sábado, 14 de dezembro de 2024

Aumento da Selic não passa de uma picaretagem política generalizada, explica economista

O Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou, na última quarta-feira (13) a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano, decisão que surpreendeu até mesmo o mercado financeiro. 

A expectativa era a de que a elevação fosse de 0,75 ponto, mas sob a justificativa da recente alta do dólar e das incertezas em torno da inflação e da economia global, o Copom aumentou a taxa básica de juros e prometeu repetir o feito nas próximas duas reuniões, de acordo com o cenário internacional e nacional. 

Mas, para Ladislau Dowbor, professor de economia da PUC-SP e consultor de várias agências internacionais, a decisão do comitê do Banco Central (BC) não passa de uma “picaretagem política generalizada”, voltada para interesses do mercado financeiro e de gigantes mundiais, como a BlackRock e o JP Morgan.

“A primeira coisa [para entender] é o seguinte, quem é que faz aplicação financeira? Aqui chamam de investimento, mas é aplicação financeira. Investimento é quando você produz alguma coisa que aumenta o estoque de capital. Aqui são aplicações financeiras, mas na realidade é especulação”, explica o professor.

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Dowbor chama a atenção para o fato de que 75% das famílias brasileiras não fazem aplicações porque mal conseguem “fechar o mês” com a renda que recebem.

“Na realidade, nós temos 79% das famílias que estão endividadas, ou seja, parte do que elas têm estão transformando para pagar juros em vez de dinamizar a economia comprando coisas”, ressalta o docente e convidado do programa TVGGN 20H da última quinta-feira (12).

Além de atender aos interesses de 1% da população mais rica do país, a alta de 1% da Selic não faz jus à realidade econômica do país, que teve 0,9% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, mas sim um processo de apropriação dos tributos pagos pela população. 

Isso porque o 1% mais rico tem entre 10% e 15% do Tesouro Direito, em que os investidores compram títulos da Dívida Pública Federal. 

“O segundo ponto muito importante de entender é o seguinte, esse estoque da dívida de mais de R$ 7 trilhões, não é que o Estado construiu universidades, fez coisas úteis e se endividou para isso. Não, são esses bancos, esses grupos financeiros, eles vão comprando títulos do governo financiado pela Selic e a Selic dá os juros para eles e eles reaplicam esses juros, (7:38) o que vai aumentando a dívida e aumentando o volume de dinheiro dos nossos impostos transferidos para esses grupos”, resume Dowbor.

·        Ciclo

A decisão do Copom responde, então, a um ciclo vicioso. Eles sobem a Selic, aumentam os juros, elevam a dívida pública e mais dinheiro de imposto é transferido para os mais ricos.

Outra consequência do aumento da Selic é o agravamento do processo de industrialização do país, uma vez que, ao observar que as famílias estão endividadas e, consequentemente consomem menos, o capital que investiriam em fábricas para produzir bens é direcionado em títulos da dívida pública. Assim, além de garantir um retorno, o investimento não tem grandes riscos se comparado à complexidade de gerir uma indústria. 

“É muito mais interessante fazer aplicação financeira do que fazer investimento produtivo, o que reorienta toda a economia para a especulação financeira e explica a desindustrialização e a fragilização da economia”, acrescenta o professor da PUC.

Ladislau Dowbor acrescenta ainda que o aumento da Selic em 1 ponto percentual custa ao país R$ 70 bilhões em juros da dívida pública, montante que representa quase metade do que é gasto com o programa Bolsa Família (R$ 170 bilhões). 

“Isso, para mim, é apropriação indébita. Para os muito ricos, a gente não fala em roubo, a gente fala em apropriação indébita mais elegante, certo? Mas quando você ganha dinheiro sem fazer a contrapartida correspondente e produtiva para a sociedade, isso é simplesmente desonesto ou sem vergonha”, continua o economista.

·        Alternativas

Para romper o ciclo vicioso, Dowbor sugere que o governo invista mais dinheiro na base da sociedade. “Botar dinheiro para esses grupos financeiros especulativos é um dreno. Quando você coloca dinheiro  para a base da sociedade, seja através do SUS, seja através do sistema de educação, seja Bolsa Família, seja o salário mínimo, seja qual for o subsistema, digamos, o dinheiro vai na base da sociedade, em uma economia que está em situação de subutilização da sua capacidade produtiva, você está dinamizando o conjunto da máquina. Esse é essencial.”

 

¨         O saque dos bárbaros, o Centrão do Congresso e o cartel do mercado. Por Luís Nassif

O economista da consultoria conhecida dá entrevista a O Globo dizendo que nem aumento de Selic derrubará o dólar. Que o problema é o déficit fiscal.

Décadas atrás, essa mesma consultoria foi incumbida de questionar um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). O reestudo mostrava que, com o aumento do salário mínimo, 55% dos lares que possuíam aposentados e pensionistas, passaram a ser arrimo de família.

O que significa isso?

Crianças entrando mais tarde no mercado de trabalho. Ou seja, passando mais tempo na escola, com ganhos para educação.

Redução da fome e, por consequência, das doenças, com ganhos para saúde.

Redução das crianças cooptadas pelo crime.

Em suma, uma série de vantagens terríveis, pois significa legitimar o aumento do salário mínimo sob a ótica do gasto público: mais salário mínimo, menos gastos em saúde e segurança e maior eficiência na educação.

Houve um pânico geral no mercado, que contratou a mesma consultoria para tentar provar que o aumento do salário mínimo aumentava a propensão dos jovens à vagabundagem. O autor dessa tentativa foi o economista João Batista Camargo.

Para dar algum verniz de seriedade a essa tese vagabunda, Camargo convidou o técnico do IPEA para co-autor. O trabalho entregue ao mercado, no entanto, confirmava todas as hipóteses do primeiro trabalho e deixava, como consolo, a possibilidade teórica – e não comprovada no trabalho – que poderia aumentar a propensão à vagabundagem.

Na época, foi o maior exemplo – dentre inúmeras – que o trabalho dessas consultorias, voltadas para o mercado financeiro, é apenas o de tentar dar legitimidade acadêmica a teses antissociais – geralmente falsas.

É o que acontece com essa inacreditável teoria das metas inflacionárias.

Sua única função é preservar o capital do rentista e tratar, cada vez mais, de se apossar do orçamento – tal qual fazem seus irmãos-gêmeos do Centrão.

Temos que fazer tudo para equilibrar o orçamento, pois ele produz inflação que prejudica especialmente os pobres.

Para tanto, nada de tributação sobre lucros e dividendos, nem alíquotas maiores para as camadas superiores de renda. Vamos reduzir o Bolsa Família, os Benefícios de Prestação Continuada, a geração de empregos (pois aumento de emprego provoca inflação), os investimentos em educação. Tudo em nome da proteção aos mais pobres.

Mais que isso, faz parte dessa lógica a total desregulamentação do mercado de câmbio e de seus derivativos. Permite-se a formação de cartéis – dos quais essas consultorias são os braços explícitos de montagem de movimentos de overshooting. E pretendem reescrever a Constituição a golpes de manipulação.

Não se pode aceitar uma taxa básica de juros de 6, 7, 8% acima da inflação. Não é natural. É humilhante para todo o país, diploma de subdesenvolvimento. São os grandes investidores do mundo todo que aparecem por aqui, literalmente tirando leite das crianças, educação dos jovens, saúde dos adultos.

A imensa dívida pública não foi criada com gastos em infraestrutura, em saúde, educação. É fruto exclusivamente dessa dependência colonial ao capital gafanhoto externo. Volta-se aos tempos do Encilhamento, da República Velha.

Não se exige atos heróicos de um governo acuado pelo Centrão do Congresso e pelo cartel do mercado. Mas tem que mostrar, ao menos, que está estudando alternativas para defender o país do saque dos bárbaros.

 

¨         Atividade econômica surpreende e cresce em outubro, mostra BC

A atividade econômica teve crescimento em outubro, iniciando o quarto trimestre com um resultado inesperado ainda que com perda de força, mostraram dados do Banco Central nesta sexta-feira.

O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), apresentou alta de 0,1% em outubro sobre o mês anterior, em dado dessazonalizado.

O resultado foi o terceiro seguido no azul e frustrou expectativa em pesquisa da Reuters de queda de 0,2%. No entanto, mostrou desaceleração depois de alta de 0,9% em setembro, em dado revisado pelo BC de ganho de 0,8% informado antes.

Os dados do IBC-Br mostram ainda que, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o índice teve alta de 7,3% em outubro, enquanto no acumulado em 12 meses passou a um avanço de 3,4%, segundo números observados.

Em outubro, tanto o setor de serviços quanto o de varejo tiveram desempenho positivo, segundo dados do IBGE divulgados anteriormente. As vendas varejistas surpreenderam com uma alta de 0,4% sobre o mês anterior, enquanto o volume de serviços aumentou 1,1%, mais do que o esperado.

Por outro lado, a produção industrial frustrou as expectativas com uma queda de 0,2% no mês.

"A leitura positiva (do IBC-Br) não refletiu totalmente os resultados da atividade econômica de outubro, que apresentaram desempenhos positivos mais intensos", avaliou o economista do Santander Gabriel Couto.

O banco elevou sua projeção de expansão do PIB no quarto trimestre a 0,4% sobre os três meses anteriores, de 0,1% antes, calculando que o ano terminará com crescimento de 3,5%, de 3,4% anteriormente.

No terceiro trimestre, o PIB brasileiro desacelerou e expandiu 0,9%, de acordo com dados do IBGE divulgados no início do mês, mas ainda mostrou uma economia aquecida mesmo diante da política monetária contracionista. A expectativa é de que a economia siga enfraquecendo no quarto trimestre, mas ainda com ganhos.

A economia aquecida vêm mantendo as preocupações com a inflação no país, e o Banco Central acelerou nesta semana o ritmo de aperto nos juros e elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano, surpreendendo ao prever mais duas altas da mesma magnitude à frente.

"Ao longo de 2024 diversos vetores impulsionaram a atividade econômica, com destaque para a taxa de desemprego em mínima histórica, aumento dos salários, melhores condições de acesso para o crédito e uma forte elevação dos benefícios sociais", disse o economista da Suno Research, Rafael Perez.

"Esse cenário tem possibilitado uma maior expansão dos setores mais dependentes da renda e do consumo. Contudo, tem gerado cada vez mais pressões inflacionárias, piorando o balanço de riscos do Banco Central", completou.

Pesquisa Focus realizada pelo Banco Central antes da decisão sobre os juros mostra que a expectativa para a expansão do PIB este ano é de 3,39%, indo a 2,0% em 2025.

O IBC-Br é construído com base em proxies representativas dos índices de volume da produção da agropecuária, da indústria e do setor de serviços, além do índice de volume dos impostos sobre a produção.

¨         Economia cresce apesar do BC, que tenta provocar recessão e ignorar esforço fiscal do governo, diz Gleisi Hoffmann

A presidente nacional do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann, fez duras críticas à política monetária do Banco Central (BC) e ao recente editorial do jornal Folha de S.Paulo, que defendeu a manutenção de juros elevados. Gleisi destacou que, mesmo sob pressões econômicas e cambiais, a economia brasileira apresenta sinais consistentes de recuperação, impulsionada pelo comércio, pela indústria e pela recuperação da renda dos trabalhadores.

Em sua análise, a parlamentar apontou: “O crescimento do comércio em 2024 será o maior desde 2013, o aumento da venda de automóveis no Brasil este ano já é o maior do mundo e a Petrobrás faz encomendas de R$ 16,5 bi à indústria naval brasileira, num país em que o desemprego está chegando ao menor nível da história, o salário volta a crescer e a renda da população também.”

Gleisi também questionou a postura do Banco Central, que projeta a manutenção da taxa de juros em 14,25% até o início de 2024, o que, segundo ela, seria um ato deliberado para conter o crescimento econômico. “Essa taxa vai elevar em R$ 50 bi a conta de juros da dívida. Para a Faria Lima, tudo, para o setor produtivo e os trabalhadores, a conta. Em que mundo vivem estes capitalistas selvagens? Não vai surpreender se escreverem um editorial reclamando contra a abolição”, disparou.

A deputada ainda criticou a falta de atuação do BC na estabilização do câmbio, considerando a alta do dólar como resultado de uma “especulação criminosa contra o real”. Para ela, essa política favorece o mercado financeiro em detrimento do setor produtivo e dos trabalhadores.

Desafios e avanço econômico

Os números citados por Gleisi refletem o esforço do governo em estimular a economia, mesmo enfrentando as amarras de uma política monetária que, segundo especialistas, tende a esfriar a atividade econômica. O crescimento do comércio e o desempenho da indústria automobilística brasileira já são reconhecidos internacionalmente.

Além disso, a Petrobrás, ao encomendar R$ 16,5 bilhões à indústria naval, reforça o papel estratégico da estatal na recuperação econômica e na geração de empregos. Segundo dados oficiais, o desemprego está em queda e a massa salarial tem crescido acima da inflação, aumentando o poder de compra da população.

 

Fonte: Jornal GGN/Reuters/Brasil 247

 

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