quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Esquerda e direita enfrentam desafios na renovação de líderes visando eleições de 2026

À medida que a disputa presidencial de 2026 começa a tomar forma, o Brasil se vê diante do dilema de escolher quem será o sucessor de figuras como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) - declarado inelegível até 2030 - já não estiverem mais no centro da política.  Embora nomes alternativos surjam para substituir essas duas grandes lideranças que polarizaram as eleições de 2022, o cenário de renovação continua desafiador. A falta de opções competitivas, especialmente nas esferas de esquerda e centro, tem gerado um vácuo político, ampliando a dificuldade de se criar novos nomes que consigam transitar por todo o espectro político e conectar-se com a sociedade brasileira.

Segundo a Folha de S. Paulo, a questão sobre a continuidade de Lula no processo eleitoral de 2026 voltou a ser levantada após os problemas de saúde do presidente, o que pode impossibilitar uma tentativa de reeleição. No PT, ministros como Fernando Haddad e Rui Costa são citados como possíveis sucessores, mas enfrentam obstáculos, especialmente considerando a força simbólica de Lula dentro do partido. 

Do lado da direita, governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Jr. (PSD-PR) são alguns dos nomes que se destacam, embora a hipótese de uma candidatura de familiares de Bolsonaro, como sua esposa e filhos, também seja cogitada. Além disso, outsiders como o empresário Pablo Marçal (PRTB) têm sido mencionados como potenciais alternativas.

Ainda de acordo com a reportagem, outros nomes em ascensão, como João Campos (PSB-PE) e Nikolas Ferreira (PL-MG), são vistos como promissores, mas esbarram na falta de experiência política e desafios relacionados à juventude e à territorialidade. O caso da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), que obteve apenas 4% dos votos na eleição de 2022, é outro exemplo de como a polarização tem dificultado a ascensão de figuras moderadas no cenário político. Sua tentativa de se consolidar como uma liderança nacional no campo do centro foi limitada pela crescente divisão entre esquerda e direita, que continua a dominar as eleições.

Felipe Soutello, marqueteiro da campanha de Tebet, acredita que a construção de uma liderança política sólida no Brasil exige tempo, estrutura partidária e conexão com as elites político-econômicas. Segundo ele, as redes sociais, embora essenciais, não são suficientes para garantir a ascensão de novos líderes. A ex-senadora Ana Amélia Lemos (PSD-RS) reforça essa perspectiva, apontando que as redes sociais ajudam a projetar figuras desconhecidas, especialmente à direita, mas lamenta a substituição de qualidades como confiança e biografia respeitável por atitudes agressivas e polarizadoras.

A cientista política Vera Chaia também observa que a direita, particularmente após as manifestações de junho de 2013, soube explorar o campo das redes sociais e se beneficiar de um movimento de renovação de lideranças, enquanto a esquerda, por sua vez, apostou excessivamente em Lula, o que prejudicou a construção de novas opções. Ela acredita que a direita hoje tem mais nomes com potencial de alcance nacional, enquanto a esquerda segue em busca de alternativas.

O sociólogo Fábio Baldaia, do Laboratório de Estudos Brasil Profundo, destaca que, além de carisma e conexão com as massas, é essencial para qualquer liderança nacional compreender as questões mais profundas da sociedade brasileira, como economia, família e valores. 

¨      PT perde terreno entre mais pobres em SP desde 2012, enquanto centrão avança

O PT viu seu protagonismo junto a eleitores de baixa renda na cidade de São Paulo diminuir desde 2012. No mesmo período, a votação em vereadores do PSOL, MDB, União Brasil e PL nessa parcela da população avançou.

A Folha de S.Paulo analisou os votos que candidatos e legendas receberam à Câmara Municipal desde 2012 em todos os locais de votação divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Se em 2012 o PT conseguiu eleger o então ex-ministro da Educação Fernando Haddad prefeito de São Paulo, com o então ex-presidente Lula como cabo eleitoral, nos anos seguintes o partido entraria em um período de crise.

Em junho de 2013, protestos contra a classe política fomentaram a criação de grupos de direita que anos mais tarde se engajariam em atos pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016.

O cientista político e professor da FGV Easp Cláudio Couto destaca que em 2016 o perfil de escolha do eleitorado mudou e isso afetou o PT no país inteiro. Em São Paulo, Haddad perdeu a disputa pela reeleição ainda no primeiro turno para João Doria.

"O desgaste do partido fica muito claro ali. O PT não conseguiu ainda se recuperar do baque de 2016. Quando você pensa na esquerda como todo, ela piorou de lá para cá", diz.

A diminuição dos votos recebidos por candidatos do PT à Câmara Municipal aconteceu em 92,6% dos setores censitários da cidade de São Paulo, mas foi mais acentuada nos 6.121 de menor renda: em 97,4% deles a votação do partido caiu.

¨      "Vivemos um período contrarrevolucionário de ascensão da extrema-direita", diz José Dirceu

O ex-ministro José Dirceu participou de uma extensa entrevista ao programa 20 Minutos, conduzido por Breno Altman no canal Opera Mundi no YouTube. Em uma conversa repleta de reflexões históricas, análises políticas e projeções estratégicas, Dirceu abordou temas que vão desde a ascensão da extrema-direita global até os desafios da esquerda brasileira no atual cenário político.

De acordo com o anfitrião, o ano de 2024 termina com o mundo em polvorosa, marcado por eventos como a guerra na Ucrânia e o genocídio em Gaza, além da retomada da Casa Branca por Donald Trump, que assumirá a presidência dos Estados Unidos em janeiro de 2025. Nesse contexto, Dirceu destacou a crise do capitalismo global e a tensão entre as democracias liberais e o avanço do autoritarismo.

<><> A principal contradição global

Questionado sobre a principal contradição do mundo atual, Dirceu afirmou que ela está na decadência relativa dos Estados Unidos diante da ascensão de novas potências, como China, Índia e Rússia. “O mundo mudou, e não há como retroceder. A ascensão do Sul Global é uma realidade, e isso obriga os Estados Unidos a recorrer ao protecionismo e à desvalorização do dólar”, explicou.

O ex-ministro também pontuou que a extrema-direita, em ascensão nos países centrais do capitalismo, é uma manifestação da crise do capitalismo globalizado e das democracias liberais. Ele comparou o atual momento ao período entre as guerras mundiais, destacando o impacto da desindustrialização, da precarização do trabalho e da ascensão de ideologias xenófobas e nacionalistas.

<><> Avaliação do governo Lula e desafios para a esquerda

Apesar de celebrar os avanços econômicos do governo Lula, como o crescimento do PIB e a queda do desemprego, Dirceu apontou que a base social da esquerda está enfraquecida. Ele atribuiu isso à desmobilização sindical, ao enfraquecimento das organizações populares e à dificuldade de enfrentar a hegemonia do capital financeiro. “As forças progressistas precisam repactuar um projeto político claro, tanto dentro do PT quanto no campo da esquerda em geral”, afirmou.

Dirceu foi crítico à dependência do governo em relação ao Congresso, dominado por forças conservadoras. Ele destacou a importância de uma reforma tributária progressiva e defendeu o fortalecimento das políticas públicas como eixo central do governo. “O Brasil precisa de uma revolução social, que passa por uma reforma tributária e uma revolução educacional e tecnológica”, enfatizou.

<><> Críticas à política internacional e o papel dos BRICS

Dirceu também comentou sobre a política externa brasileira, incluindo a postura do governo Lula em relação à Venezuela e ao acordo Mercosul-União Europeia. Ele se mostrou contrário à negação do reconhecimento das eleições venezuelanas e à exclusão do país do BRICS. “Essa postura vai contra os princípios de autodeterminação e não-intervenção que sempre defenderam nossa diplomacia”, criticou.

Sobre o BRICS, Dirceu ressaltou seu potencial de criar alternativas ao dólar e impulsionar o desenvolvimento global. Ele apontou que o bloco tem capacidade de liderar uma nova ordem econômica e política que desafie a hegemonia dos Estados Unidos.

<><> Reorganização das Forças Armadas e extrema-direita no Brasil

Dirceu avaliou a necessidade de uma reforma nas Forças Armadas, mas alertou para a falta de condições políticas para implementá-la no momento. “A prioridade deve ser a despolitização e a profissionalização das Forças Armadas, além de impedir a partidarização das polícias militares, que estão sendo aparelhadas pelo bolsonarismo”, afirmou.

Ele também enfatizou a importância de responsabilizar todos os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, incluindo militares de alta patente. Para Dirceu, essas ações são cruciais para fortalecer a democracia e garantir que as instituições respeitem a Constituição.

<><> A visão de futuro

No encerramento, Dirceu refletiu sobre o papel da esquerda no Brasil e no mundo. Ele defendeu a necessidade de um debate profundo sobre o período histórico atual e as tarefas estratégicas do campo progressista. “As forças políticas precisam ter clareza sobre as contradições do momento e sobre o que é possível realizar no curto prazo. É uma luta de longo prazo, mas precisamos começar agora.”

A entrevista de José Dirceu destacou as complexidades do cenário atual e os desafios que o Brasil enfrenta em um mundo em transformação. Entre críticas e propostas, sua análise reforça a urgência de reorganizar a esquerda e de fortalecer as bases sociais para enfrentar os dilemas políticos e econômicos do futuro. 

¨      Saúde de Lula não afetará candidatura presidencial em 2026, afirma Jaques Wagner

Em entrevista à Folha de S. Paulo, o senador Jaques Wagner (PT-BA), um dos políticos mais próximos do presidente Lula, minimizou os possíveis impactos eleitorais relacionados à saúde do líder petista nas eleições de 2026. Segundo Wagner, “essa questão não será uma variável” determinante para a candidatura de Lula, ressaltando que a decisão final será pessoal do presidente.

Wagner, que é líder do governo no Senado e mantém a candidatura de Lula como plano A do Partido dos Trabalhadores, afirmou: “No quadro de hoje, o candidato é ele.” Apesar de defender a renovação dentro do partido, o senador da Bahia acredita que Lula continua sendo a principal escolha para a presidência.

O senador também abordou a questão da responsabilidade fiscal do governo Lula. “Eu não vejo irresponsabilidade fiscal por parte do presidente e pondero que esse não é um conceito absoluto. Tem que ser um equilíbrio entre gastos ou investimentos e o bem-estar das pessoas”, afirmou Wagner. Ele destacou que, apesar das críticas, o governo tem conseguido aumentar a receita e controlar as despesas, mantendo a dívida pública dentro do padrão em relação ao PIB.

Sobre a desconfiança manifestada por investidores em relação à contenção de despesas, Wagner comentou: “Tem um tempero de luta política”. Ele acredita que a turbulência econômica atual, marcada pela instabilidade do dólar e dos juros, possui um componente político além dos fatores econômicos tradicionais.

Wagner também enfatizou a importância da comunicação das ações positivas do governo para melhorar a avaliação pública. “A gente ainda não encontrou como grupo político uma embocadura disso aí”, disse ele, apontando a necessidade de uma narrativa mais qualificada sobre os feitos do governo.

No que diz respeito à renovação no PT, o senador reconheceu o desafio de integrar novos quadros jovens ao partido, mas reafirmou a confiança na liderança de Lula. “Eu sou um obsessivo da renovação, fiz isso na Bahia. Mas, na minha opinião, com o quadro de hoje, o candidato é ele.”

Sobre possíveis reformas ministeriais, Wagner mencionou que qualquer ajuste dependerá do desempenho e das necessidades políticas, sem definir regras específicas. “Vai ter um ajuste de base, pode ter mudança dentro do mesmo partido, dependendo do desempenho de cada um”, explicou.

Por fim, ao ser questionado sobre a influência da saúde de Lula em sua decisão de concorrer, Wagner afirmou categoricamente: “Saúde para mim não será uma variável de decisão, definitivamente. Será uma decisão pessoal dele.”

 

Fonte: Brasil 247/Jornal GGN

 

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