quarta-feira, 6 de novembro de 2024

A agenda climática e o neocolonialismo da África ao Brasil

Há alguns meses, um ambientalista muito bem formado cujo o nome não vem ao caso, pois o que interessa não é fulanizar, mas falar sobre uma linha de pensamento malthusiana entre estudiosos na área, disse em entrevista a um programa de entrevistas bem-conceituado, que em nome da mudança climática, a humanidade deve se conformar que apenas cerca de 30% da população mundial terá energia para manter a atual qualidade de vida, os 70% restantes não poderão. Fica a questão, quais serão os países e suas populações que precisarão retornar a Idade Média, sem eletricidade, sem internet, telecomunicações, equipamentos hospitalares, computadores, veículos, máquinas agrícolas?

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Em recente entrevista à Telesur, o Secretário-Geral da OPEP, o kuwaitiano Haitham al-Ghais, apresentou os estudos da OPEP demonstrando que o mundo precisará utilizar todas as formas de energias e permanecer dependente do petróleo e gás por um longo período. O consumo de energia aumentará imensamente, os centros de IAs, blockchain, datacenters etc, são sugadores de energia, o aumento demográfico nas regiões da Ásia Ocidental, África e o crescimento da Índia, a qual será a maior consumidora de petróleo global, farão com que o mundo de 2050 seja muito diferente do que conhecemos agora, disse o kuwaitiano.

Por mais que a OPEP seja a parte mais que interessada, o genocídio em Gaza, a tentativa de desestabilizar a Venezuela, Essequibo, a disputa pelas imensas e incalculável jazidas do Ártico, a comemoração a cada descoberta de novos campos de pré-sal em vários outros países pelo mundo e a pressão contra a exploração da Bacia Equatorial brasileira pela Petrobras, enquanto as petrolíferas estadunidenses exploram a mesma região na Guiana, demonstram que os estudos da OPEP têm certo lastro real.

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“O petróleo não irá desaparecer, haverá mais demanda. A indústria petroquímica – polímeros, fertilizantes, diesel, combustível para aviões etc. –  permanecerá robusta independente de transições energéticas e os países que apostarem hoje na petroquímica, estarão melhor preparados”, disse Ghais.

Segundo o relatório da OPEP, o petróleo será responsável por 29% da demanda total de energia em 2050, seguido pelo gás (24%), carvão (13%), biomassa (10%), nuclear (7%), hidro (3%), além de outras fontes renováveis (14%). A participação dos países que não fazem parte da OCDE alcançará 72% em 2050, um aumento de 7 %  em relação a 2023. Já o grupo dos países mais ricos cairá de 36% para 28%.

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O consumo global apenas pelo petróleo crescerá 17,9%, atingindo 120,1 milhões de barris por dia. Os países da OCDE terão uma redução de 10,1% (para 35,6 milhões de barris), enquanto os países não membros da OCDE terão um aumento de 28%, chegando a 84,6 milhões de barris por dia.

Segundo estudos do MIT, os Data Centers consumirão até 21% da produção mundial de eletricidade até 2030. A imagem acima, mostra o Centro de Processamento de Dados Utah,  centro de processamento e armazenamento de dados gerenciado pela NSA para vigilância global em massa, denunciado por Snowden. O centro foi construído em Bluffdale, entre o Lago Utah e Great Salt Lake pela tamanha necessidade de consumo de água para resfriar os servidores e tem sua própria subestação de energia dedicada fornecendo mais 65 Megawatts. 

Na semana passada, durante a XVI Cúpula do BRICS em Kazan de 22 a 24, em seu discurso de abertura via videoconferência, o Presidente Lula trouxe entre suas pautas a questão ambiental, entretanto, pelo ponto de vista da narrativa estadunidense que prega discursivamente uma coisa, mas na prática faz o oposto. As maiores montadoras automotivas americanas e alemãs anunciaram no mês passado investimentos bilionários no desenvolvimento de novos motores a combustão, abandonando os motores elétricos. Ademais, os EUA começou uma corrida pela exploração de novas jazidas de petróleo no Ártico, inclusive, exige o aumento de seu mar territorial no Ártico, expandindo sua plataforma continental exclusiva.

 Logo em seguida ao discurso do Presidente Lula na Cúpula do BRICS, o Presidente Putin alertou:

“Os BRICS precisam combater o emprego da agenda climática usada para eliminar a concorrência. Precisamos combater as tentativas de se usar a agenda climática para eliminar a concorrência dos mercados. Isto é especialmente importante para os mercados em desenvolvimento. Isto é o que o grupo de contato do BRICS para o clima e o desenvolvimento sustentável está fazendo”, disse o presidente russo na ocasião.

Na coletiva de imprensa ocorrida ao fim da Cúpula do BRICS, o Presidente Putin retornou ao tema e como o ocidente faz dela uma forma de neocolonialismo na África na tentativa de impedir o crescimento econômico dos países da região e por isso a importância do Banco de Desenvolvimento do BRICS.

Putin ao se referir a necessidade da exploração de petróleo e gás pelos países africanos para se desenvolverem sócio e economicamente:

“Será que África conseguirá prescindir deste tipo de hidrocarbonetos ou não? Não. Os países africanos e alguns outros países nos mercados em desenvolvimento estão se forçando a impor ferramentas e tecnologias modernas, e talvez ambientalmente eficazes. Mas eles não podem comprá-las – não têm dinheiro. Bem, dê-lhes o dinheiro então! E ninguém lhes dá dinheiro. Mas depois eles introduziram as ferramentas, acredito que estas são as ferramentas do neocolonialismo, quando rebaixam estes países e os forçam a depender novamente de tecnologias e empréstimos ocidentais. Os empréstimos são concedidos em condições terríveis e não podem ser pagos. Esta é outra ferramenta do neocolonialismo”, afirmou Putin durante a coletiva aberta aos jornalistas presentes.

Antes do início da Cúpula do BRICS, os países africanos se uniram e anunciaram a criação de um novo banco de desenvolvimento africano focado em financiar a exploração de petróleo e gás, e desenvolver uma indústria petroquímica no continente. A formação do banco vem em resposta à crescente pressão, apenas retórica, do Ocidente Coletivo para que os países do Sul Global abandonem a exploração de seus recursos petrolíferos e gás, justamente agora que esses países desenvolveram capacidade de explorar suas próprias jazidas. Uma espécie de “Chutando a Escada” dos países periféricos novamente, enquanto os EUA e europeus continuam procurando, explorando e fazendo guerras por mais campos petrolíferos e de gás.

 A Organização dos Produtores de Petróleo Africanos (APPO) formada por 18 países africanos e tendo a Venezuela como um membro honorífico – Níger, Argélia, Angola, Benim, Camarões, Chade, Egito, Costa do Marfim, entre outros -, anunciou o aporte de 5 bilhões de dólares para iniciar seu Banco de Energia. Segundo o Financial Times os Bancos Ocidentais têm negado sistematicamente empréstimos para o desenvolvimento de campos petrolíferos e gás dos Estados africano.

“Os países [africanos] estão em um estágio de desenvolvimento em que não podem mudar repentinamente para uma “transição verde”… você não pode simplesmente dizer que o financiamento foi cortado e nós não podemos fazer petróleo”, disse Haytham El Maayergi, vice-presidente executivo de comércio global do Afrexim Bank.

A África é o continente com a menor pegada de carbono. É também um continente rico em petróleo e gás ainda não explorados. Sob pressão de governos ocidentais pró-transição, as instituições de empréstimos internacionais como o Banco Mundial e Banco Africano de Desenvolvimento, pararam de fornecer dinheiro para projetos de energia, limitando as chances desses países de tirar vantagem de seus próprios recursos da mesma forma que países como os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Noruega e demais, estão fazendo.

Os EUA são o segundo maior acionista do Banco Africano de Desenvolvimento, segundo o Financial Times. Não só isso, mas funcionários do governo Biden elogiaram recentemente o último boom no petróleo e gás de xisto dos EUA, ao mesmo tempo em que o Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB), cujos maiores acionistas são o governo dos EUA e Japão, não favorecem nenhum desenvolvimento de petróleo e gás na África. “O contexto da África é totalmente diferente do que você encontra em outros lugares”, observa El Maayergi ao FT. 

“Diferentemente de algumas regiões produtoras de petróleo e gás, grande parte da riqueza de hidrocarbonetos da África ainda não foi desenvolvida, servindo para aliviar a pobreza galopante em muitas partes do continente, onde 600 milhões não têm acesso à eletricidade e cerca de 1 bilhão cozinham com carvão, esterco e lenha”, afirmou o vice-presidente do Afreximbank.

Mais uma vez, seria difícil para instituições como o Banco Mundial — ou mesmo bancos privados — argumentar que as nações africanas não têm o direito de colher os mesmos benefícios dos hidrocarbonetos que as nações ocidentais colheram por décadas antes de decidirem mudar para além do petróleo e gás. Seria especialmente difícil porque essa mudança está se mostrando mais complicada do que seus arquitetos esperavam e o mundo ocidental continua essencialmente tão dependente do petróleo e gás quanto antes.

Enquanto isso, os governos africanos estão lidando com boicotes de bancos e, mais recentemente, de seguradoras, elas próprias objeto de crescente pressão de ativistas climáticos, que insistem que a África deve permanecer como o continente menos emissor, saltando a era dos hidrocarbonetos e indo direto do carvão para a energia eólica e solar. Credores internacionais como o Banco Mundial e o Banco Asiático de Desenvolvimento ficariam muito felizes em financiar tais projetos. No entanto, há um problema com eles.

Fazendas solares e eólicas geram eletricidade capturando a luz do sol ou a energia do vento e convertendo-a em eletricidade. Essa eletricidade então precisa ser transmitida para onde será usada ou armazenada. É nesse ponto que um dos desafios específicos da África se apresenta: a transmissão.

Muitos países africanos simplesmente não têm infraestrutura de transmissão extensa o suficiente para acomodar instalações solares e eólicas em escala de utilidade econômica. Afinal, uma empresa não pode simplesmente construir uma fazenda solar em um local aleatório apenas porque ela está perto da infraestrutura existente. Fazendas solares e eólicas exigem condições ótimas para ter um bom desempenho. O fato de a transmissão ser um problema mesmo em mercados eólicos e solares maduros, como a Europa, diz muito sobre o tamanho do desafio da transição em países africanos.

Então, os estados africanos estão se unindo para encontrar uma alternativa aos credores ocidentais. Por enquanto, os 18 membros da iniciativa do Banco Africano de Energia concordaram em contribuir cada um com US$ 83 milhões para o banco, para um total de US$ 1,5 bilhão. O Afrexim Bank igualará esse valor, deixando uma lacuna de US$ 2 bilhões que precisa ser preenchida por instituições externas, como fundos soberanos, fundos privados e outros bancos. De acordo com a African Energy Chamber, um grupo que defende o desenvolvimento de recursos locais de petróleo e gás, há 125 bilhões de barris de petróleo e 620 trilhões de pés cúbicos de gás natural esperando para serem explorados. 

Em janeiro deste ano, os países africanos da região do Sahel – Níger, Mali e Burkina Faso – numa luta anticolonial expulsaram as bases militares dos EUA e França de seus países e formaram a Confederação dos Estados do Sahel. A revolta desses países é além dos monopólios de exploração francesa de urânio e outro minerais, a França não se importou com o fim de gás russo, ela pretendia construir um grande gasoduto trans-sahariano da cidade portuária no Atlântico de Warri na Nigéria até o Mediterrâneo pela Argélia, onde se dividiria em duas rotas, uma para Espanha e outra para a Itália, já que a Argélia não permitiria passar por seu território um gasoduto para a França, sua antiga colônia de exploração. Com a união desses Estados e a expulsão do Ocidente Coletivo o plano de construção do gasoduto foi abaixo.

Entretanto, os países da região fecharam um acordo com a China no âmbito das novas rotas da Seda (BRI). Após a formação da Confederação do Sahel as relações entre Benin e o Níger se tornaram tensas. Em 8 de Maio, o Benim recusou-se a permitir que o Níger utilizasse os seus portos para exportar petróleo.  Em setembro do ano passado, o Presidente Patrice Talon do Benim visitou a China, e a diplomacia chinesa entrou em ação. A China National Petroleum Corporation (CNPC) em parceria com Benin e Níger começaram a construção de um novo gasoduto com mais 1.000 quilômetros de extensão no Níger e cerca de 700 quilômetros no Benim. A produção de petróleo deverá ser de 90 mil barris por dia. O Benin pode cobrar taxas e impostos de trânsito com base no volume de exportação.

 A capacidade de produção do campo petrolífero da primeira fase e a capacidade de processamento da refinaria são ambas de 1 milhão de toneladas; a capacidade de produção do campo petrolífero da segunda fase é de 4,5 milhões de toneladas e o oleoduto de exportação de petróleo bruto tem 1.980 quilômetros.

Enquanto isso, o Brasil enfrenta uma luta contra as ONGs e ambientalistas malthusianos idealistas, sofrendo ameaças em sua segurança econômica e energética, e da geração de capital, não apenas para o desenvolvimento industrial como a diminuição da gritante desigualdade social regional e social do país. [Ibama mantém veto à Margem Equatorial e pode condenar o Brasil a voltar a importar petróleo]. O desenvolvimento de novas tecnologias permite minimizar os danos e impactos ambientais. Entretanto, isso aumenta o custo da produção e consequentemente a diminuição da taxa de lucro. O que as grandes petroleiras não aceitam, é essa a questão.

Em 2025 a Presidência do BRICS cabe ao Brasil, que já declarou que a Cúpula do BRICS será realizada em julho em vez do fim do ano, pois dará prioridade à COP30, a conferência climática da ONU, financiada pelas mesmas ONGs, fundações, think tanks que provocam Revoluções Coloridas por todo mundo, inclusive, no Brasil em 2016.

 

¨      Governo vai destinar R$ 1,5 bilhão para comprar terras para a reforma agrária 

Até o fim do ano, o governo federal deve destinar R$ 1,5 bilhão em verbas para a compra de terras destinadas à reforma agrária e à criação de novos assentamentos pelo país, segundo o ministro Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. 

Para chegar a tal repasse, a União estima investir R$ 300 milhões em verbas para a compra de terras, além de R$ 500 milhões em terras do Banco do Brasil. Por fim, outros R$ 700 milhões se referem a terras adjudicadas de grandes devedores. 

“Retomamos o programa de reforma agrária há um ano, quando o [presidente] Lula lançou o Programa Terra da Gente, que é um programa de retomada da reforma agrária no Brasil”, afirmou o ministro, durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (4).

Teixeira ressaltou que foi importante retormar o programa, tendo em vista que a reforma agrária virou terra arrasada nos últimos governos. 

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Assim, o ministro classifica a retomada do programa como potente, tendo em vista que a União vai destinar ainda outros R$ 1 bilhão em crédito inicial para novos assentamentos, totalizando R$ 2,5 bilhões investidos na reforma agrária.

Apesar de estar bastante longe do que seria o ideal, as ações são um avanço, tendo em vista que os valores destinados aos assentamentos será maior que a somatória empregada na última década. 

 

Fonte: Por Marcus Atalla, do VeritXpress/Jornal GGN

 

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