Diana
Assunção: Preparar para enfrentar o ajuste fiscal que seguirá fortalecendo a
direita e a extrema direita
As
eleições de 2024 mostram o retrato de um país entregue ao Centrão e à extrema
direita pelas mãos do governo Lula através da manutenção das reformas do golpe
institucional e do próprio governo Bolsonaro, das emendas parlamentares, do
financiamento das privatizações e da inclusão de partes destes setores como
base do próprio governo. Administrando o capitalismo brasileiro de joelhos ao
grande capital, enchendo o bolso do agronegócio com o Plano Safra e sustentando
a direita e a extrema direita o governo Lula e o PT, com apoio do PSOL que é
parte do governo, agora potencializa novos ataques à nossa classe. O primeiro
ajuste fiscal pela via do Arcabouço Fiscal que cortou da saúde e da educação
agora é o pêndulo para o governo cortar tudo que for necessário para manter
essa meta fiscal. Foi assim com o ataque ao BPC - um corte no benefício de um salário mínimo pago a idosos e PCDs
em situação de extrema pobreza -,
que contou com voto da maioria dos parlamentares do PSOL, e agora com o novo
pacote de cortes anunciado por Haddad e Tebet.
É
sintomático que dois dias após estes resultados eleitorais, Tarcísio de
Freitas, com quem o governo Lula mantém um pacto direto via BNDES financiando a
privatização dos serviços públicos, fez um leilão de 17 escolas públicas, mais
uma vez financiado com dinheiro federal. A justiça, por enquanto, suspendeu o
leilão, mas a fúria privatista segue como vimos no depoimento do Deputado estadual bolsonarista Lucas Bove dizendo que “Vai privatizar tudo e que os sindicalistas
metroviários vão perder o emprego”. Não fosse menos irônico, quase no mesmo dia
vimos o governo do PT em cena de semelhança impressionante privatizando o
tratamento de água de esgoto no Piauí. É Tarcísio, ao lado de Nunes,
fortalecido pela política de conciliação de classes do governo Lula, e se
alçando como talvez a principal figura presidenciável para 2026 em um momento
onde o PT começa a ter uma crise após derrotas eleitorais que esbarram na crise
de sucessão.
A
derrota do PSOL em São Paulo foi um símbolo do desastre da política do partido
no último período. Suas correntes internas não sabem como explicar o fato de
que Boulos teve exatamente o mesmo número de votos de 2020 sendo que fez uma
campanha mais de direita, com muito mais dinheiro, com muito mais alianças com
partidos burgueses. É uma derrota amarga para muitos setores que depositavam em
Boulos uma esperança de derrotar Nunes eleitoralmente, mas é também uma
oportunidade de, depois da experiência de 2 anos de governo de Frente Ampla com
Lula, buscar explicações mais profundas sobre a política de conciliação de
classes e como chegamos até aqui, como apontou a professora Grazi Rodrigues no Congresso do
sindicato dos trabalhadores municipais da educação em São Paulo. Neste momento os trabalhadores precisam debater um plano de
lutas que não pode depender de sindicatos que se submetem a essa política do
governo federal, pois é necessário se enfrentar com isso.
Não
há mais tempo para perder com o discurso do “mal menor” que está sucessivamente
levando a classe trabalhadora e a juventude a derrotas. De mal menor em mal
menor quem está se fortalecendo é a direita e a extrema direita, e quem está
sofrendo as consequências é a classe trabalhadora, os negros, as mulheres, a
juventude e o povo pobre. É preciso tirar lições destes processos e dar um
passo adiante no sentido de romper com o atrelamento a uma política que atua
por dentro dos limites da institucionalidade, apoiando-se nos setores que, já
no último período, se colocaram a lutar, enfrentando os efeitos do Arcabouço
Fiscal, como foram os técnicos e docentes das universidades federais, do Ibama
e ICMBio, e são agora os trabalhadores da saúde do Rio de Janeiro e do INSS,
enfrentando repressão e corte de ponto do governo. O governo de Frente Ampla
atua para impedir o surgimento de qualquer alternativa que supere o PT pela
esquerda e hoje o PSOL tem sido um importante obstáculo nesse caminho. Cobrindo
pela esquerda, dentro do governo, todas as políticas de conciliação de classes
com um verniz que às vezes tenta parecer “combativo”, mas que na prática repete
as velhas fórmulas reformistas, com maior ou menor febre lulista entre suas
correntes. Por isso demos uma forte batalha no terreno eleitoral com as
candidaturas comunistas do MRT encabeçadas por Grazi Rodrigues, Letícia Parks e
Marcello Pablito com a Bancada Comunista em São Paulo, Flávia Valle em Belo
Horizonte, Carol Santos no Rio de Janeiro, Luno Pires em Porto Alegre e Matheus
Correia e Flavia Telles com a Bancada Revolucionária em Campinas.
Por
isso é preciso construir um caminho de independência de classe que aposte na
auto-organização da classe trabalhadora e dos movimentos sociais e considere
que não há nenhum outro caminho para derrotar a extrema direita que não seja
batalhar por um programa da classe trabalhadora, e não cedendo às alianças para
assumir o programa de outra classe, como fez Guilherme Boulos em toda sua
campanha, por exemplo agitando a bandeira de Marçal sobre “empreendedorismo”. A
Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade, na Argentina, encabeçada pelo
PTS com Myriam Bregman e Nicolas Del Caño, é um exemplo categórico de
parlamentarismo revolucionário que se opõe aos conchavos e acordos por fora da
luta de classes, como estamos vendo na luta estudantil que tem nestes
parlamentares um ponto de apoio fundamental. Com o PTS, vemos uma esquerda que
combate na luta de classes a extrema direita de Milei, com total independência
política das variantes burguesas como o peronismo e o kirchnerismo, no objetivo
de construir um partido revolucionário da classe trabalhadora. Trata-se do
oposto do PSOL, que está no governo burguês de Lula-Alckmin, vive como a sombra
do PT e sobrevive por dentro da institucionalidade. Como apontou Letícia Parks
em debate na PUC-SP, a diferença entre PSOL e FIT-U neste caso é entre água e
óleo, não se misturam porque são projetos completamente distintos. Neste caso
vale dizer que o PSOL, além da campanha vexatória de Guilherme Boulos, também
apoiou com entusiasmo Fuad Noman, do reacionário PSD em Belo Horizonte, que
serviu em Batalhão de tortura da ditadura militar, como apontou a Comissão da
Verdade, e entrou como vice do PT (com uma militante do MES, corrente interna
de Sâmia Bomfim, Luciana Genro e Robaina no PSOL) na prefeitura de Pelotas, com
apoio de ninguém menos que o governador Eduardo Leite do PSDB. Alguns exemplos
de que o PSOL não tem absolutamente nada a ver com independência de classe e se
enterrou no caminho da institucionalidade.
Para
enfrentar o conjunto dos ataques que se mantém como herança do golpe
institucional e do governo Bolsonaro e preparar a nossa classe para o novo
ajuste fiscal de Lula e Haddad é preciso colocar na ordem do dia uma batalha
nos sindicatos para enfrentar a subordinação das centrais sindicais e dos
sindicatos ao governo federal, que submetem a luta dos trabalhadores ao apoio
ao governo Lula. É necessário fortalecer um polo independente e classista, que
em cada assembleia, local de trabalho e estudo, construa nas bases o rechaço ao
conjunto destes ataques. Essa é a batalha que viemos dando como MRT nos
sindicatos em que compomos as diretorias, como no Sindicato dos Trabalhadores
da USP, no Sindicato dos Metroviários de São Paulo, na Subsede APEOESP Santo André,
no Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro e como parte da CSP-Conlutas,
além de nossa atuação na base de professores municipais e estaduais em
distintos estados, rodoviários, bancários, técnicos de universidades federais,
trabalhadores terceirizados, precarizados e fabris. Também é o que norteia
nossa atuação no Centro Acadêmico de Bacharelado das Ciências Humanas (CABCH)
na UFABC e em diversas universidades do país, onde damos essas batalhas como
Faísca Revolucionária, como na luta histórica da UERJ, que tem importantes lições para o
movimento estudantil. É fundamental colocar um plano de luta
imediato que prepara nossa classe pra enfrentar estes ataques. Na UFMG
colocamos de pé, através de um chamado da juventude Faísca, uma chapa de
Oposição de Esquerda Unificada para as eleições de DCE, junto com PSTU, CST e
PCBR, a partir do chamado que fizemos e em
base a um programa de independência de classe baseado na tradição de
auto-organização dos estudantes, que é um exemplo nacional para enfrentar as
burocracias estudantis e também o movimento estudantil institucionalizado do
PSOL e da UP, que como vimos na UERJ, ajudaram a eleger a Reitoria do PT e
PSOL, que atacou a permanência estudantil e colocou a Tropa de Choque na
universidade para reprimir a luta dos estudantes.
Contra
o discurso do empreendedorismo, de Marçal a Boulos, levantamos com toda força
as bandeiras da unidade das fileiras operárias, seguindo a luta pela efetivação
dos trabalhadores terceirizados sem necessidade de concurso público ou processo
seletivo, e lutando por direitos plenos a todos os trabalhadores terceirizados
e uberizados, como estamos fazendo na USP em luta intransigente para igualar os
direitos com os terceirizados, como por exemplo na defesa do direito ao uso dos
ônibus circulares. Fazemos um chamado a todos os setores a tomarem para si
o Manifesto contra a terceirização e
precarização do trabalho, impulsionado junto
com intelectuais como Ricardo Antunes e Jorge Luiz Souto Maior, para seguir
colocando na ordem do dia a luta por unir a nossa classe, batalha que a cada
dia ampliamos, como no Sindicato de Petroleiros, onde se realizou uma mesa para
abrir este importante debate na categoria.
Levantamos
com força a luta por Justiça para Marielle e Anderson, participando em todos os
momentos dessa luta, e agora nos atos no julgamento dos executores, onde foram
condenados, com nossas companheiras Carolina Cacau e Carol Santos e outros
militantes. Enfim, depois de 6 anos de muita luta, com os familiares em
especial resistindo, começamos a arrancar a punição aos responsáveis. Uma
conquista muito importante. E seguiremos na luta por justiça, pela punição dos
mandantes desse crime bárbaro e dos militares que dirigiam a Intervenção
Federal no Rio, o que somente avançaremos com a força da mobilização.
Junto
com o Esquerda Diário, a Casa Marx, o Instituto Casa Marx, as Edições ISKRA
estamos impulsionando as jornadas internacionais “Por um futuro comunista”, com
vários grupos da Fração Trotskista, reunindo inúmeros intelectuais para debater
estes temas nacionais e todos os debates que dizem respeito à necessidade de
uma luta intransigente por outro futuro, que seja de enfrentamento direto com
essa sociedade capitalista. Vemos uma expressão cabal da barbárie desse sistema
com o genocídio palestino pelo Estado de Israel, que avança também contra o
Líbano, e por isso defendemos uma saída anti-imperialista e internacionalista,
pela unidade da classe trabalhadora e dos povos oprimidos do mundo contra esse
massacre. Isso significa, aqui no Brasil, exigir o rompimento imediato das
relações com Israel que o governo Lula mantém, mesmo após mais de um ano de
massacre televisionado, assim como o rompimento das relações de nossas
universidades com empresas e universidades sionistas, enfrentando as
perseguições das reitorias, como na USP, contra aqueles que se levantam em
defesa da Palestina. E como levanta nossa organização-irmã Left Voice nos Estados Unidos, defendemos uma posição de independência da classe trabalhadora
nas eleições da próxima semana no coração do imperialismo. Nem Harris nem
Trump: ambos apoiam o genocídio palestino, atacam os imigrantes e a classe
trabalhadora estadunidense e do mundo em prol dos grandes capitalistas.
¨
Movimentos sociais e
partidos de esquerda lançam manifesto contra pressão do mercado sobre Haddad e
Tebet por ajuste fiscal
Movimentos
sociais, sindicatos e partidos de esquerda, como PT, Psol, PDT e PCdoB,
divulgaram, neste domingo, um manifesto crítico às medidas de ajuste fiscal
defendidas pelo mercado financeiro e pela mídia, e que podem vir a ser
encampadas no todo ou em parte pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e
pela ministra do Planejamento, Simone Tebet. O documento destaca a ameaça que
essas medidas representam para políticas públicas essenciais em saúde, educação
e infraestrutura, além de impactos negativos para trabalhadores, aposentados e
programas de investimento. Nesta segunda-feira, uma plataforma digital será
lançada para coletar adesões individuais.
A
íntegra do manifesto, que denuncia as pressões de setores privilegiados da
sociedade, segue abaixo:
MERCADO FINANCEIRO E MÍDIA NÃO PODEM DITAR AS REGRAS PARA O PAÍS
Temos acompanhado, com crescente preocupação, notícias e
editoriais na mídia que têm o objetivo de constranger o governo federal a
cortar “estruturalmente” recursos orçamentários e outras fontes de
financiamento de políticas públicas voltadas para a saúde, a educação, os
trabalhadores, aposentados e idosos, bem como os programas de investimento na
infraestrutura para o crescimento do país.
São pressões inaceitáveis que partem de uma minoria privilegiada
por isenções de impostos e desonerações injustas e indecentes; dos que
manipulam a fixação das maiores taxas de juros do planeta e que chantageiam o
governo e o país, especulando com o dólar e nas bolsas de valores.
No momento em que o governo federal, eleito para reconstruir o
país, vem obtendo resultados significativos na recuperação do nível de emprego,
do salário e da renda da população, tais avanços são apresentados como pretexto
para forçar ainda mais a elevação da taxa básica de juros, quando o país e suas
forças produtivas demandam exatamente o contrário: mais crédito e mais
investimento para fazer a economia girar.
O poder financeiro, os mercados e seus porta-vozes na mídia
agitam o fantasma de uma inexistente crise fiscal, quando o que estamos vivendo
é a retomada dos fundamentos econômicos, destruídos pelo governo anterior. Onde
estavam esses críticos quando Bolsonaro e Guedes romperam os orçamentos
públicos e a credibilidade do Brasil? Onde estavam quando a inflação caminhava
para 12%?
Agora querem cortar na carne da maioria do povo, avançando seu
facão sobre conquistas históricas como o reajuste real do salário-mínimo e sua
vinculação às aposentadorias e ao BPC, o seguro-desemprego, os direitos do
trabalhador sobre o FGTS, os pisos constitucionais da Saúde e da Educação.
E nada falam sobre o maior responsável pelo crescimento da
dívida pública, que é a taxa de juros abusiva e crescente. Nada falam sobre as
desonerações de setores que lucram muito sem gerar empregos, inclusive a mídia;
a imoral isenção de impostos sobre lucros e dividendos nem sobre a recusa de
taxar grandes fortunas, por parte de uma maioria do Congresso que se apropria
de fatias cada vez maiores do Orçamento.
Chega de hipocrisia e de chantagem! Cortar recursos de quem
precisa do Estado e dos investimentos públicos só vai levar o país de volta a
um passado de exclusão e injustiça que os movimentos sociais e o povo lutam há
tempos, todos os dias, para transformar numa sociedade melhor e mais justa.
Assinam:
Frente
Brasil Popular, Frente Povo sem Medo, MST, MTST, CUT, INTERSINDICAL, CONTAG,
CNTE, CONTEE, CMP, MTC, INESC, MBP, MPA, MNU, MAM, MMM, Sem Direitos, Frente de
Evangélicos pelo Estado de Direito, PT, PDT, PSOL, PCdoB, Instituto de Finanças
Funcionais para o Desenvolvimento (IFFD), Rede MMT Brasil, Transforma Unicamp,
Subverta, Fogo no Pavio, Sindicato dos Servidores De Ciência, Tecnologia,
Produção e Inovação em Saúde Pública (ASFOC/SN), Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS), Federação Nacional das/os
Assistentes Sociais, CANDACES, Federação de Sindicatos de Trabalhadores
Técnicos Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil
(FENAPSI), Federação Nacional dos Psicólogos, Associação Brasileira de Ensino
de Ciências Sociais (Abecs), Fineduca, ABGLT, Rua, Juventude Manifesta,
Resistência, ANPAE, FNPE, Confederação Sindical Educação dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), Associação Rede Unida, Associação Brasileira de Saúde
Coletiva - ABRASCO, Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABReS), Frente
Pela Vida
Fonte:
Por Diana Assunção, em Esquerda Diário/Brasil 247
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