sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Como funciona a guerra híbrida da Rússia?

Serviços de inteligência ocidentais têm acusado Moscou de executar cada vez mais ações de sabotagem, interferência eleitoral e propaganda. Fenômeno não é novo, mas métodos estão se tornando mais sofisticados.

Um avião de carga da empresa alemã de serviços de encomendas DHL cai na Lituânia, dois cabos de dados submarinos são danificados no Mar Báltico e um extremista de direita pró-Rússia surpreendentemente vence o segundo turno das eleições para presidente na Romênia.

Ainda que nada tenha sido provado até agora, vários políticos ocidentais e serviços de inteligência suspeitam da mesma força motriz por trás de todos esses incidentes: a Rússia. Embora os perigos representados pela chamada "guerra híbrida" que emana do Kremlin não sejam novos, autoridades no assunto advertem que eles aumentaram drasticamente desde o início da guerra de agressão lançada contra a Ucrânia pela Rússia em 2022.

"Guerra híbrida" é a expansão de operações militares de combate com a ajuda de espionagem, sabotagem, ataques cibernéticos, interferência eleitoral, propaganda ou campanhas de desinformação com o objetivo de enfraquecer e desestabilizar o inimigo internamente. E especialistas alertam que a Rússia tem expandido constantemente seu arsenal de opções de guerra híbrida nos últimos anos.

<><> Espionagem

Desde o início da invasão russa na Ucrânia, em 22 de fevereiro de 2022, cerca de 500 diplomatas russos foram expulsos de países europeus, com ao menos 400 deles sendo classificados como espiões pelo serviço secreto britânico MI5.

Diz-se que muitas embaixadas e consulados russos estão equipados com tecnologia de ponta de comunicação e espionagem, o que não pode ser totalmente comprovado, já que os edifícios são considerados territórios russos e gozam de status de proteção diplomática.

Além dos britânicos, o serviço secreto holandês alertou que a Rússia está equipando espiões com documentos falsos e contrabandeando-os para instituições ocidentais disfarçados de empresários.

Regularmente, relatórios acusam a Rússia de espionagem. Sejam conversas interceptadas pela Bundeswehr [Forças Armadas Alemãs] sobre o sistema de defesa antimísseis Taurus, as suspeitas de drones russos sobre bases aéreas e zonas industriais europeias ou supostas embarcações de pesquisa cruzando os mares do norte da Europa e suspeitas de mapear infraestruturas críticas no fundo do mar para possíveis atos de sabotagem.

<><> Sabotagem

Na semana passada, um cargueiro chinês conduzido por um capitão russo teria danificado dois cabos submarinos com uma âncora arrastada no fundo do mar – o caso tem paralelos com um incidente semelhante ocorrido em outubro de 2023.

No mês passado, houve um ataque incendiário em um armazém em Londres onde estavam depositados suprimentos de ajuda para a Ucrânia. Em julho, uma encomenda que deveria ser enviada por frete aéreo pegou fogo no centro de logística da DHL em Leipzig, na Alemanha.

Há suspeita de ação russa nesses e em vários outros casos. Nada foi comprovado até o momento, mas os serviços de inteligência europeus alertam que o número de atos de sabotagem e incêndios criminosos na UE e no Reino Unido aumentou drasticamente no último ano.

<><> Ataques cibernéticos

O Departamento Federal de Segurança da Informação da Alemanha adverte que o nível de ameaça no espaço cibernético também está "mais alto do que nunca", com a sabotagem e a espionagem crescendo online.

"Antes da invasão da Ucrânia, os grupos de invasores associados à Rússia eram particularmente ativos na Alemanha com espionagem cibernética e ataques de ransomware com motivação financeira. Desde o início da guerra, o espectro de ameaças aumentou", diz o departamento.

Segundo especialistas, "o número de ataques DDoS por hacker-ativistas pró-Rússia" aumentou muito. Isso envolve a inundação de sites ou servidores institucionais com tanto tráfego malicioso que, devido à sobrecarga, eles não podem mais ser operados. E os ataques de hackers com o objetivo de ingressar em redes protegidas de empresas ou instituições também estão crescendo.

<><> Desinformação e propaganda

Outro grande campo de atividade da guerra híbrida é a tentativa de influenciar a opinião pública em países-alvo. Para isso, são disseminadas informações falsas e narrativas pró-Rússia ou anti-ucranianas, por meio das chamadas fábricas de trolls nas mídias sociais ou pela mídia russa no exterior.

No início deste ano, o Ministério do Exterior da Alemanha descobriu a chamada "campanha de sósias": 50.000 contas de usuários falsos espalharam relatórios dissimulados e opiniões pró-Rússia nas redes sociais e, em seguida, criaram links para sites falsos, alguns dos quais eram enganosamente semelhantes aos de mídias de notícias conhecidas – com notícias falsas pró-Rússia também disseminadas.

<><> Interferência em eleições e processos políticos

Um dos principais objetivos dessas campanhas de desinformação é minar o apoio à Ucrânia entre a população. Outro é prejudicar a estabilidade política em países democráticos, fortalecendo os partidos extremistas e seus candidatos, o que seria feito por meio de apoio financeiro.

Em abril, o serviço secreto tcheco descobriu um site de propaganda supostamente financiado por Moscou chamado "Voice of Europe" (Voz da Europa), por meio do qual subornos teriam sido pagos a vários parlamentares europeus.

O deputado alemão Petr Bystron, do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), é suspeito de ter recebido tais pagamentos. Ele nega as alegações.

Serviços de inteligência ocidentais também acusam a Rússia de influenciar direta ou indiretamente eleições em dezenas de pleitos na Europa e nas Américas do Norte e do Sul. A emissora russa RT, por exemplo, teria produzido vídeos sobre temas polêmicos, como ajuda à Ucrânia, migração e economia durante a campanha eleitoral presidencial dos EUA. Esses vídeos foram foram distribuídos por blogueiros americanos de direita.

Ataques de hack-and-leak também fazem parte do repertório: políticos ou partidos são hackeados, e documentos confidenciais, às vezes misturados com documentos falsos, são publicados pouco antes das eleições. Foi o caso nas eleições americanas de 2016 e na campanha eleitoral presidencial francesa de 2017, por exemplo.

<><> Ataques frustrados?

Em teoria, ataques a líderes inimigos também se enquadram na guerra híbrida. O fato de o líder russo, Vladimir Putin, não se furtar de ataques no exterior pode ser exemplificado pelo assassinato, no parque Tiergarten, em Berlim, de um ex-comandante checheno que teria lutado contra Moscou na segunda guerra da Chechênia, que começou em 1999 – ou pelos ataques ao crítico do Kremlin Alexander Litvinenko no Reino Unido em 2006 ou ao agente duplo russo Sergei Skripal e sua filha Yulia em 2018.

Até o momento, cidadãos russos foram os principais alvos desses ataques. Em julho de 2024, no entanto, soube-se que a Rússia havia supostamente planejado uma tentativa de assassinato de Armin Papperger, CEO da empresa alemã de armamentos Rheinmetall – entre outras coisas, a Rheinmetall fornece tanques Leopard 2 para a Ucrânia. O Kremlin nega todas as acusações.

<><> O que fazer?

Atualmente, a Rússia executa várias ações diferentes na Europa, segundo Sönke Marahrens, oficial das Forças Armadas Alemãs e especialista em segurança híbrida, em uma entrevista ao site do programa Tagesschau.

"Os operadores russos estão testando coisas muito diferentes em muitos países europeus, que são personalizadas de acordo com o respectivo estado. Medidas híbridas que funcionam na Polônia não funcionam na Alemanha; o que funciona na Alemanha não funcionaria na Finlândia", diz. Como resultado, "um espectro muito amplo de ataques também deve ser esperado no futuro [...]". Por isso, os países precisarão de alta flexibilidade para reagir a esses ataques.

¨      Ataque russo deixa mais de 1 milhão sem energia na Ucrânia

Um intensivo ataque russo durante a madrugada desta quinta-feira (28/11) deixou mais de 1 milhão de ucranianos sem energia em três regiões do oeste do país, informaram autoridades locais da Ucrânia.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou que a Rússia utilizou no ataque que tinha como alvo o sistema elétrico do país uma centena de drones e mais de 90 mísseis, inclusive de cruzeiro com munições de fragmentação. "Essas munições cluster complicam de forma significativa o trabalho de reparação dos danos causados ​​pelo ataque", disse Zelenski, que descreveu este último bombardeio como "uma escalada perversa das táticas terroristas russas".

O presidente ucraniano explicou que os mísseis que transportavam as munições cluster eram mísseis de cruzeiro Kalibr, com os quais a Rússia ataca frequentemente o território ucraniano. As defesas ucranianas afirmaram que conseguiram abater 79 mísseis e 35 drones.

De acordo com o governador da região de Lviv, no oeste da Ucrânia, 523 mil pessoas estão sem luz devido ao ataque. Na região vizinha de Rivne, 280 mil foram afetadas, e 215 mil em Volyn, enquanto 215 mil não têm eletricidade em Volhynia, também na fronteira com Lviv. Explosões também foram ouvidas nas cidades de Odessa, Kropyvnytskyi, Kharkiv e Lutsk.

Zelenski reiterou o apelo aos aliados ocidentais de Kiev para que forneçam mais armamentos de defesa antiaérea e que garantam entregas pontuais, especialmente durante os meses críticos de inverno, enquanto a Ucrânia luta para proteger a infraestrutura de energia.

O chefe de gabinete da presidência da Ucrânia, Andrii Yermak, afirmou que a Rússia havia estocado mísseis para atacar a infraestrutura ucraniana durante esse início de inverno. O exército ucraniano confirmou que mísseis russos foram lançados em direção a várias regiões: "O alerta de ataque aéreo foi declarado em todo o território da Ucrânia", divulgou a corporação no Telegram.

<><> O 11º ataque ao sistema elétrico desde março

A ação desta quinta foi o segundo grande ataque russo contra a infraestrutura de energia ucraniana neste mês de novembro, e o 11 º registrado desde março, também causou cortes massivos de energia na cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, e na cidade de Zhytomyr, no centro.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que o bombardeio foi uma resposta ao uso de mísseis ATACMS americanos pela Ucrânia para atacar territórios russos. Putin disse ainda que está selecionando alvos na Ucrânia que podem incluir "centros de tomada de decisão" em Kiev.

Até agora,Moscou não bombardeou prédios governamentais na capital ucraniana. Kiev é fortemente protegida por um sistema de defesa aéreo, mas Putin diz que o míssil hipersônico Oreschnik, usado pela primeira vez na guerra pelo país na semana passada, é incapaz de ser interceptado.

A guerra que eclodiu em fevereiro de 2022 está agora em um momento crítico para a Ucrânia, com forças terrestres russas avançando em ritmo mais rápido, principalmente na região de Donetsk, no leste.

¨      Putin: Rússia conhece todas as características das armas e dados sobre suas entregas à Ucrânia

A Rússia tem repetidamente chamado a atenção para o fato de que a permissão à Ucrânia de efetuar ataques com mísseis de longo alcance significa envolvimento direto do Ocidente no conflito, disse o presidente russo Vladimir Putin.

"Temos repetidamente apontado que isso significará o envolvimento direto desses países em um conflito armado, porque é simplesmente impossível usar essas armas sem a participação direta de pessoal militar, especialistas militares dos países da OTAN", disse Putin na sessão do Conselho de Segurança Coletiva da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC).

Durante o seu discurso, Putin disse que a Rússia está ciente quantas armas ocidentais estão sendo entregues à Ucrânia e quanto está planejado a ser entregue ainda.

"Sabemos, é claro, quantos sistemas de armas correspondentes estão na posse do eventual adversário, quantos estão em armazéns, onde estão, quanto está sendo entregue à Ucrânia e quanto é planejado a ser entregue", disse Putin.

O chefe de Estado da Rússia declarou que Moscou vê que o cabecilha do regime de Kiev está suplicando por equipamentos militares, além dos mísseis.

"Vemos que o líder do regime de Kiev está suplicando aos seus patrões outros equipamentos militares. Que ninguém se esqueça dos complexos Kalibr, sistemas de mísseis hipersônicos Kinzhal e Tsirkon, que têm características inigualáveis no mundo", relatou o presidente durante a sessão da OTSC.

Putin acrescentou que o regime de Kiev repetidamente tentou atacar locais de importância estatal na Rússia – São Petersburgo e Moscou, e continua essas tentativas.

Ele forneceu informações detalhadas a seus colegas da OTSC sobre a situação atual na zona da operação militar especial e sobre novos armamentos russos. Putin disse também que o Ministério da Defesa e o Estado-Maior estão selecionando alvos no território da Ucrânia, estes podem ser inclusive centro de tomada de decisão em Kiev.

O presidente também observou que a Rússia pode no futuro próximo obter novos armamentos.

"No nosso cardápio desta classe de produtos, se podemos dizer assim, no futuro próximo podem surgir outros produtos, como dizem, nesses casos, o cliente ficará absolutamente satisfeito", disse Putin.

Por fim, Putin disse que, durante a madrugada, a Rússia efetuou um ataque combinado com uso de 90 mísseis e 100 drones, tendo sido atingidos 17 alvos - instalações militares e de indústria de defesa da Ucrânia.

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As Forças Armadas russas atacaram locais dos sistemas de armas de longo alcance da Ucrânia durante a semana, em resposta aos ataques de Kiev em território russo.

É o que informou, nesta quinta-feira (28), o Ministério da Defesa russo.

"Em resposta aos ataques do regime de Kiev em território russo, as Forças Armadas russas realizaram ataques esta semana nos locais onde os sistemas de armas ocidentais de longo alcance da Ucrânia estão instalados", disse o comunicado.

Na segunda-feira (25), a Rússia realizou um ataque com mísseis na sede da unidade das forças especiais ucranianas, eliminando até 40 especialistas estrangeiros, a maioria dos Estados Unidos, informou o ministério.

Na semana passada, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que a Ucrânia havia atingido alvos nas regiões de Kursk e Bryansk no dia 19 de novembro, usando mísseis ATACMS, dos EUA, e Storm Shadow, do Reino Unido. Putin disse que a Rússia havia testado com sucesso, na última quinta-feira (21), um novo tipo de míssil balístico de alcance intermediário, Oreshnik, em resposta às investidas ucranianas. O míssil atingiu um complexo industrial e de defesa na cidade ucraniana de Dnepropetrovsk.

 

Fonte: DW Brasil/Sputnik Brasil

 

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