quinta-feira, 31 de outubro de 2024

5 problemas internos dos EUA que podem ser decisivos para a eleição presidencial no país

Às vésperas da eleição presidencial nos EUA, marcadas para 5 de novembro, a Sputnik Brasil lista cinco temas que afetam a vida da população americana e podem impactar na corrida pela Casa Branca.

Os EUA estão a menos de uma semana da eleição presidencial que decidirá pela continuidade da gestão democrata, com Kamala Harris, ou pelo retorno dos republicanos ao poder, novamente liderados por Donald Trump.

Embora a agenda externa tenha dominado boa parte da campanha de ambos os candidatos, é notório entre analistas que o que decide uma eleição são os problemas mais próximos do cotidiano da população.

A Sputnik Brasil listou cinco problemas internos que podem ser decisivos para o pleito de 5 de novembro, boa parte deles causados pela política de intervenção de Washington em outros países.

<><> Inflação

Embora tenha desacelerado em relação ao pico registrado em 2022, quando atingiu 9,1%, a maior alta em 40 anos, a inflação ainda corrói o poder de compra da população americana. Em setembro, o índice ficou em 2,5%, acima dos 2,3% esperados pelo mercado.

Após a eleição de Joe Biden, que tinha a retomada econômica como uma de suas bandeiras, eleitores esperavam um arrefecimento da inflação, após quatro anos de aumentos consecutivos. Porém a alta inflacionária persistiu, afetando os preços dos alimentos e atualmente levando trabalhadores a se endividarem ou recorrerem a empréstimos para garantir a subsistência.

<><> Desemprego

Em setembro, o Departamento do Trabalho divulgou que a taxa de desemprego nos EUA caiu para 4,2%, com 142 mil vagas de emprego abertas em agosto. O número, no entanto, ficou abaixo do esperado pelo mercado, que projetava a criação de 160 mil vagas.

Os dados do departamento apontam que apesar da ligeira queda ainda há 7,1 milhões de pessoas desempregadas no país, o que explica o aumento no número de pedidos de auxílio-desemprego, que em setembro ficou em 230 mil, um aumento em relação aos 227 mil registrados no final de agosto.

<><> Salto na dívida pública

A dívida pública dos EUA superou neste ano, pela primeira vez, a marca de US$ 35 trilhões (cerca de R$ 201 trilhões na cotação atual), segundo dados divulgados em agosto pelo Departamento do Tesouro dos EUA. O montante começou a aumentar durante os gastos exigidos para conter os efeitos da pandemia, mas continuou ao longo da atual administração.

Em julho, ao abordar o tema, o presidente do Comitê de Orçamento da Câmara dos Representantes dos EUA, Jodey Arrington, classificou a dívida pública como um "marco alarmante" e pediu por mais responsabilidade fiscal com relação aos gastos

<><> Imigração

Sem dúvida um dos pontos nevrálgicos para a política americana, a imigração causou um embate entre o presidente Joe Biden e o governador do Texas, o republicano Greg Abbott, em relação à entrada de pessoas pela fronteira dos EUA com o México, que aumentou exponencialmente nos últimos quatro anos.

A atual política do governo americano para conter a imigração é considerada um fracasso. Segundo um levantamento publicado em maio, cerca de 1,6 milhão de migrantes conseguiram entrar nos EUA de forma ilegal pela fronteira sul do país.

<><> Apoio a Israel e Ucrânia

A pressão contra o apoio dos EUA à ofensiva israelense e ao envio de auxílio à Ucrânia também podem impactar na corrida eleitoral. Isso porque, embora sejam temas externos, têm impacto direto na inflação e na capacidade de defesa dos EUA, uma vez que os conflitos prolongados vêm drenando os arsenais do país.

Os EUA já lançaram mais de US$ 1,8 bilhão (R$ 10,37 bilhões) em interceptadores desde que a ofensiva israelense começou e mantêm em paralelo um contínuo fluxo de armamento para a Ucrânia. Recentemente, um artigo publicado no Washington Post alertou que os EUA não desenvolveram uma base industrial de defesa destinada a uma guerra de atrito em larga escala na Europa e no Oriente Médio.

¨      Democratas e republicanos concordam em ignorar gigantesca dívida e déficit dos EUA

Os partidos republicano e democrata dos EUA basicamente concordaram em ignorar a dimensão da dívida pública e do déficit orçamentário do país, escreve o The Wall Street Journal.

De acordo com as estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) o nível da dívida pública dos EUA atingirá 121% do PIB até ao final de 2024, e em 2029 chegará a 131,7% do PIB. Durante a presidência de Joe Biden, o endividamento dos EUA subiu de US$ 28 trilhões (R$ 161,3 trilhões) em 2021 para um nível sem precedentes de mais de US$ 34,5 trilhões (R$ 198,7 bilhões) hoje.

"Os dois principais partidos basicamente concordaram em ignorar o nível de dívida de Washington [...] e o gigantesco déficit anual na ausência de um estado de emergência no país", escreve o redator do jornal, James Freeman.

Segundo ele, o vencedor das próximas eleições presidenciais será forçado a gastar "muito menos" do que prometeu durante a sua campanha.

Freeman observou que os EUA "não podem se dar ao luxo de se tornar uma Argentina", sugerindo que, com uma dívida tão grande, os americanos precisarão "não apenas de esperança, mas também de oração".

•        Eleições nos EUA 2024: quem são os delegados e por que eles importam tanto?

Mais de 240 milhões de americanos estão aptos a votar na eleição presidencial dos EUA, que ocorre em 5 de novembro.

No entanto, o número total de votos que Donald Trump ou Kamala Harris receberão não define o futuro presidente.

Isso acontece porque, no país, ele não é escolhido de maneira direta, mas eleito por delegados que representam os Estados no Colégio Eleitoral.

Mas, afinal, quem são esses delegados?

Nos Estado Unidos, os eleitores escolhem o Colégio Eleitoral — o órgão conta com 538 delegados distribuídos entre todos os Estados e Washington D.C., segundo a população e o número de parlamentares de cada Estado (incluindo a Câmara dos Deputados e o Senado).

Na prática, isso significa que cada Estado tem um peso específico na eleição, como a Califórnia, que possui 55 delegados, enquanto um Estado menor como Washington tem apenas três.

Os delegados são representantes dos partidos, que enviam uma lista dos selecionados antes da eleição.

Eles "carregam" os votos de seu Estado no Colégio Eleitoral. Quando o eleitor vota, ele escolhe um candidato, mas, na verdade, está decidindo se o Colégio Eleitoral de seu Estado será composto por delegados republicanos ou democratas.

Por exemplo, se Trump vence o voto popular em um Estado, os delegados escolhidos pelo Partido Republicano serão os representantes daquele Estado, e o mesmo vale para os democratas, se Harris vence.

Após a contagem de votos em cada Estado, o candidato que somar 270 delegados entre os 538 possíveis vence a eleição.

Em 48 Estados e em Washington D.C., funciona o sistema de "the winner takes all" ("o vencedor leva tudo"), no qual o candidato mais votado ganha todos os delegados daquele Estado, independentemente da margem de vitória.

Ou seja, se um candidato vence, apenas os delegados de seu partido representarão o Estado no Colégio Eleitoral.

Esse sistema foi criado para equilibrar os interesses entre os Estados menos populosos do Sul e os mais populosos do Norte, unindo a escolha democrática do voto popular com a representação igualitária de cada Estado na escolha presidencial.

O sistema de Colégio Eleitoral foi criado como uma solução para acomodar tanto aqueles que queriam a saída da escolha via voto popular, quanto os interesses dos Estados do Sul — que, menos populosos, temiam sempre perder a Presidência para o Norte.

<><> Os delegados podem mudar de voto?

A votação do Colégio Eleitoral ocorre na capital de cada Estado entre meados de novembro e dezembro.

No entanto, geralmente, o novo presidente é anunciado no mesmo dia das eleições, durante a noite, após a apuração dos votos populares.

Isso porque, na prática, os delegados seguem a decisão da maioria em seus Estados, e após a contagem de votos, já é possível saber o resultado.

Segundo a Constituição dos Estados Unidos, os delegados não são obrigados a votar de acordo com a vontade dos cidadãos.

Em alguns Estados, eles são livres para apoiar o candidato que quiserem, enquanto em outros são obrigados a votar no candidato que prometeram apoiar.

Mas, por tradição, os delegados tendem a respeitar a decisão do voto popular e do seu partido.

Segundo o Serviço de Investigação do Congresso dos Estados Unidos, até agora os delegados que mudam de lado não conseguiram alterar o resultado de nenhuma eleição presidencial.

Em 2016, sete delegados — cinco democratas e dois republicanos — quebraram sua promessa de votar no candidato indicado pelo partido, o maior número já registrado na história. Eles votaram em candidatos que não estavam na cédula, mas isso não alterou o resultado.

Alguns Estados possuem leis que exigem que os delegados votem no candidato escolhido pela população nas urnas. Há desde substituições dos representantes a punições para quem não seguir o voto popular.

A questão sobre se os delegados poderiam mudar suas posições chegou até a Suprema Corte americana, que decidiu por unanimidade em julho de 2020 que os Estados podem exigir que os delegados cumpram a promessa de apoiar um candidato específico.

<><> É possível acontecer um empate?

Em uma disputa por 244 milhões de eleitores, é quase impossível que Harris e Trump empatem no voto popular. Mas como nos Estados Unidos a Presidência é definida pelo Colégio Eleitoral, os dois podem, sim, terminar empatados.

Cada um dos 50 Estados tem um número fixo de delegados no Colégio Eleitoral, e, na maioria dos Estados, o candidato que vencer no voto popular leva todos os delegados.

No entanto, Maine e Nebraska utilizam um sistema que permite a divisão dos delegados entre os candidatos, aumentando as possibilidades de um empate.

Por exemplo, se Kamala Harris vencer nos Estados tipicamente democratas e ganhar Estados decisivos como Wisconsin, Michigan, Arizona e Nevada, além de um delegado em Nebraska, mas perder na Geórgia e Pensilvânia, ambos os candidatos poderiam terminar com 269 delegados.

Este ano, há outras duas combinações possíveis que também resultariam em um empate.

Se Trump levar a Pensilvânia, a Geórgia e a Carolina do Norte, mas perder um distrito do Maine (a outra exceção que divide seus delegados), o resultado também é empate. Um terceiro caminho é se Trump ganhar o chamado "Cinturão da Ferrugem" e Nevada.

No entanto, essas combinações são improváveis porque Joe Biden venceu o segundo distrito de Nebraska por uma margem grande (6,5 p.p.), assim como Trump ganhou o segundo distrito do Maine por mais de 7 p.p.

Há precedentes de empates nas eleições americanas: em 1800, Thomas Jefferson e Aaron Burr empataram. A Câmara dos Deputados teve de intervir e elegeu Jefferson como presidente.

Em caso de empate hoje, a recém-empossada Câmara dos Deputados decide o presidente, enquanto o Senado escolhe o vice-presidente, ambos votando com base na maioria partidária de cada Casa.

Também é possível que um candidato presidencial ganhe o voto popular, mas perca no Colégio Eleitoral.

Isso aconteceu com o próprio Trump em 2016, que perdeu no voto popular para Hillary Clinton, mas conquistou o Colégio Eleitoral — e, portanto, a Presidência.

Embora seja raro, é possível: aconteceu cinco vezes nos Estados Unidos.

Tanto democratas quanto republicanos já foram beneficiados por esse método em diferentes anos eleitorais. Nos últimos pleitos, porém, a vantagem tem sido do Partido Republicano.

Em 2000, o republicano George W. Bush também foi eleito, apesar de ter perdido o voto popular para o democrata Al Gore.

<><> Como é a votação nos EUA

Semanas antes da eleição oficial, milhões de americanos já haviam votado, graças a uma característica do sistema eleitoral dos Estados Unidos: o voto antecipado.

Em quase todo o país, exceto em três Estados, os eleitores podem votar antes da data oficial, o que representa 97% do eleitorado.

Essa antecipação é possível porque, nos EUA, a maioria dos Estados oferece várias formas de votação. Em oito Estados, por exemplo, os eleitores podem enviar seus votos pelo correio, sem precisar comparecer a uma seção eleitoral.

Para quem for presencialmente, o sistema mais comum ainda é marcar a cédula manualmente, com caneta ou perfurador. Menos de 2% do eleitorado votará em urna eletrônica sem voto impresso, como é no Brasil.

Curiosamente, há uma década, cerca de 25% dos eleitores americanos usavam máquinas de votação.

Essa variedade de métodos existe porque, diferentemente do Brasil, não há um órgão federal centralizado responsável por organizar as eleições nem regras unificadas.

Nos EUA, o voto não é obrigatório, e cada Estado define as regras para votar e para contar os votos.

A contagem dos votos, inclusive, pode começar antes do dia da eleição, mas a divulgação dos resultados só ocorre após o fechamento das urnas em cada Estado.

Em alguns Estados, é crime vazar informações de contagem antes do fim da eleição.

 

¨      EUA não gostam e não aceitam a verdade sobre si mesmos, diz pai de Julian Assange

Os Estados Unidos não gostam e não aceitam a verdade sobre si mesmos, afirmou nesta segunda-feira (28) John Shipton, ativista australiano e pai do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, em entrevista à Sputnik.

Em julho, Assange foi libertado de uma prisão britânica após anos de encarceramento e retornou à Austrália depois de fechar acordo com as autoridades norte-americanas.

Segundo Shipton, Washington "tomou medidas muito severas contra Julian por publicar a verdade".

"E também prenderam Chelsea Manning por 35 anos. Já Edward Snowden precisou de asilo na Federação da Rússia. Então, é claro que eles realmente não aceitam que a verdade sobre si mesmos seja publicada. Eles não gostam da verdade sobre si mesmos", comentou o ativista sobre as ações de Washington.

No entanto, Shipton disse que o país tem "tantos problemas" que não deveria continuar se preocupando com o caso de Assange.

"Se estão preocupados com Julian Assange, então deveriam procurar um novo trabalho", aconselhou Shipton às autoridades dos EUA.

Mais cedo, Shipton declarou ainda que o país não pode mais construir nada por si mesmo, mas apenas prejudicar outras nações.

"Os EUA, por toda a minha vida, sempre foram um país que assume posições excessivas. Você tem corporações com poder excessivo e assim por diante. Então, sempre foi um lugar de turbulência e riqueza em minha vida. Não espero que seja diferente. Talvez o novo presidente seja capaz de reformar o país, mas acho que é uma tarefa gigantesca e monstruosa", disse Shipton, comentando suas expectativas para a próxima eleição presidencial dos EUA.

Shipton enfatizou que o governo ucraniano poderia colapsar a qualquer momento, enfatizando que as coisas podem sair do controle dos EUA.

"Você sabe, eles têm problemas reais. Acabei de ver Israel atacar o Irã no sábado [26] à noite. Na Ucrânia, o governo atual está vacilando e cairá a qualquer momento. Basta um pouco de vento forte soprar, e eles dirão: 'Nós nos rendemos'", disse ele.

 

Fonte: Sputnik Brasil/BBC News Brasil

 

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