São Paulo como laboratório das entranhas da
extrema-direita e dos novos intentos do bonapartismo judiciário
A ideia de uma
normalização do país com a entrada do governo Lula se sustentou por algum
tempo, até mesmo depois dos poucos meses de lua de mel. O governo enfiou goela
abaixo um arcabouço fiscal que ataca a saúde e a educação, um arrocho salarial
na greve das universidades e institutos federais e mesmo depois da catástrofe
ambiental no Rio Grande do Sul segue se vangloriando do Plano Safra que nunca
enriqueceu tanto o agronegócio. As coligações do PT com o PL de Bolsonaro em
mais de 80 cidades são também expressão disso. De normalização não havia nada,
mas se tratava de governar para os capitalistas seguirem lucrando através do
aumento da taxa de lucro advinda do suor da classe trabalhadora, o que só é
possível seguir de tal maneira com a manutenção das reformas aprovadas como
fruto do golpe institucional que tirou Dilma Rousseff do poder, e que Lula
nunca revogou apesar de já estar há um ano e meio no poder.
Porém, com um regime
político degradado que fez absolutamente todo o tipo de manobra autoritária
para superexplorar a classe trabalhadora e manter os lucros capitalistas, não é
possível nenhum tipo de normalização. A conciliação de classes que pratica a Frente
Ampla é uma ilusão e fortalece sempre os setores mais reacionários que vão nos
atacar. Desde o golpe institucional a bandeira da “defesa da democracia” sempre
foi uma defesa das instituições deste regime político degradado considerando
que este regime e suas instituições poderiam enfrentar a extrema-direita.
Porém, o suposto enfrentamento à extrema-direita foi sempre uma tentativa de
mão dupla: por um lado tentar incorporá-la, como parte das instituições e, por
outro lado, fortalecer os mecanismos autoritários e repressivos que, a qualquer
momento, pudessem novamente ser utilizados contra a classe trabalhadora.
É isto que explica a
localização de Tarcísio de Freitas como expressão máxima da extrema-direita que
“aceitou o jogo do regime político” jogando por dentro das instituições. Ele
não somente faz parte do regime, se utiliza das instituições para atacar a classe
trabalhadora, mas governa em base a um pacto com Lula que através do BNDES
financia as privatizações dos bastiões dos serviços públicos em São Paulo
enquanto o Republicanos, partido de Tarcísio, tem Ministério no governo de
Lula. Tarcísio está, ao mesmo tempo, lado a lado com Bolsonaro, que, para ele,
deveria ser o candidato à presidência em 2026. Este que, inelegível, precisa
agora fazer acordos com candidatos do centrão, como Ricardo Nunes, para
negociar sua liberdade para voltar a se eleger. São as consequências do pós 8
de janeiro, quando sua base mais radicalizada fracassou em radicalizar contra
este regime que estava fortalecido em seu autoritarismo.
Esta
institucionalização das alas da extrema-direita abre espaço para novos
fenômenos, também importados dos Estados Unidos, como Pablo Marçal e seu
empreendedorismo anti-operário para fazer os trabalhadores trabalharem até
morrer. Mas principalmente tenta reformular a maneira de fazer política
convencional para a qual nem essa extrema-direita institucionalizada estava
preparada, nem a Frente Ampla. Mas não nos enganamos. São distintos tons de
bolsonarismo que estão em jogo. Marçal e Nunes expressam as distintas
tonalidades dos que querem superexplorar, privatizar, terceirizar e acabar com
os direitos da classe trabalhadora, das mulheres, dos negros, indígenas e
LGBTs. A política de conciliação de classes só fortaleceu setores como eles.
Neste momento em que a
extrema-direita, dividida eleitoralmente, buscará se unificar em um ato pela
“liberdade” no próximo 7 de setembro, a Frente Ampla estará de mãos dadas com o
regime político e suas instituições como o STF, que atuaram há poucos anos
atrás pela prisão arbitrária de Lula e por inúmeras medidas arbitrárias e
aberrantes. Quando existe por parte da extrema-direita uma reação contra a
institucionalização de seus principais líderes, não vemos o mesmo no caso dos
setores da esquerda, deixando o discurso anti-sistêmico na boca de um “coach”
capitalista.
Para conter Pablo
Marçal, na medida em que ele parecer perigoso demais para o mercado financeiro
e para as instituições do regime político que pós-golpe institucional só querem
a extrema-direita domesticada, o regime se utiliza de mais autoritarismo judiciário.
Cada aplauso para as medidas autoritárias contra a extrema-direita fortalece as
instituições que amanhã estarão novamente arrebentando piquetes, descendo
cassetetes em professores, prendendo grevistas. Vão também querer banir redes
sociais da esquerda que se reivindica revolucionária com a falácia de que isso
é “em defesa da democracia”. Vão forjar novas Lava Jato. Todo este embate de
Alexandre de Moraes com medidas em relação a plataformas de redes sociais
somente aumentam o poder autoritário do judiciário a serviço dos interesses de
outra classe. Nenhum aplauso para o judiciário que nos ataca, recentemente
utilizado para declarar a greve dos servidores ambientais ilegal.
Ao mesmo tempo,
Ricardo Nunes quer aparecer como “supostamente moderado” frente a “extremos” já
que derrotaria ambos no segundo turno, quando na realidade como apontamos é
apenas mais um tom de bolsonarismo. Justamente o prefeito que está destruindo
São Paulo ao ajudar em todas as privatizações contra a classe trabalhadora e a
população, e que governará junto com Bolsonaro e Tarcísio. Bolsonaro, e seus
filhos, entre ataques e afagos, vão buscar o melhor caminho para se alçarem por
cima das eleições e manter sua “hegemonia” na extrema-direita tendo o 7 de
setembro, até o momento, como seu “trunfo”, mobilizando nas ruas.
Para enfrentar esses
inimigos, é no mínimo um erro grotesco, estar ao lado de golpistas que apoiaram
o principal empreendimento da direita no Brasil que foi o golpe institucional,
que abriu espaço para toda essa situação política. Mas vale relembrar que até
poucos meses a vice na chapa Boulos, Marta Suplicy, além de golpista, era
Secretária de Ricardo Nunes. Boulos não está somente ao lado dela, mas recrutou
para seu gabinete um coronel da Polícia Militar que era Comandante da Rota na
ocasião da chacina de Osasco e Barueri. Boulos considera que para derrotar essa
extrema-direita ele deve jogar o jogo dos capitalistas, responsável por novas
caras da extrema direita, nós consideramos que devemos apostar na força da
nossa classe e dos setores oprimidos. Não é à toa que tanto Boulos quanto
Tábata para atacar Marçal o chamam de bandido, mas nunca falam o que ele
defende efetivamente que é o “empreendedorismo” para superexplorar a classe
trabalhadora.
Contra todo o
bolsonarismo unificado em todo o país no próximo 7 de setembro, seria
fundamental as centrais sindicais saírem do modo eleitoral e organizarem uma
luta contra o programa ultra-neoliberal de Marçal, Bolsonaro, Nunes e Tarcísio.
Revogação imediata de todas as reformas: reforma trabalhista, reforma da
previdência, novo ensino médio, lei da terceirização irrestrita. Pela revogação
do arcabouço fiscal. Não ao Plano Safra que sustenta os incêndios criminosos,
plano de emergência já. Atendimento imediato das reivindicações das greves em
curso. Fim da terceirização e efetivação dos terceirizados, plenos direitos aos
entregadores e fim da uberização. Nenhum corte na educação e na saúde, mais
verbas para as universidades federais e estaduais seguindo o exemplo da luta da
UERJ. Um programa operário para atender as demandas da nossa classe.
• Marçal manda recados a Moraes e atiça o
Senado contra o STF. Por Moisés Mendes
Esqueçam as lacrações
que o próprio Pablo Marçal define como idiotas e prestem atenção no que
importa. O que interessa agora é que o sujeito se apresentou no Roda Viva como
candidato a protagonista do cenário nacional.
O ex-coach elevou o
padrão dos seus recados e ergueu o dedo, olhando para a câmera, na direção de
Alexandre de Moraes. Leiam o que ele disse, apenas parecendo que falava de
forma genérica contra o Supremo.
Vamos pôr em ordem a
sequência de lacrações, para facilitar o serviço. A primeira frase: “Por favor,
Congresso Nacional, se levantem”. A segunda: “O Supremo está muito político”.
A terceira: “Com todo
respeito aos 11 togados na Suprema Corte, esse é um recado meu pessoal para
vocês. Já passou essa onda. O Brasil precisa ser unificado, a gente precisa
baixar essa pressão”.
A quarta lacração:
“Não precisamos ter uma corte política. Vamos voltar a defender a suprema
carta, a nossa Constituição Federal de 1988. Ela precisa ser defendida por
vocês. Não precisa legislar nem atuar politicamente”.
A quinta lacrada, essa
dirigida ao Senado: “Faço aqui um clamor aos 81 senadores. Se o povo está
dizendo o que precisa ser feito, que vocês assumam aquilo que o povo tá
falando. Que vocês se levantem”.
Marçal fez as
lacrações depois de vacilar um pouco, diante das provocações da bancada de
jornalistas. Parecia não querer criticar Moraes. Aplicou alguns dribles, mas no
fim falou em direção à câmera dando recados ao ministro.
Não citou seu nome,
porque qualquer idiota entenderia, mas fez referências ao vazamento de
informações trocadas entre assessores de Moraes, no caso que a Folha tentou
transformar no escândalo do desrespeito aos ritos.
Queixou-se dos
prejuízos com a retirada do X do ar. E chegou a sugerir que o Conselho Nacional
de Justiça investigue o ministro, mesmo que o CNJ não tenha autoridade para
tanto.
O candidato do PRTB
disse três vezes que o Senado (citado uma vez como Congresso) precisa se
levantar e repetiu duas vezes que estava dando um recado direto aos ministros
do Supremo.
Não estava fazendo
alertas à mais alta corte do país na condição de coach, porque se nega a ser
definido como tal, mas como “jurista com cinco anos de academia” e como
educador.
O jurista Marçal
entrou na arena já lotada pelas matilhas que cercam Moraes, dando voltas que
pareciam direcionar seus ataques a todo o STF. Mas o alvo prioritário era
ululantemente Moraes.
Teve o cuidado de
amarrar as lacrações com o conselho ao Senado, para que ouça o povo, com o
detalhe da mão no ouvido. Um pedido feito na forma de clamor aos políticos que
têm o poder de dar encaminhamento ao impeachment de Moraes.
Marçal quer o
impeachment? Não, de jeito nenhum, porque disse já ter muitos inimigos e não
pode enfrentar o Supremo, não agora, mas mais adiante, como você verá ao final
desse texto.
Diante do
questionamento de Malu Gaspar, do Globo, se estava defendendo a cassação de
Moraes, esclareceu: “Quem defende o impeachment é o Senado”. Ele, de forma
alguma.
Foi também como
jurista que deu uma aula aos jornalistas, falando da cassação de Dilma Rousseff
pelo Congresso, para acentuar que um impeachment é um processo
“político-jurídico”.
Para encerrar, aí vai
a última lacração, com mais um dedo na cara de Moraes e do STF: “Daqui a 35
dias eu tô eleito prefeito da cidade de São Paulo, e aqui vou mandar um recado
para a suprema corte. Vamos fazer uma política diferente, não dá pra ser desse
jeito. Se não, a gente vai atrapalhar o crescimento desse país”.
Não precisa traduzir,
mas esse é o alerta: com o poder de prefeito de São Paulo, o ex-coach poderá
orientar o STF a não continuar agindo desse jeito. Porque seu projeto é
nacional.
Foi interrompido pela
mediadora Vera Magalhães e só assim parou de mandar recados já em tom de
ameaça. Se não tivesse sido alertado de que estava passando dos limites,
continuaria atacando. Até onde?
Foi esse um dos poucos
erros de condução da entrevista. O momento em que a mediadora tirou o embalo de
Marçal, que parecia caminhar em direção a um precipício. Carregando Bolsonaro
nos braços.
Fonte: Esquerda
Diário/Brasil 247
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