sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Mercado de cannabis medicinal tem crescimento de 22% em um ano e alcança R$853 milhões

O mercado brasileiro da cannabis medicinal registrou um crescimento significativo em 2024, movimentando R$ 853 milhões somente neste ano.

A taxa representa um aumento de 22% em relação a 2023, quando o total figurou em R$ 699 milhões.

Os dados consideram toda a receita gerada pelo setor e estão compilados no 3º Anuário da Cannabis Medicinal no Brasil, lançado nesta terça-feira pela consultoria Kaya Mind.

📊 CONTEXTO: A maconha é uma droga ilegal no Brasil, mas o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC) são duas substâncias extraídas de plantas do gênero cannabis que vêm sendo utilizadas com sucesso no tratamento de uma série de doenças.

Ainda segundo o anuário, esse crescimento do mercado foi acompanhado por um aumento expressivo no número de pacientes.

No ano passado, pelas estimativas da consultoria, 431 mil pessoas estavam em tratamento com cannabis medicinal. Este ano, esse número saltou para 672 mil, quando 241 mil novos pacientes começaram a utilizar a planta como parte de suas terapias.

A Kaya Mind diz que a diversidade de produtos disponíveis no mercado é um ponto de destaque para isso. Atualmente, existem mais de 2.180 itens regulamentados no Brasil, em diferentes formatos.

Entre os mais comuns estão óleos, cápsulas, sprays e medicamentos de uso tópico, que atendem a necessidades variadas de tratamento.

Essa ampla oferta é resultado, em parte, da atuação de empresas estrangeiras: em 2024, o Brasil importou produtos de 413 companhias internacionais, ampliando o acesso a novas opções terapêuticas.

Aliado a isso, de acordo com o documento, o mercado também vem refletindo mudanças no cenário regulatório e nos canais de acesso aos produtos.

Isso porque hoje os pacientes podem adquirir tratamentos por três vias principais: importação direta, farmácias e associações.

A importação é a principal forma de acesso, mas farmácias têm ampliado sua participação, com redes oferecendo medicamentos diretamente no Brasil. As associações também desempenham um papel importante ao facilitar o acesso, especialmente em comunidades menores.

Para o futuro, as projeções indicam que o setor continuará em alta. A estimativa é de que o mercado de cannabis medicinal no Brasil alcance R$ 1 bilhão até o final de 2025.

No anúaria, a consultoria destaca que esse crescimento deve ser impulsionado por uma maior estruturação regulatória, o aumento da demanda por produtos e a entrada de novas empresas no mercado, tanto nacionais quanto internacionais.

<><> O que é o canabidiol, o tetrahidrocanabinol e para o que são indicados?

➡️ O canabidiol (CBD) é a substância responsável pelo efeito relaxante. Na indústria farmacêutica, ele funciona como anticonvulsivo e analgésico.

O médico neurologista e professor na faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP) Renato Anghinah explica que há vários estudos que mostram a eficácia do medicamento no tratamento, principalmente, de casos de epilepsia.

Se sabe desde a década de 70 que o canabidiol tinha efeito sobre doenças com epilepsia e, desde então, são vários estudos robustos que provam que o medicamento é eficaz. Temos crianças com inúmeras crises diárias e que conseguem ficar dias sem crises convulsivas com o uso. Isso é uma melhora brutal na qualidade de vida do paciente e dos pais.

— Renato Anghinah, médico neurologista e professor na USP

➡️ O tetrahidrocanabinol (THC) age como estimulante e é a substância psicoativa na maconha. No Brasil, ele também é liberado para fins medicinais. Ele vem sendo indicado na forma de medicamento para o tratamento de pessoas que têm quadros de enrijecimento depois de derrame, acidente vascular cerebral (AVC) e traumas medulares.

<><> Qual a diferença do extrato no medicamento e a droga?

A cannabis é o gênero da planta popularmente conhecida como maconha. Nela, há várias substâncias e entre elas as mais conhecidas são o CBD e o THC. Quando se trata do uso farmacêutico, ambos são retirados da planta em um processo em laboratorial.

➡️ O canabidiol, que é o extrato aprovado pelo governo paulista para a inclusão no SUS, é consumido em forma de goma, óleo e até de comprimido. Não há fumo no tratamento medicinal.

Às vezes, quando a gente fala sobre o tratamento com extratos de cannabis as pessoas acham que estamos falando de fumo de maconha, mas isso não existe. São medicamentos, com processos em laboratório, que não são consumidos com o fumo. — Renato Anghinah, médico neurologista.

<><> O canabidiol dá barato ou vicia?

José Alexandre Crippa, professor da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto, explica que o canabidiol não tem efeito psicoativo. Ou seja, não é ele quem dá o efeito conhecido por quem usa a maconha como droga.

A planta cannabis tem mais de mil substâncias. A mais comum é o CBD que não dá barato, é o primo careta da maconha. As pessoas não fumam maconha por causa do canabidiol, mas por causa do THC.

— José Alexandre Crippa, professor da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto

O médico Antonio Waldo Zuardi, também da USP e pioneiro nos estudos sobre o canabidiol, explica que, assim como não é o canabidiol que tem o efeito psicoativo, ele também não é capaz de gerar dependência.

“Não há qualquer estudo que tenha demonstrado dependência no uso de canabidiol”, pontua Antonio Waldo Zuardi.

<><> Quanto custa o medicamento e como a distribuição no SUS ajuda no acesso ao tratamento?

No Brasil, há duas formas de conseguir o canabidiol:

•                        💊 Por compra direta: a resolução 327/2019 da Anvisa permite a compra de medicamentos e derivados autorizados diretamente nas farmácias e drogarias de todo o Brasil. Para isso, precisam ter prescrição médica com receita especial.

•                        💊 Por importação: é prevista pela resolução 660/2022 da agência e permite a importação de produtos derivados da cannabis fabricados em outros países. Neste caso, não há necessidade de receita médica especial, mas de cadastro na Anvisa e autorização.

Os processos têm preços distintos. O médico Renato Anghinah, que prescreve o medicamento para tratamentos de casos de epilepsia, explica que na compra na farmácia, medicamentos de 60 ml podem custar até R$ 2 mil.

 

Fonte: g1

 

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