sábado, 30 de novembro de 2024

África do Sul marcou posição como força diplomática do Sul Global em 2024, notam analistas

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas apontam que a África do Sul, por meio do BRICS, elevou o protagonismo no cenário externo em 2024, em uma estratégia similar à do Brasil, e destacam o que esperar da presidência sul-africana no G20 em 2025.

A África do Sul consolidou seu papel como voz ativa do Sul Global em 2024, protagonizando momentos importantes na política internacional, como a denúncia de genocídio perpetrado por Israel na Faixa de Gaza, protocolada na Corte Internacional de Justiça (CIJ), e o apoio à proposta de paz sino-brasileira para o conflito ucraniano.

O país também assumiu a presidência do G20, transferida pelo Brasil, e no ano que vem sediará a cúpula do evento.

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam o papel da África do Sul como principal força diplomática africana e o que esperar da política externa do país em 2025.

Há muito a África do Sul vem empenhada em promover uma nova ordem global multipolar, conforme explica Marcos Paulo Amorim, professor substituto de história da África da Universidade Estadual Paulista (Unesp), bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e doutor em história social da África pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Ele frisa que foi durante a presidência da África do Sul no BRICS, em 2013, que foi fundado o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), popularmente chamado de Banco do BRICS, um mecanismo de enfrentamento ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi também sob a presidência sul-africana que foi consolidada a expansão do BRICS, em 2023, na cúpula de Joanesburgo.

"Então, toda a África do Sul, nesse sentido, a meu ver, era bastante coerente com a sua política internacional, e nas suas gestões do BRICS ela sempre se manteve coerente com isso [a multipolaridade]", afirma Amorim.

Ele destaca ainda que, em 2024, o país assinou um acordo de livre comércio com todo o continente africano, rompendo barreiras alfandegárias do Norte ao Sul da África, e fechou um acordo de livre comércio com a União Europeia (UE), que tem como foco tecnologias para a agroindústria, para o setor automobilístico e para a produção de energia renovável.

"Procurou nas suas parcerias com o golfo [Pérsico], com a China, com a Coreia, a expansão do comércio e da tecnologia digital para o uso da mineração, [fechou] acordos de geração de energia renovável com a Índia, acordos de livre comércio com a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral… Realmente, [2024] foi um ano muito positivo para a África do Sul nos acordos internacionais."

Amorim afirma que, somado a isso, está a defesa enfática que a África do Sul passou a fazer pela descolonização da região da Palestina, pelos povos do Saara Ocidental e as tentativas de estabelecimento de missões de paz na Ucrânia e na Rússia.

Ele lembra que o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, sempre afirmou que a África do Sul, justamente por sua experiência em violência e conflitos vivenciados ao longo da história, tem capacidade de operar como árbitro nas relações internacionais.

"A África do Sul se coloca e sempre se colocou nesses espaços de justiça e da promoção dos direitos humanos e, sobretudo, como a própria política externa e internacional da África do Sul afirma, da descolonização do mundo. Então, sem dúvida, isso garantiu 'musculatura' [nesse tema], e a África do Sul reconhece, do ponto de vista internacional também, a sua autoridade para definir ou não o que é apartheid", afirma o especialista.

Para a presidência do G20 no ano que vem, Amorim afirma que é esperado que a África do Sul promova maior representatividade de países africanos no cenário internacional, continuando o esforço feito ao trazer a União Africana para o grupo na cúpula deste ano.

"Acho que a gente pode esperar também um foco muito maior nas questões de redução de pobreza e desigualdade social. Também algo que a África do Sul pensa muito ativamente, que é o desenvolvimento sustentável, um olhar mais apurado para essa questão das mudanças climáticas. A África do Sul não exige apenas a redução de carbono dos países em desenvolvimento. Ela força e já falou várias vezes em criar mecanismos mais ativos de punir os países desenvolvidos pela emissão de carbono."

África do Sul é a maior concorrente do Brasil na liderança do Sul Global?

Amorim afirma que a África do Sul e o Brasil são os países que mais se destacam no Sul Global atualmente, mas por motivos diferentes. Segundo ele, enquanto a África do Sul foca na busca por soluções tecnológicas e questões climáticas, o Brasil mira a reforma da governança global, com foco especial nas agências reguladoras e no sistema financeiro.

"Também [há] o embate forte, que já vem desde o primeiro governo Lula, sobre as reformas no Conselho de Segurança [da ONU]", afirma.

Pablo Braga, professor de relações internacionais do Ibmec, avalia a África do Sul mais como um ator que coopera com o Brasil na construção de uma agenda do Sul Global do que como um concorrente.

"Essa competição surge muito esporadicamente em alguns assuntos, mas, do ponto de vista mais estratégico, são dois países que têm inserções internacionais não necessariamente competitivas, principalmente porque o Brasil tem uma perspectiva mais da América do Sul, e a África do Sul como um ator protagonista na diplomacia do continente africano", observa.

Ele acrescenta que a denúncia feita à CIJ sobre o genocídio em Gaza complementa a agenda do Brasil, que também é crítico das ações de Israel no enclave.

"Então a postura da África do Sul ganha um protagonismo porque é um país que procura muito relacionar essa denúncia à própria história sul-africana de uma forte ligação com a resistência palestina, desde a época do apartheid […] mas isso eu não vejo como algo que contraria os interesses brasileiros. Pelo contrário, acho que dá um lastro de juridicidade a essa posição do Brasil que, apesar de não ter feito a denúncia, certamente apoia diplomaticamente ela."

Braga destaca ainda que a África do Sul tem como estratégia usar o BRICS como plataforma para projetar sua influência como liderança do Sul Global, "estratégia que, inclusive, se assemelha muito à do Brasil".

"A África do Sul aparece muito como um país que acaba meio que capitaneando as demandas do continente africano, ou tenta se colocar como um representante legítimo das aspirações desse continente no mundo."

¨      Presidente eleito do Uruguai está 'otimista' em relação ao acordo entre Mercosul e União Europeia

O presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi, afirmou nesta sexta-feira (29), após uma reunião com o homólogo Luiz Inácio Lula da Silva, que está "otimista" quanto ao acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Discutido há décadas, o principal entrave para a conclusão das negociações é a França, contrária por conta da pressão de agricultores.

"Na próxima semana será realizada uma cúpula no Uruguai, onde um dos temas centrais será a relação e os avanços na relação entre Mercosul e União Europeia. Eu estou convencido de que a maior parte da reunião foi dedicada a analisar o estado da situação e as possibilidades que temos. Como conclusão, somos otimistas. Como Mercosul e como região, somos otimistas quanto à possibilidade de continuar estreitando laços com outras regiões e, fundamentalmente, com a Europa", afirmou Orsi em uma coletiva de imprensa.

A reunião entre Orsi e Lula aconteceu em Brasília. O presidente uruguaio eleito disse que foram analisadas as dificuldades históricas do Mercosul, mas garantiu que o intuito de seu governo será "ser protagonista" no bloco e "não perder a oportunidade em um mundo tão imprevisível e mutável".

"O mundo de hoje nos exige estar muito atentos, e as relações entre os países da região precisam ser mais fortes do que nunca, além dos governos ou dos partidos", refletiu.

Orsi explicou que, na reunião com Lula, foi feita uma atualização sobre os diversos temas que envolvem os dois países e a região.

"Não me resta outra coisa senão agradecer a hospitalidade de toda a sua equipe e, claro, permanecemos em contato permanente para continuar aprofundando tarefas e realizações que o presidente já havia se comprometido e que estão avançando, relacionadas às nossas infraestruturas ligadas ao leste do Uruguai e ao Sul do Brasil", concluiu.

O presidente eleito viajou acompanhado pelo designado secretário da Presidência, Alejandro Sánchez, o próximo ministro da Economia e Finanças, Gabriel Oddone, e Álvaro Padrón, assessor em assuntos internacionais e membro do Instituto Lula, uma organização sem fins lucrativos criada para ampliar a cooperação entre Brasil, América Latina e África.

A equipe de imprensa de Orsi destacou em uma mensagem aos meios de comunicação que o presidente brasileiro expressou felicidade pela vitória do candidato da Frente Ampla nas eleições e afirmou que Lula demonstrou "a convicção de que o Uruguai é muito importante para o Brasil".

Mais cedo, o doutor em relações internacionais Ignacio Bartesaghi disse à Sputnik que o futuro governo uruguaio envia um sinal político à América Latina ao escolher Lula como o primeiro presidente com quem se reunir internacionalmente após sua vitória.

Já o ex-vice-chanceler Ariel Bergamino (2017–2020) e o integrante da comissão de Relações Exteriores da Frente Ampla, Sebastian Hagobian, opinaram à Sputnik que Orsi apostará em uma aliança com o presidente do Brasil, que, por sua proximidade ideológica, aparece como um parceiro-chave para o futuro governo uruguaio.

No domingo, Orsi venceu o segundo turno das eleições no Uruguai com mais de 49% dos votos, contra 46% do oficialista Álvaro Delgado, candidato por uma coalizão de partidos de centro-direita. O político assumirá o cargo em 1º de março de 2025.

<><> Bolívia vai assinar acordo com a China para exportar 9 mil toneladas de chia por ano

A Bolívia planeja assinar um acordo com a China para exportar cerca de 9 mil toneladas por ano de chia — uma semente comestível rica em potássio e cálcio —, confirmou o governo boliviano nesta quinta-feira (28).

"Na sexta-feira (29) será assinado o protocolo de exportação de chia. A ministra das Relações Exteriores, Celinda Sosa, será a signatária em nome da Bolívia e a Alfândega Chinesa será a contraparte", explicou Hugo Siles, embaixador boliviano em Pequim, durante entrevista ao canal estatal Bolivia TV.

A Bolívia, atualmente, já vende cereais como quinoa, além de carne bovina e soja para a China, e espera-se que a gama de produtos de exportação possa ser ampliada.

"Há uma expectativa muito grande da vinda da ministra das Relações Exteriores da Bolívia a Pequim, o que significa um passo histórico para viabilizar o protocolo de exportação de chia e viabilizar o imenso mercado que a China possui", afirmou o diplomata.

Segundo estimativas do embaixador boliviano, a China pode comprar 9 mil toneladas de chia por ano.

"O mercado chinês representa cerca de 9 mil toneladas por ano. O presidente Luis Arce instruiu priorizar a autorização dos protocolos de exportação; neste caso, o processo estava demorando por questões fitossanitárias", indicou.

Superalimentos como chia e quinoa contêm maiores quantidades de nutrientes – como vitaminas, minerais e antioxidantes – do que outros alimentos comuns, segundo a autoridade boliviana.

Em relação ao comércio internacional, em 2022 a Bolívia exportou mercadorias para a China por mais de US$ 800 milhões (R$ 4,8 bilhões) e importou bens no valor de mais de US$ 2,5 bilhões (R$ 15 bilhões), segundo dados do governo boliviano.

¨      Sahel: Chade rescinde acordo de cooperação em defesa com a França

O governo do Chade anunciou nesta quinta-feira (28) o fim do acordo de cooperação no setor de defesa com a França, informou a chancelaria. No fim do ano passado, Paris chegou a ter as Forças Armadas expulsas do Níger, movimento que foi seguido por outros vizinhos.

"O governo da República do Chade informa a comunidade nacional e internacional sobre a rescisão do acordo de cooperação em defesa assinado em 5 de setembro de 2019 com a República Francesa", destaca o comunicado do ministério, divulgado em suas redes sociais.

As autoridades agradeceram à França pela cooperação e se declararam dispostas a continuar um diálogo construtivo em busca de novas formas de parceria, acrescenta o texto.

Além disso, o comunicado sublinha que a decisão não coloca em dúvida as relações históricas e os laços de amizade entre os dois países, apesar da suspensão da parceria.

De acordo com a nota, o Chade permanece comprometido em manter acordos construtivos com a França em outras áreas de interesse comum, em benefício de ambos os povos.

<><> Países do Sahel e o terrorismo

Os países que fazem parte do Sahel, região africana que também compreende os Camarões, Níger e Nigéria, enfrentam ataques do Boko Haram – o grupo é considerado terrorista, sendo proibido na Rússia e em muitos outros países. Os atentados do grupo contra civis, inclusive por meio do uso de crianças-bomba, continuam sendo uma grande preocupação para o Chade.

A adesão do Chade à Aliança dos Estados do Sahel (AES) "seria uma das melhores alternativas para o país lidar com a eterna preocupação com a segurança", disse Youssouf Adam Abdallah, especialista chadiano em segurança internacional, defesa e cooperação africana, em uma entrevista à Sputnik na última semana.

Ele observou que a força militar conjunta para combater grupos terroristas, criada pelo Níger, Mali e Burkina Faso em março, poderia ajudar ainda mais o Chade a resolver os conflitos regionais.

Dado que o país já é membro de várias outras confederações de segurança com o Mali, Níger e Burkina Faso, "é, portanto, do interesse do Chade e do povo chadiano que o Chade se junte à Força AES", afirmou o especialista.

¨      Lavrov chama diretora-geral da UNESCO de cúmplice da guerra de informação

A diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), Audrey Azoulay, é cúmplice da guerra de informação contra a Rússia, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.

Anteriormente, foi publicado um relatório no site da UNESCO, no qual, no Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, a organização conclama todos os países a cumprirem seus compromissos para acabar com a impunidade pelo assassinato de jornalistas.

De acordo com o novo relatório da UNESCO, a impunidade continua alta, chegando a 85%. Esse número caiu apenas 4% em seis anos.

Durante uma mesa redonda de embaixadores sobre a resolução da situação na Ucrânia, o ministro Lavrov recordou um escândalo recente relacionado a esse relatório.

"Não há uma única menção aos fatos bem conhecidos das mortes de jornalistas russos nesse relatório, de modo que a sra. Azoulay, diretora-geral da UNESCO, é cúmplice direta da guerra de informação contra a Federação da Rússia, contra a verdade", afirmou ele.

Ele acrescentou que o front midiático ainda tem sido uma parte importante da campanha agressiva travada pelo Ocidente contra a Rússia e outros Estados da maioria mundial que adotam uma linha independente em assuntos internos e externos.

O grupo midiático Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, por sua vez, enviou uma carta à chefe da UNESCO em que pedia que a organização parasse de silenciar as violações dos direitos dos jornalistas russos.

A carta foi escrita por causa da ausência de qualquer menção no relatório preliminar da UNESCO sobre a segurança dos jornalistas de uma série de mortes e ferimentos de representantes da mídia russa.

Contudo, Lavrov assegurou que nenhuma guerra de informação, mentiras e notícias falsas vão ajudar Kiev a vencer, com todos os objetivos da operação militar especial sendo finalmente realizados.

"Como o presidente [russo Vladimir] Putin tem enfatizado repetidamente, sempre damos preferência a meios pacíficos, políticos e diplomáticos, mas qualquer solução para o conflito ucraniano não será duradoura e de longo prazo se suas causas fundamentais não forem eliminadas", observou.

Essas causas incluem, entre outras coisas, as tentativas de fazer aderir a Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a violação sistemática dos direitos das pessoas de língua russa na Ucrânia.

O ministro chamou a atenção para uma iniciativa do líder chinês Xi Jinping publicada em fevereiro de 2023 sobre segurança global, sugerindo que todos os conflitos devem ser resolvidos com a eliminação de suas causas principais.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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