terça-feira, 5 de novembro de 2024

Há correções a fazer, mas as eleições mostraram força de Lula e dos progressistas

Embora não surpreenda exatamente, chama a atenção o esforço com que veículos de comunicação conservadores, com uma unanimidade enfadonha, se apressaram a entoar o refrão de sempre: o Partido dos Trabalhadores sofreu uma surra acachapante nas eleições para prefeitos e vereadores.

Começando pelo mesmo cantochão, a ladainha evolui para o enésimo alerta: a iminente derrocada do PT, o desmonte inexorável do governo Lula e a consequente desaparição da esquerda, por inanição.

O roteiro tem uma intenção evidente: criar dificuldades para o governo Lula e seus aliados mais fiéis, desmerecendo sua relevância, de olho em vantagens futuras.

Uma eleição prepara a seguinte. Nesse sentido, vender a ideia de que Lula e seu partido estão isolados, fracos e distantes do eleitor é muito importante. A falsa impressão repetida exaustivamente acaba revestindo-se de ares de realidade inquestionável, segundo a qual o único vencedor é aquele bloco político cujas posições ideológicas coincidem com as opiniões da mídia conservadora: a direita e a centro-direita.

Quem observar os dados saídos da eleição, à luz do contexto histórico-político recente, perceberá que muitas análises distorcem a realidade. O pleito foi mais um passo no crescimento relativo e constante do Partido dos Trabalhadores, do presidente Lula e de sua frente junto ao eleitor.

Apesar da insistência, a essa altura, não cabe subestimar a competitividade eleitoral de Lula e do PT. Estão aí os cinco mandatos presidenciais em 22 anos a dar testemunho de que há, da parte do eleitor, uma admiração pelo presidente Lula e pelas ideias do PT que sobrevive às vicissitudes.

O mantra dos arautos do caos progressista não passa, na verdade, de um desejo obsessivamente renovado — e pode vir a ser frustrado mais uma vez.

O que na realidade vem ocorrendo é justamente o oposto. Em relação ao seu desempenho nas eleições municipais passadas, o PT cresceu em número de eleitores, de vereadores e até mesmo em número de prefeituras. Vale notar que conquistar os executivos municipais para candidatos petistas não era prioridade do partido. O PT participou de coalizões vitoriosas em 1.113 prefeituras.

A estratégia petista, formulada por Lula, visava retirar oxigênio da polarização política, ocupar espaços e construir vínculos.

Numa batalha renhida, o partido conquistou a prefeitura de Fortaleza, quarta capital mais populosa do país, derrotando um perigoso candidato apontado pelo próprio Jair Bolsonaro.

A força de Lula e do PT se manifestou, preservada, em centenas de cidades do Ceará e do Nordeste em geral. Foi reafirmada a dominância eleitoral do partido na região, o que constitui base sólida para uma eventual tentativa de reeleição de Lula.

Em diversas outras cidades importantes, de norte a sul, o PT disputou, chegou ao segundo turno e até venceu, em alianças com base em afinidades locais. Nessas regiões, pode existir um sentimento latente prestes a aflorar mais uma vez.

Houve, claro, decepções e descontinuidades em relação a desempenhos eleitorais já atingidos pelo partido em sua história. Será necessário avaliar e corrigir rumos, mas o sentido geral é de crescimento.

Como não poderia deixar de ser, essa retomada se dá de maneira lenta. Desde sempre, o PT enfrenta uma campanha de críticas, perseguições e discriminações. Levantamentos estatísticos, como o Manchetômetro, coordenado pelo professor João Feres Jr., que afere estatisticamente o viés do noticiário dos veículos da mídia conservadora, apontam a parcialidade avassaladora, a falta de isenção e equilíbrio quando se trata de noticiar sobre o governo e o PT. A abordagem é invariavelmente contrária.

Essa é uma saga que atravessa o século. Veio dessa mídia a campanha inclemente que inspirou o Judiciário a desfechar, em sequência fulminante, a farsa do mensalão, a infâmia da Lava-Jato, o golpe do impeachment sem crime de responsabilidade da presidente Dilma Rousseff e a prisão do presidente Lula. Todos contra o PT.

Os impactos desses episódios, por vezes até criminosos, não apenas ainda não foram devidamente retificados como seguem provocando efeitos, semeando ódios em considerável parcela da opinião pública.

O partido da mídia golpista antipetista e antilulista segue atuante, sem fazer autocrítica de suas práticas. Aguarda apenas o momento de uma nova investida.

Como ignorar esse contexto nas análises e avaliações das eleições? O PT e Lula resistiram a gravíssimas campanhas orientadas ao seu extermínio político.

É claro que o PT terá que avançar na presença nos territórios, equilibrar o peso dos seus mandatos com a militância social, crescer muito no uso da cultura e da comunicação digital, avançar na democracia interna e abrir-se ainda mais para as lideranças jovens que vêm surgindo.

Agora, a retórica da derrota do PT e do fim da esquerda se esboroa fragorosamente quando fica evidente que todo o sistema político calibra suas decisões estratégicas em torno de um personagem: Lula. Dele depende a definição de sua candidatura à reeleição em 2026, o que vai balizar as decisões de todos os agentes políticos.

Que derrota acachapante é essa, afinal, em que tantos vão se juntando ao campo do suposto derrotado, enquanto adversários, mesmo poderosos, titubeiam diante da dureza do embate?

<><> “Não é fácil governar com uma bancada de sessenta e oito deputados em um universo de quinhentos e treze”, diz Zeca Dirceu

Em entrevista ao Boa Noite 247, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) compartilhou suas impressões sobre a sucessão na presidência da Câmara e o impacto do Projeto de Lei da Anistia, que busca inocentar envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Dirceu explicou que a bancada do PT está em fase de avaliações internas e destacou os obstáculos de um governo apoiado por uma representação minoritária na Câmara.Na articulação interna do partido, a definição do nome para a sucessão na presidência da Câmara ainda não foi concluída, segundo Dirceu: “A bancada iniciou uma nova etapa da reunião para avaliar se já há segurança para uma decisão agora, ou se ela ficará para daqui a quinze dias, quando retomam os trabalhos. Nada definido ainda, mas com uma grande tendência de se decidir logo.” O deputado não confirmou apoio a Hugo Mota,do partido Republicanos e candidato de Artur Lira. Dirceu considera a presença do PT em espaços-chave da Casa essencial para fortalecer o governo e fazer frente a medidas que avalia como retrocessos: “Esse espaço de mais destaque para a bancada do PT, não só na mesa diretora, mas também em outros espaços importantes, é essencial para resistir a retrocessos.”

O deputado também ressaltou a importância de conciliar rapidez e precisão no processo de sucessão. “Não podemos ser muito apressados nem muito atropelados; não é a pressa ou a procrastinação que vai nos ajudar. Precisamos ter os elementos e as garantias da viabilidade da vitória e dos espaços para fazer aqui a boa luta política,” explicou. E reforçou: “Não é fácil governar com uma bancada de sessenta e oito deputados em um universo de quinhentos e treze.”

Sobre o Projeto de Lei da Anistia, retirado de pauta por Arthur Lira (PP-AL), Dirceu avalia que a criação de uma comissão especial adia o tema, possivelmente para depois das eleições na Câmara, o que tem efeitos práticos. “A retirada do projeto feita por Arthur Lira e a criação de uma comissão especial sugere que o assunto será empurrado para depois da eleição na presidência da Câmara. Não resolveu totalmente, mas dificultou bastante,” comentou.

 

•        "O antipetismo mostrou força em 2024", diz Edinho Silva

Edinho Silva, prefeito de Araraquara e ex-ministro da Secretaria de Comunicação de Dilma Rousseff, é visto como um dos principais nomes para assumir a presidência do Partido dos Trabalhadores (PT) em 2025. Em entrevista à jornalista Malu Gaspar, no Globo, Edinho refletiu sobre os resultados das eleições municipais de 2024, nas quais o antipetismo se mostrou mais forte do que o partido esperava. Para ele, o PT precisa de novas estratégias para dialogar com a classe média, especialmente nas grandes cidades, e enfrentar o desafio de uma direita organizada que tem captado o voto “antissistema”.

“O antipetismo ainda é muito presente. Ele se tornou mais forte em 2024, nos setores médios da sociedade que em 2022 estavam conosco, mas em 2024 não”, declarou. Edinho defende que o PT precisa ouvir as demandas da classe média urbana que, de acordo com ele, está desiludida com a capacidade do Estado de promover transformações. “Perdemos as eleições onde a classe média é extensa, nas periferias. A juventude da periferia também foi cooptada pelo antissistema”, observou, atribuindo essa mudança ao impacto das redes sociais e à mobilização dos partidos de direita.

Edinho acredita que o momento exige que o PT una esforços com outras forças democráticas para 2026, em um esforço de construção de uma frente ampla. “Temos que construir alianças. Tem que dialogar com o campo democrático e fazer reformas que possam melhorar a relação do Estado com a sociedade civil”, afirmou. Segundo ele, a adesão da classe média ao discurso antissistema coloca em risco a estabilidade democrática, e o PT precisa ser capaz de apresentar um projeto de futuro que recoloque o Estado como um agente relevante na redução das desigualdades sociais.

Ao avaliar os desafios de figuras como Guilherme Boulos, Edinho reconhece que propostas progressistas não conseguem competir, em período eleitoral, com a rejeição que ainda recai sobre o PT em muitas cidades. Ele destaca, porém, que isso não significa um fracasso, mas um reflexo do ambiente polarizado. “Nós quase perdemos Fortaleza. Não tenho nenhuma dúvida de que vamos ter que fazer uma reforma política para combater o crescimento dessa onda antissistema”, argumentou, defendendo a necessidade de um voto em lista, que, segundo ele, daria mais força aos projetos partidários do que aos nomes individuais.

O prefeito ainda comentou a importância de uma comunicação unificada dentro do governo e destacou o papel de figuras históricas do PT, como José Dirceu e João Vaccari Neto, no apoio ao governo e à legenda. “São pessoas que têm acúmulo, que viveram dificuldades e que podem ajudar", afirmou. Para Edinho, o momento exige do partido uma escuta atenta da sociedade e a capacidade de buscar alternativas que respondam às demandas da classe média e das periferias, sem perder de vista os princípios democráticos.

•        “Houve uma vitória eleitoral da direita, e isso é um alerta para a esquerda de reorganizar”, diz Valter Pomar

No programa Contramola, transmitido pela TV 247, o historiador e professor Valter Pomar fez um balanço das eleições municipais de 2024, abordando as vitórias expressivas dos partidos de direita e os impactos dessa dinâmica para a política nacional. Durante a conversa com Dafne Ashton, Pomar foi direto ao afirmar que o campo da direita obteve a maioria das prefeituras e vereadores, tanto no primeiro quanto no segundo turno, sinalizando uma derrota para as esquerdas. “Houve uma vitória eleitoral da direita, e isso é um alerta para a esquerda”, afirmou.

Pomar destacou que, nas 5.569 cidades em disputa, o campo da direita conquistou uma posição de destaque em prefeituras e câmaras municipais, enquanto as candidaturas de esquerda enfrentaram dificuldades, perdendo bases em regiões onde antes tinham presença consolidada. Ele afirmou que, desde 1982, o cenário eleitoral brasileiro já tende a favorecer a direita em termos de prefeituras e vereadores, mas que, em 2024, o desempenho das esquerdas foi especialmente preocupante. “O resultado foi uma vitória histórica das direitas. Esse resultado foi previsível, mas nós da esquerda não podemos encará-lo como normalidade”, afirmou o historiador.

Outro ponto abordado foi a forte abstenção, com cerca de 40% do eleitorado ausente, o que, segundo Pomar, deve ser encarado como um sinal claro de descontentamento. “A abstenção é um dos maiores fenômenos dessas eleições, e ela nos diz muito sobre o desinteresse e o descontentamento da população com o sistema político atual”, destacou. Para ele, ignorar essa realidade pode ser um erro, uma vez que o alto número de votos nulos e brancos indica um distanciamento significativo de grande parte dos eleitores.

Para Pomar, o desafio do Partido dos Trabalhadores (PT) e de outras forças de esquerda vai além de conquistar prefeituras e se concentra em reorganizar sua presença na sociedade. “Temos que estar nas ruas, nos bairros, nos locais de trabalho. A nossa derrota não foi apenas eleitoral, foi uma derrota política. Se não estivermos presentes na vida cotidiana do povo, não vamos vencer”, ressaltou, defendendo que as campanhas da esquerda precisam priorizar temas que realmente afetem a vida das pessoas, como o direito à educação, transporte público de qualidade e assistência social.

Ele também expressou preocupação com o futuro político do país, destacando que a ascensão da direita e a vitória em grandes colégios eleitorais pode impactar as próximas eleições. “Se a esquerda não se reorganizar e não retomar seu protagonismo com uma visão clara e forte, poderemos ver uma nova aliança de direita se consolidar para 2026, e isso significa um retrocesso ainda maior nas pautas populares”, concluiu Pomar, criticando o que vê como uma abordagem desmobilizadora da esquerda institucional.

Na visão do historiador, o impacto dos resultados de 2024 vai além de uma mera análise numérica. Para ele, a ausência de candidaturas próprias em grandes capitais, como São Paulo, mostra uma postura “ainda mais preocupante”, pois pode sugerir que a esquerda estaria “desaparecendo como opção política em muitos locais”.

•        Após recado das urnas, PT vê Lula como única opção para 2026

Com as fissuras internas após o desempenho aquém do esperado nas eleições municipais, o Partido dos Trabalhadores (PT) está convencido de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a única opção sólida para 2026. No atual cenário, marcado pelo fortalecimento da centro-direita, Lula desponta como o nome mais viável para o partido se manter competitivo em uma possível disputa contra uma coalizão de centro-direita ou bolsonarista. Fontes próximas ao presidente apontam que sua eventual desistência seria um verdadeiro “tsunami” para o partido, segundo aponta reportagem do Globo.

O processo de renovação interna do PT, previsto para o primeiro semestre de 2025, terá Lula no centro das discussões, mas dificilmente abrirá espaço para alternativas à sua candidatura. Ao completar 79 anos recentemente, Lula, que poderia alcançar os 81 no início de um novo mandato, é visto como a única figura capaz de catalisar votos e manter o apoio das camadas populares, especialmente em um momento em que o bolsonarismo sinaliza avanços em setores como o Senado.

A confiança no nome de Lula, segundo integrantes da cúpula do partido, é tamanha que ele próprio teria o poder de conduzir sua sucessão caso optasse por não disputar. Nos bastidores, o tema é praticamente um tabu, e a hipótese de renúncia de Lula sequer é cogitada oficialmente. A influência do presidente dentro do PT é tão forte que ele se tornou uma instância maior do que o próprio diretório nacional.

<><> Dependência e resistência à renovação

A “Lulodependência” dentro do partido é reforçada, segundo aliados históricos, pela falta de um sucessor que espelhe seu carisma e alcance popular. Desde a redemocratização, Lula esteve à frente do PT nas campanhas presidenciais de 1989, 1994, 1998, 2002, 2006 e mais recentemente em 2022. Ele apenas não concorreu em 2010, quando apoiou Dilma Rousseff; em 2014, durante sua reeleição; e em 2018, devido à sua prisão, quando Fernando Haddad o representou em campanha.

Essa fidelidade quase inquestionável ao nome de Lula foi novamente colocada à prova nas recentes eleições municipais. Embora o partido projetasse superar a marca de 300 prefeituras, o resultado foi inferior ao esperado, com o PT conquistando 252 prefeituras. Na única capital onde venceu, Fortaleza, Evandro Leitão derrotou o bolsonarista André Fernandes por uma margem apertada, consolidando uma exceção em meio ao fortalecimento da direita em outras regiões.

 

•        Doria pede desculpas a Lula: “Queria ter a chance de dizer que errei”

O empresário e ex-governador de São Paulo pelo PSDB João Doria enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para pedir desculpas pelos exageros nas críticas e erros em relação ao presidente no passado.

Entre as ofensas, Doria disse que Lula iria trabalhar pela primeira vez na vida quando o então ex-presidente foi preso em 2018.

O que Doria almeja, desde outubro de 2023, é se consolidar como o grande pacificador do Brasil, frase que usou, inclusive, para justificar o pedido de desculpas ao presidente em entrevista ao jornal O Globo. “Agora, sou o João conciliador”, afirmou o empresário, parafraseando o antigo slogan de campanha “João trabalhador”.

Doria garante que saiu em definitivo da política e que não tem mágoas ou ressentimentos. Mas o pedido de desculpas tem um porquê: negócios. Entre suas empresas está a Lide, descrita pelo próprio grupo como “a maior plataforma de negócios do Brasil”.

Além de aceitar apenas empresários ou representantes de empresas que faturam, pelo menos, R$ 200 milhões por ano, os eventos da Lide têm como proposta contar com a presença do alto escalão do governo, em encontros, inclusive, no exterior.

Mas, por conta das críticas a Lula no passado e do antipetismo pregado por Doria (que chegou a ser cabo eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, com o bordão BolsoDoria), a participação de ministros nos eventos da Lide não são bem-vistos pelo Planalto.

Alguns chefes de pasta já participaram dos eventos da Lide, como a ministra do Planejamento Simone Tebet. Outros, porém, já recusaram o convite, a fim de evitar uma saia justa com o governo.

Assinada de próprio punho, a carta de Doria chegou às mãos do presidente por Geraldo Alckmin (PSD), vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, com quem o empresário também se reconciliou recentemente.

Lula leu a carta na hora, disse que não tem mais idade para não perdoar, mas descarta a possibilidade de aproximação com Doria.

 

Fonte: Brasil 247/O Globo

 

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