sábado, 9 de novembro de 2024

Como Trump vai lidar com as guerras que envolvem os EUA

A milhares de quilômetros de distância dos EUA, os ucranianos não tiveram direito a voto nas eleições, mas a escolha de Donald Trump para comandar o país tem potencial para afetar mais a vida deles do que a de muitos cidadãos americanos.

Isso porque, em guerra contra a Rússia, a Ucrânia depende imensamente dos armamentos enviados para Washington para impedir que Moscou invada e anexe uma parte de seu território.

Além do conflito na Europa, os EUA também estão indiretamente envolvidos na guerra de Israel contra o Hamas e o Hezbollah, em Gaza e no Líbano – também fornecendo armamentos e apoio para o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Até o momento, o presidente democrata Joe Biden declara abertamente apoio a Kiev contra o assédio de Vladimir Putin. Ao mesmo tempo, mesmo contra parte de sua própria base eleitoral, seu governo defende as ações de Israel com o argumento de que o país tem o direito de se defender de agressões, como o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023.

>>>>> Analistas ainda debatem como Trump vai agir em cada um desses fronts. Veja o que eles acham mais provável que aconteça:

<><> Guerra da Ucrânia

Em seus discursos de campanha, Trump dizia que podia costurar um acordo de paz “animador” entre Rússia e Ucrânia em 24 horas, sem dar mais detalhes de como .

Em uma entrevista antes da eleição, porém, seu vice, J.D. Vance, afirmou que a negociação provavelmente envolver a entrega de regiões controladas por Moscou, o que é visto pelas potências ocidentais como uma derrota para a Ucrânia e uma vitória de Vladimir Putin.

Além disso, Vance também mencionou um possível veto à entrada da Ucrânia na Otan, a aliança militar do Ocidente, o que é uma demanda do Kremlin.

Enquanto permaneceu na Presidência, Trump se gabou de ter mantido uma boa relação com Putin, entre outros autocratas.

Além disso, um dos motivos para o desgosto de muitos eleitores americanos com a gestão Biden é a percepção de que muito dinheiro de impostos está sendo direcionado para guerras que não envolvem os EUA, ao invés de se reverter em ajuda à população.

Em abril, o Congresso americano aprovou um pacote de ajuda de US$ 61 bilhões à Ucrânia, e outras quantias foram liberadas na sequência – a última delas, em outubro, ocorreu após uma conversa por telefone entre Biden e Volodymyr Zelensky, que resultou em um cheque de US$ 425 milhões (cerca de R$ 2,4 bilhões).

Trump se aproveitou desse sentimento para angariar eleitores, e a visão de que os EUA estão gastando demais com a Ucrânia é compartilhada por outras vozes proeminentes no Partido Republicano. Seu regresso à Casa Branca tem sido um motivo, portanto, para deixar Zelensky e os ucranianos preocupados.

Em Moscou, porém, as reações com sua vitória eleitoral são mais comedidas. “Não vamos esquecer que estamos falando sobre um país não amigável”, disse na quarta-feira (6) o porta-voz do governo, Dmitry Peskov. Ele afirmou que o Kremlin está monitorando e analisando a situação dos EUA e que vai tirar conclusões com base em “palavras específicas e ações concretas”.

Na quinta-feira, Putin falou pela primeira vez sobre o tema. Ele parabenizou Trump pela vitória e disse estar pronto para restabelecer relações com Washington. Zelensky também deu os parabéns ao republicano.

<><> Israel

Enquanto há hesitação em fazer previsões para o front ucraniano, analistas internacionais falam com mais segurança em uma continuidade do apoio americano à campanha de Israel em Gaza e no Líbano contra o Hamas e o Hezbollah, respectivamente.

Logo após eleito, Trump nomeou Brian Hook, seu antigo enviado para o Irã, para coordenar a transição com o corpo diplomático. Hook fez a mediação de conversas secretas entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, segundo uma reportagem do “The New York Times” de 2019, e participou da construção dos Acordos de Abraão, em 2020 – uma série de acordos de normalização de relações entre Tel Aviv e países árabes, mas que não exigiam de Israel o compromisso com a criação de um estado palestino, o que foi considerado uma traição pelos palestinos.

Trump também escolheu para sua equipe de transição o bilionário do setor financeiro Howard Lutnick, que afirmou ter aceitado o posto por acreditar que Israel estará mais seguro com o republicano no poder.

Também houve sinalizações para o lado oposto. Para se contrapor à posição de Kamala Harris, Trump fez um comício em Michigan, estado com grandes comunidades árabes e muçulmanas, ao lado de líderes religiosos.

O republicano se colocou como o candidato que traria paz para a região se eleito, embora tenha sido vago sobre seu plano de acordo entre as partes. Ele se beneficiou, de qualquer forma, com a rejeição do eleitorado árabe ao apoio incondicional de Biden e Harris a Israel.

Em um evento de campanha pró-Trump, porém, o ex-advogado de Trump Rudolph Giuliani disse que “temos que estar ao lado de Israel porque eles estão do nosso lado”, em relação ao conflito no Oriente Médio.

Trump quase sempre agiu como aliado de Israel e do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Além dos Acordos de Abraão, foi em seu governo que os EUA reconheceram Jerusalém como capital do país, uma posição controversa, já que os palestinos veem a cidade como central para seu futuro estado.

Em julho, Netanyahu se encontrou com Trump em sua propriedade em Mar-a-Lago, na Flórida. Na reunião, o então candidato expressou apoio à campanha contra o Hamas. No mês anterior, em debate com Biden, o republicano chamou seu então rival de “palestino” de forma pejorativa.

Na terça-feira (5), dia da eleição americana, Netanyahu demitiu seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, tido como uma figura próxima ao governo Biden. A decisão pode ser vista como um aceno ao futuro ocupante da Casa Branca.

 

¨      Houthis a Trump: para tornar economia dos EUA grande novamente, é preciso acabar com guerra em Gaza

Os Estados Unidos gastaram mais de US$ 5 bilhões (pouco mais de R$ 28 bilhões) ao aumentarem sua participação no Oriente Médio desde que a guerra em Gaza começou, em outubro de 2023, incluindo US$ 2,5 bilhões (R$ 14,22 bilhões) para confrontar os houthis e bombardear o Iêmen. O grupo ofereceu a Donald Trump, presidente eleito dos EUA, uma saída.

O movimento Ansar Allah, ou os houthis, do Iêmen, não espera que Donald Trump "cumpra seu compromisso com os eleitores árabes e apoiadores de Gaza" e dê um fim ao conflito na Palestina, mas diz que os EUA ganhariam economicamente ao fazer isso.

"A América está pagando um preço econômico e militar por causa de seu apoio à ofensiva em Gaza e também por causa de sua agressão ao Iêmen a serviço de Israel", disse uma fonte houthi à Newsweek na quarta-feira (6).

"Ao impedirmos que navios americanos cruzem os mares adjacentes ao Iêmen em resposta à agressão americana ao nosso país, o cidadão americano tem que suportar os altos preços [pelo encarecimento do transporte marítimo], e tudo por causa da política do governo americano em relação ao nosso país a serviço de Israel", acrescentou a fonte.

"A questão permanece: Trump continuará com a mesma política e a agressão americana ao Iêmen continuará? Se continuar, a economia americana sofrerá mais perdas", alertou a fonte.

Os houthis começaram um bloqueio parcial dos mares Vermelho e Arábico em novembro de 2023, em resposta à invasão terrestre de Gaza por Israel, apreendendo um navio mercante de propriedade israelense e, com o tempo, disparando centenas de drones e mísseis contra navios comerciais que passavam e navios de guerra americanos e britânicos enviados à região para tentar romper o bloqueio.

Os EUA, até agora, falharam em "degradar" as capacidades houthis, com o grupo apenas aumentando suas capacidades para incluir o disparo de veículos aéreos não tripulados (VANTs) de longo alcance e mísseis em direção a Israel, e prometendo continuar sua campanha até que a agressão contra Gaza e o Líbano pare.

Trump, cujo governo rotulou os houthis de "organização terrorista" em janeiro de 2021, às vésperas de sua saída da Casa Branca, evitou mencionar o movimento iemenita em sua candidatura de 2024, e criticou a administração Biden em janeiro passado pela campanha de ataques aéreos liderada pelos EUA lançada contra o Iêmen.

<><> Especialistas não descartam acordo diplomático entre EUA e Irã sob Trump, diz mídia

Um acordo diplomático entre os Estados Unidos e o Irã no segundo mandato de Donald Trump é possível, apesar da hostilidade mútua entre os dois países, informou o The Wall Street Journal, citando o antigo círculo próximo de Trump.

Na quinta-feira (7), o ex-representante especial dos Estados Unidos para o Irã, Brian Hook, disse que Trump vê o Irã como uma das principais fontes de instabilidade no Oriente Médio.

Ele acredita que a crise atual é causada pelo fracasso do presidente dos EUA, Joe Biden, em controlar o Irã e seus aliados.

No entanto, Hook observou que Trump "não está interessado" em mudar o governo do Irã.

"Apesar da hostilidade mútua, algumas pessoas que trabalharam para Trump não descartam um eventual acordo diplomático entre os EUA e o Irã em seu segundo mandato", afirmou o vice-secretário de Defesa para o Oriente Médio Mick Mulroy, citado pelo jornal.

No entanto, fontes disseram ao jornal que, enquanto isso, Trump planeja endurecer drasticamente as sanções contra o Irã e dificultar as vendas de petróleo.

O jornal diz que a nova equipe de Trump vai agir rapidamente para tentar reduzir as receitas de petróleo iraniano.

Enquanto isso, um diplomata iraniano não identificado disse ao jornal que Teerã está ultrapassando as restrições dos EUA ao aprofundar suas parcerias comerciais por meio da Organização de Cooperação de Xangai e outras alianças.

Donald Trump venceu as eleições presidenciais em 5 de novembro de 2024.

Ele se tornou o primeiro político norte-americano desde o século XIX a retornar à Casa Branca após um intervalo de quatro anos.

A candidata democrata Kamala Harris disse que admite a derrota, enquanto o atual presidente, Joe Biden, falou com Trump e o parabenizou.

Em 17 de dezembro, o Colégio Eleitoral dos estados deve votar nos candidatos de acordo com a vontade do eleitorado e, em 6 de janeiro, o novo Congresso vai aprovar os resultados da votação.

A posse do novo presidente deve ocorrer em 20 de janeiro de 2025.

<><> Ataque israelense contra escola deixa pelo menos 14 mortos

Uma escola que funciona como abrigo para palestinos na cidade de Gaza, uma das mais destruídas pela guerra promovida por Israel no enclave, foi atacada nesta quinta-feira (7) pelo país, e pelo menos 14 pessoas morreram no local, de acordo com as autoridades. O local é administrado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

"As forças de ocupação cometeram massacres contra famílias palestinas em uma escola da UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente, em tradução livre] no campo de refugiados de Shati, causando 14 mortes", informaram as autoridades do enclave palestino.

Já as Forças de Defesa de Israel (FDI) não responderam aos questionamentos sobre o ataque ocorrido a oeste da cidade de Gaza.

Nos últimos meses, Israel realizou dezenas de bombardeios aéreos contra escolas em todo o enclave sitiado, estruturas onde centenas de milhares de palestinos deslocados pelos combates buscaram refúgio. O país afirma que combatentes do Hamas usam os espaços e outros locais de proteção para os civis como cobertura, transformando os palestinos e trabalhadores humanitários em escudos humanos.

Pouco depois do ataque, os militares ordenaram a evacuação do campo de refugiados de Shati, entre outros bairros, o que gerou pânico entre os palestinos que, nos últimos dias, haviam procurado abrigo nessas áreas devido à ofensiva renovada de Israel contra o Hamas mais ao norte da Faixa de Gaza.

Enquanto isso, as FDI comunicaram que permitirão que 300 caminhões carregados de ajuda humanitária, fornecida pelos Emirados Árabes Unidos, entrem no território palestino nos próximos dias. Já os Estados Unidos solicitaram que Israel permita a entrada diária de pelo menos 350 caminhões com ajuda ao enclave devastado pela guerra.

Já o organismo militar israelense, responsável pelos assuntos civis em Gaza, comunicou que a ajuda foi trazida por mar e descarregada no porto de Ashdod, adjacente ao norte de Gaza. Também acrescentou que o envio, que inclui alimentos, água, equipamentos médicos, abrigo e suprimentos de higiene, será inspecionado antes de ser transportado por caminhões para Gaza, sem especificar uma data.

¨      Nações Unidas: mulheres e crianças representam 70% dos mortos na Faixa de Gaza desde 2023

Mulheres e crianças representam cerca de 70% dos mortos na Faixa de Gaza desde outubro de 2023, relata o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).

"O Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos tem verificado os detalhes individuais dos mortos em Gaza por ataques, bombardeios e outras condutas de hostilidades. Dessas fatalidades, até agora descobriu-se que cerca de 70% das vítimas eram crianças e mulheres, indicando uma violação sistemática dos princípios fundamentais do direito internacional humanitário, incluindo distinção e proporcionalidade", disse o ACNUDH em uma declaração à imprensa.

A agência das Nações Unidas identificou três faixas etárias de crianças entre os falecidos: as entre 5 e 9 anos, aquelas entre 10 e 14 anos, e bebês e crianças menores de 4 anos. Além disso, a ACNUDH relata que cerca de 80% das mortes ocorreram em moradias residenciais.

Em outubro de 2023, Israel sofreu um ataque coordenado de militantes do Hamas, que abriram fogo contra alvos militares e civis, e sequestraram mais de 200 pessoas. O atentado também resultou em cerca de 1,1 mil mortes.

Como retaliação, as Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram um bloqueio da Faixa de Gaza e lançaram incursões terrestres e ataques aéreos a alvos civis. Mais de 43 mil palestinos foram mortos e mais de 100 mil sofreram ferimentos desde o início do conflito, diz o Ministério da Saúde de Gaza.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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