quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Moisés Mendes: O rejuvenescimento do macho de extrema direita que teme as mulheres

Não há surpresa nenhuma na constatação de que o perfil dominante do ativista de extrema direita é o do homem branco de classe média e de meia idade. No Brasil, na Hungria, nos Estados Unidos.

Esse é também o perfil da maior faixa do eleitorado de direita. O macho branco é o militante e o eleitor típicos do reacionarismo e do extremismo. Mas essa eleição americana acrescenta informações ao que já se sabia.

O macho branco que dá base, faz ativismo e lidera a extrema direita não é mais só o cara com idades entre 45 e 60 anos. Evaporou-se aqui e lá a certeza de que o fascismo era uma ideia velha compartilhada pelos quase velhos do bolsonarismo e do trumpismo.

Javier Milei sustentou a ascensão do fascismo na Argentina graças ao apoio da juventude. Pablo Marçal renovou a militância bolsonarista aqui. E a ressurreição de Trump rejuvenesceu sua base nos Estados Unidos.

Nessa eleição nos EUA, haverá a maior diferença nas preferências de mulheres e de homens entre republicanos e democratas também por causa dessa renovação.

O quadro médio é esse: 53% dos homens que fazem escolhas estão com Trump e 37% estão com Kamala. E, com pequenas variações, é esse o quadro inverso para Kamala em relação ao voto feminino: ela tem 53% das mulheres e ele tem 36%.

Kamala tem apoio ainda maior entre mulheres jovens, mobilizadas pela defesa de direitos, principalmente ao aborto. Entre mulheres de até 30 anos, ela tem 67%, contra apenas 28% do apoio a Trump.

Mas Nicole Russell, colunista do USA Today, revela o seguinte: pela primeira vez os pesquisadores constataram que Trump tem muito apoio dos homens jovens e até da Geração Z, dos nascidos entre o final dos anos 90 e primeira década dos anos 2000. O apoio entre os jovens machos cresceu de 37% para 58%.

Os homens jovens, que até a eleição de Joe Biden estavam com os democratas, correram em direção a Trump. Porque também eles, por desalento e muitos outros fatores, sentem-se depreciados enquanto machos em formação num mundo de mulheres atrevidas.

É o que as pesquisas revelam e Nicole Russell aborda no artigo. O macho americano está carente. Não só o tio do zap, mas agora até o guri com idades ao redor dos 20 anos.

Esse eleitor que pode estar votando pela primeira vez também é trumpista. Como são os jovens que elegeram Milei na Argentina e quase levaram Marçal ao segundo turno em São Paulo.

A equipe de Trump tem mensagens específicas para esses jovens, nessa linha: Kamala trata vocês como se fossem homens dispensáveis, mas nós os valorizamos. Kamala assusta os homens por ser democrata e por ser mulher e negra.

Na abordagem da jornalista texana, sempre sob o ponto de vista conservador, “os homens estão mudando para a direita porque a esquerda os tornou desnecessários”. Kamala e a hegemonia feminista democrata teriam abandonado os coitados.

O que importa aqui não é o choro da moça que também se alia aos homens desprezados. Mas a certeza de que eles sofrem porque têm mesmo a sensação de que foram abandonados e são esnobados pelas mulheres não conservadoras.

É o que precisaremos examinar melhor também no Brasil, para que se tenha alguma medida do drama do macho atormentado que Bolsonaro tirou do armário e Pablo Marçal colocou aos berros no meio da rua.

Não só o macho assumidamente inseguro red pill das redes sociais. Não só o macho espalhafatoso que chama pela mãe. Mas o homem silencioso, que sofre e só na hora do voto explicita seus tormentos diante de mulheres indiferentes aos seus dramas.

O eleitor de extrema direita, num resumo que a política nos oferece, é o macho que se agarra a Trump, Bolsonaro, Marçal, Elon Musk e Milei para tentar voltar a ser o que nunca mais será.

E como ficam na cabeça dele a economia, a inflação, o emprego, os imigrantes? São bons pretextos do século 20 que eles usam como escudos. O macho que se protege na extrema direita teme mesmo as mulheres.

 

•        Trump fez barba, cabelo e bigode. Por Alex Solnik

Enganaram-se os democratas que pensaram que Biden estava indo mal na campanha por estar decrépito; o seu governo é que estava decrépito.

Trocar o titular pela vice pareceu uma boa ideia no início, mas quando os eleitores perceberam que ela seria a continuidade das políticas de Biden, o caldo entornou.

Se o titular não servia, imagina a vice.

Os democratas erraram na escolha, em primeiro lugar, por optar por uma mulher para comandar um país que está sempre em guerra, e por isso é alvo de ameaças de terroristas e de estados inimigos. Estados Unidos é a terra do bang-bang. E bang-bang é coisa de homem.

Erraram com Hillary e agora erraram com Kamala.

O outro erro foi apresentar uma candidata que reforça o identitarismo, que é louvado pelas minorias, mas rejeitado pela maioria.

Quem se apoia em pautas minoritárias recebe votos minoritários, tanto lá como cá.

Muitos de nós consideram uma covardia inominável deportar imigrantes ilegais, e é, mas, para o cidadão americano, significa proteger os empregos para os americanos.

Taxar mais produtos importados, sobretudo da China, também parece uma atitude hostil, mas é uma forma de proteger a indústria nacional.

Trump recebeu na reta final o fundamental apoio de Elon Musk, o que desequilibrou a corrida a seu favor.

Elon Trump ganhou de Kamala Biden.

 

•        Trump venceu. E agora, José, para onde? Por Valter Pomar

Se não houver nenhuma surpresa, no dia 20 de janeiro de 2025 Trump voltará a presidir os Estados Unidos.

Detalhe: o candidato do Partido Republicano conseguiu maioria de votos no Colégio Eleitoral e, também, conseguiu maioria entre os eleitores.

O que explica este resultado?

O que mudará na política externa e interna dos Estados Unidos?

O que farão aqueles que equipararam Trump, não apenas com o fascismo, mas também com o nazismo?

O que devemos fazer nós, na América Latina e Caribe, especialmente no Brasil?

Nas próximas horas, dias e semanas, muita gente vai queimar os neurônios tentando responder estas e outras questões.

A seguir, algumas opiniões.

Primeiro: fenômenos complexos geralmente não têm uma única causa.

Mas tudo indica que a vitória de Trump, inclusive com maioria de votos populares, está relacionada com a situação econômica dos Estados Unidos.

Alguém poderia dizer: mas os índices econômicos dos EUA são positivos (como os do Brasil, acrescentaria alguém da Fazenda brasileira)!

Sim, isto é verdade.

Mas, como no Brasil, o julgamento popular não coincide com os índices.

Além disso, e muito mais importante, o que está em jogo não é apenas a situação econômica no sentido estrito do termo; o que está em jogo é algo mais profundo, a saber, o lugar dos Estados Unidos no mundo.

Tanto Democratas quanto Republicanos querem que os EUA voltem a liderar.

E, mesmo que por pequena diferença, a maioria do eleitorado estadunidense escolheu a fórmula trumpista para tentar "fazer a América grande outra vez".

O que isto significará na prática?

Em algumas questões, significará mais do mesmo ou uma radicalização do que já está acontecendo.

Noutras questões, teremos novidades.

Mas, seja lá o que Trump efetivamente venha a fazer, o impacto político imediato será o envalentonamento da extrema-direita mundo afora e a decorrente polarização.

Um verdadeiro inferno para os que têm medo da polarização.

Mas como a polarização existe, gostemos ou não, temos que nos preparar para vencer.

Para alguns isso exige "ir para o centro", ou seja, aprofundar as alianças entre a esquerda e a direita gourmet.

Acontece que uma fórmula aparentada com esta foi derrotada nas eleições estadunidenses.

O "social liberalismo democrático" é incapaz de vencer a extrema-direita.

Claro, os caminhos alternativos - por exemplo, "ir para a esquerda" - não são nada fáceis.

Mas é o que temos, se não quisermos que se repita aqui o que acabou de acontecer na gringolândia.

Trata-se de tomar medidas mais profundas e velozes para garantir nossa soberania econômica, o que entre outras coisas exige deixar de lado as limitações do Calabouço Fiscal.

Trata-se de tomar medidas urgentes para reconstruir a integração regional, o que entre outras coisas exige voltar a manter boas relações com o governo da Venezuela.

Trata-se de aprofundar as relações com os BRICS, o que entre outras coisas significa estabelecer um acordo de alto nível entre a China e o Brasil, na recente visita que Xi Jinping fará ao Brasil.

Trata-se, enfim, de voltar a pensar a longo prazo.

Entre outros motivos porque, sem estratégia, no curto prazo estaremos todos mortos.

 

•        O maléfico sionista belicista venceu (não, não aquele, o outro). Por Caitlin Johnstone

O Partido Democrata perdeu o controle tanto da Casa Branca quanto do Senado. No momento em que escrevo, ainda não está claro qual partido garantirá o controle da Câmara dos Representantes. Acontece que fazer campanha com a promessa de continuar um genocídio, enquanto corteja endossos de criminosos de guerra como Dick Cheney, não é uma boa maneira de convencer progressistas a votar em você.

Um ponto interessante é que Donald Trump parece ter conquistado o estado decisivo de Michigan, onde Kamala Harris foi amplamente rejeitada pela grande população árabe-americana de Dearborn, apesar de terem votado massivamente em Biden em 2020. Em agosto, Harris ficou famosa por silenciar manifestantes muçulmanos anti-genocídio em um comício de campanha em Michigan, advertindo-os com as palavras "Estou falando".

Bem, quem está falando agora?

Para ser claro, este não é um bom resultado. Um bom resultado não era possível nesta eleição. Um monstro genocida sionista belicista perdeu, o que significa que o outro monstro genocida sionista belicista venceu.

Donald Trump ainda está comprado e controlado pelo dinheiro de Adelson, o que significa que podemos esperar que ele continue sendo tão submisso a Israel quanto foi durante o seu primeiro mandato. O presidente recém-eleito admitiu publicamente que, quando era presidente, os plutocratas sionistas Sheldon e Miriam Adelson estavam na Casa Branca "provavelmente quase mais do que qualquer outra pessoa", pedindo-lhe favores para Israel, como mover a embaixada dos EUA para Jerusalém e reconhecer a reivindicação ilegítima de Israel sobre as Colinas de Golã, o que ele fez com entusiasmo.

Trump encerrou a sua turnê de campanha ao lado de seu ex-diretor da CIA e secretário de estado, Mike Pompeo, o que deveria ser o suficiente para desfazer as esperanças até dos apoiadores mais ingênuos de Trump de que a política externa dos EUA esteja indo em uma direção positiva em janeiro. Como diretor da CIA, Pompeo liderou um plano para assassinar Julian Assange e admitiu alegremente que "nós mentimos, trapaceamos, roubamos" na agência. Esta odiosa criatura do pântano permaneceu nas boas graças de Trump nos últimos oito anos e, segundo relatos, espera-se que tenha um cargo no gabinete de Trump mais uma vez.

Falando em um evento de campanha em Pittsburgh na segunda-feira passada, Pompeo se gabou de que foi chamado de "o membro do gabinete mais leal a Donald J. Trump" e disse que, quando Trump fosse reeleito, "derrubaremos o anel de fogo; apoiaremos nossos amigos em Israel". O "anel de fogo" é uma expressão usada por think-tanks para se referir ao Irã e às milícias no Líbano, Iraque, Síria, Iêmen e Palestina que se opõem a Israel.

Portanto, as coisas provavelmente vão ficar cada vez piores. Mas estavam piorando cada vez mais sob Biden, e teriam piorado sob Harris também. É assim que as coisas ficam quando um império moribundo está lutando para manter o controle planetário, como um animal encurralado. Você não se torna presidente dos EUA a menos que esteja disposto e ansioso para fazer coisas feias.

Os democratas exageram o quão destrutivo Trump é em relação aos seus próprios candidatos psicopatas sedentos de sangue. Embora possamos esperar que Trump imponha tirania e abuso aos estadunidenses, isso será nada comparado à tirania e abuso que ele infligirá às pessoas em outros países, e será nada comparado à tirania e abuso que seu predecessor tem infligido às pessoas em outros países. Toda a gritaria histérica que vemos dos liberais dos EUA sobre Trump só funciona dentro de uma visão de mundo supremacista ocidental que não vê as vítimas do belicismo dos EUA como plenamente humanas e, portanto, vê atrocidades genocidas devastadoras como menos significativas do que abusos comparativamente menores relacionados à política doméstica dos EUA.

Abandone a esperança de que qualquer mudança positiva virá deste resultado eleitoral.

Abandone a esperança de que Trump fará boas coisas.

Abandone a esperança de que os democratas aprenderão alguma lição com esta derrota.

Abandone a esperança de que os liberais de repente lembrarão que o genocídio é ruim e começarão a protestar contra o massacre apoiado pelos EUA em Gaza.

Abandone a esperança nos resultados das eleições dos EUA, ponto final.

As eleições dos EUA não produzem resultados positivos. Elas não são projetadas para beneficiar seres humanos comuns.

Nada muda para aqueles de nós que nos dedicamos a lutar contra os abusos do império dos EUA. Será a mesma luta em 20 de janeiro como foi em 19 de janeiro. Continuamos lutando.

 

Fonte: Brasil 247

 

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