terça-feira, 5 de novembro de 2024

Por que eleição dos EUA pode ser mais decisiva para ucranianos que para americanos

No centro de Washington DC, um grupo de veteranos ucranianos se reúne para garantir que a guerra em seu país não seja esquecida, enquanto os EUA vão às urnas escolher seu próximo presidente.

Alguns se sentam na grama do National Mall, colocando suas próteses enquanto se preparam para participar de uma corrida de 10 km, vestindo as cores azul e amarelo, da bandeira da Ucrânia.

Todos eles ficaram feridos na guerra — e muitos perderam membros.

Dmytro Kamenschyk ajusta a camiseta — na frente dela, há uma foto em preto e branco do pai dele, Viktor, que foi morto na linha de frente de combate em um ataque russo.

O jovem de 26 anos não tem a mão esquerda nem vários dedos da mão direita, em decorrência dos ferimentos que sofreu enquanto trabalhava como operador de drones perto da cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia.

"Um dos principais motivos pelos quais estou aqui é para homenagear meu falecido pai, para que ele possa ver que todos os seus esforços não foram em vão", afirma.

"O apoio do povo americano, do Estado americano, é muito importante."

Quem vencer a eleição presidencial dos EUA poderá ser vital para decidir o desfecho da guerra na Ucrânia, mas o conflito também está desempenhando um papel importante na corrida pela Casa Branca.

<><> Estado decisivo

Na Filadélfia, a 190 quilômetros a nordeste, um grupo de ativistas se reúne nos degraus de pedra perto do centro da cidade, que ficaram famosos no filme Rocky, um Lutador.

"As questões que estão em jogo para a Ucrânia são existenciais", diz Mary Kalyna, enquanto os manifestantes agitam bandeiras azuis e amarelas.

A cidade fica no Estado da Pensilvânia, considerado um dos Estados decisivos para a corrida eleitoral — e, com a disputa entre Kamala Harris e Donald Trump tão acirrada, pode ser crucial para decidir quem vai comandar a Casa Branca.

Mary, uma ucraniana de segunda geração, é ativista comunitária e está torcendo por uma vitória de Kamala Harris em 5 de novembro. A candidata democrata se comprometeu a "trabalhar para garantir que a Ucrânia prevaleça nessa guerra" — sob o atual governo democrata, os EUA têm sido o maior doador de armas e equipamentos para Kiev, após a invasão em grande escala da Rússia.

Até agora, os EUA forneceram pelo menos US$ 61 bilhões (R$ 352 bilhões) em assistência militar, um pouco mais do que as contribuições combinadas de todos os países europeus que apoiam Kiev.

"Neste Estado, há 120 mil ucranianos-americanos, o que é mais do que o número de pessoas que decidiram as duas últimas eleições", acrescenta Mary.

"Por isso, temos potencial para ser muito influentes."

No passado, muitos ucraniano-americanos votavam tradicionalmente de forma conservadora — gravitando para a direita, após terem fugido da Europa Oriental dominada pelos soviéticos.

Na Pensilvânia, há também mais de 700 mil poloneses-americanos que, historicamente, também votam nos republicanos, mas muitos deles estão preocupados agora com a expansão russa.

Com a disputa na Pensilvânia no fio da navalha, transferir apenas alguns milhares de votos pode ser fundamental.

"Conheço muitas pessoas que votaram nos republicanos a vida toda, e estão aqui hoje para apoiar Harris", conta Roman Strakovsky, analista de dados presente no comício.

Ele nasceu em Kiev, mas se mudou para os EUA ainda criança.

"Acho que há um risco bastante real de que, se Trump for eleito, o apoio à Ucrânia desapareça completamente ou seja significativamente reduzido."

<><> O plano de Trump

O receio de Roman é motivado pela declaração do ex-presidente de que ele "vai ser capaz de fazer um acordo entre o presidente (Vladimir) Putin e o presidente (Volodymyr) Zelensky muito rapidamente".

Trump não deu detalhes claros sobre como faria isso, mas seus comentários aumentaram o temor de que Kiev fosse pressionada a ceder território a Moscou. O ex-presidente também mencionou que há "muitas mortes, muita destruição" na Ucrânia, e que "os Estados Unidos estão pagando pela maior parte disso".

Embora impopular entre alguns membros das comunidades do leste europeu na Pensilvânia, nem todos estão planejando transferir seu apoio para os democratas.

"Muitos poloneses apoiaram Trump anteriormente, e vão continuar a apoiar Trump no futuro", afirma Timothy Kuzma, líder de um grupo comunitário polonês-americano.

"Não acho que muitos poloneses acreditem que Trump vai abandonar a Ucrânia."

"Acho que Putin tinha um pouco de medo de Trump", acrescenta Jolanta Gora, gerente de um consultório médico do condado de Bucks, nos arredores da Pensilvânia.

<><> Fim da guerra

Muitos nos EUA acreditam que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia é dispendiosa e sangrenta e não tem fim à vista, a menos que haja uma mudança na política.

A única maneira de a guerra terminar "sem centenas de milhares de novas mortes é um acordo negociado", avalia John Byrnes, diretor estratégico da organização Concerned Veterans for America.

"Isso significa que nenhum dos lados obtém tudo o que deseja, mas ambos os lados obtêm algo que desejam."

Byrnes acrescenta que sua experiência nas Forças Armadas o deixou mais cético em relação à intervenção estrangeira, uma jornada que o Partido Republicano também percorreu com Trump.

"Seja quem for que assuma a presidência, estamos realmente esperando que pressione por esse acordo negociado para forçar condições que acabem com o financiamento dos EUA para a guerra e com as armas e munições dos EUA para a guerra", diz ele.

A Ucrânia espera mobilizar os esforços internacionais para pressionar a Rússia a se retirar de todos os territórios ocupados.

Alguns analistas acham que esta postura significa que há pouca chance de um acordo para acabar com a guerra. "Nenhum dos lados quer negociar", observa Melinda Haring, do think tank Atlantic Council.

"O lado russo não demonstra disposição para negociar, a Rússia acha que está vencendo, e ainda está avançando no campo de batalha", ela acrescenta.

"O lado ucraniano também não está disposto a negociar neste momento. E não tem resposta para sua necessidade legítima de garantias de segurança."

"As únicas garantias de segurança que são duradouras e reais são a adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)."

Portanto, assim como a Ucrânia está desempenhando um papel nesta disputa incrivelmente acirrada pela Casa Branca, o resultado da eleição também pode ter um efeito significativo no desfecho da guerra em si.

 

¨      O que está em jogo para a guerra da Ucrânia com as eleições nos EUA?

A disputa entre Kamala Harris e Donald Trump para a presidência dos EUA determinará não apenas o rumo da política estadunidense, mas também as perspectivas sobre o conflito ucraniano e as relações entre o Ocidente e a Rússia.

A guerra da Ucrânia - e os seus possíveis desdobramentos - é um dos principais pontos de disputa entre os candidatos das eleições dos EUA, que acontece na próxima terça-feira (5). No centro do debate está a questão do prolongamento do apoio financeiro e militar à Ucrânia.

Por um lado, a candidata democrata, a vice-presidente Kamala Harris, representa a continuidade da política do presidente Joe Biden, de apoio irrestrito a Kiev e confrontamento com a Rússia. Durante reunião com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Washington, a vice-presidente afirmou que o apoio a Kiev representa "um interesse estratégico dos Estados Unidos".

"Há pessoas no meu país que querem forçar a Ucrânia a desistir de uma parte significativa do seu território soberano, que exigirão que a Ucrânia aceite a neutralidade e desista das relações de segurança com outros países. Estas propostas coincidem com as propostas de Putin. E sejamos honestos, isto não são ofertas de paz. São ofertas de rendição. Elas são perigosas e inaceitáveis", disse Harris.

Do outro lado, o candidato republicano e ex-presidente, Donald Trump, já protagonizou um cenário de desgaste com a Ucrânia. Ele adota uma retórica de busca de resolução do conflito, mesmo que não forneça qaisquer detalhes sobre os planos de como resolver a crise. Durante a vista de Zelensky aos EUA no final de setembro, Trump disse que a Ucrânia "está em ruínas" e defendeu que o presidente ucraniano faça concessões a Putin.

Na frente dos jornalistas e ao lado de Zelensky, Trump destacou que  está pronto para trabalhar em um acordo de paz e reforçou que tem um bom relacionamento com Putin, criando um clima tenso entre os dois. "Espero que tenhamos relações melhores entre nós", interrompeu Zelensky, arrancando risadas de Trump.

No passado, o candidato republicano havia criticado várias vezes a continuidade do apoio financeiro e militar à Ucrânia. O diretor do Instituto Ucraniano de Política, Ruslan Bortnik, em entrevista ao Brasil de Fato, afirmou que, de fato, "a Ucrânia perdeu o apoio bipartidário".

"Ficou a impressão que a Ucrânia está fazendo uma aposta especificamente nos democratas e na vitória de Kamala Harris. Mas se Kamala Harris não vencer, a liderança ucraniana pode enfrentar tempos muito difíceis em relação aos EUA", diz o analista.

Zelensky afirmou diversas vezes que conta com o apoio dos EUA para implementar o seu "Plano da vitória", que prevê a condição da assistência militar de Washington. Já o presidente russo, Vladimir Putin, durante a coletiva de imprensa na Cúpula do Brics, em Kazan, ao comentar a posição de Trump de buscar pôr um fim ao conflito na Ucrânia, afirmou que o futuro das relações bilaterais depois das eleições presidenciais estadunidenses depende de Washington.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Moscou "expressa gratidão a todos aqueles que falam sobre a paz na Ucrânia e oferecem opções para resolver o conflito".

"Expressamos a nossa gratidão a todos aqueles que, independentemente do seu estatuto, seja um funcionário, um representante da sociedade civil, um político, falam e por vezes oferecem algumas opções destinadas a uma resolução política e diplomática pacífica da situação em torno da Ucrânia", disse a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova.

¨      Resultado das eleições nos EUA não muda nada para a Rússia, diz ex-presidente russo

Para a Rússia, as eleições nos EUA não mudarão nada, já que as posições dos candidatos refletem totalmente o consenso bipartidário sobre a necessidade da derrota da Rússia, disse o ex-presidente e vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, neste domingo (3).

"Para a Rússia, as eleições não mudarão nada, já que as posições dos candidatos refletem totalmente o consenso bipartidário sobre a necessidade de derrotar nosso país", disse Medvedev.

Ele chamou a atual vice-presidentne do EUA, Kamala Harris, de "estúpida, inexperiente, controlável", alegando que seus ministros e assistentes governarão, além da família Obama, indiretamente.

Por sua vez, Donald Trump não conseguirá parar o conflito na Ucrânia "nem em um dia, nem em três dias, nem em três meses", disse ele.

"E se ele realmente tentar, ele pode se tornar o novo JFK", observou.

"Portanto, a melhor maneira de agradar os candidatos ao mais alto posto americano em 5 de novembro é continuar esmagando o regime nazista de Kiev!" concluiu o também ex-primeiro-ministro russo.

<><> UE se prepara para mudanças no apoio dos EUA a Kiev se Trump vencer

Os países da União Europeia (UE) estão se preparando para uma possível mudança no apoio militar dos Estados Unidos à Ucrânia, caso o ex-presidente Donald Trump vença as próximas eleições presidenciais, informou neste sábado (2) o jornal The Washington Post, citando autoridades europeias.

De acordo com a matéria, os aliados mais próximos de Washington na Europa estão se preparando para um possível colapso nas relações transatlânticas se Trump vencer a eleição de terça-feira (5) e, para se proteger contra uma possível reorientação da Casa Branca sobre a Ucrânia, autoridades europeias têm tentado aprovar pacotes de ajuda antes das eleições de novembro, disse a publicação.

O novo comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) também assumiu algumas das responsabilidades do Pentágono na coordenação da ajuda militar a Kiev, acrescentou.

De acordo com o parlamentar alemão Thomas Erndl, a Europa deve assumir mais responsabilidade por sua própria segurança, já que o atual presidente dos EUA, Joe Biden, é provavelmente "o último presidente verdadeiramente transatlântico no sentido tradicional".

Autoridades europeias admitem que a perda do apoio dos EUA no setor de defesa seria um golpe devastador para a UE e também prepararam um rascunho de tarifas comerciais retaliatórias caso Trump comece a impor tarifas sobre produtos da UE novamente, disse a publicação.

O Financial Times relatou no final de julho que a UE estava desenvolvendo uma estratégia comercial no caso de Trump vencer a eleição, que prevê a possibilidade de introduzir altas tarifas sobre as importações dos EUA se as negociações para melhorar o comércio com Washington falharem.

De acordo com o jornal, as negociações com Trump estão planejadas para começar antes que ele tome posse oficialmente, se vencer a eleição. Representantes da UE querem discutir com ele uma possível lista de produtos americanos que o bloco pode comprar em grandes quantidades.

Trump prometeu anteriormente que seria capaz de alcançar uma solução para o conflito ucraniano por meio de negociações. Ele afirmou repetidamente que seria capaz de resolver o conflito na Ucrânia em um dia.

¨      Se Ucrânia não pode se armar e desenvolver estratégias, que negocie, aconselha jornalista dos EUA

A especulação de que o aumento da entrega de armas à Ucrânia poderia melhorar sua posição na linha de frente não faz sentido, melhor seria se Kiev iniciasse ações em direção à paz, indica o artigo do jornalista norte-americano Harrison Kass na revista The National Interest.

Em seu artigo, Kass analisa os resultados da entrega de mais de 300 veículos de combate de infantaria Bradley dos EUA às Forças Armadas da Ucrânia.

Segundo o jornalista, muitos criticaram a forma lenta e gradual como os aliados forneceram armas à Ucrânia, dizendo que, devido a isso, os militares ucranianos não podem realizar seu potencial pleno, enquanto a Rússia tem tempo para se preparar para o aparecimento de novas armas no campo de batalha.

De acordo com Kass, os defensores de novas entregas de armas a Kiev não levam em conta a experiência dos últimos dois anos e meio de conflito, durante os quais os EUA forneceram "muitos bilhões de dólares em armas, ajuda e dinheiro".

Segundo ele, o curso das hostilidades mostra que a Ucrânia não tem chances de melhorar sua situação.

Nenhum novo pacote de ajuda será capaz de mudar a difícil situação no campo de batalha para Kiev.

"Se você não está em condições de fornecer seus próprios meios de defesa e não está devidamente equipado para se defender ou ser capaz de desenvolver estratégias de longo prazo, apesar de receber bilhões e bilhões de dólares em ajuda, talvez seja melhor buscar a paz de forma mais enérgica", aconselhou.

Kass enfatizou que o governo ucraniano, em vez de exigir novas entregas de armas, dinheiro e derramamento de sangue, deveria procurar a paz.

"Nada nos últimos dois anos e meio de combates sugere que a Ucrânia vá melhorar substancialmente sua posição. Em vez de exigir mais armas, gastar mais dinheiro e derramar mais sangue, a Ucrânia deveria defender o fim do conflito", escreve o autor.

Recentemente, o jornal The New York Times, citando autoridades dos EUA, informou que uma parte secreta do chamado "plano de vitória", que o líder atual ucraniano Vladimir Zelensky apresentou à Casa Branca, implicava um pedido de entrega de mísseis Tomahawk de longo alcance para a Ucrânia.

Os Tomahawk têm um alcance de quase 2,5 mil quilômetros, o que é mais de sete vezes o alcance dos mísseis ATACMS já entregues à Ucrânia, aos quais o governo norte-americano impôs restrições no uso pelos ucranianos.

As fontes observaram que esse pedido era absolutamente impossível de satisfazer.

Mais tarde, Zelensky acusou os Estados Unidos de negligenciar a confidencialidade em suas negociações com as autoridades ucranianas.

¨      Folhetos ucranianos relatam 'façanhas' de batalhão nacionalista que se rendeu às tropas russas

A Sputnik obteve um folheto com o programa de treinamento dos soldados mobilizados do Exército ucraniano que, em particular, glorifica o batalhão nacionalista Azov (organização terrorista proibida na Rússia).

O documento, apreendido de um combatente do Exército ucraniano liquidado, foi emitido em 2022-2023 e assinado pelo então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia, Sergei Shaptala.

O folheto contém uma tabela com o programa de um mês de treinamento dos soldados mobilizados.

Um total de 290 horas de treinamento é alocado para os combatentes ucranianos, das quais:

# menos de 70 horas são destinadas ao treinamento tático,

# 60 ao treinamento com armas de fogo,

# 11 ao treinamento psicológico,

# sete ao chamado treinamento nacional-patriótico.

O programa de treinamento ideológico contém várias teses, inclusive uma narrativa sobre a suposta "política invasora" e as "ambições imperiais" da Rússia, bem como sobre o "genocídio do povo ucraniano".

O documento também contém uma tese sobre a formação do "Estado ucraniano independente" em 1917-1921, período da Guerra Civil Russa.

Os autores do folheto tentam desumanizar a imagem do Exército russo, acusando-o indiscriminadamente de atrocidades.

Ao mesmo tempo, não mencionam que são as Forças Armadas ucranianas e os batalhões nacionalistas que estão envolvidos em casos de fuzilamento e tortura de prisioneiros.

O Batalhão Azov foi formado em 2014 depois do golpe de Estado na Ucrânia por indivíduos com opiniões racistas e neonazistas, não apenas cidadãos ucranianos, mas também mercenários de outros países.

Em 20 de maio, o batalhão se rendeu ao Exército russo finalizando assim a libertação da cidade de Mariupol.

No total, de acordo com o Ministério da Defesa russo, mais de 2,4 mil nazistas do batalhão e militares ucranianos depuseram suas armas e se renderam em 16 de maio em uma fábrica metalúrgica que foi seu último reduto em Mariupol.

 

Fonte: Brasil de Fato/Sputnik Brasil

 

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