Brasil conseguiu reduzir emissões de gases
de efeito estufa?
O Brasil emitiu 2,3
bilhões de toneladas brutas de gases de efeito
estufa em 2023. O número representa queda de 12% em relação ao ano
anterior, quando foram emitidas 2,6 bilhões de toneladas.
Apesar da redução, o
resultado deste ano se mantém em um patamar elevado, que coloca o Brasil na
posição de quinto maior emissor de gases estufa do mundo.
As emissões dos países
estarão em pauta na Cúpula do Clima (COP-29), que acontece em Baku, no
Azerbaijão, a partir de segunda-feira, 11, com objetivo de discutir estratégias
e financiamento para a descarbonização.
Mantendo nesse ano e
no próximo o mesmo nível de redução de 2023 em relação a 2022, é possível
conseguir alcançar a meta, segundo calcula o coordenador do levantamento, David
Tsai.
Sem questionar a
importância de continuar diminuindo o desmateo, Tsai considera que apostar
apenas na Amazônia para reduzir as emissões não é uma boa estratégia. "A
gente precisa descarbonizar todos os setores", disse ao Estadão.
• Por que queimadas não contam?
O relatório do Seeg
reporta as emissões geradas por queimadas, mas até o momento elas não entram na
conta das emissões brutas e líquidas anuais do País.
Essas emissões são
monitoradas pelo Observatório do Clima desde 2018, mas afirma calculá-las
separadamente para "manter a comparabilidade com as metas
brasileiras", uma vez que o inventário oficial de emissões do governo
federal não contabiliza as emissões por queimadas.
Os valores são
significativos: em 2023, somente as emissões por queimadas não associadas a
desmatamento chegaram a 90 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Em 2024, o Brasil
bateu recordes de incêndios florestais mesmo na Amazônia, onde a floresta não
pega fogo naturalmente e os incêndios costumam estar associados ao
desmatamento, atualmente em queda.
Na avaliação do
Observatório do Clima, o fogo tende a ser um fator cada vez mais importante no
balanço de carbono do Brasil à medida que a crise climática se agrava.
"Achamos que o
governo deve passar a contabilizar essas emissões, inclusive porque é uma
recomendação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas)", afirmou o coordenador do Seeg David Tsai.
Neste ano, o OC
monitorou pela primeira vez as emissões de metano e de óxido nitroso por queima
de pastagens. Os dois são gases mais potentes no aquecimento do planeta do que
o CO2.
• Desmatamento no Cerrado cai 25% em um
ano; Amazônia tem queda de 30%
Pela primeira vez
desde 2019, o Brasil registrou queda no desmatamento do Cerrado. Segundo dados
do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite
(Prodes), foram desmatados desde agosto de 2023 a julho de 2024, 8.174 km² no
bioma, uma queda de 25,7% em relação a 2023, quando o desmate foi de 11.002 km²
no período.
Além do Cerrado, o
desmatamento na Amazônia caiu 30,6% em relação a 2023, chegando ao menor
patamar registrado em nove anos. De agosto de 2023 a julho de 2024 foi
desmatada uma área de 6.288 km², ante 9.064 km² no período anterior. A taxa
confirma a tendência de queda no desmatamento da Amazônia. No ano passado, foi
registrada uma queda de 21,8% em relação a 2022.
O desmatamento do
Cerrado era uma pedra no sapato do governo Lula, que desde o primeiro ano de
mandato já registrava queda do desmate na Amazônia, mas ainda não tinha obtido
resultados positivos no Cerrado.
Na última divulgação
do Prodes, o Cerrado vivia um cenário de estabilidade em relação ao
desmatamento, com um aumento de 3% na área desmatada em relação a 2022,
porcentual dentro da margem de erro. Apesar disso, em 2023, a área desmatada
bateu recorde.
O governo assinou
ainda, nesta quarta-feira, o Pacto para a Prevenção e Controle do Desmatamento
e de Incêndios no Cerrado dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia
(Matopiba).
"O dado que
acabamos de ver de queda do desmatamento no Cerrado, que para muitos parecia
impossível, é fruto desse trabalho integrado e que começa a ganhar força cada
vez mais", disse a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina
Silva.
Matopiba corresponde
às siglas dos Estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia e é considerada por
especialistas uma área crítica, onde a combinação de alta aptidão agrícola,
expansão de infraestrutura, desafios na fiscalização, pressões econômicas e
questões de governança a faz uma região crítica para o desmatamento no Brasil.
Na Amazônia, apesar
das quedas, a seca histórica na região e outros fatores têm colocado a floresta
em risco. De janeiro a novembro deste ano, foram registrados 123.361 focos de
incêndio no bioma, segundo dados do Inpe. O número representa um aumento de cerca
de 48% no número de queimadas em comparação com o mesmo período de 2023
(83.356).
Na próxima semana, o
Brasil participa da Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-29)
em Baku, no Azerbaijão. Os dados sobre desmatamento são um trunfo importante do
País na intenção de mostrar ao mundo a disposição de atuar no combate às mudanças
climáticas. A queda do desmatamento, segundo o governo, rendeu a redução de
emissões da ordem de 400,8 milhões de toneladas de gases do efeito estufa.
"O que deixou de
ser emitido nesse período é toda a emissão da Argentina. Reduzimos a Argentina
inteira. É uma conquista realmente importante", afirmou o vice-presidente,
Geraldo Alckmin. "Vamos levar para a COP essas conquistas que não são só
do Brasil, ajudam planetariamente e são exemplos, mostram que é possível, sim,
descarbonizar e segurar as mudanças climáticas gerando emprego, gerando
renda."
Neste ano, o principal
tema discutido na conferência é o financiamento climático. A expectativa é de
que os países entrem em um acordo sobre o o valor a ser pago aos países em
desenvolvimento para que possam implementar ações que minimizem o aquecimento global.
O governo brasileiro considera fundamental que o tema seja resolvido neste ano
para que não se arraste até a COP-30, que será realizada em Belém, no Pará.
Inicialmente, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva participaria do anúncio dos dados do
desmatamento, mas foi substituído pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin. Antes
da divulgação dos dados, Alckmin, a ministra Marina Silva, e outros ministros
participaram de uma reunião com Lula sobre as metas do País para limitar gases
do efeito estufa, a chamada Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na
sigla em inglês).
As NDCs foram
estabelecidas pelo Acordo de Paris, em 2015, e serão revistas na COP-30, no ano
que vem, em Belém, no Pará. Há uma expectativa de que o governo apresente sua
NDC na COP-29, em Baku, no Azerbaijão, que começa na próxima semana. Até o
momento, no entanto, o Planalto ainda não bateu o martelo sobre as metas. O
Ministério do Meio Ambiente apresentou três modelos de NDC que levam em conta
três cenários distintos: um conservador, um meio termo e outro mais ousado.
Fonte: Agencia Estado
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