quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Ricardo Nêggo Tom: PT - Partido Teocrático

Depois de Lula ter sancionado o dia da pastora e do pastor evangélico, e do PT ter criado uma cartilha ensinando aos correligionários sobre como lidar com os evangélicos, o partido decide lançar uma série de vídeos com petistas evangélicos visando fortalecer as candidaturas municipais. Sob o título de “Testemunhos de fé e luta”, o projeto pretende conectar a ideologia do partido ao segmento religioso, mostrando aos fiéis que o partido dos trabalhadores tem tudo a ver com a fé evangélica e sua pauta segue os ensinamentos cristãos. Até concordaria com a associação, se a maioria dos evangélicos brasileiros seguissem, de fato, os ensinamentos de Cristo. Algo que, infelizmente, não ocorre.

É lamentável constatar que o maior partido político brasileiro esteja abrindo mão de suas raízes ideológicas por questões eleitoreiras, buscando se aliar ao imperialismo religioso e adaptando-se ao capitalismo do qual a igreja dita cristã passou a ser um de seus braços mais fortes. O apocalipse da esquerda se avizinha, e haverá choro e ranger de dentes quando o projeto de poder evangélico se estabelecer por completo na sociedade brasileira. Pode não parecer, mas ainda se faz necessário lembrar o que o binômio igreja-estado já provocou na história da humanidade. E agora estamos falando de uma igreja muito mais articulada politicamente, com a presença legítima de seus nefastos líderes nos parlamentos e nas cortes de justiça do país.

O Estado laico está cada vez mais sendo desrespeitado, e o retrocesso político e social é galopante. Tanto, que em pouco tempo poderemos estar nos referindo ao PT como um partido de direita e defensor do estado teocrático. O viés identitário grita nesses acenos do PT aos evangélicos. Há quem interessaria esta mudança? Estaria Lula pretendendo ser o líder do ecumenismo político brasileiro? Se for esta a sua intenção, está faltando acenar com a mesma vontade para outras religiões cujos adeptos também votam. Aliás, foram os adeptos das outras religiões e os não religiosos que o elegeram em 2022. A depender da maioria dos evangélicos, já estaríamos vivendo o nosso conto da Aia, tendo Bolsonaro como comandante, Damares Alves como a madre superiora das mulheres parideiras da nação e a bandeira nacional com a inscrição: “Segura na mão de Deus e vai”. Um slogan até atrativo, não fosse os interesses espúrios dos escolhidos pelo “deus” dessa corja fascista.

Ao invés de disputar o diálogo nas periferias, onde a igreja evangélica, a milícia e o tráfico já governam juntos em algumas comunidades, o PT e a esquerda preferem se render a este triunvirato quase institucional, fortalecendo o projeto de poder teocrático e ajudando a viabilizar a teologia do domínio na sociedade. Sem falar no aparelhamento que as igrejas vêm fazendo com as forças de segurança em alguns Estados. São Paulo é um exemplo, onde a Universal de Edir Macedo promove reuniões de aconselhamento espiritual para policiais militares, e as forças de segurança realizam atividades da corporação dentro das instalações da igreja. Estamos assistindo a um experimento social diabólico que destruirá por completo o tecido social brasileiro. A República Brasileira de Gilead é logo ali, liderada por extremistas religiosos sob a ideologia salvadora e redentora de todo pecado e corrupção que a esquerda produziu no país.

Eu já escrevi em outra oportunidade que o próximo golpe contra a democracia será evangélico e terá os militares apenas como força auxiliar do projeto de “restauração da pátria em nome de Deus” E será deflagrado numa “Marcha para Jesus” que, por coincidência, cairá no dia da pastora e do pastor evangélico. Não subestimem os roteiristas da realidade que muitos não querem ou fingem não enxergar. Há quem creia que o aumento do número de evangélicos no país, se deve ao fato de que as pessoas estão buscando a Deus. Não quero entrar no mérito pessoal da proposição, mas é importante considerar que a maioria esmagadora das pessoas que buscam uma igreja, o faz por algum tipo de necessidade ou carência social, pessoal, e, sobretudo, financeira. A teologia da prosperidade não teria seduzido tantos fiéis se eu estivesse errado.

Ninguém buscaria se converter a uma igreja evangélica se tudo estivesse indo bem, se tivesse emprego, se não faltasse comida na mesa, se o dinheiro estivesse dando para sobreviver dignamente, se a saúde estivesse em dia, se a educação fosse eficiente e libertadora, se a segurança fosse garantida, se a cultura e o lazer fossem acessíveis a todos ou se a justiça social fosse a norma diretriz da sociedade em que vivesse. Não que a igreja, embora prometa, possa lhes dar tudo isso, até porque, tem muita gente na igreja evangélica que não tem emprego, educação, saúde, segurança e, principalmente, dinheiro. Uma prova que o pecado a ser combatido é o capitalismo que produz desigualdade e favorece a uns poucos. Entre esses poucos, os empresários da fé, que aumentam o seu patrimônio a cada ovelha que passa a fazer parte do seu rebanho e a contribuir fielmente com o dízimo. O verdadeiro imposto do pecado.

Precisamos de mais politização e menos evangelização, para que as pessoas possam identificar por elas mesmas quais propostas políticas lhe proporcionariam ter vida plena e abundante. Fé em Deus, ainda que seja importante para o fortalecimento existencial e espiritual dos indivíduos, não é política pública e sem ações afirmativas não vai mudar a situação social daqueles que mais precisam. Os mais pobres são aqueles que mais depositam em Deus a esperança de terem uma vida melhor, e se isso não ocorre, é porque talvez Deus não possa estar acima de nação nenhuma, se os seres humanos responsáveis por as governar não estiverem alinhados, de fato, com a sua justiça e com o amor que ele tem igualmente para com todos. Olhem para os principais líderes evangélicos do Brasil e me digam qual deles tem esse compromisso com a sociedade?

Jesus Cristo não se preocupou em acenar aos poderosos e nem fez questão de número de seguidores. Seu ato de fé foi um testemunho político, inclusivo e revolucionário. Foi traído por muitos que o bajulavam e se aproveitavam de sua bondade. Foi crucificado e morreu defendendo a sua ideologia de combate ao projeto de poder político e religioso de sua época. Alguém precisa avisar a Lula que o servo não é maior do que o seu senhor. Se nem Cristo agradou a todos, porque ele acha que agradaria? Precisamos mesmo é do Lula do velho testamento do PT. Este sim, poderia nos trazer a salvação. Volta, Lula!

 

•        Política e vaidades. Por Inez Lemos

Infelizmente fazemos política com o melhor e o pior de nós. Deslizamos na esteira da condição humana junto aos sintomas, traços que adquirimos ao longo da vida - frustrações, ressentimentos, orgulho, inveja, ciúmes, vaidades, maledicência.

Como seria bom se antes, todos que se propõem a se candidatar a um cargo político, o fizessem após alguns anos de análise. Evitaríamos muitos crimes, assassinatos, corrupções, desastres ambientais, entre outras tragédias.

Há muito presenciamos brigas, disputas, puxadas de tapetes, traições entre partidos. Direita contra esquerda, normal. Mas há também esquerda contra outra ala dentro do mesmo partido. Quiçá de um partido contra outro do mesmo campo político.

E meio à guerra, temos a militância tentando compensar as falhas, suturar os buracos - fracassos. A hora é de tratarmos as feridas narcísicas e seguir ampliando o campo democrático popular.

Enquanto isso, a direita avança, ganha espaço e estabelece estratégias, pois a ela interessa apenas conquistar o poder para continuar defendendo seus interesses, sempre do Capital contra o Trabalho. O velho Marx deve estar em seu túmulo se destroçando de angústia.

Perdemos a prefeitura de BH, que era uma cidade petista, por conchavos - alianças para garantir voos mais altos. Depois, o governo de estado. Pimentel não consegue se reeleger, o lado contrário cruzou os braços. Em seguida veio o golpe da presidenta Dilma. Muitos de seu próprio partido apoiaram e contribuíram para sua derrubada.

Agora, o partido segue com poucos quadros, muitos envelheceram, outros tentam recuperar, se jogam e lutam para se imporem como novas lideranças. Mas é visível o distanciamento dos movimentos sociais. A população mais vulnerável, grande parte, foi cooptada pela teocracia. Baita pedra no caminho progressista.

Importante é assumirmos que o momento é de união da esquerda em torno de um mal maior. O fascismo bate à nossa porta. Temos que reforçar a proteção.

As alianças, muitas vezes, são mal necessário. Lula jamais gostaria de ter que se aliar com União Brasil, entre outros. Mas e aí, José?

Política se faz com a realidade que se impõe. Às vezes ela nos força a darmos os anéis para não perdermos os dedos. Dizem que não devemos cutucar a onça com a vara curta.

No momento, frente à eleição para a prefeitura em BH, há divergências contra o tamanho da vara que a esquerda construiu para enfrentar ameaças de duas onças que nos espreitam. Uns acreditavam que conseguiríamos delas nos livrarem aliando-nos apenas com o campo progressista, outros temiam e até sugeriram ampliar o leque. Agora, que fazer?

Recuo estratégico? Talvez.

Quem sabe Lula esteja se precavendo para 2026, ao evitar sua presença na campanha de Rogério Corrêa em BH. Ter que adular animais menos perigosos por medo do futuro. As feras estão soltas. Pode precisar do apoio do candidato do PSD, que tenta a reeleição.

 

•        Marçal, lulodependência, reconstrução do PT: a entrevista de José Dirceu a Mônica Bergamo

Repercute nas redes sociais uma entrevista em vídeo que o ex-ministro José Dirceu concedeu à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. Aqui destacamos três pontos sensíveis da entrevista que você precisa saber:

1- A PROJEÇÃO DE PABLO MARÇAL

Dirceu foi instado a comentar o fenômeno Pablo Marçal. Para Dirceu, o ex-coach tem condições de se projetar como liderança nacional, mas no momento é um problema maior para a direita e extrema-direita do que para a esquerda, porque Marçal, comum estilo diferente, divide o eleitorado bolsonarista.

“Essa direita que estamos vendo agora tem um elemento religioso neopetencostal, e tem um elemento incorporado pelas classes populares, que é o do liberalismo econômico, anti-Estado, anti-imposto, que Marçal representa bem.”

“Marçal é um problema para a extrem-direita mais do que para nós [da esquerda]. Ele vai dividir o bolsonarismo. Ele é jovem, veio da pobreza, conhece e viveu na periferia. Nada disso é Bolsonaro. Bolsonaro capiturou uma agenda religiosa e uma agenda da direita liberal, que apoiou ele. Bolsonaro era um sindicalista militar, só defendia a agenda militar e a Ditadura Militar, não tinha nada dessa linguagem que ele adotou que repete muito do trumpismo.O Marçal, não: ele é criação desse momento que estamos vivendo.”

“Marçal vai sair candidato a presidente. Ele não tem partido e vai ter que decidir se vai ser uma liderança sem partido ou vai ser adotado por algum.”

2 – LULODEPENDÊNCIA

Bergamo também tocou na entrevista em um ponto sensível para o PT: a aparente dificuldade de forjar e projetar lideranças nacionais como Lula. A jornalista chamou de “lulodependência”.

Dirceu respondeu que o PT está criando lideranças, e citou como exemplo o ministro da Fazenda Fernando Haddad, Rafael Fonteles no Piauí, Camilo Santana que está no governo. Para Dirceu, o PT ainda não consolidou novas lideranças com projeção nacional porque enfrentou desafios maiores, como ter passado os últimos anos sob repressão.

“Qual é a circunstância história dessa situação do PT? Nós passamos 7 anos reprimidos. Nós enfrentamos Mensalão e depois a Lava Jato, em que nós quase perdemos o registro do PT e Lula foi processado, condenado e preso. E não podíamos sair na rua com os simbolos do PT, fomos segregados socialmente. Isso tem um custo. (…) Nós erramos, mas o fato histórico é que houve repressão ao PT.”

3 – RECONSTRUÇÃO DO PT

Dirceu falou que Lula é candidato à reeleição em 2026 com chances de ganhar porque a economia brasileira vai crescer ainda mais, mas que o PT precisa aproveitar o ano que vem, quando haverá eleições para seus cargos internos, para renovar a direção e levar novas lideranças para a cúpula com a missão de “reconstruir” o partido.

“Quem tem representação nacional, base social e memória história dos trabalhadores que continuam voltando nas bandeiras progressistas, é o PT. Tem que reconstruir, como estamos reconstruindo o Brasil, o PT. Na minha opinião, é que o PT tem oportunidade, no ano que vem, de fazer um balanço dos últimos 20 anos, de eleger nova direção e se renovar. Por isso começamos a discutir uma nova candidatura de um líder do PT como o Edinho, que representa um pouco do momento que o PT está vivendo.”

“O que outros partidos de direita estão fazendo? Consolidando seus partidos com movimentos de mulheres, de jovens, com institutos de pensamento e pesquisa, formação política, com sedes. E nós precisamos voltar a fazer isso.”

 

Fonte: Brasil 247/Jornal GGN

 

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