Ricardo Mezavila: ‘Marçal, Datena e Mário
Gomes’
As campanhas políticas
são um suco heterogêneo com ingredientes que cada um traz na bagagem. Nunca, em
tempo algum, as campanhas foram majoritariamente baseadas em propostas
objetivas que a sociedade quer e precisa ouvir.
O que vimos no domingo
durante o debate para a prefeitura de São Paulo, na TV Cultura, foi uma
amostragem do que cada um tem a oferecer em estratégia para convencer o eleitor
de sua capacidade ‘administrativa’ para ocupar o cargo.
O candidato do PRTB,
Pablo Marçal, trouxe para a campanha sua experiência de manipulação,
conquistada de maneira criminosa, nas redes sociais, que lhe rendeu um processo
por estelionato.
Marçal foi preso
preventivamente e condenado por golpes bancários. De acordo com as
investigações, o influenciador fazia parte de uma organização criminosa,
capturando e-mails que eram utilizados pelos golpistas para enviar programas
maliciosos que roubavam dados das contas bancárias das vítimas.
O candidato do PSDB,
José Luís Datena, antigo apresentador de programas sensacionalistas, conhecido
por ‘combater’ criminosos, tem como estratégia apontar eventuais desvios de
conduta dos outros candidatos de maneira teatral, como se estivesse na mira das
câmeras no ‘indefectível’ Brasil Urgente.
Durante o debate,
Datena e Marçal protagonizaram a cena mais bizarra já vista em debates para a
prefeitura de São Paulo. Provocado exaustivamente por Marçal, o apresentador e
candidato, destemperado emocionalmente, agrediu Marçal com uma cadeira, após o ex-coach
lembrar de uma acusação de assédio sexual, arquivada, movida contra Datena.
O tempo fechou no
estúdio e o mediador do debate, o jornalista Leão Serva, recorreu ao lendário
apresentador de televisão das décadas de 1960 e 1970, Flávio Cavalcanti, e
pediu constrangido: “nossos comerciais, por favor!”
Saindo de São Paulo e
vindo para o Rio de Janeiro, o ator Mário Gomes, candidato a vereador pelo
Republicanos, que marcou a dramaturgia televisiva com personagens estilo
galã-carente, que recebia a empatia do público mesmo quando estava errado, que
foi vítima de uma campanha difamatória no auge da carreira, utiliza de seu
talento cênico para pedir um voto subliminar fazendo drama por conta do despejo
de sua mansão na Joatinga.
O imóvel foi leiloado
pela justiça para pagar dívidas trabalhistas e IPTU atrasados. O candidato vem
apelando para Bolsonaro, de quem é seguidor, com objetivo de chegar até
eleitores bolsonaristas compadecidos de sua situação.
De bravata em bravata,
os três citados aqui têm em comum o fato de nenhum deles apresentarem propostas
para os problemas que afetam diretamente a população.
• Fortuna de Marçal pode ter origem em R$
80 milhões roubados por quadrilha de golpes em bancos
A fortuna de mais de
R$ 200 milhões de Pablo Marçal (PRTB), que se aventurou na política e que
atualmente tumultua a disputa à prefeitura de São Paulo, pode ter origem nos
cerca de R$ 80 milhões roubados pela organização criminosa implodida em 2005
pela Polícia Federal (PF) e que tinha o ex-coach como um dos principais
integrantes.
Nascido em uma família
de classe média baixa de Goiânia, Marçal declarou um patrimônio de R$
193.503.058,17 ao registrar sua candidatura neste ano. No entanto, dias depois,
com a divulgação da omissão de bens e patrimônio, ele se retificou e afirmou
que seu patrimônio ultrapassa os R$ 200 milhões.
O valor é mais que o
dobro dos R$ 96.942.541,15 declarados por Marçal dois anos atrás, quando chegou
a se lançar à Presidência, mas acabou disputando uma cadeira na Câmara. A
candidatura, no entanto, foi indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No entanto, no livro
Pablo Marçal: a trajetória de um criminoso, lançado pelo jornalista Cristiano
Silva, do site Goiás 24 horas, uma fonte próxima de Marçal revela que a
meritocracia e as ferramentas de coach não são, necessariamente, o motivo de
ter transformado o menino goiano em um empresário milionário.
• Operação Pegasus
A fonte próxima a
Marçal, ouvida pelo jornalista, foi quem primeiro revelou ao próprio Cristiano
Silva que Marçal foi um dos investigados na megaoperação Pegasus, desencadeada
pela PF em agosto de 2005 para desmantelar a maior quadrilha de hackers do Brasil,
especializada em invasão de contas bancárias pela internet.
Na operação,
desencadeada em 27 de agosto de 2005, os agentes da PF cumpriram 126 mandados
de prisão expedidos pela Justiça de Goiás.
A quadrilha agia desde
2001 e havia desviado, até então, pelo menos R$ 80 milhões dando golpes em
correntistas de todos os bancos do país, segundo a investigação.
No livro, a fonte
levanta uma questão inédita, que foi confirmada por Cristiano Silva nos autos
do processo: onde estão os R$ 80 milhões desviados pela quadrilha que estariam
em um cofre?
"Apenas três
pessoas sabiam do local exato e da senha. O dono do negócio, pastor Danilo,
Pablo e uma terceira pessoa. Quando a casa caiu para todo mundo, um desses três
voltou para casa e continuou a vida sem cumprir a pena. Ele limpou o cofre e
ficou milionário da noite para o dia", conta a fonte no livro.
Marçal foi o único
membro da quadrilha que não chegou a ser preso - e se gaba até hoje por isso.
"Todo rico tem um
passado para contar sobre sua fortuna, até quem recebe herança tem o que
contar. Já observou que Pablo Marçal é um milionário sem passado? De repente,
rico, conselheiro do mundo, pai da sabedoria... Quem deu a ele o pote de ouro
ou a mala cheia de grana? Deus ou o capeta? Estranho, não? Como explicar a
fortuna dele e a desgraça dos outros?", indaga JP, como é identificada a
fonte pelo jornalista no livro.
Ao mudar seu domicílio
eleitoral para São Paulo, em 2022, Marçal já era conhecido no mundo dos coachs.
Mas, muito mais pelas gafes, do que pelo seu poder de persuasão e financeiro.
Em janeiro daquele
ano, o coach ocupou os noticiários ao colocar em risco de vida 32 pessoas que
levou para uma expedição sem guia no Pico dos Marins, na cidade de Piquete.
Meses depois, ele
registrou na Justiça Eleitoral o patrimônio de R$ 96.942.541,15 - R$ 16 milhões
a mais do que teria sido roubado pela quadrilha nos golpes em clientes de
bancos.
Dois anos depois e já
famoso pelas provocações e polêmicas nas redes, Marçal declara mais que o dobro
do patrimônio e se lança candidato por um partido, o PRTB, cujo presidente,
Leonardo Avalanche, e assessores estão envolvidos com figuras do PCC e com o
tráfico de drogas.
O livro de Cristiano
Silva lança luz sobre a "meritocracia" do ex-coach e dúvidas sobre a
origem de sua fortuna milionária. A obra sinaliza que muito além da política,
Marçal segue sendo um caso de polícia.
• Datena entra com notícia-crime contra
Marçal após ser chamado de “Jack”
O apresentador e
candidato à prefeitura de São Paulo, José Luiz Datena (PSDB), entrou nesta
terça-feira (17), na Justiça Eleitoral do Estado de São Paulo com uma
notícia-crime contra o ex-coach e adversário Pablo Marçal (PRTB) por calúnia e
difamação. A ofensa, segundo a peça assinada pelos advogados de Datena, se
refere às acusações de assédio sexual contra o apresentador que foram
arquivadas.
Durante o debate
promovido pela TV Cultura no último domingo (15), Marçal chamou Datena de
“Jack”, uma gíria usada em presídios para designar presos por estupro. O
ex-coach se referia à acusação de assedio sexual contra o apresentador relatada
em 2018, pela repórter Bruna Drews.
O caso, de acordo com
Datena, "não foi investigada porque não havia provas" e acabou
arquivado pelo Ministério Público. A ofensa acabou provocando o destempero do
apresentador, que deu uma cadeirada em Marçal.
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"Ilegal, ardilosa, politiqueira e mesquinha"
A notícia-crime
assinada pelo criminalista Roberto Podval e mais seis advogados de José Luiz
Datena, diz que "a conduta de Pablo Marçal é manifestamente ilegal,
ardilosa, politiqueira e mesquinha, e deve ser banida pela Justiça Eleitoral,
tendo em vista se tratar de atitude que visa confundir o eleitor e manchar a
honra e a imagem de adversário".
A peça afirma também
que "os fatos aqui descritos configuram os crimes eleitorais de calúnia,
difamação e injúria, previstos nos artigos 324, 325 e 326 do Código
Eleitoral". O documento foi protocolado à 00:36 desta terça-feira (17).
• Datena sobre cadeirada em Marçal:
"Espero ter lavado a alma de milhões de pessoas"
O apresentador José
Luiz Datena, candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, divulgou na noite de
segunda-feira (16) uma nota em que diz não se arrepender da agressão física que
praticou contra Pablo Marçal (PRTB), seu adversário na eleição municipal, durante
debate promovido pela TV Cultura no último domingo (15).
Datena deu uma
cadeirada em Marçal após ser provocado pelo coach, que havia mencionado uma
denúncia de assédio contra o apresentador – arquivada por falta de provas – que
teria levado sua sogra à morte. Após o ocorrido, Marçal passou foi internado e
passou a "fazer cena" nas redes, fingindo que seu estado de saúde
seria pior do que realmente era e até mesmo sugerindo que foi alvo de uma
tentativa de homicídio.
Em sua nota oficial
sobre o assunto, Datena afirma que errou ao agredir Marçal, mas que repetiria o
gesto diante da "ameaça" que o coach de extrema direita representa.
"Não defendo o
uso da violência para resolver um conflito. Essa é a regra e sempre a respeitei
nos meus 67 anos de vida. Até o dia de ontem. Porque torna-se difícil
obedecê-la quando os limites de civilidade são rompidos e corrompidos por um
oponente. Infelizmente, foi o que aconteceu na noite deste domingo durante
debate promovido pela TV Cultura. Pablo Marçal demonstrou, em todas as
situações a que teve oportunidade, sua falta de caráter. Demonstrou, ainda, que
é uma ameaça à cidade de São Paulo. Será detido no voto. Mas, a despeito disso,
precisava também ser contido com atos. Foi o que eu fiz", escreveu o
candidato do PSDB.
Segundo Datena, Marçal
fez acusações graves e "absolutamente falsas" contra ele,
"usando linguagem de marginais" e ferindo sua honra e a de sua
família. O apresentador diz que errou, mas que não se arrepende "de forma
alguma" do gesto.
"Espero ter
lavado a alma de milhões de pessoas que não aguentavam mais ver a cidade
tratada com tanto desprezo e desamor por alguém que se propõe a governá-la, mas
que quer mesmo é saqueá-la, de braços dados com o crime organizado",
emendou.
Por fim, José Luiz
Datena anunciou que não desistirá de sua candidatura à prefeitura de São Paulo
"para defender a nossa democracia ameaçada por figuras como Pablo Marçal
que querem o obscurantismo e não o bem da cidade e de sua população".
• Internet reagiu com felicidade à
agressão, diz levantamento
De maneira inusitada e
inesperada, um levantamento feito pela agência Latam Intersect apontou que as
redes sociais reagiram, em sua maioria, com “felicidade” à cadeirada desferida
por José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB).
O fato ocorrido na
noite do último domingo (15), durante o debate entre os candidatos à prefeitura
de São Paulo promovido pela TV Cultura, mobilizou tanto as manchetes quantos as
redes sociais.
Segundo a Latam
Intersect, internautas expressaram “felicidade” com a cadeirada em 74% dos
posts do Instagram, 34% do Facebook e 30% do TikTok. A emoção seguinte mais
presente foi a de “tristeza”: 19% no Facebook, 18% no TikTok e 6% no Instagram.
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Exagero no personagem
Para Edgard Piccino,
analista de dados da Fórum, "as reações nas redes sociais demonstram que o
Marçal talvez tenha exagerado muito no personagem, o que atraiu diversos fãs,
mas atraiu muita repulsa pela sua pessoa”.
De acordo com Piccino,
“estes dados nos mostram que grande parte do seu engajamento real é negativo,
de pessoas que se revoltam contra sua postura. Estas pessoas que enxergam
Marçal como uma figura abjeta, sentiram satisfação no ato lamentável da cadeirada
desferida pelo Datena. De maneira triste, o ato extremo foi visto por muitos
como um ato humano".
Fonte: Jornal
GGN/Fórum
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