quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Para chefe do IBGE, BRICS abre novo prisma para dados que refletem realidade do Sul Global

Após a cúpula dos chefes de Estado do BRICS em Kazan, na última semana, presidentes de órgãos de estatísticas de nove países-membros do grupo participaram de um encontro que discutiu o papel da produção de dados no desenvolvimento.

Uma nova perspectiva para as estatísticas que refletem a realidade do Sul Global. Assim o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, resumiu à Sputnik Brasil o encontro entre dirigentes do setor nos países do BRICS.

Conforme Pochmann, as reuniões já ocorriam desde 2016, mas pela primeira vez nove países se juntaram, por conta da expansão inédita do grupo, que passou a contar a partir deste ano com Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã.

Conforme o dirigente brasileiro, durante a própria cúpula já foi reconhecido, no documento final, o papel das estatísticas nos países. "Inclusive, dos mais de 100 pontos levantados no documento, aparece pela primeira vez uma menção à importância das estatísticas para o BRICS. Então, justamente por essa manifestação que os chefes de Estado fizeram, a reunião terminou considerando o protagonismo que passam a ter os institutos nacionais de estatística na montagem de uma perspectiva que mostra, cada vez mais, a realidade do BRICS, em primeiro lugar, mas contemplando a realidade do Sul Global", declarou.

Pochmann destacou ainda que os congressos internacionais de estatística começaram no mundo ainda em 1853, porém expressavam "uma preocupação muito maior com a realidade do Norte Global do que com o Sul Global, especialmente a visão eurocentrista do século XIX". Esse panorama se manteve até o fim do século XX, inclusive em meio à criação da Organização das Nações Unidas (ONU) no pós-guerra.

"E agora eu diria que esse encontro abriu uma outra perspectiva de pensar as estatísticas, dentro de uma preocupação com a harmonização de dados que coloque a questão da realidade do Sul Global, que já responde por mais de 70% do desempenho econômico recente, especialmente nesse primeiro quarto do século XXI", acrescentou.

<><> Convergência entre os novos membros do BRICS

Para o presidente do IBGE, o encontro também mostrou que há uma convergência com os novos membros do BRICS. "Há uma diversidade muito grande, mas todos concordam com a necessidade de modernização das estatísticas. Também houve uma discussão muito importante sobre a formação profissional dos que estão à frente das instituições, uma preparação para que possam estar mais conectados com as novidades que a própria era digital apresenta", disse, ao acrescentar que os países contam com um portal conjunto que reúne informações como evolução da população, desemprego e produto interno bruto (PIB).

A expectativa é que o próximo encontro conte com a liderança do Brasil, que, segundo Marcio Pochmann, terá entre as propostas a discussão de indicadores econômicos, sociais e ambientais a partir da perspectiva sul-americana. É o caso da necessidade de aprimorar as estatísticas das pessoas que vivem em situação de rua, que é uma preocupação em comum entre os membros do BRICS, a partir de pesquisas mais adequadas principalmente para as grandes cidades.

"Outra preocupação que possivelmente será considerada está relacionada à economia dos cuidados, tendo em vista que hoje a presença do trabalho remoto traz implicações nos domicílios. Ao mesmo tempo, temos o processo de envelhecimento faz com a questão dos cuidados seja muito realçada do ponto de vista das famílias. Essa é uma realidade pela qual se conhece muito pouco e pressupõe haver um conceito adequado que possa ser discutido."

<><> Soberania de dados e cooperação entre os países

Com relação à soberania de dados, o dirigente brasileiro pontuou que há realidades bem distintas entre o grupo. Como exemplo citou mecanismos de controle que países como Rússia, Irã e China já estão à frente, enquanto Brasil e África do Sul, por exemplo, ainda não dispõem. Isso ainda abre caminho para uma maior cooperação entre os países.

"Há uma preocupação do Brasil nesse sentido e que está em curso. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem destacado a importância desta unificação dos bancos de dados e acreditamos ser cada vez mais materializada. Eu acredito que a reunião do Brasil, a liderança do Brasil, vai oferecer melhores condições para tratar, do ponto de vista do conjunto dos países dos BRICS, esse problema que é uma questão nacional, evidentemente, da soberania, mas ela impacta cada um dos países hoje de forma diferenciada e muito preocupante".

O presidente do IBGE destacou ainda que, para além do BRICS, o Brasil tem liderado também discussões importantes em meio às reuniões do G20, que conta com a liderança rotativa do país neste ano. O próximo encontro entre os dirigentes dos órgãos de estatísticas, segundo Pochmann, vai contar com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para discutir o uso constante da internet por crianças e adolescentes e como isso afeta o desempenho, principalmente educacional.

¨      Cúpula do BRICS na Rússia ajuda a estabilizar a situação internacional, afirma MRE chinês

A Cúpula do BRICS realizada na cidade russa de Kazan ajudará a fortalecer ainda mais os países do Sul Global e estabilizar a situação internacional, disse o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, durante um encontro com o vice-chanceler russo Andrei Rudenko, nesta quarta-feira (30).

"A Cúpula do BRICS foi realizada em Kazan sob a presidência do [presidente russo Vladimir] Putin e foi um sucesso completo. [...] Esta cúpula não só ajudará a manter o ímpeto do desenvolvimento do mecanismo de cooperação do BRICS, mas também fortalecerá a unidade dos países do Sul Global para que eles possam desempenhar seu papel importante e construtivo na estabilização da atual situação internacional", disse Wang.

Ao mesmo tempo, o ministro das Relações Exteriores da China acrescentou que a Rússia e a China "devem manter interação estratégica em todos os níveis e em todas as áreas".

"Sob a liderança do presidente chinês Xi Jinping e do presidente russo Vladimir Putin, as relações sino-russas mantiveram um ímpeto de desenvolvimento saudável e estável, que não apenas atende aos interesses comuns da China e da Rússia e dos povos dos dois países, mas também é nossa contribuição conjunta para manter a estabilidade das relações internacionais, protegendo o direito internacional e a Carta da ONU", observou Wang.

Rudenko, por sua vez, agradeceu ao chanceler chinês por ter encontrado tempo para o encontro apesar de ser muito ocupado e apontou que Yi já se reuniu cinco vezes com seu homólogo russo Sergei Lavrov, durante esse ano e expressou sua esperança de que "esses contatos vão continuar".

O BRICS é uma associação intergovernamental criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência rotativa do bloco em 1º de janeiro de 2024. O ano começou com a adesão de novos membros à associação.

¨      Encontro evidencia 'desgaste' da Commonwealth britânica, com ausência de Modi e Ramaphosa

Realizado em Apia, Samoa, na esteira da Cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia, o encontro dos chefes de Estado da Commonwealth não contou com a presença do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e do presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa. A decisão, de aparente viés "prático", tem clara denotação da política externa desses países.

Entre os dias 25 e 26 de outubro foi realizada a 27ª Reunião de Chefes de Estado da Comunidade das Nações, também conhecida como Commonwealth.

O encontro, feito para que os líderes das 56 nações integrantes possam se encontrar e discutir temas de importância global, viu-se esvaziado com a ausência do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

Em seus lugares, os líderes enviaram representantes menores. A delegação indiana foi chefiada pelo ministro de Assuntos Parlamentares, Kiren Rijiju, enquanto os sul-africanos foram encabeçados pela vice-ministra de Relações Internacionais e Cooperação, Thandi Moraka.

À primeira vista, há motivos "práticos inquestionáveis", afinal, os chefes de governo estavam retornando da 16ª Cúpula do BRICS, realizada entre 22 e 24 de outubro na Rússia, diz Williams Gonçalves, professor titular de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), à Sputnik Brasil. "Essa é uma argumentação de ordem prática indesmentível."

"Agora há outro aspecto. Eles podiam ter ido à reunião da Commonwealth e não ter ido a Kazan. Logo, ter preferido ir à Rússia denota uma decisão de política externa. Isso é evidente."

·        A natureza imperial

Criada em diferentes etapas — a Declaração Balfour em 1926, o Estatuto de Westminster em 1931 e a Declaração de Londres em 1949 —, a Comunidade das Nações foi uma maneira encontrada pela coroa britânica de prover maior independência de governo para suas colônias, mas ainda retendo a influência da metrópole.

Essa relação de poder era e é essencial para o Reino Unido, uma pequena ilha no Atlântico Norte que se constituiu enquanto potência internacional a partir de sua expansão colonial, diz à reportagem Natali Hoff, professora de relações internacionais e ciência política do Centro Universitário Internacional Uninter.

A necessidade de manter as ex-colônias alinhadas se tornou ainda mais urgente após a Segunda Guerra Mundial, quando houve o início de um processo de descolonização mais intenso ao redor do mundo. "O colonialismo está na base do que fez o Reino Unido ser o que ele é hoje", diz Hoff.

"A Commonwealth se torna um instrumento para que a política externa britânica retenha controle sobre Estados como a Índia e a África do Sul, que estiveram sob a esfera de influência britânica por bastante tempo."

A partir de seu histórico, a Comunidade das Nações se evidencia diametricamente oposta ao BRICS, grupo de países que postula a criação de uma ordem mundial baseada na multipolaridade, e o desenvolvimento dos chamados países periféricos.

"Ora, se assim apresentamos o BRICS", diz o professor da UERJ, "a incompatibilidade com a Commonwealth é evidente". "A Commonwealth representa a ideia do Império, representa a ideia colonial. Reunir a Commonwealth ao redor da coroa britânica é prestigiar, reverenciar esse passado colonial."

Assim, a escolha de Modi e Ramaphosa de priorizarem a Cúpula do BRICS, em detrimento da reunião liderada pelo rei Charles III, revela a reorganização geopolítica em curso no mundo.

"Significa uma tomada de posição. O lugar da Índia e da África do Sul é com o BRICS, e não com a Commonwealth."

·        Cadê o Canadá?

A ausência dos líderes indiano e sul-africano não foram os únicos percalços da 27ª Reunião de Chefes de Estado da Comunidade das Nações, a primeira regida pelo rei Charles III. Até então, todas as conferências foram presenciadas por sua mãe, Elizabeth II, como monarca.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, tampouco compareceu ao evento. Em seu lugar, o premiê enviou o alto-comissário do Canadá no Reino Unido, Ralph Goodale.

Só que diferentemente de Ramaphosa e Modi, a ausência de Trudeau não vem como uma mensagem de oposição geopolítica. O Canadá é alinhado à ordem euro-atlântica, participando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e do G7, organizações criadas para a manutenção do status quo.

Pelo contrário, a ausência de Trudeau é explicada por problemas da política doméstica. Em seu próprio país, parlamentares pressionam pela renúncia do primeiro-ministro enquanto sua popularidade cai.

Ainda assim, diz Gonçalves, a mensagem de onde estão as prioridades canadenses é clara. "O trabalho em casa é muito mais importante do que a reunião com o rei da Inglaterra."

Dessa forma, os únicos grandes países da Comunidade das Nações presentes na reunião foram o Reino Unido e a Austrália, que enviaram os primeiros-ministros Keir Starmer e Anthony Albanese, respectivamente.

A presença do Reino Unido é mais do que mandatória, enquanto a Austrália opera na mesma esfera de influência ocidental, assim como o Canadá. "Nas instituições mais majoritárias australianas, a Austrália se coloca como um país do Norte Global, um país desenvolvido e um país ocidental", afirma Hoff.

Mais do que esperada, no entanto, a presença da liderança australiana é ainda incentivada pelo Ocidente. Gonçalves lembra que, hoje, o país da Oceania é usado como ponta de lança na aliança militar AUKUS, composta por Austrália, Reino Unido e Estados Unidos e criada para combater a influência chinesa na região indo-pacífica.

Derrocada britânica

Além da ausência de três das cinco maiores economias, o encontro da Commonwealth ainda viu certa indisposição com o Reino Unido. Antes mesmo de começar, em visita à Austrália, o rei Charles III foi confrontado pela senadora aborígene Lidia Thorpe, que o acusou de cumplicidade com o genocídio indígena em seu país.

Além disso, em agosto, o ex-primeiro-ministro jamaicano P. J. Patterson (1992–2006) afirmou que reparações pela escravidão seriam discutidas no encontro. A afirmação foi veementemente negada pelo Reino Unido, que ressaltou ainda que nem o governo nem a coroa emitiriam um pedido de desculpas pelo papel do país no tráfico transatlântico de escravizados.

O professor de relações internacionais detalha que embora o que se peça é uma reparação financeira, o que o Reino Unido verdadeiramente poderia prover seria o "abandono da relação colonial que a própria Commonwealth propõe", algo que nem a coroa nem o governo britânico se mostram dispostos a fazer.

"Veja que em outros tempos essa reunião era o momento para se reverenciar o rei, mostrar o devido respeito", comenta Gonçalves sobre a coragem jamaicana. "No entanto, um pequeno país como a Jamaica agora se atreve a desafiar a coroa britânica."

"Isso demonstra o desgaste, a falta de sentido que essa cerimônia está tendo na atualidade. Sinaliza o desgaste total."

Para Hoff, é possível notar um processo de "decadência da influência britânica" no mundo, da mesma forma que a Europa também vê seu poder de mandar e desmandar diminuir, na mesma medida em que países do Sul Global, como China, Rússia, Índia e Brasil seguem questionando "as políticas e as práticas de países ocidentais", disse.

"São países que defendem algum grau de transformação no sistema internacional, principalmente na esfera das relações econômicas e das instituições internacionais."

¨      Índia impõe penalizações à GE após atraso de entregas debilitarem defesa aérea do país

O governo indiano decidiu impor penalidades à General Electrics (GE) por atrasos severos na entrega de motores que impulsionam as aeronaves leves de combate do país, de acordo com uma autoridade indiana com conhecimento do assunto.

A entrega dos motores F404 para a série Tejas Light Combat Aircraft Mk1, de fabricação local da Força Aérea indiana, foi adiada para março de 2025, quando deveria ter começado em 2023. Em 2021, a estatal indiana Hindustan Aeronautics assinou um acordo de US$ 716 milhões (R$ 4 bilhões) com a GE para 99 motores F404, relata a Bloomberg.

A mídia afirma que a força dos jatos de caça da Índia está diminuindo rapidamente, à medida que o país aposenta suas antigas aeronaves da era soviética.

A empresa norte-americana tem lutado com a entrega lenta de seus motores a jato globalmente. Larry Culp, CEO da fabricante ouvido pela mídia, disse esta semana que 15 fornecedores diferentes em sua cadeia de suprimentos estão envolvidos nas interrupções.

A GE Aerospace disse nesta terça-feira (29) que a indústria "continua a experimentar pressões sem precedentes na cadeia de suprimentos" e que a empresa está trabalhando para resolver as restrições, de acordo com uma resposta por e-mail às perguntas feitas pela agência.

O atraso complica os planos do premiê Narendra Modi de fabricar caças de combate em casa em um momento em que as relações do país com seus vizinhos China e Paquistão permanecem tensas.

A Rússia continua sendo o maior fornecedor de equipamentos militares da Índia, embora as compras tenham diminuído nos últimos anos devido a sanções e à crescente concorrência de outros países fabricantes.

¨      Primeiro-ministro do Canadá Justin Trudeau enfrenta momento político 'mais sombrio e incerto'

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, enfrenta seu momento político "mais sombrio e incerto" enquanto busca um quarto mandato. O atual governo convive com uma onda de descontentamento dos canadenses e Trudeau chegou a sofrer pressão para renunciar, apontou o jornal britânico The Guardian.

Trudeau afirmou na semana passada que conta com o apoio da maioria dos 153 membros do Partido Liberal canadense na Câmara dos Comuns, apesar de alguns deputados da sigla terem assinado uma carta pedindo que renunciasse ao cargo antes das próximas eleições, lembrou o jornal britânico.

No entanto, analistas consultados pela reportagem consideraram que a "rebelião no partido" se intensificou nos últimos meses, fazendo com que o primeiro-ministro canadense fosse obrigado a enfrentar críticas internas sobre sua liderança.

Scott Reid, ex-funcionário durante a gestão do primeiro-ministro Paul Martin, disse que é provável que Justin Trudeau e sua equipe "estejam em choque" e que devem estar cientes de que os liberais que pedem sua renúncia podem ser mais numerosos do que se sabe atualmente. "Isso é uma revolta iceberg. O que está escondido sob as ondas pode ser imenso, e isso deve ser intimidante para o primeiro-ministro, quer ele admita isso em público ou mesmo em particular", afirmou o analista político.

O analista Scott Reid acrescentou que no Canadá não existe uma "tradição" de primeiros-ministros que deixam o cargo voluntariamente, indicando que "praticamente todos sofrem uma derrota eleitoral" ou "saem no último momento", quando já não há chances de vitória.

O jornal destacou ainda que não haveria um "substituto claro" para Trudeau. Apesar disso, entre os nomes ventilados para a posição no país, conforme a publicação, todos parecem estar em uma posição eleitoral melhor que Justin Trudeau. Uma pesquisa eleitoral coloca os liberais quase 20 pontos atrás dos conservadores.

O analista político Eric Grenier declarou ao The Guardian que, no passado, nem mesmo "governos impopulares" haviam obtido "resultados tão baixos nas pesquisas". Ele comentou que o problema do Partido Liberal é que essa "tendência vem de longe".

"Não é o resultado de um escândalo ou de um grande problema, mas o gotejar, gotejar, gotejar de quase 10 anos no poder. E a realidade é que as pessoas já sabem o que pensam sobre Justin Trudeau, e não vão mudar de opinião sobre ele", afirmou.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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