sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Índia desafia narrativas dominantes ao dar resposta firme à crise diplomática com Canadá

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam o imbróglio envolvendo os dois países, iniciado após o governo canadense acusar Nova Deli de tramar o assassinato de um líder separatista indiano em território canadense.

Os governos da Índia e do Canadá estão envoltos em uma crise diplomática que se arrasta há mais de um ano. O imbróglio começou após o assassinato de Hardeep Singh Nijjar, morto a tiros em 18 de junho de 2023, na região de Surrey, na Colúmbia Britânica, por dois homens mascarados no estacionamento de um templo no Canadá.

Nijjar era líder separatista da religião sikh. Em 2020, ele foi declarado terrorista pelo governo indiano, por liderar o movimento que demanda um Estado soberano, o Khalistão, para a população sikh na região de Punjab, no norte da Índia. Esse movimento ganhou força na década de 1940, com a independência da Índia e do Paquistão, e é classificado como terrorista pelo governo indiano.

Os sikhs representam cerca de 1,7% da população da Índia, mas são maioria em Punjab, onde a religião foi iniciada, no século XV. Cerca de 1,4 milhão de indianos vivem no Canadá, e os sikhs correspondem à metade dessa população.

Logo após a morte de Nijjar, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, sugeriu que agentes indianos estavam envolvidos na trama de assassinato. E, no mês passado, afirmou em uma coletiva de imprensa que o governo canadense tinha "evidências claras e convincentes de que agentes do governo da Índia se envolveram e continuam se envolvendo em atividades que representam uma ameaça significativa à segurança pública".

Na ocasião, Trudeau anunciou a expulsão de seis diplomatas indianos de alto escalão, acusados de envolvimento na morte de Nijjar, medida que foi rechaçada por Nova Deli, que respondeu com a expulsão de seis diplomatas canadenses também de alto escalão e acusou o Canadá de ser um refúgio para terroristas.

Desde então, a relação entre os países está desgastada e a crise respingou para a área econômica. Logo após a expulsão dos diplomatas, companhias aéreas indianas receberam uma série de ameaças de bomba, forçando desvios de voos, aterrissagens de emergência e escoltas militares, afetando milhões de passageiros e causando impacto significativo nas finanças das empresas.

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam como a crise diplomática pode impactar os dois países e por que a região de Punjab é tão crítica para a Índia.

Betina Sauter, especialista em Índia, professora de pós-graduação em geopolítica da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), afirma que o movimento separatista sikh é apenas uma das muitas dores de cabeça do governo do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e destaca que a Índia tem várias situações de separatismo, sendo a mais famosa o caso da Caxemira.

Ela afirma que a postura adotada por Trudeau é arriscada porque cria um impasse com uma das maiores economias e de crescimento mais rápido no mundo, que tem posição geográfica chave na região do Indo-Pacífico, e serve como um contrapeso para a influência da China na Ásia.

"A Índia está numa posição de crescente influência global e o Canadá pode enfrentar consequências significativas ou arriscar suas relações com um parceiro que é tão promissor. Trudeau, no entanto, parece ter julgado que suas alegações são importantes para a soberania e segurança canadense, o que acaba mostrando o quanto a questão do Khalistão, na verdade, é sensível para o Canadá internamente."

Sauter acrescenta que a situação se agravou porque Trudeau acusou o governo indiano de envolvimento em uma trama de assassinato, sem apresentar provas, o que levou ao rompimento das relações diplomáticas. Segundo ela, cabe ao Canadá rever sua postura "em relação aos grupos que promovem ideologias vistas pela Índia como extremistas".

"Embora o Canadá seja firme em relação ao seu compromisso com liberdade de expressão, isso não pode ser feito no caso em detrimento da segurança nacional da Índia, que considera certos movimentos como ameaças diretas. Assim, o Canadá deveria reavaliar a sua abordagem em relação a esses grupos", avalia.

Para a especialista, a "interdependência econômica pode ser um fator relevante para que ambos os países reconsiderem suas posturas".

"Tanto a Índia quanto o Canadá possuem interesses econômicos importantes que podem atuar como motivadores de uma reaproximação com o tempo. A Índia é um mercado emergente promissor para o Canadá, enquanto o Canadá é uma fonte importante de investimentos e de colaboração tecnológica com a Índia."

Ela afirma que, para além da perda de território, a questão separatista de Punjab se torna crítica para a Índia por conta da importância econômica da região e de sua posição geográfica estratégica.

"O Punjab é uma das regiões mais produtivas da Índia, em termos agrícolas. Ela é conhecida como o grande celeiro da Índia. Então, ela produz uma grande quantidade de trigo, arroz, algodão, legumes. E, além da agricultura, o Punjab é um centro importante para algumas indústrias, como a indústria têxtil, de manufatura, de produção de eletrônicos. E é uma região que está bastante próxima da capital, Nova Deli, o que acaba facilitando também o comércio e os negócios. Agora, em termos estratégicos, é uma região que faz fronteira com o Paquistão [...] com quem a Índia tem uma relação bastante complexa, incluindo disputas territoriais."

Crise entre governos precede assassinato de Nijjar

O imbróglio envolvendo a morte de Nijjar não foi o estopim da crise entre Índia e Canadá, conforme aponta Rebeca Leite, graduada em relações internacionais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em estudos marítimos pelo programa de pós-graduação em estudos marítimos da Escola de Guerra Naval e pesquisadora do Núcleo de Avaliação da Conjuntura da Escola de Guerra Naval desde 2016, com foco em sul da Ásia.

"Pelo menos desde 2018 o governo indiano já tem um pouco o pé atrás em relação ao posicionamento do Canadá com esse movimento separatista. Porque essa certa permissividade do Canadá acaba afetando como a Índia olha para o governo canadense, porque é algo que impacta diretamente na integridade e, portanto, na segurança nacional da Índia. Em 2020, o Trudeau chegou a se manifestar por conta de um protesto que ocorreu na Índia, um protesto super violento, por sinal. E isso foi visto pelos indianos como interferência externa em assuntos domésticos, algo que para a Índia é inadmissível."

Ela afirma que essa postura do governo canadense trouxe para a Índia "um sentimento de muita insegurança" e destaca que na recente Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, Modi não dialogou bilateralmente com Trudeau, o que já envia um claro recado de abalo nas relações, uma vez que a Índia prioriza diálogos bilaterais.

Leite aponta ainda que Trudeau está vivendo um período pré-eleitoral e busca agarrar forças porque ele deseja a reeleição em 2025. "Então, se posicionar também de maneira mais assertiva faz parte de um interesse doméstico e isso acaba se refletindo ali no âmbito da política externa do Canadá."

Entretanto, ela afirma que a resposta de Nova Deli reflete uma mudança de paradigma nas relações diplomáticas fomentada pela crescente influência da Índia, "desafiando narrativas que antes eram dominantes, como aquela de país desenvolvido e subdesenvolvido".

"O Canadá acaba tratando a Índia de uma forma um pouco mais grosseira, talvez pensando que não pudesse haver uma reação. Então, no atual cenário geopolítico, a assertividade da Índia é muito bem calculada, acaba sendo necessária na sua política externa por conta desses conflitos que ela acabou se envolvendo", afirma.

 

¨       Quênia demonstra ser mercado promissor para o trigo russo, diz órgão regulador agrícola

A Rússia é uma potência global no mercado de trigo, detendo o título de maior país produtor e exportador de trigo do mundo. As exportações de trigo, que respondem por mais de 60% das exportações totais de grãos da Rússia, solidificam a posição do país como líder mundial nesta commodity crítica.

O Quênia abre grandes oportunidades para os exportadores russos de trigo, disse Ruslan Khasanov, chefe do Centro Federal de Avaliação da Segurança e da Qualidade de Grãos e Produtos Processados, a uma agência de notícias russa.

"Nos últimos anos, as exportações de trigo russo para o Quênia mostraram forte crescimento. Os volumes de exportação de trigo em 2022/23 aumentaram para 1,1 milhão de toneladas, e no ano agrícola de 2023/24, subiram para 1,5 milhão de toneladas. No ano agrícola de 2024/25, a Rússia já exportou 82,7 mil toneladas de trigo para o Quênia", disse Khasanov.

Ele acrescentou que o país africano continua sendo um mercado promissor para o aumento das exportações de trigo russo. No geral, no ano agrícola de 2024/25, o Quênia importou 2,6 milhões de toneladas de grãos de diferentes países, observou Khasanov.

¨      Bancos centrais do Leste Europeu são hoje os maiores compradores de ouro do mundo, diz mídia

Países ao redor do mundo, mas especialmente do Leste Europeu, na busca por reduzir a volatilidade de suas moedas e diversificar suas reservas financeiras, têm apostado no ouro como uma saída viável.

De acordo com a Bloomberg, a República Tcheca, Polônia e Sérvia estão se juntando à corrida do ouro como uma forma de diversificar investimentos e apostar em futuros aumentos de preços no caso de uma nova crise financeira ou ainda de se defender de políticas de sanções unilaterais visando ativos nacionais em bancos estrangeiros — razão pela qual os países do Leste Europeu têm levado suas pilhas de ouro para casa.

Com a vitória de Donald Trump, o metal precioso também pode servir para lastrear as moedas no caso de possíveis guerras comerciais e tensões geopolíticas, como as vividas atualmente pelos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio.

Segundo o chefe do banco central da Polônia, Adam Glapinski, as reservas de ouro e moeda forte são cruciais para proteger a economia contra eventos catastróficos, tendo se gabado de fazer parte e uma espécie de "clube exclusivo" de países maiores detentores de quantidade de ouro, disse a apuração.

Conforme os conflitos geopolíticos têm se intensificado, as compras de ouro têm sido uma boa aposta. Segundo o Goldman Sachs Group Inc., o metal está entre as principais negociações de commodities para 2025, apostando os compradores que os preços da onça possam atingir a casa de US$ 3.000 (cerca de R$ 17.965,20) até dezembro do ano que vem.

O presidente sérvio Aleksandar Vucic repatriou o estoque nacional mantido fora do país em 2021. Este ano, ele prometeu comprar barras de ouro com "todo o excedente de dinheiro" que resta nos cofres do Estado "para estar seguro e protegido em tempos difíceis".

A chefe do banco central da Sérvia, Jorgovanka Tabakovic, supervisionou a triplicação das reservas de ouro para 48 toneladas desde que assumiu o cargo em 2012, e afirmou que o presidente sérvio forneceu o "pensamento estratégico, conhecimento das relações geopolíticas globais e informações" para apoiar as compras, o que, segundo especialistas, é uma opção conservadora reconhecidamente adotada pelos Estados quando a incerteza paira no horizonte próximo.

¨      França tem medo que Europa e Kiev possam ser excluídas das negociações sobre Ucrânia

A França está preocupada com o fato de a Europa e Kiev poderem ser excluídas de futuras negociações sobre a Ucrânia, enquanto estas serão conduzidas só entre a Rússia e os EUA, informou a revista The Economist.

Com a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, surgem várias preocupações e especulações sobre o possível desenvolvimento do processo de negociação sobre o conflito ucraniano.

Segundo o artigo, Trump tem uma vasta margem de manobra, ou seja, muitas ferramentas e muitos meios para negociar esse conflito.

Levando em conta as declarações da equipe de Trump, como de seu vice-presidente D.J. Vance e do próprio Trump, eles não podem ser chamados de muito favoráveis para o atual governo da Ucrânia.

É claro que a maior preocupação dos políticos ocidentais pró-Ucrânia consiste em que o novo presidente é capaz de começar a pressionar Kiev para um acordo, usando a redução da ajuda.

Porém, a questão que se coloca aqui é qual será o papel da União Europeia (UE) em possíveis negociações.

"Os assessores de Emmanuel Macron, presidente da França, temem que a diplomacia se torne um assunto americano-russo, deixando a Ucrânia e a Europa de fora", diz o artigo.

Trump é conhecido por sua postura isolacionista não só nas questões de tarifas de importação, mas também em assuntos de defesa, tendo expressado várias vezes insatisfação com a diferença nos gastos com a defesa da Europa entre os EUA e os próprios países europeus.

A The Economist acha que o próximo anfitrião da Casa Branca pode exigir da Europa que, se quiserem continuar a abastecer Kiev, os países europeus deverão arcar com a maior parte desse ônus.

Durante sua campanha eleitoral, Trump prometeu que seria capaz de chegar a uma solução negociada do conflito ucraniano, dizendo que poderia resolver o conflito na Ucrânia em um dia.

O Kremlin respondeu observando que o problema era muito complexo para uma solução tão simples.

Além disso, Trump criticou repetidamente a abordagem dos EUA em relação ao confronto na Ucrânia e ao atual líder ucraniano Vladimir Zelensky, chamando esse de "o maior comerciante da história", que leva bilhões de dólares com ele cada vez que visita os EUA.

¨      Países europeus e Rússia estão em 'estado de guerra', considera ex-chefe da inteligência britânica

Os países europeus e a Rússia estão em estado de guerra, disse o ex-chefe do serviço de inteligência britânico MI6, Richard Dearlove.

O vice-chefe do Conselho de Segurança da Rússia Dmitry Medvedev afirmou na quarta-feira (27) que Moscou está em estado de guerra com todo o mundo ocidental e vai basear suas decisões em seus documentos doutrinários na área da dissuasão nuclear. De acordo com ele, os países da OTAN estão de fato envolvidos não em uma guerra híbrida, mas em uma guerra total contra a Rússia, como demonstram os ataques com armas de longo alcance ao território russo por parte da Ucrânia.

"Precisamos aceitar o fato de que os russos pensam que estão em guerra conosco. [O premiê polonês] Donald Tusk chamou isso de uma situação de pré-guerra. Acho que ele está errado. Acho que é uma verdadeira guerra. Atualmente, do ponto de vista russo, isso não significa um conflito militar, mas um conflito híbrido ou diferentes tipos de conflitos em várias esferas de interesse", disse Dearlove em uma entrevista ao Sky News.

Ele observou que sempre considerou importante manter o diálogo com "adversários e rivais", o que, em sua opinião, é especialmente importante no contexto de um conflito na Europa, que pode se espalhar para outros países.

Na semana passada, o presidente russo Vladimir Putin disse que a Ucrânia atingiu alvos nas regiões de Kursk e Bryansk no dia 19 de novembro, usando mísseis ATACMS dos EUA e Storm Shadow do Reino Unido. Putin disse que a Rússia testou com sucesso no dia 21 de novembro um novo tipo de míssil balístico de alcance intermediário, Oreshnik, em resposta ao uso de armas dos EUA e do Reino Unido pela Ucrânia. O míssil atingiu um complexo industrial e de defesa na cidade ucraniana de Dnepropetrovsk.

¨      EUA explicam exigência de Kiev para reduzir a idade de recrutamento como 'matemática pura'

A administração do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, justifica com "pura matemática" o apelo para que a Ucrânia reduza a idade mínima para o recrutamento militar de 25 para 18 anos. Conforme relato de um representante do governo norte-americano à agência Associated Press, a medida busca aumentar o número de soldados disponíveis.

"Pura matemática", declarou o funcionário sob anonimato ao comentar a necessidade de diminuir a idade de recrutamento na Ucrânia para a partir dos 18 anos.

O representante da administração norte-americana também destacou que, na visão de Washington, as Forças Armadas da Ucrânia estão atualmente em grande desvantagem numérica no conflito em curso. Diante disso, os EUA consideram subestimada a avaliação das autoridades de Kiev, que indicaram a necessidade de recrutar mais 160 mil soldados.

Em abril, Vladimir Zelensky assinou uma lei que reduziu a idade mínima de mobilização na Ucrânia de 27 para 25 anos. Porém, em agosto, o Parlamento do país garantiu que não pretendia alterar o recrutamento.

Já em setembro, o deputado Aleksei Goncharenko, membro do Parlamento ucraniano (incluído pela Rússia na lista de terroristas e extremistas), afirmou que o comando militar de Kiev proibiu, por meio de uma diretiva, a mobilização de cidadãos com menos de 25 anos classificados anteriormente como "aptos com restrições".

Enquanto isso, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou que os EUA forçarão a liderança ucraniana a reduzir a idade de mobilização para 18 anos.

Vídeos que circulam na Internet mostram ainda mobilizações coercitivas, nos quais representantes dos escritórios de recrutamento ucranianos, frequentemente usando violência, são vistos transportando homens em idade de recrutamento para vans com destino desconhecido.

A lei que reforça a mobilização na Ucrânia entrou em vigor em 18 de maio deste ano. O documento obriga todos os cidadãos sujeitos ao serviço militar a atualizar seus dados nos escritórios de recrutamento dentro de 60 dias a partir da data de entrada em vigor da lei. Isso pode ser feito presencialmente ou por meio de um "gabinete eletrônico do convocado".

O texto exige ainda que todos os cidadãos sujeitos ao serviço militar portem constantemente seu documento militar e o apresentem mediante solicitação de representantes dos escritórios de recrutamento ou da polícia. Os que se recusarem a cumprir podem perder o direito de dirigir.

O prazo para desmobilização não foi incluído na legislação, o que gerou indignação entre alguns deputados.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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