terça-feira, 17 de dezembro de 2024

PSA alto: médico explica o que pode ser

Uma das ferramentas diagnósticas mais conhecidas para detectar o câncer de próstata é o PSA (antígeno prostático cancerígeno), avaliado em um exame de sangue. O índice detecta alterações na próstata, mas, segundo o uro-oncologista André Berger, coordenador do Núcleo de Robótica do Hospital Moinhos de Vento (HMV), em Porto Alegre, e coordenador nacional de uro-oncologia do Grupo Oncoclínicas, é preciso cautela ao interpretar os resultados. 

“Níveis elevados podem ser causados por diferentes condições, como inflamações ou infecções. Até atividades físicas, como andar de bicicleta, podem impactar temporariamente os resultados", explica Berger. “Muitas vezes, homens que recebem um resultado elevado de PSA ficam preocupados, mas é importante lembrar que nem todo aumento está relacionado ao câncer”, destaca Berger.

Condições benignas, como HPB, que é um aumento natural da próstata com o avanço da idade, são causas comuns de elevação do PSA. A prostatite, que consiste na inflamação da próstata, também pode levar a alterações nos exames de sangue.

Conjunto 

Segundo o médico, a interpretação do PSA elevado deve ser feita em conjunto com uma análise clínica abrangente. Se os níveis permanecem elevados mesmo após descartar outras condições benignas, pode ser necessário realizar investigações adicionais, como a ressonância magnética multiparamétrica ou a biópsia guiada. 

“Se você recebeu um resultado de PSA elevado, não hesite em buscar uma consulta para uma análise detalhada e segura. Isso garante que qualquer decisão sobre tratamento seja tomada de forma responsável e embasada”, destaca André Berger. Ele lembra que homens, especialmente acima dos 50 anos, ou com histórico familiar de câncer de próstata, devem realizar exames preventivos regulares.

O médico explica ao Correio que o exame de PSA apresenta as taxas de PSA total e livre. “O total refere-se à soma de todas as formas de PSA na corrente sanguínea, incluindo tanto o PSA livre quanto o PSA ligado a outras proteínas”, diz. “O PSA livre é a fração do PSA que circula livremente no sangue, sem estar ligada a proteínas. Geralmente representa uma porcentagem menor do PSA total”, diz. 

A proporção entre PSA livre e total pode ajudar a diferenciar entre condições benignas e malignas. “Em geral, uma baixa porcentagem de PSA livre em relação ao total pode ser um indicador de câncer de próstata”, observa André Berger. “Quando analisamos o PSA, devemos considerar o valor absoluto, a cinética (velocidade de aumento, porcentagem de PSA livre e densidade de PSA”, esclarece. 

 

¨      Estudo mostra que ômega-3 conseguiu reduzir crescimento de tumor de pacientes

Mudanças na dieta podem ajudar a reduzir o crescimento de células cancerosas em pacientes com tumor de próstata em vigilância ativa. Essa abordagem de tratamento envolve o monitoramento regular da doença, mas sem intervenção imediata. Publicado ontem no Journal of Clinical Oncology, o estudo constatou que a alimentação rica em ácidos graxos ômega-3 e pobre em ômega-6 retarda o aumento tumoral em homens no estágio inicial da enfermidade. 

"Trata-se de um passo importante para a compreensão de como a dieta pode potencialmente influenciar os resultados do câncer de próstata", disse William Aronson, professor de Urologia na Escola de Medicina David Geffen da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), e primeiro autor do estudo.

Aronson acrescentou que: "Muitos homens estão interessados em mudanças no estilo de vida, incluindo dieta, para controlar o câncer e prevenir a progressão da doença. Nossas descobertas sugerem que algo tão simples como ajustar sua dieta pode potencialmente retardar o crescimento do câncer e prolongar o tempo antes que intervenções mais agressivas sejam necessárias".

Alguns homens com câncer de próstata de baixo risco optam pela vigilância ativa, em vez do tratamento imediato. No entanto, dentro de cinco anos, cerca de 50% deles precisarão recorrer à terapia, com cirurgia ou radioterapia. 

·        Diretrizes

Cientistas buscam meios de retardar a necessidade de tratamento, inclusive por meio de mudanças na dieta ou suplementos. No entanto, ainda não foram estabelecidas diretrizes dietéticas específicas nessa área. Embora outros ensaios clínicos tenham analisado o aumento da ingestão de vegetais e padrões de dieta saudável, nenhum encontrou um impacto significativo no abrandamento da progressão do câncer

Para determinar se a dieta ou os suplementos podem desempenhar um papel no tratamento do câncer de próstata, a equipe liderada pela UCLA conduziu um ensaio clínico chamado CAPFISH-3, que incluiu 100 homens com a doença de risco baixo ou intermediário, mas favorável, que optaram pela vigilância ativa. Os participantes foram divididos aleatoriamente para continuar com a dieta normal ou seguir uma alimentação com baixo teor de ômega-6 e alto teor de ômega-3, suplementada com óleo de peixe, por um ano.

Os participantes do braço de intervenção receberam aconselhamento dietético personalizado com um nutricionista credenciado, pessoalmente, por telessaúde ou por telefone. Os pacientes foram orientados sobre alternativas mais saudáveis e com baixo teor de gordura ômega-3, como azeite, e informados sobre como reduzir o consumo de ômega-6, presente em alimentos como batata frita, biscoito industrializado e maionese, entre outras frituras e processados. 

·        Equilíbrio

O objetivo era criar um equilíbrio favorável na ingestão de gorduras ômega-6 e ômega-3 e fazer com que os participantes se sentissem capazes de controlar seu comportamento alimentar. Eles também receberam cápsulas de óleo de peixe. O grupo controle não recebeu aconselhamento dietético nem tomou a suplementação. 

Os pesquisadores rastrearam alterações em um biomarcador chamado índice Ki-67, que indica a rapidez com que as células cancerosas se multiplicam — um preditor chave de progressão, metástase e sobrevivência ao câncer. Biópsias no mesmo local foram obtidas no início do estudo e novamente após um ano, usando um dispositivo de fusão de imagens que ajuda a rastrear e localizar os tecidos do tumor. 

Os resultados mostraram que o grupo com dieta baixa em ômega-6, rica em ômega-3 e suplementada com óleo de peixe, teve uma diminuição de 15% no índice Ki-67, enquanto o braço de controle registrou um aumento de 24%. "Essa diferença significativa sugere que as mudanças na dieta podem ajudar a retardar o crescimento do câncer, potencialmente atrasando ou mesmo prevenindo a necessidade de tratamentos mais agressivos", disse William Aronson, que também é chefe de oncologia urológica do Centro Médico de Assuntos de Veteranos de West Los Angeles e membro do Centro Compreensivo de Câncer Jonsson da UCLA Health.

Embora os resultados sejam promissores, os pesquisadores não encontraram diferenças em outros marcadores de crescimento do câncer, como o grau de Gleason, que são normalmente utilizados para monitorizar a progressão da doença. Por isso, alertam que são necessárias mais pesquisas para confirmar os benefícios a longo prazo dos ácidos graxos ômega-3 e da redução do ômega-6 no tratamento do tumor de próstata. "As descobertas apoiam ensaios ainda maiores para explorar o impacto a longo prazo das mudanças na dieta na progressão do câncer nos resultados do tratamento e nas taxas de sobrevivência em homens sob vigilância ativa", destacou Susanne Henning, professora adjunta emérita da UCLA e autora sênior do estudo.

·        Exame de sangue leva a prognóstico

Uma pesquisa liderada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Minnesota e pela Universidade Duke, ambas nos Estados Unidos, descobriu que um teste de sequenciamento de DNA para pacientes com câncer de próstata avançado pode distinguir prognósticos ruins e favoráveis. O estudo foi publicado na revista Nature Communications. 

O novo teste de sangue, chamado AR-ctDETECT, foi projetado para detectar e analisar pequenos fragmentos de DNA derivado de tumor no sangue de certos pacientes com câncer de próstata metastático avançado. No estudo, os pesquisadores usaram o método para analisar mais de 770 amostras de participantes de um ensaio clínico de fase 3.

O método identificou DNA tumoral circulante (ctDNA) em 59% dos pacientes com câncer de próstata metastático. Esses indivíduos tiveram sobrevida global significativamente pior em comparação com aqueles sem níveis detectáveis. 

Os resultados demonstram o potencial do teste para fornecer informações genéticas importantes, disseram os autores. “Nosso teste AR-ctDETECT, projetado para câncer de próstata, mostra o quão valiosos esses exames de sangue podem ser para ajudar os médicos a entender melhor o câncer de um paciente e prever como a doença irá progredir, levando a planos de tratamento mais personalizados”, ressaltou Scott Dehm, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Minnesota e um dos autores do estudo. “A incorporação do perfil genômico na tomada de decisões clínicas pode melhorar as estratégias de tratamento personalizadas e informar o desenho de futuros ensaios clínicos”, complementou Andrew Armstrong, oncologista do Duke Cancer Institute e co-autor sênior do estudo.

<><> Três perguntas para Vitor Sifuentes, médico cirurgião e urologista

·        Para quais pacientes é indicada a vigilância ativa?

A vigilância ativa é uma opção de acompanhamento ao paciente com câncer de próstata com características de baixa agressividade e expectativa de vida maior que 10 anos. Esses casos geralmente envolvem tumores pequenos, localizados, de crescimento lento e com níveis baixos de PSA. Essa abordagem é ideal para pacientes sem sintomas e com expectativa de vida longa, em que os riscos e efeitos colaterais dos tratamentos, como cirurgia ou radioterapia, podem ser evitados pelo baixíssimo potencial de evolução do tumor

·        Como é o acompanhamento desses pacientes?

O acompanhamento na vigilância ativa é rigoroso. Inclui consultas regulares, exames de PSA, toque retal e, biópsias periódicas. Esse monitoramento detalhado permite detectar qualquer mudança no comportamento do tumor, possibilitando a intervenção precoce, caso o câncer evolua para uma forma mais agressiva.

·        Caso o estudo da UCLA seja confirmado em pesquisas futuras, pode-se imaginar que a dieta tem uma influência sobre o câncer de próstata?

Sim, se os resultados do estudo da UCLA forem confirmados, isso reforçará a hipótese de que a dieta pode influenciar tanto no desenvolvimento quanto no comportamento do câncer de próstata. Já existem evidências de que hábitos alimentares saudáveis impactam vários tipos de câncer. Uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais, grãos integrais e com menor consumo de gorduras saturadas, pode ter um papel relevante na prevenção e no controle dessa doença.

 

Fonte: Correio Braziliense

 

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