sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Um hábito comum no trabalho que pode reduzir a expectativa de vida

Aparentemente inofensivo, o hábito de passar longas horas sentado, comum em uma era em que trabalhar em frente a uma tela se tornou a norma, tem se mostrado prejudicial à saúde. Estudos recentes indicam que esse comportamento contribui significativamente para o aumento do risco de doenças cardiovasculares e metabólicas, além de acelerar o processo de envelhecimento.

Segundo uma pesquisa conduzida pela Universidade do Colorado Boulder e a Universidade da Califórnia Riverside, a saúde humana pode ser severamente afetada por longas horas passadas na mesma posição, mesmo entre pessoas que praticam exercícios regularmente. O estudo intersecta com outra pesquisa divulgada pela American Heart Association.

“Nossos corpos foram feitos para se mover o dia todo. Eles não foram feitos para ficar ociosos e estacionários com uma taxa metabólica semelhante à de uma pessoa em coma”, disse um dos autores do estudo e Ph.D., Marc Hamilton.

“Quando nos privamos desse tipo de atividade muscular essencial ao longo do dia, coisas muito potentes acontecem dentro de nossos corpos. Você não pode impactar esses mesmos processos celulares indo a uma academia e fazendo exercícios artificiais por 30 minutos"

Ficar sentado por mais de 10 horas ao longo do dia eleva o risco de doenças cardíacas e diminui a expectativa de vida. Apenas ficar mais de 30 minutos sem interromper a posição pode começar a afetar o fluxo sanguíneo, elevando os riscos de derrames. Para aqueles que passam mais de oito horas diárias em frente ao computador, as probabilidades de desenvolver problemas cardiovasculares aumentam consideravelmente, mesmo que sigam as recomendações de atividade física.

Além disso, a falta de movimento prolongada também interfere no controle do açúcar no sangue e no peso corporal. A inatividade dificulta a capacidade do organismo de processar glicose e gorduras na corrente sanguínea, o que eleva os riscos de diabetes tipo 2 e obesidade. O sedentarismo prolongado, além de prejudicar a saúde física, também afeta a saúde mental. Permanecer sentado por longos períodos reduz a ativação dos grandes músculos das pernas, o que pode resultar em uma queda na produção de substâncias químicas cerebrais responsáveis pela regulação do humor. Com o tempo, essa inatividade pode favorecer o surgimento de quadros de ansiedade e depressão.

<><> O que fazer

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomenda pelo menos 150 minutos semanais de atividade física moderada, mas quem passa muito tempo sentado pode precisar de até o triplo para neutralizar o sedentarismo. Caminhadas, subir escadas e alongamentos regulares ao longo do dia ajudam a melhorar a circulação e diminuir os riscos associados.

Outra dica simples é fazer pausas frequentes: levantar-se a cada 30 minutos e movimentar-se pode ativar a circulação e reduzir a fadiga muscular. Para o fisioterapeuta Brian Cleven, pequenos exercícios no local de trabalho, como flexionar os pés ou levantar os calcanhares, são úteis. O uso de mesas em pé, que permite alternar entre posições ao longo do dia, também pode manter os músculos ativos, embora não substitua o exercício regular.

Em situações de imobilidade, como durante viagens, ajustes de posiç??o ou pequenos movimentos, como mudar as pernas ou esticar os braços, podem reduzir a tensão muscular. Tecnologias e aplicativos que lembram de se movimentar são aliados úteis, assim como caminhadas curtas após refeições. Essas estratégias respondem a uma crescente preocupação com o sedentarismo. Para o Dr. Marc Hamilton, especialista da Universidade de Houston, a mensagem é clara: “nossos corpos foram feitos para se mover o dia todo.”

 

        Obsessão por riqueza aumenta ansiedade e depressão

A busca incessante pelo crescimento econômico e a desigualdade social do sistema capitalista estão diretamente ligadas ao aumento dos transtornos de saúde mental, especialmente entre as populações mais pobres. Essa uma das conclusões do relatório "Economia do Burnout: Pobreza e Saúde Mental", da ONU.

Elaborado pelo relator especial Olivier De Schutter, o documento aponta que a obsessão pelo aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e a competitividade exacerbada nas sociedades modernas criam condições econômicas e sociais que agravam a ansiedade, depressão e outras doenças mentais.

O relatório identifica um ciclo vicioso entre pobreza e saúde mental: a pobreza expõe os indivíduos a maior risco de transtornos mentais, enquanto esses mesmos transtornos dificultam que as pessoas escapem da pobreza.

<><> Ansiedade por status

Em entrevista à ONU News, em Nova York (EUA), De Schutter destacou que as desigualdades sociais geram o que ele chama de “ansiedade por status”, um fenômeno em que as pessoas, especialmente da classe média, vivem com o medo constante de cair na pobreza.

"Quanto mais desigual uma sociedade, mais as pessoas sentem esse medo, levando a quadros de estresse, depressão e ansiedade", explicou o relator.

Ele argumenta que é urgente abandonar a ideia de que o crescimento econômico, medido pelo PIB, é uma solução mágica para erradicar a pobreza.

"O PIB não é a varinha mágica", afirmou.

Para De Schutter, a busca por crescimento desenfreado está, na verdade, ampliando o fosso entre ricos e pobres, gerando sérios problemas de saúde mental e intensificando o medo de "ficar para trás" na sociedade.

<><> Precarização do trabalho

A precarização do trabalho é outra preocupação de De Schutter. Segundo ele, o maior fator de risco atual é uma economia que opera 24 horas por dia, 7 dias por semana, na qual trabalhadores e trabalhadoras precisam estar constantemente disponíveis sob demanda.

De Schutter destacou que essa lógica de trabalho, especialmente prevalente entre trabalhadores e trabalhadoras de aplicativos e plataformas digitais, resulta em horários instáveis, dificultando o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

"A incerteza constante sobre horários e carga de trabalho é uma grande fonte de depressão e ansiedade", alertou.

O relator também apontou que, embora essa realidade afete particularmente os trabalhadores e trabalhadoras de aplicativos, o fenômeno se estende a diversas indústrias ao redor do mundo, intensificando o impacto na saúde mental de milhões de trabalhadores e trabalhadoras.

<><> Crise climática

A crise climática é apontada como outra causa de ansiedade no mundo atual, comentou o relator especial da ONU sobre Pobreza e Direitos Humanos.

O relatório destaca que fenômenos como inundações, secas e aumento das temperaturas têm destruído os meios de subsistência de milhões de agricultores e agricultoras e povos indígenas, que dependem diretamente de recursos naturais.

De Schutter estima que cerca de 400 milhões de pessoas em todo o mundo vivem da exploração sustentável de florestas e outros recursos naturais, e agora estão testemunhando o "desmoronamento do mundo natural". Em algumas regiões, essa degradação ambiental tem levado ao aumento das taxas de suicídio, segundo o relatório.

O documento revela que 11% da população mundial já sofre de algum transtorno mental, e a expectativa é que esse número aumente nos próximos anos. De Schutter alerta que um em cada dois adultos poderá enfrentar problemas de saúde mental ao longo da vida.

As pessoas em situação de pobreza são as mais vulneráveis. De acordo com o relator, aqueles que vivem em condições de pobreza têm três vezes mais chances de desenvolver depressão e ansiedade, devido às condições adversas que enfrentam.

<><> População em situação de rua

Outro ponto destacado por De Schutter foi o círculo vicioso que conecta a pobreza à saúde mental, especialmente para a população em situação de rua. Segundo ele, indivíduos que enfrentam depressão e ansiedade encontram mais dificuldades em continuar trabalhando ou buscar emprego, agravando sua condição de vulnerabilidade.

De Schutter mencionou que muitas pessoas em situação de rua sofrem com problemas de saúde mental, o que frequentemente leva ao rompimento de laços familiares e sociais, alimentado pela vergonha de sua condição. A estigmatização e a falta de redes de solidariedade agravam ainda mais a pobreza dessas pessoas, aumentando o risco de perderem seus abrigos.

<><> Renda básica universal

Entre as soluções propostas pelo relator, está a renda básica universal, que garantiria a todos um valor mínimo sem condicionalidades, como forma de livrar as pessoas da ameaça da pobreza. De Schutter defende que medidas como essa, juntamente com o fortalecimento da economia social e solidária e a reforma no mundo do trabalho, são essenciais para proteger o bem-estar da população.

O relator anunciou que está colaborando com ONGs, sindicatos, movimentos sociais e especialistas acadêmicos para desenvolver um plano de ação que ofereça uma alternativa ao crescimento econômico como único meio de erradicar a pobreza. A previsão é que o plano seja apresentado no final de 2025.

 

Fonte: Infobae/CNN Brasil

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