sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Trump e Kamala fazem da eleição um referendo sobre o adversário

Dois discursos de encerramento de campanha em 48 horas evidenciaram o contraste absoluto entre Donald Trump e Kamala Harris.

No parque The Ellipse, onde no dia 6 de janeiro de 2021 o ex-presidente encorajou seus partidários a uma insurreição para anular a vitória de Joe Biden, a candidata democrata, vice-presidente e ex-procuradora-geral da Califórnia expôs o seu argumento final para convencer os eleitores: virar a página do trumpismo, unir o país e ser uma presidente para todos os americanos.

“É uma escolha entre um país enraizado na liberdade para cada americano ou outro governado pelo caos e pela divisão", disse. Ela descreveu o adversário como um pequeno tirano — “instável, obcecado por vingança, consumido por queixas e em busca do poder descontrolado”.

Na arena do Madison Square Garden, neste domingo (27), o ex-presidente e seus oradores convidados despejaram uma onda de mentiras e ofensas racistas e xenófobas dirigida aos imigrantes e à atual vice-presidente.

Mais tarde, Trump qualificou o evento como um “festival de amor absoluto” — definição semelhante à usada para descrever a invasão ao Capitólio por uma turba de simpatizantes armados.

Ambos os candidatos parecem beber na mesma fonte, traçando um cenário apocalíptico e apelando ao medo, caso o oponente saia vencedor na próxima terça-feira, para seduzir os que ainda estão indecisos. Trump antevê a recessão econômica, a Terceira Guerra Mundial e o enfraquecimento dos EUA, transformado no que chama de “lata do lixo do mundo”.

Sob esse prisma, diante de 75 mil pessoas que lotaram o parque nas imediações da Casa Branca, a candidata também fez previsões sombrias sobre o futuro do país: o desmonte das instituições, a perseguição aos opositores e a democracia sob ameaça, numa repetição dos argumentos usados há quatro anos por Joe Biden contra Trump.

“Em menos de 90 dias, Donald Trump ou eu estaremos no Salão Oval. E no primeiro dia no cargo, Donald Trump entrará com uma lista de inimigos. Eu entrarei com uma lista de afazeres e alguém que trabalhará para unir os americanos.”

Kamala procurou transmitir uma mensagem clara e objetiva, na tentativa de demarcar este duelo como o combate entre o bem e o mal. Expôs propostas que impactam no seu dia a dia: um crédito tributário para quem quer ter o seu primeiro imóvel ou a expansão do sistema de saúde para cobrir gastos de assistência médica em casa, entre elas.

Os comícios de encerramento dos candidatos, a uma semana do fim da campanha, seguem uma lógica: atingir a tempo os eleitores que antecipam o voto. Mais de 50 milhões já o fizeram, e o prazo para o envio das cédulas pelo correio está se esgotando.

A eles, Trump e Kamala tentaram descrever a eleição como um referendo sobre o adversário, em que o eixo principal é a demonização do outro.

¨      Quem são os candidatos a presidente dos EUA?

A democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump são os favoritos à Casa Branca nas eleições presidenciais deste ano, mas não os únicos a disputar o voto do eleitor americano. Partidos de terceira via e candidatos independentes também estão na corrida e, embora não tenham chances reais de vitória, podem ter impacto no resultado.

📊 As pesquisas de intenção de voto apontam praticamente para um empate entre Kamala e Trump, e a presença de outros nomes nas cédulas de votação pode fazer a balança pender para um dos lados.

🗳️ Em 2016, por exemplo, Jill Stein, candidata do Partido Verde que concorre neste ano também, foi acusada de atrapalhar o desempenho da democrata Hillary Clinton em três estados, fazendo com que Trump fosse eleito.

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E, nesta eleição, o Partido Democrata volta a se preocupar com Jill, em especial por conta do eleitorado árabe. Descontente com o posicionamento do governo Biden em relação ao conflito no Oriente Médio, esse público pode escolher a candidata do Partido Verde, que chegou até a ser presa em um ato pró-Palestina, tirando, assim, votos que podem fazer a diferença para Kamala.

Também estão na disputa Chase Oliver, do Partido Libertário, e Cornel West, que é independente. Mas há ainda outros nomes alternativos que vão aparecer nas cédulas de votação: de acordo com levantamento do site Ballotpedia, serão 24 no total, que variam conforme o estado.

👉 Como os Estados Unidos não têm um órgão eleitoral nacional como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no Brasil, cada estado americano faz as suas próprias regras, inclusive para determinar os candidatos que vão para as cédulas e em qual ordem.

Por isso, mesmo em uma eleição nacional, os candidatos a presidente da República não são os mesmos em todos os estados. Tirando os partidos Republicano e Democrata, que são os maiores e definem seus candidatos em primárias e caucus, as legendas menores precisam se qualificar e atender a requisitos mínimos, como ter recebido um determinado número de votos em eleições anteriores ou apresentar uma certa quantidade de assinaturas em apoio.

👉 Abaixo, saiba mais sobre os candidatos mais relevantes nas eleições de 2024:

Kamala Harris

Kamala Harris é a atual vice-presidente dos Estados Unidos e concorre pelo Partido Democrata. Ela foi indicada pela legenda para disputar as eleições deste ano após o atual presidente, Joe Biden, desistir de tentar a reeleição.

A democrata tem 60 anos e foi a primeira mulher a se tornar vice-presidente dos Estados Unidos. Se vencer, também se tornará a primeira mulher presidente.

Formada em Direito e Ciências Políticas, Kamala foi procuradora da cidade de São Francisco e, depois, do estado da Califórnia. Ela também foi senadora pelo estado entre 2017 e 2020.

Em 2020, ela chegou a se apresentar como pré-candidata à Casa Branca e liderou algumas pesquisas dentro do Partido Democrata. No entanto, perdeu apoio e desistiu por falta de recursos financeiros.

Depois, foi escolhida por Joe Biden para integrar a chapa dele à Casa Branca. A estratégia foi usada para atrair minorias, já que Kamala é negra e filha de imigrantes.

A opção por Kamala foi fundamental para a vitória de Biden, funcionando como um chamariz para convencer eleitores negros a votar no pleito de 2020.

<><> Donald Trump

Donald Trump tem 78 anos e concorre pelo Partido Republicano. Empresário e bilionário, Trump já foi presidente dos Estados Unidos entre 2017 e 2021. Ele chegou a tentar a reeleição em 2020, mas foi derrotado por Biden.

Antes de chegar à Casa Branca, Trump construiu uma carreira empresarial de sucesso. O pai dele fez fortuna erguendo prédios nos bairros do Brooklyn e do Queens, em Nova York.

Em 1968, ele se formou em Economia na Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia e, em seguida, sucedeu o pai no comando da empresa familiar.

Enquanto o pai dele construía casas para a classe média, Trump optou pelas torres luxuosas, hotéis, cassinos e campos de golfe. Já nos anos 1980, ergueu diversos empreendimentos em Nova York, incluindo a Trump Tower e o Trump Plaza.

A fama como grande empresário também fez com que ele fizesse aparições constantes na TV e no cinema. Nos anos 2000, apresentou a versão americana do programa "O Aprendiz".

Como presidente, Trump foi criticado pela condução das políticas para o combate à pandemia de Covid-19 e pelo comportamento controverso. Ele também foi visto como uma ameaça à democracia ao não aceitar os resultados das eleições de 2020 e é réu em um processo na Justiça que investiga a invasão do prédio do Congresso dos EUA em janeiro de 2021.

<><> Jill Stein

Jill Stein tem 74 anos e é a candidata do Partido Verde. Ela é médica formada pela Universidade de Harvard e conhecida pelo ativismo na saúde ambiental e combate às mudanças climáticas.

Em 1990, Jill passou a pesquisar a influência dos poluentes na saúde humana. A partir daí, começou a lutar por uma sociedade sustentável e auxiliou organizações não governamentais.

Ela liderou um movimento por limpar usinas de carvão em Massachusetts, o que resultou em padrões mais limpos para instalações do tipo em todo o país.

Ao longo da carreira, recebeu vários prêmios por saúde e proteção ambiental. Já como política, Jill concorreu à Presidência nas eleições de 2016, quando obteve 1,4 milhão de votos.

Ela recebeu mais votos no Michigan, em Wisconsin e na Pensilvânia do que a diferença pela qual Donald Trump derrotou Hilllary Clinton em cada um desses estados, garantindo a eleição do republicano naquele ano.

Por isso, ela é apontada por muitos democratas como a responsável pela vitória de Trump e acende novamente o alerta do Partido Democrata neste ano, principalmente com relação ao eleitorado árabe. Stein chegou a ser presa em um protesto pró-Palestina no Missouri em abril deste ano.

<><> Chase Oliver

Chase Oliver tem 39 anos e é o candidato do Partido Libertário. Em 2022, ele foi apelidado pela revista "Rolling Stone" como o libertário mais influente dos Estados Unidos.

A carreira política de Oliver começou nos anos 2000, quando ele se opôs à Guerra do Iraque durante o governo de George W. Bush. Chegou a ser filiado ao Partido Democrata, mas mudou para os Libertários em 2010.

Oliver é abertamente homossexual e já disse ser "armado e gay". Além de ser pró-armas, ele defende os direitos individuais contra o poder dos políticos e burocratas, além de reformas na polícia.

Em 2020, tentou ser eleito deputado pela Geórgia, mas acabou recebendo poucos votos. Dois anos depois, concorreu ao Senado.

A campanha dele de 2022 teve boa projeção nacional, mas rendeu apenas 2% dos votos. Ainda assim, o resultado acabou fazendo com que houvesse segundo turno na disputa entre o candidato republicano e democrata ao Senado.

<><> Cornel West

Cornel West tem 71 anos e possui uma candidatura independente. Ele é conhecido pelo trabalho como professor nas melhores universidades americanas, além de ser um ativista progressista.

West se formou em Harvard e tem mestrado em Filosofia, pela Universidade de Princeton. Ele também se tornou a primeira pessoa negra a receber um doutorado em Filosofia pela instituição.

Ao longo da carreira, West escreveu mais de 20 livros, sendo conhecido pela obra "Questão de Raça". Ele também produziu três álbuns, trabalhando em colaboração com artistas como Prince e Jill Scott.

O professor afirma que resolveu entrar na disputa presidencial por acreditar que os Estados Unidos vivem uma crise de "falência moral e obscenidade espiritual".

Segundo West, a candidatura dele representa uma alternativa ao império, supremacia branca, capitalismo, patriarcado e aos limites do sistema bipartidário dominado por corporações.

¨      Entenda por que nem sempre o candidato mais votado pelo povo é eleito presidente dos EUA

Nem sempre o candidato mais votado pela população na eleição presidencial dos Estados Unidos é quem ganha o pleito. O país adota o sistema de voto indireto, em que o Colégio Eleitoral é quem, de fato, escolhe o novo presidente.

Cada um dos 50 estados e o Distrito de Colúmbia (onde fica a capital federal, Washington) tem um número de delegados no Colégio Eleitoral, que é relativo à quantidade de habitantes. Ou seja, quanto mais populoso um estado, mais delegados terá.

Ao todo, são 538 delegados e, para ser eleito, o candidato vencedor precisa conseguir o voto de pelo menos 270.

Isso não significa que o voto popular, vindo dos eleitores, não tenha importância. Os delegados vão tomar suas decisões com base nos resultados da votação do dia 5 de novembro. Alguns estados fazem a votação antecipada por correio ou presencial, entre eles, a Geórgia.

👉 Em geral, o Colégio Eleitoral tende a refletir o resultado das urnas e elege o mesmo candidato votado pelo povo. No entanto, nem sempre isso acontece.

Na história recente, dois candidatos foram os mais votados pelo povo, mas acabaram derrotados no Colégio Eleitoral: Al Gore, em 2000, e Hillary Clinton, em 2016.

Além disso, tem vantagem o candidato que vencer nos estados que possuem o maior número de delegados, uma vez que o mais votado em um estado leva todos os delegados da área, mesmo que ganhe por apenas um voto.

Em vigor há mais de 200 anos, o objetivo desse modelo é equilibrar a votação entre os 50 estados norte-americanos.

<><> 1. Por que nem sempre quem 'ganha' leva?

No sistema do Colégio Eleitoral, o candidato que for o mais votado pela população de um estado leva todos os delegados daquele estado. Isso vale mesmo que ele vença por apenas um voto de diferença.

Desta forma, pode acontecer que um candidato tenha a maioria dos votos populares a partir do ponto de vista nacional. Mas, na soma dos votos do Colégio Eleitoral, seja derrotado.

Em 2016, por exemplo, a então candidata democrata Hillary Clinton teve quase 3 milhões de votos a mais do que o republicano Donald Trump na soma nacional. No entanto, ela conquistou apenas 232 delegados, enquanto Trump teve 306.

Isso aconteceu porque Hillary venceu com ampla vantagem em estados populosos, como a Califórnia e Nova York. Já Trump venceu em estados-chave por uma margem de votos pequena.

No entanto, como o mais votado de um estado leva todos os delegados da região, Trump se saiu melhor.

Já em 2000, o democrata Al Gore teve 500 mil votos a mais que o republicano George W. Bush somando os votos populares no âmbito nacional. No entanto, ele conquistou 266 delegados, enquanto Bush teve 271.

Neste caso, o que pesou foi a votação extremamente acirrada na Flórida. Bush venceu no estado com uma vantagem pequena, de cerca de 500 votos.

Naquele ano, alguns condados da Flórida usaram um tipo de cédula chamada borboleta. Esse modelo tinha uma diagramação confusa, que fez com que alguns eleitores votassem no candidato errado.

O Partido Democrata entrou com uma ação na Suprema Corte exigindo uma recontagem dos votos. No entanto, os juízes decidiram que o resultado deveria permanecer como estava.

<><> 2. Quantos delegados tem cada estado?

Atualmente, o Colégio Eleitoral dos Estados Unidos é composto por 538 delegados. Cada estado possui um número de representantes diferente, que varia de acordo com o tamanho da população e do número de parlamentares na Câmara e no Senado.

Resumidamente, estados mais populosos tendem a ter mais delegados. Já os menores não têm um peso tão grande, mas ainda podem ser decisivos.

Além dos estados que aparecem no mapa, o Colégio Eleitoral tem outros 3 delegados que representam o Distrito de Colúmbia.

Já em relação aos estados de Nebraska e Maine, ambos possuem um sistema diferente de delegados:

  • No caso de Nebraska, são três distritos — cada um com 1 delegado. Além disso, o estado tem dois delegados adicionais que representam a escolha do voto popular em toda a área. Sendo assim, o estado tem um total de 5 delegados.
  • Já no Maine existem dois distritos, com um delegado cada. Outros dois delegados são escolhidos com base na votação popular do estado todo. Desta forma, o Maine tem um total de 4 delegados.

<><> 3. Os delegados são obrigados a seguir o voto popular?

Em muitos estados, os delegados que representam aquela região são obrigados a votar no Colégio Eleitoral de acordo com o resultado da votação popular. Enquanto isso, outras regiões não possuem uma obrigatoriedade expressa.

O papel do Colégio Eleitoral, que se reúne só dezembro para votar, é, em tese, apenas para confirmar o resultado das urnas de novembro.

No passado, porém, alguns delegados se recusaram a seguir o voto popular e escolheram um candidato diferente do que havia vencido no estado. Esses delegados são chamados de "infiéis".

Ainda assim, um movimento do tipo é muito raro e dificilmente alteraria o resultado final da eleição.

<><> 4. O que acontece se não houver maioria?

Existe a possibilidade de que nenhum candidato conquiste a maioria dos 538 delegados. Atualmente, esse cenário é praticamente improvável, mas não impossível. Há uma pequena chance de que Kamala Harris e Donald Trump terminem as eleições com 269 delegados cada.

Nesse caso, seria acionada a 12ª Emenda da Constituição, e a eleição seria decidida pela Câmara dos Representantes. Neste cenário, cada estado teria direito a um voto, independentemente do tamanho.

Ao fim, o candidato que tivesse a maioria dos votos na Câmara seria eleito. Enquanto isso, o Senado seria responsável por eleger o vice-presidente.

Como os Estados Unidos possuem 50 estados, ainda haveria hipótese de um novo empate em relação aos votos dos deputados. Neste cenário, as negociações e votações continuariam até o fim do impasse. Um presidente interino poderia ser nomeado caso a situação não fosse resolvida até o dia marcado para a posse.

Essa situação aconteceu apenas em 1824, quando nenhum dos quatro candidatos que disputou as eleições conquistou a maioria absoluta dos delegados.

<><> 5. Como surgiu o Colégio Eleitoral?

O sistema do Colégio Eleitoral surgiu ainda no século 18, quando a Constituição dos Estados Unidos estava em elaboração. Naquele momento, o país ainda estava sendo povoado em algumas áreas, enquanto outras localidades eram mais desenvolvidas.

Diante de um território tão grande e dos desafios da comunicação da época, fazer uma eleição nacional com voto popular seria praticamente impossível. Escolher um presidente apenas com base na opinião de autoridades que estavam na capital também estava fora do baralho.

Com isso, surgiu o Colégio Eleitoral. Delegados foram nomeados em cada estado para formar uma eleição representativa, que atendesse aos interesses de cada região do país.

Esse foi um modo de equilibrar o processo, garantindo que diferentes perspectivas e necessidades fossem consideradas. Os estados menores, por exemplo, ganharam poder de voz e certa igualdade frente aos maiores.

 

Fonte: g1

 

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