sexta-feira, 1 de novembro de 2024

EUA e países europeus não devem ajudar na reconstrução de Gaza; BRICS, sim, avaliam pesquisadores

A recente expansão do BRICS, incluindo sobretudo países do Oriente Médio, como Arábia Saudita, Irã e Emirados Árabes Unidos, pode tornar o grupo um potencial financiador da reconstrução da Faixa de Gaza, segundo os entrevistados do programa Mundioka, da Sputnik Brasil, desta quarta-feira (30).

Para o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, e a doutoranda em ciência política da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora de política externa russa Giovana Branco, a atuação do BRICS daria mais autonomia e legitimidade ao povo palestino na administração dessa reconstrução, uma vez terminado o conflito que vem devastando a região há mais de um ano.

"Seria realmente um marco desse grupo, de se diferenciar em relação às potências ocidentais mais tradicionais, que ao longo do tempo foram associadas à destruição dessa região no mundo", comentou a pesquisadora.

O BRICS contava até o ano passado com cinco países: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Neste ano o grupo ganhou novos membros: Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Rabah frisou que a ajuda do BRICS pode possibilitar que a administração seja feita pelo povo palestino, com um governo de unidade e de reconciliação nacional.

"Os países que participam do BRICS, entre eles países da própria região, é que são confiáveis para isso", opinou.

"É um grupo que vem adquirindo um tom muito crítico aos Estados Unidos e, consequentemente, à Europa de uma forma geral, e que vem tentando se posicionar como esta grande alternativa que olharia de uma forma mais empática para conflitos que tenham sido esquecidos pelo Ocidente ou mesmo rejeitados", acrescentou Branco.

Para Rabah, é imoral que depois de "financiar o genocídio do povo palestino", os EUA participem da reconstrução de Gaza, lucrando com construções e materiais de empresas norte-americanas:

"Eles deram para Israel, para o genocídio, na casa de US$ 22,8 bilhões, ou seja, R$ 125 bilhões de reais. Isso dá incríveis R$ 2,4 milhões para cada palestino exterminado em Gaza."

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), serão necessários pelos menos US$ 40 bilhões (cerca de R$ 230 bilhões) para que a Faixa de Gaza, que ainda está sendo destruída por Israel, seja restaurada.

Ele acrescentou que, em 65 anos, os EUA enviaram para Israel mais de US$ 250 bilhões (cerca de R$ 1,4 trilhão), 150% mais do que destinaram para a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial, no chamado Plano Marshall — US$ 100 bilhões (R$ 550 bilhões) em valores atualizados —, acrescentou ele.

Além da destruição física, os ataques ao território, iniciados em 7 de outubro de 2023, já mataram mais de 45 mil pessoas, de acordo com cálculos das autoridades palestinas.

A pesquisadora também avaliou que seria uma hipocrisia, neste momento, pensar uma reconstrução de Gaza partindo dos Estados Unidos e dos países europeus.

"Não me parece que exista um interesse genuíno por parte das lideranças ocidentais de dar aos palestinos uma autoridade política, de reconhecer a sua soberania estatal, de reconhecer a sua nacionalidade e identidade cultural e também de reconstruir o seu território, que foi sistematicamente violado ao longo de anos."

O representante da federação palestina no Brasil afirmou que 80% da Faixa de Gaza está sob escombros:

"Ela supera a destruição da cidade mais afetada pela […] Segunda Guerra Mundial inteira, que durou seis anos […]. Segundo a ONU, […] precisará de 7 a 14 anos para que esses escombros sejam removidos. E mais, há, neste momento agora, pessoas sob esses escombros, animais, tudo que nós possamos imaginar sob esses escombros."

O representante da federação também ressaltou que os EUA são o motivo por que a Organização das Nações Unidas não tem posicionamento mais combativo em relação aos ataques de Israel.

"Porque existem os Estados Unidos e Israel, que votam contra, mais quatro ou cinco países insulares que, somados, não totalizam 2 milhões de habitantes. E, claro, os países europeus que se abstêm" comentou ele.

Entretanto, pontuou, quase a totalidade dos demais votos da ONU é pró-Palestina:

"[…] a Ásia inteira vota com a Palestina, inclusive o Japão, veja só. O continente africano inteiro vota com a Palestina e, à exceção do Paraguai [e dos EUA], o restante do continente americano também vota com a Palestina nas resoluções essenciais, inclusive as de reconhecimento da Palestina como Estado soberano", defendeu ele.

A cientista política lembrou que injetar dinheiro na região e reconstruí-la materialmente não será suficiente sem o reconhecimento internacional da Palestina enquanto Estado nacional soberano e independente, aceito pelos demais países das Nações Unidas e de outros fóruns multilaterais.

"Pensar em outras formas de reconstrução e de legitimidade é muito mais importante hoje do que apenas disponibilizar dinheiro e ajuda internacional para a reconstrução ou desenvolvimento."

Entretanto, argumentou, esse seria um movimento de longo prazo, pois no cenário atual, embora o movimento pró-palestino seja forte entre essas lideranças, a maioria evita uma conexão direta com o grupo palestino Hamas.

"Principalmente porque o Hamas tem um estigma de ser entendido por alguns países e alguns grupos como um grupo terrorista, então se associar a ele seria como reconhecer, por exemplo, a liderança do Talibã no Afeganistão, que pode ser, sim, uma posição muito difícil de sustentar politicamente", disse. "Talvez sem conflito na Ucrânia, talvez uma China mais estabilizada politicamente, aí, sim, a gente pode ver esse envolvimento, mas hoje eu não vejo essa perspectiva", ponderou ela.

¨      Hamas reitera as condições para o cessar-fogo

O líder sênior do Hamas, Sami Abu Zuhri, disse na terça-feira que o movimento está aberto a discutir “qualquer acordo” que garanta um cessar-fogo permanente em Gaza e a retirada completa das forças de ocupação israelenses da Faixa.

Em um discurso televisionado, Abu Zuhri afirmou que o Hamas atendeu às solicitações dos mediadores para discutir novas propostas de cessar-fogo.

O funcionário do Hamas afirmou que a delegação do movimento confirmou, durante essas reuniões, sua abertura a todas as propostas que garantissem várias condições, incluindo o fim da agressão, a retirada das forças de ocupação, o levantamento do cerco, a entrada irrestrita de ajuda em Gaza e a conclusão de um acordo de troca tangível.

<><> Responsabilidade histórica e moral

Abu Zuhri também se dirigiu à “nação árabe e islâmica”, conclamando-a a interromper suas declarações sobre a agressão israelense ao enclave sitiado, que Tel Aviv desconsidera totalmente, e a tomar a decisão de romper o cerco a Gaza e levar ajuda humanitária à Faixa, especialmente ao norte.

“A incapacidade dos países árabes e da comunidade internacional de interromper a ocupação e levar ajuda ao povo de Gaza não é mais aceitável”, afirmou o líder do Hamas.

Ele também pediu aos países árabes e islâmicos que “assumam sua responsabilidade histórica e moral e superem os ditames da administração americana, que apoia a ocupação e é parceira de sua agressão”.

Além disso, Abu Zuhri pediu a outros países árabes e islâmicos que socorram as centenas de milhares de palestinos feridos e famintos atualmente sitiados no norte de Gaza e que “pressionem efetivamente os apoiadores da ocupação para que parem com suas agressões e crimes”.

Em seu discurso televisionado, o representante do Hamas também pediu aos países que normalizaram suas relações com a ocupação que cortem imediatamente suas relações com Israel.

“Não é razoável que vários países estrangeiros tenham tomado a iniciativa de fazer isso, enquanto vários países árabes insistem em manter e normalizar suas relações com o inimigo”, enfatizou Abu Zuhri.

<><> ‘Violações flagrantes’

Com relação à última medida tomada por Tel Aviv para banir a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA) em Israel e nos territórios palestinos ocupados, Abu Zuhri classificou a medida como uma “continuação da guerra sionista contra nosso povo, sua terra, seus direitos e sua causa nacional”.

Ele afirmou que a última medida israelense contra a UNRWA é uma “violação flagrante das leis internacionais que exige a expulsão da entidade sionista das Nações Unidas e a imposição de sanções a ela”.

Abu Zuhri também condenou as recentes declarações do Ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, que pediu a expansão dos assentamentos judeus ilegais e a expulsão dos palestinos.

“A reiteração das declarações provocativas do criminoso de guerra Bezalel Smotrich é uma extensão da política fascista e agressiva do governo de ocupação contra nosso povo e nossa terra, e revela a extensão do perigo dessa política racista para a segurança e a estabilidade da região”, afirmou Abu Zuhri.

Ele conclamou todos os países a denunciarem e rejeitarem tais declarações e a envidarem todos os esforços para pôr fim aos crimes de Israel contra o povo palestino e suas terras.

O líder do Hamas encerrou seu discurso na televisão renovando a convocação para manifestações em todo o mundo e conclamou os manifestantes a cercarem as embaixadas israelenses e as dos países que as apoiam em seu genocídio em Gaza.

“O povo palestino permanecerá comprometido com sua terra e seus lugares sagrados, independentemente do tamanho dos sacrifícios”, concluiu.

<><> O genocídio em Gaza continua

Desrespeitando uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que exige um cessar-fogo imediato, Israel tem enfrentado a condenação internacional em meio à sua contínua e brutal ofensiva em Gaza.

Atualmente em julgamento perante a Corte Internacional de Justiça por genocídio contra palestinos, Israel vem travando uma guerra devastadora em Gaza desde 7 de outubro.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, 43.020 palestinos foram mortos e 101.110 ficaram feridos no genocídio contínuo de Israel em Gaza, que começou em 7 de outubro de 2023.

Além disso, pelo menos 11.000 pessoas estão desaparecidas, supostamente mortas sob os escombros de suas casas em toda a Faixa.

Israel afirma que 1.200 soldados e civis foram mortos durante a operação Dilúvio de Al-Aqsa em 7 de outubro. A imprensa israelense publicou relatórios que sugerem que muitos israelenses foram mortos naquele dia por “fogo amigo”.

Organizações palestinas e internacionais afirmam que a maioria dos mortos e feridos são mulheres e crianças.

A guerra israelense provocou uma fome aguda, principalmente no norte de Gaza, resultando na morte de muitos palestinos, em sua maioria crianças.

A agressão israelense também resultou no deslocamento forçado de quase dois milhões de pessoas de toda a Faixa de Gaza, sendo que a grande maioria dos deslocados foi forçada a ir para a cidade de Rafah, ao sul, densamente povoada, perto da fronteira com o Egito, no que se tornou o maior êxodo em massa da Palestina desde a Nakba de 1948.

Mais tarde, durante a guerra, centenas de milhares de palestinos começaram a se deslocar do sul para o centro de Gaza em uma busca constante por segurança.

 

¨      ONU e FMI já não representam cenário global, diz chanceler brasileiro, Mauro Vieira,

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, declarou nesta quarta-feira (30) que os principais organismos institucionais no mundo não representam adequadamente o cenário global.

Ao destacar as prioridades do Brasil na presidência rotativa do G20, ele ressaltou a reforma dos mecanismos de governança global, para que se mudem as estruturas dessas representações "que não mais refletem a realidade do mundo de hoje".

"Da mesma forma, com o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional [FMI] e, mais recentemente, a Organização Mundial do Comércio [OMC], são todas organizações importantes em um multilateralismo global para defender os interesses dos países e desenvolvimentos no futuro e que estão fora da realidade atual […]."

As declarações foram dadas durante a entrega da revitalização do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), que sediará a próxima cúpula dos líderes do G20, em meados de novembro.

Além de Vieira, participaram da entrega das obras do museu o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e a primeira-dama do país, Janja Lula da Silva. O governo federal assumiu a gestão do espaço até o fim da conferência, em 19 de novembro.

Na ocasião, Paes ofereceu a cidade para sediar a reunião do BRICS, que terá o Brasil na presidência em 2025.

Em coletiva à imprensa, da qual participou a Sputnik Brasil, Vieira comentou que entes como Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial e o FMI precisam ser reformados, pois foram concebidos para um contexto de cerca de 50 países-membros e agora abrigam 193.

Mauro Vieira destacou ainda a importância da reunião do G20 deste ano ocorrer no MAM.

"Porque o G20 é uma plataforma de articulação global hoje de grande importância. As grandes decisões geopolíticas são tomadas nas reuniões do G20, e ter [a cúpula] no Rio de Janeiro, que é o cartão-postal do Brasil, […] acho que tem tudo a ver hoje em dia com o que representa o G20 do Brasil — é um marco de uma mudança também, como foi a construção do Aterro [do Flamengo], a construção do museu na década de 1960."

O MAM está localizado no Parque do Flamengo, que passou pela maior revitalização dos últimos 25 anos, segundo a prefeitura, em uma área de mais de 100 mil m², com reformas nas áreas internas do museu e no entorno, incluindo a recomposição do paisagismo de Burle Marx.

<><> O que é o G20 e qual seu objetivo?

O grupo é composto por África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, e dois órgãos regionais: a União Africana e a União Europeia.

Os membros do G20 representam cerca de 85% do produto interno bruto (PIB) mundial, mais de 75% do comércio e cerca de dois terços da população global.

Principal fórum de cooperação econômica internacional, desempenha um papel importante na definição e no reforço da arquitetura e da governança mundiais em todas as grandes questões econômicas internacionais.

O G20 conta com presidências rotativas anuais. O Brasil exerce a presidência do G20 de 1º de dezembro de 2023 a 30 de novembro de 2024. A próxima nação a assumir a presidência do grupo será a África do Sul.

<><> Rússia lança projeto Mensagem ao Futuro em simpósio internacional com cerca de 40 países

De 4 a 6 de novembro, os convidados do Simpósio Internacional Criando o Futuro poderão enviar uma Mensagem ao Futuro, como parte de um projeto especial do Centro Nacional Rossiya e dos Correios da Rússia. O evento também tem como foco discutir as questões da nova ordem mundial e o papel dos países nesse contexto.

Os participantes poderão deixar seus desejos ou visões para o futuro, compartilhar planos e sonhos em cartões-postais especiais, com a possibilidade de serem enviados para seus entes queridos ou até para si mesmos diretamente do local do evento.

Ao todo foram preparados 4 mil cartões-postais para os participantes do simpósio. O evento será dedicado a questões atuais da nova ordem mundial, assim como ao papel da Rússia e de outros Estados nesse contexto. Os participantes ainda vão discutir as principais tendências e os desafios das relações interestatais modernas. Entre as autoridades presentes está o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.

"Não há dúvida de que o simpósio receberá uma ampla resposta positiva em todo o mundo. Ele surgiu como uma espécie de resposta ao apelo dos cidadãos do nosso país e de várias potências mundiais para promover a posição da Rússia no cenário internacional em relação aos problemas mais urgentes do nosso tempo", declarou a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova.

Também participa do evento o diretor de pesquisa da DD Geopolitics dos Estados Unidos, John Molera, que participará do debate "O futuro da família: compromisso, responsabilidade, tradição".

"Espero ser inspirado no simpósio por pessoas de todo o mundo que imaginam um futuro para a humanidade além do neoliberalismo ocidental. Nosso objetivo é construir um movimento que respeite as tradições e os interesses baseados no reconhecimento mútuo e na cooperação", afirmou Molera.

Mais de 60 atividades estão previstas para os participantes, com um programa focado em quatro áreas de pesquisa: o futuro do homem, o futuro da tecnologia, o futuro do mundo multipolar e o futuro das civilizações.

Delegados de cerca de 40 países vão comparecer, incluindo Arábia Saudita, Argentina, Armênia, Áustria, Bulgária, Canadá, China, Egito, Espanha, Emirados Árabes Unidos, França, Hungria, Índia, Itália, Irã, Kuwait, Sérvia, Síria e Turquia.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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