O que
levou mais de 40% das eleitoras nos EUA a votarem em Donald Trump
As pesquisas de boca
de urna da eleição presidencial dos EUA indicam
- como já era esperado - uma margem de 10 pontos percentuais de diferença entre
a forma como homens e mulheres votaram no país.
Enquanto a maioria das
eleitoras do sexo feminino escolheu a democrata Kamala Harris, a
maior parte dos eleitores do sexo masculino foi com Donald Trump, que saiu vencedor da disputa.
Ainda assim, cerca de
44% das mulheres que foram às urnas deram seu voto para Trump - uma margem que
é pelo menos 2 pontos percentuais maior do que a obtida pelo republicano nas
eleições anteriores, quando ele foi derrotado pelo atual presidente Joe Biden.
Segundo analistas, as
pesquisas de boca de urna contém imprecisões e a margem de crescimento de
Donald Trump entre as mulheres apontada nas enquetes é pequena.
Apesar disso, muitos
deles consideraram o apoio feminino recebido pelo republicano significativo - e
indicativo dos fatores que motivam muitas das eleitoras no momento de decidir
seu voto.
·
Economia e avaliação
do mandatário
"Nesta eleição em
particular, ou em eleições presidenciais dos Estados Unidos em geral, as duas
coisas que mais importam [para os eleitores] são a avaliação do trabalho do
atual presidente e as crenças das pessoas sobre o estado da economia", explica
Kathleen Dolan, cientista política e professora da Universidade de
Wisconsin-Milwaukee.
"E no momento o
presidente Biden não está muito popular entre o público e as pessoas acham que
a economia está em uma situação ruim."
Uma pesquisa realizada
na terça-feira (5/11) pela agência de notícias AP com americanos registrados
para votar apontou uma alta na ansiedade em relação aos níveis de inflação em
todo o país, assim como um impulso na crença de que Trump estaria melhor preparado
do que Harris para lidar com a economia e a geração de empregos.
Segundo a sondagem,
cerca de três em cada 10 eleitores acreditam que a situação financeira de suas
famílias estava "ficando para trás", ante cerca de dois em cada 10 na
eleição presidencial de 2020.
Muitos americanos
também parecem ainda estar se recuperando da alta na inflação, que
atingiu seu pico em quatro décadas nos EUA em junho de 2022.
Cerca de nove em 10
eleitores se disseram muito ou um pouco preocupados com o custo dos mantimentos
no dia da eleição, segundo a pesquisa. E cerca de oito em cada 10 se mostraram
receosos com seus gastos em saúde, moradia e gasolina.
As pesquisas de boca
de urna ainda apontam uma ampla visão negativa em relação à Kamala Harris entre
os americanos que escolheram Trump.
Segundo os dados
divulgados até agora, 93% dos eleitores que disseram ter uma perspectiva
negativa da democrata escolheram o republicano nas cédulas de votação, enquanto
88% dos que dizem ter uma visão ruim de Donald Trump elegeram a democrata como
sua candidata.
E segundo as
especialistas consultadas pela BBC Brasil, todas essas preocupações também
pesaram para as mulheres.
"A suposição de
que as mulheres não têm os mesmos preconceitos, preocupações e prioridades que
os homens não é - e nunca foi - uma suposição enraizada na realidade",
afirma Christina Wolbrecht, cientista política da Universidade de Notre Dame, em
Indiana, nos EUA.
·
Questões de gênero e
identificação
E enquanto Biden
atraiu o voto de cerca de 57% das mulheres que foram às urnas há quatro anos,
Kamala Harris recebeu o apoio de algo em torno de 53% do público feminino
votante.
"Na história da
política americana, nunca houve evidências de que as mulheres como um grupo
preferem votar em outras mulheres do que em candidatos do sexo masculino",
diz Christina Wolbrecht.
Segundo a
pesquisadora, é muito raro que tanto mulheres que se identificam como
republicanas quanto como democratas tenham tendência a mudar sua orientação
política por conta do sexo dos concorrentes.
"Classe social,
educação, raça - todos esses são fatores que podem ajudar a predizer se uma
pessoa votará no partido democrata ou republicano. Mas o sexo do candidato não
costuma ser um fator."
Kathleen Dolan nota
ainda que, diferente de outros conjuntos demográficos, as mulheres não costumam
se unir em torno de um candidato em comum nos EUA.
"As mulheres nos
Estados Unidos não compartilham nenhum tipo de identidade de gênero", diz.
"Ao contrário dos eleitores negros ou latinos, que têm um senso de como a
sua identidade racial é importante para suas vidas e por isso tendem a votar de
forma mais uniforme."
Entre as eleitoras
negras nessas eleições, apenas 7% votaram em Trump - 91% escolheram Harris.
Em termos de educação,
51% das mulheres com diploma de ensino superior declararam apoio para o
republicano, contra 61% que disseram ter votado na democrata, segundo a boca de
urna.
As especialistas
consultadas pela BBC Brasil concordam ainda que os temas relacionados à vida
das mulheres que dominaram a campanha eleitoral nos Estados Unidos não uniram
as americanas em torno de uma única candidatura.
Um desses tópicos é o
acesso ao direito ao aborto no país, que ganhou mais relevância no país após
2022, quando a Suprema Corte americana anulou a decisão que durante meio século
garantiu o direito constitucional à interrupção da gravidez no país.
Hoje alguns dos 50
Estados norte-americanos têm proibições quase totais ao aborto com exceções
limitadas ou sem exceções - incluindo em casos de violação, incesto e riscos
para a vida da mulher grávida - e vários outros proíbem o procedimento com base
na duração da gestação.
Donald Trump assumiu o
crédito pela decisão judicial que restringiu o aborto no país, já que foi o
responsável por indicar três dos nove juízes que ocupavam o Supremo no momento
em que ela foi aprovada.
No entanto, ele
minimizou o aborto como um tema prioritário do seu segundo mandato, apesar de
não ter dito explicitamente que vetaria legislações de restrição nacional caso
elas chegassem à sua mesa.
Já Kamala Harris
prometeu restaurar o direito ao aborto e vetar qualquer proposta que
promulgasse uma proibição nacional.
Diferente do seu
adversário, a democrata tornou esse tópico um dos pilares de sua campanha ao
longo dos últimos meses, promovendo a ideia de que a vida e a liberdade das
mulheres estariam em risco caso Trump fosse eleito.
E assim como em
eleições anteriores, o tema dividiu profundamente o eleitorado americano:
enquanto 87% dos americanos que se declararam a favor da legalização do aborto
em todos os casos votaram em Harris, 88% dos que defendem que a prática seja
ilegal em qualquer circunstância se declararam apoiadores de Trump.
Os democratas, porém,
esperavam que as discussões sobre o tema mobilizassem mais mulheres em torno da
campanha de Kamala Harris do que de fato aconteceu.
Entre as eleitoras que
disseram que o aborto deve ser legal, 88% votaram em Harris, segundo a pesquisa
de boca de urna realizada pela CNN.
Por outro lado, 85%
das mulheres que querem que a prática seja ilegal em todo o país e em todos os
casos votaram em Trump.
Christina Wolbrecht,
da Universidade de Notre Dame, reafirma a ideia de que temas sociais diversos,
e especialmente econômicos, tendem a mobilizar mais as eleitoras americanas do
que questões identitárias ligadas ao gênero.
A pesquisadora também
afirma que outros fatores, tais como religião e educação, podem pesar mais
quando o tema é, por exemplo, o aborto, do que o gênero do eleitor -
especialmente entre os americanos que se declaram republicanos.
"É bastante
possível que mulheres com ensino superior que tenham obtido ganhos econômicos
independentes vejam Trump como uma ameaça maior do que mulheres sem ensino
superior, para quem a economia não está trazendo benefícios", diz.
Os resultados de
Donald Trump entre as mulheres surpreenderam especialmente eleitores e
observadores que acreditavam que algumas das declarações feitas pelo
republicano durante a campanha e que foram amplamente apontadas como misóginas
teriam um efeito repelente maior.
Nas redes sociais,
apoiadores de Kamala Harris passaram as semanas antes da eleição compartilhando
postagens que analisavam o comportamento do agora presidente eleito.
Os posts relembravam
episódios como suas condenações por ocultação de um pagamento para comprar o silêncio da ex-atriz
pornô Stormy Daniels e por abuso sexual e difamação contra a escritora americana Elizabeth
Jean Carroll.
Muitos mencionam o
vídeo que veio à tona antes das eleições presidenciais de 2016 em que o
republicano insinua que poderia usar sua fama para "agarrar as mulheres pela
vagina".
Declarações feitas
durante a campanha mais recente também entraram na mira, com ofensas constantes
dirigidas a Harris e outras democratas.
Em agosto, Trump foi
fortemente criticado por compartilhar uma publicação na rede social Truth
Social que parecia insinuar que a candidata democrata e vice-presidente teve
uma ascensão política graças à concessão de favores sexuais.
Mas segundo Wolbrecht,
apesar de muitos terem notado que Donald Trump estaria adotando uma
"retórica mais dura" nas últimas semanas, algumas de suas opiniões e
posicionamentos não são novidade.
"Ele foi
processado e considerado culpado por agressão sexual. Ele vem falando coisas
assim durante toda sua carreira pública", diz.
"As pessoas que
estão votando nele sabem quem ele é e, ou aprovam esses comportamentos, ou não
se importam com eles o suficiente para mudar seu voto."
Kathleen Dolan, da
Universidade de Wisconsin-Milwaukee, afirma que algumas americanas não enxergam
tais comportamentos como ofensivos - e até valorizam tais declarações vindas do
seu candidato preferido.
"Há muitas
mulheres que têm muita misoginia internalizada. Assim como há muitas mulheres
que acreditam em um tipo muito tradicional de ideologia de gênero que dita o
que é apropriado ou não para mulheres ou que são pró-vida", diz.
"Esperar que
todas as mulheres se comportem de uma certa maneira quando um candidato trata
as mulheres mal não é realista."
• Alto escalão terá pessoas fiéis a Trump;
veja alguns cotados
O presidente eleito
Donald Trump já iniciou o processo de escolha de secretários e outros
funcionários de alto escalão para o próximo governo dos Estados Unidos. O
republicano derrotou a democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira (5).
Até agora, Trump
anunciou somente quem será sua próxima chefe de Gabinete. O presidente eleito
optou por Susie Wiles, que é considerada uma das principais arquitetas da
vitória do republicano nas eleições presidenciais.
A imprensa
norte-americana acredita que Trump escolherá pessoas fiéis a ele. Entre os
cotados estão senadores, congressistas e aliados que estiveram em cargos no
primeiro mandato do republicano.
Alguns, no entanto,
podem enfrentar certa resistência dentro de alas do Partido Republicano, por
fatores que vão desde posturas mais liberais na economia global até o apoio à
ajuda militar para a Ucrânia.
Confira, a seguir,
quem são os principais candidatos para os cargos mais importantes do governo
americano. A lista inclui autoridades da defesa, inteligência, diplomacia,
comércio, imigração e políticas econômicas. Alguns dos nomes são cotados para
cargos diferentes.
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Secretário de Estado
Um dos principais
nomes para o cargo é o do ex-conselheiro de Segurança Nacional Robert O’Brien.
Ele trabalhou com Trump no primeiro mandato do republicano e mantém uma relação
próxima com o presidente eleito.
Nos últimos anos,
O’Brien manteve contato com líderes estrangeiros e chegou a se encontrar com o
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em maio.
As opiniões dele são
um pouco mais agressivas do que as de alguns conselheiros de Trump. Ele, por
exemplo, tem sido mais favorável à ajuda militar à Ucrânia e é um defensor da
proibição do TikTok nos Estados Unidos.
Além dele, também
estão na disputa:
• Marco Rubio: senador pela Flórida e
candidato presidencial republicano de 2016, Rubio é um dos principais
candidatos ao cargo. Também chegou a ser cotado para concorrer como
vice-presidente.
• Bill Hagerty: senador pelo Tennessee e
ex-embaixador no Japão, Hagerty é outro forte candidato. Ele mantém boas
relações em todas as alas do Partido Republicano. No início do ano, votou
contra um grande pacote de ajuda militar à Ucrânia.
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Defesa
Mike Pompeo, que
trabalhou como secretário de Estado no primeiro mandato de Trump, é o favorito
para assumir a Secretaria da Defesa.
Pompeo, que também já
foi diretor da CIA, ainda é cotado para outros cargos relacionados à segurança
nacional, inteligência ou diplomacia. Ele e Trump passaram um período
afastados, mas voltaram a se aproximar nos últimos meses.
O ex-secretário de
Estado se destaca como um dos maiores defensores da Ucrânia entre os aliados
próximos de Trump. Isso o coloca em desacordo com a maioria das figuras de alto
escalão no entorno republicano.
Também disputa o
cargo:
• Mike Waltz: ex-integrante do Exército e
congressista pela Flórida, Waltz se tornou um forte crítico da China dentro da
Câmara dos Representantes.
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Segurança Nacional
Entre os conselheiros
mais próximos de Trump para política externa, Richard Grenell pode ser indicado
para o comando Segurança Nacional — um cargo que não precisa de autorização do
Senado para nomeação. Ele também é um forte candidato ao cargo de secretário de
Estado.
Durante o primeiro
mandato de Trump, Grenell serviu como diretor interino de inteligência nacional
e embaixador dos EUA na Alemanha. Neste ano, quando o republicano se encontrou
com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, ele participou da reunião privada.
• Além disso, o ex-funcionário da Câmara
Kash Patel é cotado para um cargo dentro da secretaria. Ele já trabalhou como
conselheiro em defesa e inteligência e é fiel a Trump.
• Outro cotado para um cargo na secretaria
é o general aposentado Keith Kellogg. Ele é ex-chefe de gabinete do Conselho de
Segurança Nacional e tem um plano para encerrar a guerra na Ucrânia, incluindo
a recusa do país na Otan.
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Segurança Interna
Um dos favoritos ao
cargo é Tom Homan, ex-diretor interino da Imigração e Alfândega no primeiro
mandato de Trump. O combate à imigração ilegal foi o elemento central da
campanha republicana, incluindo a promessa de deportações em massa.
Trump elogiou Homan
frequentemente durante a campanha. No primeiro mandato do republicano, ele foi
um dos principais defensores da controversa política da separação de crianças
de famílias que entraram ilegalmente no país.
Também estão na
disputa:
• Chad Wolf: ex-secretário interino do
Departamento de Segurança Interna, Wolf é leal às políticas de Trump. Ele
renunciou ao cargo poucos dias após a invasão ao capitólio, em janeiro de 2021.
• Mark Green: ex-cirurgião de voo do
Exército e atual presidente do Comitê de Segurança Interna da Câmara. Ele
chegou a ser nomeado por Trump como secretário do Exército, mas renunciou após
controvérsias envolvendo falas transfóbicas e islamofóbicas.
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Tesouro
Scott Bessent, que
atua como um importante conselheiro econômico de Trump, é visto como um dos
principais candidatos para secretário do Tesouro. Investidor de longa data e
professor por vários anos na Universidade Yale, ele tem uma boa relação com o
presidente eleito.
Embora Bessent tenha
sido um defensor das políticas de liberais populares no Partido Republicano
antes de Trump, ele também elogiou o uso de tarifas como uma ferramenta de
negociação.
O investidor também vê
com bons olhos a filosofia econômica do presidente eleito, que se baseia em uma
postura cética em relação às regulamentações e ao comércio internacional.
Além dele, outras
pessoas são cotadas para o cargo:
• John Paulson: bilionário e um dos
principais doadores para a campanha Trump. Ele apoia tarifas para combater
práticas comerciais injustas no exterior.
• Larry Kudlow: comentarista de uma
emissora de TV voltada para negócios e ex-diretor do Conselho Econômico
Nacional durante o primeiro mandato de Trump.
• Robert Lightizer: trabalhou como
representante comercial dos Estados Unidos no primeiro mantado de Trump. Teve
um papel central na guerra comercial com a China e na renegociação do acordo de
livre comércio com México e Canadá.
• Howard Lutnick: copresidente da equipe
de transição de Trump, em 2016, e CEO de uma empresa de serviços financeiros.
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Procuradoria-Geral
Mike Lee, senador por
Utah, é um dos principais candidatos ao cargo é um fiel aliado de Trump. Embora
tenha se recusado a votar no republicano durante a eleição de 2016, ele mais
tarde se tornou um aliado inabalável do presidente eleito.
Ele foi uma
figura-chave nas tentativas de Trump e seus aliados de reverter sua derrota na
eleição de 2020 para Joe Biden e espalhou teorias da conspiração infundadas
sobre o ataque ao Capitólio.
Também está na
disputa:
• John Ratcliffe: ex-congressista e
ex-diretor de inteligência nacional, Ratcliffe é visto como um candidato
potencial que conseguiria aprovação do Senado. No primeiro mandato de Trump,
foi acusado pelos democratas de ter politizado o cargo.
Fonte: BBC News Mundo/g1
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