetar 26% da população marginalizada e de pessoas com doenças crônicas. “Embora haja um acesso a um sistema de saúde comunitário universal, algumas mediações estavam foram do alcance, fora do bolso para um número de cidadãos brasileiros”, comenta Edmonds.

¨      Inclusão em saúde em comparação a outros países

No panorama internacional, o Brasil ocupa a 17ª posição de inclusão em saúde. A posição melhorou em relação à primeira edição do estudo, divulgada em 2023, quando o país ocupava a 19ª colocação. De um ano ao outro, muitos países caíram de posição no ranking geral: 85% da pontuação de inclusão dos países sofreu baixas entre 2022 e 2023. A Alemanha, por exemplo, estava na nona colocação no ano anterior e perdeu cinco posições neste ano, chegando a 14ª colocação.  

“Nós vimos, da primeira para a segunda fase, um número significativo de movimentos para baixo. Então, ter se movido [positivamente] é realmente uma forte performance, eu diria. E, também, o Brasil foi o país mais inclusivo em saúde na América Latina”, comenta Edmonds. Além dele, outros quatro países da América Latina participam do ranking: Costa Rica, Colômbia, Cuba e Honduras. 

A disponibilidade média de serviços de saúde, no país, é ligeiramente mais alta no Brasil (77%) em relação à média global (76%) e de países de renda média alta (74%).

Segundo a diretora de Impactos Sociais da Haleon, um dos aprendizados com a pesquisa é que, ao melhorar a inclusão na saúde, os países podem gerar outros ganhos para a população. “O que vimos foi que a inclusão na saúde também impulsiona a expectativa de vida saudável. Então, essa é uma oportunidade para que os países que forem realmente ativos na promoção da inclusão na saúde também tenham uma potencial economia nos cuidados de saúde ao fazê-lo”, comenta. 

No entanto, o estudo aponta que o fortalecimento da inclusão não está relacionado a mais investimento em saúde, algo que fica demonstrado pelo caso dos Estados Unidos. “Os EUA tiveram o gasto mais alto do PIB, mas alcançaram o número 11º. Então, não tem muita correlação entre quanto você gasta em saúde e quanto seu sistema de saúde é inclusivo. Em contrapartida, a Indonésia tinha um gasto de PIB menor em saúde, mas tem um sistema de saúde bem mais inclusivo”. 

¨      Desafios com relação a grupos marginalizados

A negação do acesso aos cuidados de saúde é uma tendência observada a nível global, mas também no território brasileiro. A população mais marginalizada e aquela com condições de saúde crônicas são as parcelas que mais passam por essa situação: duas a cada cinco pessoas (42%) pertencentes a esses grupos relatam que tiveram seus acessos negados. “Vimos em ambas as fases [do índice] um forte desempenho do Brasil para ter um sistema de saúde realmente inclusivo quando se tratava de grupos marginalizados. As políticas estavam em vigor, mas isso não estava aparecendo muito no que as pessoas estavam vivenciando”, observa Edmonds. Do total de pessoas com acesso negado, 36% delas eram mulheres. Quando analisada a faixa etária, 35% do total são millenials, 34% Gen-Z e 29% referentes a outros grupos com mais idade. 

Além das negativas, os grupos marginalizados enfrentam problemas em outras instâncias do cuidado, como no atendimento. De acordo com a pesquisa, 37% deles dizem que suas dores ou problemas de saúde não são levados a sério, 35% afirmam que tiveram exames ou tratamentos que consideravam benéficos para a própria saúde negados, e 24% acreditam que receberam tratamento injusto ou que são discriminados. 

A tendência é seguida não somente pelo Brasil, como por outros países avaliados no estudo. “Globalmente, nós vimos que três em cinco indivíduos estavam enfrentando alguma barreira com o tratamento. E isso foi particularmente visto em grupos marginalizados”, comenta a diretora de impactos sociais da Haleon.

Em relação ao que pode ser melhorado nos sistemas de saúde para que alcancem índices melhores de inclusão, Edmonds observa a necessidade de promover uma participação mais ativa da população no cuidado à sua saúde, o que parece passar pela prevenção. “Fazer com que as pessoas ajam para ajudar a cuidar de si mesmas e de suas famílias e ajudar a empoderar as comunidades na saúde é realmente um ponto fundamental. O que nós vimos foi que oito dos dez países que alcançaram o índice mais alto também alcançaram o índice mais alto nesse domínio”, relata, referindo-se ao empoderamento pessoal e de comunidades na saúde. 

 

Fonte: Futuro da Saúde

 

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