terça-feira, 29 de outubro de 2024

Direita e esquerda usaram eleição municipal como trampolim para 2026

O balanço de atuações e resultados com o encerramento das eleições municipais deste domingo (27) vai projetar os próximos passos na política nacional, em especial com a escolha do novo comando do Congresso, mas também com uma provável reforma ministerial e a movimentação dos dois principais líderes políticos da atualidade no país, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Estão hoje no governo PSD, MDB e União Brasil, com três ministérios cada um. Já o PP e Republicanos ocupam uma pasta cada.

Desse grupo, PSD e MDB, que elegeram o maior número de prefeitos no país, são vistos por palacianos como mais governistas e propensos a atuar com proximidade no Congresso, até mesmo em um possível bloco com o PT.

Já União Brasil, PP e Republicanos têm em seus quadros congressistas de viés mais de oposição.

Hoje o PSD comanda o Senado, com Rodrigo Pacheco (MG), e o PP a Câmara, com Arthur Lira (AL). Os favoritos para assumirem os postos em fevereiro são Davi Alcolumbre (União Brasil) e Hugo Motta (Republicanos), respectivamente. As negociações sobre o comando das Casas têm movimentado os partidos.

Na direita, Bolsonaro segue como o principal nome e passou as últimas semanas em uma intensa rotina de viagens a boa parte das cidades em que o PL está no segundo turno (23) roteiro esse que dividiu com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O ex-presidente e seus aliados articulam uma tentativa de reverter sua inelegibilidade para ser o nome da direita em 2026.

Apesar dos resultados mais expressivos dele e do PL, Bolsonaro assistiu na eleição a uma até então inédita contestação à sua liderança no campo conservador, com a candidatura de Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo.

O ex-mandatário sai da disputa na maior cidade do país como um apoiador hesitante de Nunes. Assim, se o atual prefeito vencer, será muito mais apesar de Bolsonaro do que graças a ele.

Além disso, o ex-presidente assiste a uma disputa de candidatos ao posto de nome da direita em 2026, em especial os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG).

Em relação a esses, Bolsonaro andou de braços dados com Tarcísio e Zema, mas bateu de frente com Caiado e Ratinho, contra quem trava uma queda de braço nas eleições de Goiânia e Curitiba, respectivamente.

Caiado e Ratinho terão uma definição melhor do seus cacifes políticos com o resultado deste domingo. Uma vitória sobre Bolsonaro tende a reforçar a pretensão de cada um deles, ao passo que uma derrota em seus respectivos quintais eleitorais será um duro golpe na tentativa de se cacifar para enfrentar Lula daqui a dois anos.

O desempenho dos governadores da direita já está mais ou menos consolidado em relação a Tarcísio e a Zema.

O primeiro ganhou pontos por se manter fiel a Nunes mesmo quando Bolsonaro e bolsonaristas ameaçaram debandar ou debandaram para o barco de Marçal.

Tarcísio disse que foi aconselhado por aliados a se afastar do prefeito, mas se manteve ao seu lado. O gesto foi reconhecido publicamente por Nunes, que o chamou de "grande irmão, leal e amigo".

A atitude do governador chegou a ser considerada por pessoas próximas como uma espécie de emancipação de Tarcísio em relação a Bolsonaro, de quem foi ministro e a quem deve a eleição em São Paulo.

O governador de São Paulo também declarou apoio a candidatos de uma série de cidades do interior e, agora no segundo turno, gravou vídeo para o bolsonarista Bruno Engler (PL), em Belo Horizonte.

Já Zema, que permanece filiado ao inexpressivo Novo, nem conseguiu ver seu candidato em Belo Horizonte ir para o segundo turno. Após isso, apoiou Engler e fez um giro por cidades do Brasil para endossar candidatos do partido de Bolsonaro.

<><> MDB e PSD controlarão 38% do caixa das prefeituras brasileiras

O MDB e o PSD emergiram como os grandes vencedores das eleições municipais de 2024, consolidando uma significativa influência sobre os orçamentos das prefeituras no Brasil. Juntas, essas duas siglas irão gerir mais de um terço do total, correspondendo a 38% dos recursos, o que se traduz em R$ 489 bilhões .O cenário considera 5.433 cidades que enviaram dados de orçamento referentes a 2023, todos com resultado finalizado e validado pela Justiça Eleitoral.

Segundo um levantamento feito pela Folha de S. Paulo, elaborado com base nas receitas brutas de orçamento informadas pelos municípios nas Declarações de Contas Anuais (DCA) do Tesouro Nacional, vinculado ao Ministério da Fazenda, a diferença entre os dois partidos é de apenas R$ 20 bilhões, com o MDB comandando R$ 254 bilhões dos orçamentos municipais, ou 19,7% do total, enquanto o PSD ficará responsável por R$ 234 bilhões, representando 18,1%.

A reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, onde derrotou Guilherme Boulos (Psol) no segundo turno, é um fator crucial para o controle substancial do orçamento do MDB. A capital paulista, com um orçamento de R$ 107 bilhões — o maior do país — representa 42% de tudo que estará sob gestão da sigla.

Além de São Paulo, o MDB também assumirá a responsabilidade pelas capitais Porto Alegre, Belém, Boa Vista e Macapá, que juntas somam R$ 22 bilhões. Por outro lado, o PSD, liderado por Gilberto Kassab, conquistou o maior número de prefeituras do Brasil e controla orçamentos robustos. Aproximadamente um terço do montante do partido provém de cinco capitais, destacando-se o Rio de Janeiro, com um orçamento de R$ 46 bilhões em 2023.

Eduardo Paes, reeleito no primeiro turno com 60,5% dos votos válidos (1.861.856 votos), continuará no comando da cidade. O PSD também celebrou reeleições em outras capitais, incluindo Eduardo Braide em São Luís, Topázio Neto em Florianópolis, Fuad Noman em Belo Horizonte e Eduardo Pimentel em Curitiba, que juntos acumulam uma receita bruta anual de R$ 42 bilhões.

Outros orçamentos significativos sob a gestão do PSD incluem cidades paulistas como São José dos Campos (R$ 4,7 bilhões) e Ribeirão Preto (R$ 4,6 bilhões), além de Londrina (PR), com R$ 3,7 bilhões.

Na terceira posição, o PL, de Jair Bolsonaro, garantiu uma parcela considerável do orçamento para o próximo ano, assumindo a gestão de ao menos R$ 163 bilhões. O partido conquistou quatro capitais, incluindo reeleições no primeiro turno com Tião Bocalom, em Rio Branco, e João Henrique Caldas (JHC), em Maceió, além de vitórias em segundo turno com Abilio Brunini, em Cuiabá, e Emília Corrêa, em Aracaju.

A maior parte do orçamento a ser controlada pelo PL não vem de capitais, mas de cidades de médio e grande porte do interior paulista, como São José do Rio Preto e Mogi das Cruzes, Saquarema (RJ), Itajaí (SC) e Blumenau (SC).

Depois do PL, aparecem União Brasil e PP, que terão respectivos R$ 120 bilhões (9,3%) e R$ 119 bilhões (9,2%) sob seus comandos. A quinta posição é do Republicanos, com uma fatia de 7,4%, que representa R$ 95 bilhões.

O PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece no ranking com uma parcela de 4,7% dos caixas das prefeituras brasileiras a partir do próximo ano. O valor corresponde a R$ 60 bilhões.

A sigla conquistou apenas uma capital nesta eleição, Fortaleza, com a vitória do deputado estadual Evandro Leitão (PT) sobre André Fernandes (PL) por uma diferença de apenas 10.838 votos.

•        Bolsonaristas apontam fracasso de Nikolas Ferreira como cabo eleitoral

Integrantes do Partido Liberal (PL) e bolsonaristas avaliam que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) saiu enfraquecido após as eleições municipais de 2024. Segundo informações apuradas pelo G1, a derrota de seu principal aliado político, Bruno Engler, na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte, levantou questionamentos sobre a eficácia de Nikolas como cabo eleitoral da direita. As informações são da jornalista Bela Megale, em sua coluna no O Globo.

Nikolas Ferreira teve participação ativa na campanha de Engler, liderando ataques contra o atual prefeito Fuad Noman (PSD), que conseguiu a reeleição. No entanto, o resultado adverso para Engler na capital mineira sinalizou, para seus correligionários, uma perda de influência política. “Não ganhou na própria casa, mas quis se meter em São Paulo”, criticou um membro do PL, fazendo referência à atuação do deputado em outras campanhas fora de Minas Gerais.

A situação foi agravada pelo apoio explícito de Nikolas a Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno das eleições em São Paulo. Marçal acabou fora da disputa, que se afunilou entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). A entrada do parlamentar mineiro na campanha paulista gerou desconforto na ala do PL e em bolsonaristas que apoiavam Nunes, acirrando as críticas ao seu papel como articulador político.

“Essas derrotas em capitais de grande repercussão têm o potencial de abalar o capital político de Nikolas”, avaliou um integrante do PL. A percepção é que o fracasso em apoiar candidatos vitoriosos pode comprometer sua imagem dentro da ala bolsonarista e do próprio partido, que confiou em seu prestígio para impulsionar candidaturas. Durante a campanha, Nikolas viajou pelo Brasil para apoiar candidatos do PL, mas sua estratégia de se alinhar aos setores mais radicais da direita e resistir a alianças mais amplas acabou gerando divisões internas.

•        Deputados do PDT pressionam por expulsão de Ciro Gomes do partido

A pressão pela expulsão de Ciro Gomes do PDT cresce entre parlamentares do partido, que criticam a postura do ex-ministro em recentes eleições municipais e sua posição política independente. De acordo com informações da Folha de S.Paulo, deputados da legenda articulam a retirada de Ciro para proteger o alinhamento partidário e assegurar um melhor desempenho nas eleições de 2026.

O deputado Josenildo (PDT-AP) foi enfático ao afirmar que tomará medidas formais caso o partido não chegue a um consenso sobre o tema. "Eu vou protocolar um pedido de expulsão se isso não avançar de uma forma consensual no partido", disse ele. "Ele está indo para outro rumo. Como ele está desviando a rota, até para o partido retomar esse crescimento, que ele busque um partido que pensa igual a ele."

A divergência se acentuou após declarações de Ciro que, segundo membros do partido, comprometeram a unidade e o desempenho do PDT nas eleições municipais. Em agosto, Ciro criticou publicamente a candidatura de Duda Salabert (PDT-MG) à prefeitura de Belo Horizonte, alegando que ela "não tem preparo" para o cargo. A repercussão foi negativa e aumentou as tensões internas. Em resposta, Duda afirmou em grupos de WhatsApp que Ciro era um "repelente de votos".

A maior preocupação dos parlamentares, no entanto, recai sobre as ações de Ciro em Fortaleza. Durante o segundo turno das eleições, o ex-ministro foi acusado de apoiar, ainda que indiretamente, o deputado federal bolsonarista André Fernandes, que disputa a prefeitura contra Evandro Leitão (PT), deputado estadual. Embora o PDT cearense tenha adotado uma posição de neutralidade, permitindo que seus membros escolhessem livremente quem apoiar, aliados de Ciro, incluindo o ex-prefeito Roberto Cláudio, se alinharam a Fernandes.

Roberto Cláudio não apenas manifestou seu apoio como participou ativamente da campanha de Fernandes. O apoio foi reforçado quando dois irmãos de Roberto Cláudio doaram R$ 500 mil para a candidatura do deputado bolsonarista, e seis dos oito vereadores eleitos pelo PDT em Fortaleza também se posicionaram a favor de Fernandes. Para membros do partido, esses gestos representaram um "apoio velado" de Ciro a um adversário político que contraria os princípios da legenda.

O clima de insatisfação é crescente, e a expectativa é que as discussões internas se intensifiquem nas próximas semanas. A permanência de Ciro Gomes no PDT será decisiva para definir o rumo do partido, que busca evitar divisões que possam comprometer suas estratégias eleitorais futuras.

<><> Cid Gomes diz que Ciro 'concorda' com guinada de uma ala do PDT à direita

Irmão de Ciro Gomes (PDT), o senador Cid Gomes (PSB-CE) trouxe à tona a confirmação do que já se percebia dos bastidores da política cearense: Ciro teria acenado positivamente à movimentação à direita do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), que, surpreendendo eleitores e colegas de partido, apoiou abertamente o candidato bolsonarista André Fernandes (PL) nas eleições para a Prefeitura de Fortaleza. À Folha de S. Paulo, Cid Gomes detalhou os motivos e consequências dessa inesperada aliança, além de comemorar a vitória de Evandro Leitão (PT), que derrotou Fernandes em uma disputa acirrada, decidida por menos de 11 mil votos.

O embate em Fortaleza não se restringiu ao duelo entre Leitão e Fernandes; o PDT, tradicionalmente identificado com uma postura de centro-esquerda, enfrentou uma cisão visível. Roberto Cláudio, pupilo de Ciro Gomes, foi um dos principais nomes a romper com a neutralidade oficial do partido, apoiando Fernandes, ao lado de outros pedetistas influentes. "Ele [Ciro]tem o Roberto Cláudio como um pupilo. E pelo visto está concordando com esse movimento à direita". A decisão gerou desconforto na sigla e levou o presidente licenciado do PDT, Carlos Lupi, a publicar um vídeo manifestando apoio a Leitão. Para o senador Cid, “essa turma acaba saindo do PDT. Esse passo que o Roberto deu rumo à direita é um passo sem volta”. Ele acredita que a guinada de Roberto Cláudio indica um futuro em partidos do Centrão, onde poderá buscar novos espaços de liderança política.

Cid também aponta que a postura de Ciro, que preferiu se afastar do embate direto no segundo turno, reflete uma tendência de atuar nos bastidores e orientar aliados que, como Roberto Cláudio, flertam com posicionamentos à direita. “Eu acho que o Ciro está numa vibe de cada vez mais ficar em bastidor”, afirmou o senador.

Outro ponto de destaque foi a resiliência de Evandro Leitão, que conseguiu reverter a desvantagem do primeiro turno — onde recebeu 34,33% dos votos, enquanto Fernandes somou 40,2%. Apesar do peso do apoio de Roberto Cláudio e do ex-candidato Capitão Wagner (União Brasil) a Fernandes, Cid atribui a vitória de Leitão a uma ampla mobilização de prefeitos do interior, que se intensificou nos últimos dias da campanha. Para ele, o empenho de cerca de 150 prefeitos na reta final “foi decisivo” para a vitória de Leitão, garantindo o resultado apertado, mas vitorioso.

A divisão no PDT de Fortaleza pode sinalizar uma nova fase para o partido, agora diante da necessidade de reavaliar seu posicionamento e unidade diante de um cenário eleitoral polarizado. Para Cid Gomes, esse movimento pode levar a um afastamento de figuras como Roberto Cláudio, que busca fortalecer laços em um campo político distinto daquele historicamente defendido pela sigla.

 

Fonte: FolhaPress/Brasil 247

 

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