sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Caso Marielle: Justiça condena Ronnie Lessa a 78 anos de prisão e Élcio Queiroz a 59 anos

O 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro condenou nesta quarta-feira (31) os dois milicianos Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, responsáveis diretos pelo assassinato da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (Psol), morta em março de 2018. Lessa pegará 78 anos e 9 meses de cadeia e Queiroz, 59 anos e 8 meses. 

Os dois ex-policiais foram acusados dos seguintes crimes: duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima). 

Outro crime foi a tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle que sobreviveu ao atentado e prestou depoimento nesta quarta-feira. Uma terceira ilegalidade foi a receptação do carro Cobalt prata, clonado, que foi usado no assassinato. 

Queiroz ficará detido, no máximo, por 12 anos em regime fechado. Lessa ficará preso por, no máximo, 18 anos em regime fechado, e mais 2 anos no semiaberto. Os prazos começam a contar na data em que foram presos, em 12 de março de 2019 – um ano após o crime. 

Ao todo, 5 anos e 7 meses serão descontados das penas máximas. Élcio pode deixar a cadeia em 2031, e Lessa iria para o semiaberto em 2037, e fica livre em 2039.

¨      MP pediu a jurados condenação integral e questiona réus

No segundo dia de júri popular dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, réus confessos dos assassinatos de Marielle e Anderson, o promotor Eduardo Martins pediu que os jurados condenem a dupla em todos os quesitos e afirmou que ambos só delataram porque sabiam que seriam descobertos e porque queriam algo em troca [a redução das penas por conta da delação premiada].

Martins aproveitou para criticar a postura de Lessa, que nesta quarta-feira (30) pediu perdão à família de Marielle pelo assassinato da parlamentar.

"Que arrependimento é esse com algo em troca? Vocês já pediram arrependimento a alguém e disseram: 'quero seu perdão se me der alguma coisa em troca'? Porque foi isso que eles fizeram. Eles são réus colaboradores. Eles não vieram e se arrependeram. Eles vieram ao Ministério Público e pediram algo em troca para falar o que falaram", disse o promotor.

Ainda de acordo com a acusação, até a delação premiada os réus negavam completamente o crime.

"Até ontem, até outro dia, os dois estavam aqui negando todas as imputações. Negando. 'Eu não estava no carro'. 'Não era eu'. 'Não fui eu'. 'Eu não tenho motivo para matar'. 'Eu não conheço essas pessoas'. 'Eu nunca ouvi falar de Marielle'. 'Nunca ouvi falar de Anderson'. Então quer arrependimento é esse?", destacou.

Martins destacou que, após condenados, os ex-PMs terão que cumprir parte da pena em regime fechado.

"O Ministério Público fez um acordo e eles vão cumprir 30 anos de pena. Eles vão cumprir toda a pena máxima da legislação. A única diferença é que eles terão algumas progressões. Mas, é bastante tempo que eles ficarão no regime fechado. esse é um dos acordos mais rígidos do Brasil".

Martins apresentou slides sobre a investigação, como a recuperação do histórico de busca no Google feita por Ronnie antes do crime. Nessa hora, Luyara, filha de Marielle, deixou o plenário.

<><> 'São sociopatas', diz promotor

O promotor de Justiça Fábio Vieira, segundo a falar, disse que sua impressão é que o arrependimento apresentado nas falas de Lessa e Élcio é "uma farsa".

Definindo a dupla que está no banco dos réus como "sociopatas", Vieira disse que os assassinos "não têm emoção em relação aos outros", muito menos sentimentos ou empatia.

"O que vocês viram ontem no interrogatório dos dois foi uma farsa. Na verdade, eles não estão com sentimento de arrependimento, eles estão com uma tristeza de terem sido pegos. Porque ninguém foi lá bater na porta da DH [Delegacia de Homicídios], quando todo mundo queria saber [e disse]: 'olha só, fui eu, tá? Estou arrependido disso. Fui eu e fiz dessa forma. Fui eu e quem mandou foi isso'", destacou o promotor, que completou:

"Isso só aconteceu quando as provas que existem no processo, através do trabalho árduo do Ministério Público, junto com seguimentos da polícia, e com Defensoria e tudo mais, chegou à conclusão absoluta de que os executores eram aqueles, não tinham como eles fugirem disso. Estão arrependidos? Não. Porque isso vai beneficiá-los de alguma forma. Isso é uma característica do sociopata. Ele não tem emoção em relação aos outros, não tem sentimento, não valores, não tem empatia".

Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram ouvidos nesta quarta no Tribunal do Júri. Durante o depoimento, as falas de Lessa chamaram a atenção pela frieza e naturalidade com que ele relatou a execução do crime, incluindo os momentos que antecederam os disparos e a estratégia para ferir Marielle, como mirar os tiros, dados com uma submetralhadora, na cabeça dela.

•        MP distribui kit aos jurados com fotos impactantes das mortes

 Promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) entregaram aos 7 jurados, na manhã desta quinta-feira (31), no início do 2º dia de julgamento dos assassino confessos de Marielle Franco e Anderson Gomes, um kit com 207 páginas com fotos sensíveis do crime.

De acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro, a intenção era mostrar as imagens do local do crime e dos corpos da vereadora e do motorista antes de serem levados para o Instituto Médico Legal (IML) sem precisar expor as vítimas.

"O objetivo é levar ao conhecimento dos jurados as provas existentes no processo e mostrar que a condenação não é só com base na confissão”, disse o promotor de Justiça Eduardo Morais, que optou por não exibir em plenários as imagens dos corpos. “Não estamos aqui para expor ainda mais as vítimas”, destacou.

Durante a sustentação oral do Ministério Público, o promotor Fábio Vieira que traçou o perfil dos jurados: todos são homens, de meia idade e de pele clara. Todas as mulheres foram dispensadas.

<><> MP pede condenação de Lessa e Queiroz

Na sustentação do MP, o promotor Eduardo Martins pediu que os jurados condenem a dupla em todos os quesitos e afirmou que ambos só delataram porque sabiam que seriam descobertos e porque queriam algo em troca [a redução das penas por conta da delação premiada].

Martins aproveitou para criticar a postura de Lessa, que nesta quarta-feira (30) pediu perdão à família de Marielle pelo assassinato da parlamentar.

"Que arrependimento é esse com algo em troca? Vocês já pediram arrependimento a alguém e disseram: 'quero seu perdão se me der alguma coisa em troca'? Porque foi isso que eles fizeram. Eles são réus colaboradores. Eles não vieram e se arrependeram. Eles vieram ao Ministério Público e pediram algo em troca para falar o que falaram", disse o promotor.

Ainda de acordo com a acusação, até a delação premiada os réus negavam completamente o crime.

"Até ontem, até outro dia, os dois estavam aqui negando todas as imputações. Negando. 'Eu não estava no carro'. 'Não era eu'. 'Não fui eu'. 'Eu não tenho motivo para matar'. 'Eu não conheço essas pessoas'. 'Eu nunca ouvi falar de Marielle'. 'Nunca ouvi falar de Anderson'. Então quer arrependimento é esse?", destacou.

Martins destacou que, após condenados, os ex-PMs terão que cumprir parte da pena em regime fechado.

"O Ministério Público fez um acordo e eles vão cumprir 30 anos de pena. Eles vão cumprir toda a pena máxima da legislação. A única diferença é que eles terão algumas progressões. Mas, é bastante tempo que eles ficarão no regime fechado. esse é um dos acordos mais rígidos do Brasil".

Martins apresentou slides sobre a investigação, como a recuperação do histórico de busca no Google feita por Ronnie antes do crime. Nessa hora, Luyara, filha de Marielle, deixou o plenário.

•        Depoimento de Ronnie Lessa em julgamento abala parentes de Marielle e Anderson

Familiares de Marielle Franco e Anderson Gomes ficaram muito abalados durante o depoimento de Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora e do motorista, no julgamento desta quarta-feira (1).

Luyara Franco, filha de Marielle, deixou a audiência assim que Ronnie começou seu depoimento. Ela chegou a passar mal e voltou posteriormente, após 1h.

Ágatha Arnaus, viúva de Anderson, começou a chorar quando Ronnie afirmou que não pretendia matar o motorista.

Muitos parentes e amigos preferiram ficar no corredor do 9º andar do Tribunal de Justiça, no Centro do Rio. A ministra Anielle Franco, irmã de Marielle, passou boa parte do tempo caminhando pelo corredor.

Sentado em um banco, o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, estava indignado com a frieza do ex-policial Ronnie Lessa.

Famíliares de Marielle Franco chegam para segundo dia de julgamento de Ronnie Lessa en Élcio de Queiroz

“Esse julgamento é muito importante porque pode virar a página do Rio de Janeiro. O que o julgamento da Marielle e do Anderson expõe é o esgoto que se transformou o RJ. O verdadeiro 'escritório do crime' era a Delegacia de Homicídios, onde matar era um “trabalho”, como o Lessa disse em seu depoimento. Quantos outros serviços o Lessa já havia aceito?”, questiona.

De acordo com as investigações, entre abril de 2017 e fevereiro de 2018, ou seja, por 10 meses, Lessa fez pesquisas sobre Freixo na internet.

O assassino confesso de Marielle disse que Freixo era o alvo, mas que ele disse a Edmilson de Oliveira, conhecido como Macale, que esse trabalho era “loucura”. Macale foi morto em 2021.

Na volta ao plenário, a ministra Anielle ficou de pé próximo à entrada do 4º Tribunal do Júri ao lado de Monica Benício, viúva de Marielle, e da sobrinha Luyara. Emocionadas tentavam entender por que Lessa detalhava os bens que possui.

Chegou a dizer que foram conquistados com muito suor, o que incomodou Marinete, mãe da vereadora morta em março de 2018.

“Bandido”, disse a Marcelo Freixo.

Mais cedo, a vereadora Mônica Benício (Psol), viúva de Marielle Franco, já tinha se emocionado em seu depoimento. A emoção também marcou o depoimento da mãe da vereadora.

Antes de Ronnie, 9 testemunhas já tinham sido ouvidas no tribunal (veja aqui os destaques até o depoimento do assassino confesso).

<><> O depoimento

Sobre os motivos do crime, Ronnie disse que Marielle se tornou "pedra no caminho" dos mandantes do assassinato. Também deu detalhes sobre como o crime foi cometido. Ele falou sobre o momento do emparelhamento do carro dirigido por Élcio de Queiroz, quando os disparos foram feitos.

Posteriormente, Ronnie pediu desculpas à família das vítimas: "Eu gostaria de aproveitar a oportunidade e com absoluta sinceridade e arrependimento pedir perdão às famílias do Anderson, da Marielle e a minha própria, a dona Fernanda e a toda sociedade pelos fatídicos atos que nos trazem aqui".

"Infelizmente, não podemos voltar no tempo, mas hoje eu tento fazer o possível para tentar amenizar essa angústia de todos, assumindo a minha responsabilidade e trazendo à tona todos os personagens envolvidos nessa história, de cabo a rabo. Hoje eu tenho que fazer isso para tirar o peso da minha consciência. Eu sei que nunca vou conseguir trazer as pessoas de volta, mas eu tinha que pedir esse perdão, inclusive a minha família", acrescentou.

"Como eu disse anteriormente, eu fiquei cego mesmo, louco atrás desse... A minha parte era R$ 25 milhões. Então eu podia falar assim: 'É o Papa' e eu ia matar o Papa porque eu fiquei louco atrás daquilo ali", disse Ronnie.

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, que também confessou participação no assassinato, podem ser condenados a até 84 anos de prisão.

•        Advogado de Ronnie Lessa diz que delação contribuiu para conclusão do caso: 'Peço a condenação, mas de forma justa'

A defesa do réu Ronnie Lessa, durante a sustentação oral no julgamento das mortes da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, disse que concorda que o assassino confesso seja condenado. O advogado Saulo Carvalho disse que a delação do réu foi fundamental para conclusão do caso e que, por isso, pede uma pena justa.

O advogado ressaltou que o Ronnie Lessa confessou todos os crimes e que o réu não fez antes por falta de confiança.

"Ele já tinha essa vontade de falar, mas ele não confiava nas autoridades do Rio de Janeiro, então quando a Polícia Federal faz esse contato, ele se sente mais à vontade", diz Saulo.

"No julgamento de hoje eu peço a condenação, mas que seja de uma forma justa. Que ele seja condenado pelo que ele fez, não pelo que ele não fez", conclui ele.

 

Fonte: Brasil 247/g1

 

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