quarta-feira, 13 de novembro de 2024

'Parque' com grama verde que surgiu no AM devido à seca preocupa  especialista

O vasto campo de grama verde que surgiu às margens do Rio Negro neste período de estiagem severa no Amazonas chamou a atenção da população e viralizou em redes sociais nos últimos dias. Apesar da beleza natural que o espaço trouxe, a área pode causar impactos negativos à natureza quando as águas voltarem a subir, conforme especialistas.

O Rio Negro, que banha a capital amazonense, ainda enfrenta a instabilidade da seca de 2024, considerada a mais severa dos últimos 122 anos. Na pior cota registrada na história, o nível do rio atingiu 12,11 metros, em 9 de outubro. Nesta segunda-feira (11), o nível das águas chegou a 12,53 metros. Em todo o estado, a seca já afeta mais de 800 mil pessoas, conforme dados da Defesa Civil.

Com a queda do nível do rio, inicialmente a área se tornou um vasto banco de areia que antes era submerso. Com o tempo, uma vegetação densa chamada "Canarana" se desenvolveu e transformou o local em um "ponto turístico" temporário.

Segundo o professor de biologia André Menezes, a vegetação que surgiu no local é típica de áreas que enfrentam períodos de estiagem, funcionando como uma nova colonização do espaço.

Apesar disso, ele explicou que também há uma preocupação sobre o que a área pode trazer de impactos para a região quando o Rio Negro voltar a subir.

Segundo ele, com a subida das águas, o espaço deve se desprender e formar uma grande ilha flutuante formada pela vegetação, o que tende a bloquear a entrada da luz solar para os rios e diminuir a quantidade de oxigênio na água. Isso afeta a reprodução dos peixes que vivem na região.

Afeta a quantidade de peixes e a reprodução dos peixes, que já está sendo prejudicada por conta da temperatura média da água, que está mais alta, por conta da seca extrema, fazendo com que muitas regiões onde eles se reproduziam simplesmente deixarem de existir nessa seca extrema", explicou o professor.

Ainda segundo Menezes, o ambiente pode ser impactado por um grande período de tempo e também ser prejudicial para a saúde.

"O impacto que a nossa fauna de peixes sofre já é muito grande. E essas ilhas de capim que vão ficar flutuando por meses após o rio começar a encher, isso vai causar um prejuízo extremamente longevo. Isso aumenta também a proliferação de bactérias, isso pode aumentar os danos e doenças", contou o especialista.

Além de impactar a natureza, há também uma preocupação em relação a navegação pela região, segundo Menezes. Com a grande ilha flutuante pelo rio, viagens de barco podem ser afetadas devido a dificuldade para passar pelo trecho afetado sem atolar. Outro problema apontado pelo especialista é o mau cheiro.

"A medida que ela (vegetação) vai entrando em decomposição, ela vai acumulando ali substâncias que vão exalar um cheiro desagradável, oriundo da multiplicação de bactérias, oriundo do próprio processo de decomposição natural que essa vegetação vai sofrer e é uma decomposição extremamente lenta", alertou.

Para o especialista, uma das medidas que as autoridades podem tomar para evitar esse processo seria a retirada da vegetação antes da subida dos rios para que ela não pudesse causar um impacto tão negativo.

"Caso isso não seja possível por conta do acesso em algumas localidades, você poderia, depois que essas ilhas flutuantes começassem a se desprender, retirar essa vegetação, se quiser minimizar os impactos que já são grandes. Eu acho que é dever do poder público um estudo para ver qual seria mais viável. Mas o fato é que isso deve ser feito. A não retirada, ela vai impactar diretamente no agravamento das consequências", finalizou Menezes.

<><> 'Ponto turístico' temporário

O empreendedor óptico Gladson Palma relatou ao g1 que costuma fazer viagens de moto para o outro lado da ponte e gravar vídeos. Em uma dessas viagens, no dia 28 de outubro, ele se deparou com um campo coberto de grama e decidiu parar para registrar o local.

Ele editou os registros que fez do espaço e publicou o vídeo em suas redes sociais. Para sua surpresa, o vídeo viralizou rapidamente.

"Eu acabei postando um vídeo completo sobre a área verde. As pessoas acharam muito bonito e alguns até pensaram que era montagem, já que muitos não conhecem o lugar por ser distante. Para chegar lá, é preciso atravessar a ponte e descer, e geralmente só quem vai são os motociclistas ou pessoas mais jovens com carro. No dia em que fui, havia muitas famílias e casais tirando fotos. O cenário estava realmente bonito, então decidi gravar o vídeo", contou Palma.

Palma também se surpreendeu com a recuperação da natureza no local. Ele observou que, mesmo durante a estiagem, o espaço conseguiu se reestruturar, apesar dos impactos da pior seca da história do Rio Negro.

"Algumas pessoas acham muito bonito o jeito como a natureza se recupera. Eu comento que é fascinante ver como a natureza encontra formas de voltar ao seu estado natural. A área estava seca, o que a tornava lamacenta, mas agora a grama está começando a crescer no fundo do rio. Enquanto muitos acham isso lindo, outros consideram feio devido à seca. Eu sempre digo: 'Não, é bonito ver a natureza se reerguendo', e que em breve a água voltará a encher. Isso gera diferentes opiniões", afirmou.

Com a repercussão do local, muitas pessoas começaram a frequentá-lo para tirar fotos, gravar vídeos e se reunir com familiares e amigos, transformando-o em um novo "ponto turístico" temporário para a população.

O fotógrafo e videomaker Thiago Oliver também se encantou com o lugar. Ele comentou ao g1 que costuma ir à ponte para fotografar o ambiente e o pôr do sol, e foi assim que descobriu o campo.

"Na última vez que passei, vi aquele tapete verde muito bonito e achei uma forma de descer ali ao lado da ponte para tentar fazer uma foto e um vídeo daquela grama. Eu e mais dois amigos descemos e conseguimos capturar imagens que, nos últimos dias, têm viralizado nas redes sociais. O resultado ficou realmente bonito e é um cenário bem diferente do que temos visto recentemente", lembrou Oliver.

 

•                                    Área alagada do Pantanal cai 61% em 35 anos, aponta MapBiomas

A área alagada do Pantanal diminuiu 61% entre 1985 e 2023, uma queda acompanhada por períodos de seca mais prolongados e cheias cada vez mais curtas, o que tem favorecido também incêndios mais intensos, mostra um estudo inédito do MapBiomas divulgado nesta terça-feira (12).

Em 2022, por exemplo, a área alagada do bioma foi de 3,3 milhões de hectares, 38% menor do que em 2018, ano da última grande cheia, que cobriu 5,4 milhões de hectares.

Além disso, segundo o levantamento, a duração das áreas alagadas também caiu. Regiões que antes ficavam submersas por mais de três meses secam agora mais rapidamente.

👉Hoje, cerca de 22% da área de savana do Pantanal, que soma 2,3 milhões de hectares, vem de locais que se tornaram secos.

E essa alteração no ciclo de secas e cheias aumenta as queimadas. Entre 1985 e 1990, os incêndios aconteciam em áreas em transição para pastagem. Após 2018, as queimadas tornaram-se mais comuns perto do Rio Paraguai. Já entre 2019 e 2023, o fogo atingiu 5,8 milhões de hectares, incluindo locais antes permanentemente alagados.

“A frequência de incêndios está associada tanto à vegetação de campo quanto aos longos períodos de seca”, explica Mariana Dias, do MapBiomas.

O relatório aponta ainda que em 1985, 22% das terras da Bacia do Alto Paraguai (BAP), que inclui os biomas Cerrado e Amazônia e é essencial para a hidrologia do Pantanal, tinham uso humano.

Em 2022, esse percentual chegou a 42%. Hoje, 83% do uso humano está concentrado no planalto da BAP. De 1985 a 2023, 5,4 milhões de hectares foram convertidos para pastagem e agricultura, dos quais 2,4 milhões eram florestas e 2,6 milhões eram savanas.

Já na planície, a perda de vegetação natural foi menor, mas ainda significativa. Entre 1985 e 2023, 1,8 milhão de hectares foram desmatados, incluindo campos alagados e vegetação de savana.

As pastagens exóticas aumentaram de 700 mil para 2,4 milhões de hectares, com mais da metade desse crescimento nos últimos 23 anos.

 

Fonte: g1

 

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