Ecoansiedade:
o que é a ansiedade climática e como lidar
A ecoansiedade, também chamada de ansiedade climática é um
sentimento generalizado de medo crônico e
preocupações com as consequências das mudanças climáticas. Incêndios
florestais, aquecimento global, crise climática, chuvas
torrenciais (que causam enchentes,
enxurradas e deslizamentos de terra), animais feridos, ondas de calor extremo, extinção em
massa e
eventos de catástrofe ambiental são alguns eventos que, além de afetar
diretamente os envolvidos, trazem a sensação de desamparo, desesperança e
tristeza.
A exposição a informações sobre eventos nocivos
relacionados ao clima pode resultar em consequências para a saúde mental, como ansiedade, depressão e transtorno
de estresse pós-traumático.
Uma proporção significativa de pessoas afetadas por
esses eventos – geralmente as mais pobres e racializadas – desenvolve
disfunção psicológica crônica. Às consequências diretas da preocupação
associada à crise ambiental soma-se
o estresse causado pelo
bombardeio de notícias que fazem lembrar que a humanidade está em meio a um
colapso ambiental.
Uma pesquisa confirmou que
existe ligação entre eventos climáticos extremos e aumento da ansiedade climática. De acordo com os cientistas, “a
ansiedade climática aumentará conforme as pessoas forem presenciando cada vez
mais eventos adversos do clima”. Mas, ao mesmo tempo, não é recomendado ficar
alheio a tudo isso. Então qual seria a melhor forma de lidar com as questões
ambientais, sem apelar para o infundado negacionismo
climático?
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Por
que sinto ecoansiedade?
Os seres humanos têm algo chamado viés de negatividade
humana, o que significa que fomos feitos para prestar mais atenção a
informações mais ameaçadoras e assustadoras do que as positivas. Isso remonta à
sobrevivência quando os primeiros humanos caçavam comida, água e abrigo. A
constante ameaça de ataque manteve o Homo
sapiens no modo de luta ou fuga.
A ansiedade é
uma resposta fisiológica quando o corpo produz adrenalina e entra no
modo de detecção de ameaças. Embora ela possa ser um exagero do risco de alguma
coisa, a intenção é manter o corpo seguro. A ecoansiedade não necessariamente é algo
ruim, afinal de contas, se preocupar com o futuro é importante. Mas mais
importante do que se preocupar, é tomar atitudes concretas que viabilizem a
perspectiva de um futuro melhor.
Dessa forma, pare e preste atenção a sua ecoansiedade. Ela está te dizendo que é preciso
agir. Mas, você só pode agir se estiver bem, então, em primeiro lugar, cuide de
si.
·
Diferentes
perfis
Uma pesquisa realizada com 50
jovens entre 6 e 18 anos nas cidades de São Paulo, Itaparica e Salvador também
comprovou que quanto mais um jovem possui informação sobre as mudanças climáticas, mais a condição é
comum.
“Eu fiquei espantada como psiquiatra. Os entrevistados
citam pânico, dificuldade para dormir e a sensação de que estamos atrasados
para resolver um problema urgente”, disse Debora Tseng Chou à BBC.
“Identificamos três perfis de envolvimento com as
mudanças climáticas: desatento, descomprometido e engajado. Os perfis estavam
em grande parte relacionados com diferentes contextos socioeconômicos.
Analisamos cada perfil nas dimensões de espaço, tempo, emoções e ações.
Os adultos foram retratados pelos participantes como
negadores teimosos, como influências neutras ou como modelos de conhecimento e
envolvimento. Devido à sua idade e nível de desenvolvimento, as crianças
pequenas tinham percepções distintas das mudanças climáticas”, disseram os
autores.
Foi notado, então, que manter percepções espaciais e
temporais e informações sobre a crise climática são essenciais para que um
indivíduo possua as preocupações ambientais características desse tipo de
ansiedade. Ademais, essas preocupações variam de acordo com a idade e as
diferenças socioeconômicas.
·
Como
é definida a ecoansiedade?
O termo ecoansiedade é definido pela Associação
Americana de Psicologia (APA), como “um medo crônico da catástrofe ambiental”.
No entanto, ela não é considerada uma doença mental, e sim uma condição que
pode ter consequências em termos de saúde mental e risco
de ansiedade ou transtorno
depressivo.
·
Como
lidar com a ansiedade climática?
Embora a preocupação e a ansiedade em relação à crise ambiental
sejam normais, a ecoansiedade é um estado
mais intenso, devido à seriedade dos problemas que estamos enfrentando nos
últimos anos. Ela ainda pode ser acompanhada de sentimentos de culpa por
contribuições pessoais ao problema.
De acordo com artigo publicado na
revista The Conversation, a
exposição a eventos ambientais nocivos pode ter sido um “choque de realidade”
para muitas pessoas que mantiveram uma atitude passiva em relação às mudanças
climáticas, e mesmo para muitas que eram ativistas do negacionismo
climático.
Para 39% dos 10 mil jovens, entre 16 e 25 anos,
entrevistados em um estudo, a preocupação com
as questões ambientais é tão grande ao ponto de os deixar hesitantes quanto à
ideia de ter filhos.
Diante das circunstâncias atuais, a crise ambiental se
torna quase impossível de ignorar. Embora a ansiedade climática não seja um
distúrbio mental diagnosticável, pode ter impactos significativos no bem-estar de uma pessoa. Se você acha
que está enfrentando esse sentimento, confira algumas dicas que podem te
ajudar:
·
Procure
ajuda profissional para tratar a ecoansiedade
Algumas pessoas, principalmente as que vivem com
problemas psicológicos não relacionados às mudanças climáticas, podem ter mais
dificuldade em se adaptar ao aumento do estresse causado pelo contexto de crise
ambiental.
Em casos mais graves, quando os recursos emocionais já
estão esgotados, pode ser mais difícil se adaptar a mudanças. Embora ainda não
tenhamos pesquisas sobre isso, faz sentido que pessoas que sofrem com problemas
de saúde mental pré-existentes sejam mais vulneráveis aos efeitos da ecoansiedade.
Se esse for o seu caso, não hesite em procurar ajuda
profissional. Se você tem ou não um distúrbio de saúde mental pré-existente, se
estiver deprimido ou ansioso, de modo que afete seu trabalho, aprendizado ou
vida social, procure aconselhamento de um profissional especializado em saúde
mental.
Intervenções psicológicas baseadas em evidências, como
terapia cognitivo-comportamental, reduzem os sintomas
de ansiedade e depressão, melhorando a saúde mental e o bem-estar. Você ainda
pode aderir a atividades complementares no seu dia a dia para reduzir a ansiedade climática. Alguns exemplos
incluem meditação, mantra, pranayama e yoga.
·
Seja
parte da solução
Agora estamos convivendo com as consequências
ambientais das mudanças climáticas, e isso exige que as pessoas se adaptem.
Felizmente, a maioria
de nós é naturalmente resiliente e capaz de superar o estresse e as
perdas, e viver com a incerteza.
Mas podemos aumentar essa resiliência nos
conectando com amigos e familiares e nos engajando positivamente em nossas
comunidades. Fazer escolhas saudáveis como se alimentar bem, praticar
exercícios e ter o sono em dia pode ajudar. Além disso, apoiar as pessoas
vulneráveis traz benefícios tanto para a pessoa que presta quanto para a que
recebe assistência.
Procurar reduzir sua própria pegada de carbono pode ajudar a aliviar
sentimentos de culpa e desamparo – além da diferença positiva que essas
pequenas ações podem trazer para o meio ambiente. Há uma série de
atitudes que você pode aderir, como pressionar representantes por
comprometimento com as pautas ambientais, diminuir o consumo de produtos de
origem animal, neutralizar sua emissão de carbono, praticar compostagem, reduzir o consumo
de plástico e
optar pelo transporte público. Tudo isso faz parte do consumo consciente.
Tomar a decisão de ser um consumidor mais consciente é
uma forma de ser otimista; e manter o otimismo não é algo bobo, é ter
confiança e um comportamento orientado a objetivos e resultados positivos.
·
Não
desanime
Consumir com uma pegada ambiental reduzida é
uma das formas de ser parte da solução de problemas ambientais, mas você pode
expandir sua influência no mundo. Procure formas inteligentes de influenciar as
pessoas e conscientizá-las politicamente sobre a importância da pauta
ambiental.
Muitas não darão a mínima para o que você disser, mas,
como sugere a professora, filósofa e ativista Angela Davis:
“Você tem que agir como se fosse possível
transformar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo”.
Fonte: eCycle
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