segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Quanto apoio o Hezbollah tem no Líbano?

guerra entre o Hezbollah e Israel acontece no contexto de profundas divisões no Líbano sobre o papel do partido xiita. Elas são anteriores à decisão tomada em 8 de outubro de lançar ataques contra posições militares israelenses em apoio a Gaza.

Mas as divisões não podem ser facilmente reduzidas a uma clara ruptura entre os que são a favor e os que são contra o Hezbollah no Líbano.

Durante anos e anos, opiniões divergentes sobre o Hezbollah estiveram no centro de quase todas as discussões políticas do país.

Estar com o Hezbollah ou contra ele era um ponto-chave nas conversas públicas e privadas, em um país que desfruta de um elevado grau de liberdade de opinião e de expressão, especialmente em comparação com o resto da região.

Não consigo me lembrar, como libanês, do número de debates acalorados sobre o Hezbollah, sua influência política e seu arsenal militar, que presenciei ao longo dos anos.

·        Diferentes perspectivas

Há muitos aspectos a serem considerados ao definir as posições das pessoas em relação ao grupo militar mais poderoso do país — e também um de seus atores políticos mais proeminentes.

O Líbano é um país multissectário em que a identidade religiosa tem forte impacto na política das pessoas.

Muitos dos apoiadores do Hezbollah são muçulmanos xiitas, e um grande número de seus críticos e oponentes são pessoas não xiitas, incluindo muçulmanos sunitas e cristãos.

Mas isso só é verdade até certo ponto.

Há grupos importantes com diferentes afiliações religiosas e ideológicas que se opõem totalmente ao Hezbollah.

A maioria deles considera o grupo como um representante do Irã, que dita se o Líbano está em guerra ou em paz — e enfraquece o governo do país. Eles pedem o desarmamento de seu poderoso exército.

Mas há também outros que discordam do Hezbollah em várias questões, mas apoiam que o frupo mantenha seu arsenal.

Até recentemente, um de seus principais aliados políticos era o então maior partido cristão, o Movimento Patriótico Livre (FPM, na sigla em inglês). Durante anos, os dois grupos tiveram um acordo pragmático de apoio mútuo.

Com o acordo, o FPM obteve um valioso aliado político xiita, enquanto o Hezbollah conquistou um aliado cristão que não pedia seu desarmamento imediato.

Embora o acordo tenha sido desfeito desde então, ele ilustra como diferentes grupos no Líbano podem criar alianças entre linhas religiosas.

·        Exército com poucos recursos

Enquanto alguns pedem o desarmamento do Hezbollah, outros apoiam mais o partido porque sua força de combate é muito poderosa.

A força militar do Hezbollah e a relativa fraqueza do Exército nacional do Líbano significam que muitas pessoas — inclusive aquelas fora da sua base principal — acreditam que é necessário que ele continue armado.

Israel invadiu o Líbano em 1982, ocupou o sul do país até 2000, e ainda ocupa parte dele.

O exército do Hezbollah é a única força no Líbano que tem sido eficaz no combate às forças israelenses.

O Exército libanês está mal armado e depende muito dos EUA e de outros países ocidentais para obter armas e munições, que estão obsoletas.

Diante desta situação, muitas pessoas no Líbano continuam a apoiar o Hezbollah na manutenção de sua força de combate — embora, em geral, não simpatizem com o partido.

·        A 'frente solidária'

A já complexa rede de solidariedade, antagonismo e alianças no Líbano pode mudar ainda mais durante uma crise, como as trocas de disparos na fronteira com Israel que se intensificaram nos últimos dias.

Nesta situação, muitas pessoas deixam suas diferenças de lado.

Mesmo muita gente que criticou a decisão do Hezbollah de lançar ataques contra Israel em apoio a Gaza, e acusou o grupo de arrastar o país para uma crise dispendiosa, demonstrou solidariedade às vítimas dos recentes ataques com pagers e walkie-talkies que tiveram como alvo seus membros.

O ataque em massa — no qual milhares de pessoas foram mutiladas, feridas e mortas em decorrência da explosão de seus dispositivos de comunicação sem fio — foi amplamente atribuído a Israel, embora o país não tenha assumido a responsabilidade.

Esta solidariedade só aumentou após o lançamento de uma intensa campanha aérea israelense no sul do Líbano e no vale do Bekaa, acompanhada pelo ataque a Dahiyeh, um subúrbio ao sul de Beirute bastante populoso.

Os bombardeios levaram à morte de civis — entre eles, muitas crianças — e ao desalojamento de muitas pessoas.

"Havia uma solidariedade natural", afirmou Jamil Mouawad, professor de ciências políticas da Universidade Americana de Beirute.

"Está claro para mim que há um sentimento anti-Israel generalizado no país, mesmo entre os grupos que são contra o Hezbollah."

"Muitas pessoas estão dizendo que as divisões devem ser deixadas de lado no momento. Este não é um ponto de vista ideológico ou político, mas é ético em função das atrocidades que Israel vem cometendo", acrescentou.

Mas as divisões em relação ao Hezbollah continuam significativas — e Israel parece estar tentando alimentá-las.

Enquanto os caças israelenses bombardeavam cidades libanesas no sul e no Vale do Bekaa, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse em uma mensagem ao povo libanês:

"A guerra de Israel não é com vocês. É com o Hezbollah."

A quantidade de apoio que o Hezbollah consegue manter no Líbano pode ser um fator importante para determinar se a crise na fronteira vai se agravar ou dissipar.

¨      Sob vaias, delegações abandonam plenário na Assembleia Geral da ONU em discurso de Netanyahu

O primeiro-ministro de Israel subiu ao palco da Assembleia Geral da ONU nesta sexta-feira (27). Benjamin Netanyahu discursou em meio à escalada da guerra contra o Hezbollah que, em apenas uma semana, já matou 700 pessoas no Líbano.

Quando o premiê foi chamado para discursar na 79ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, que teve início em 10 de setembro, dezenas de membros de delegações abandonaram o plenário das Nações Unidas, houve aplausos e vaias. O presidente da sessão teve de pedir silêncio.

Em seu discurso, Netanyahu jogou no Irã a culpa pelo conflito simultâneo na Faixa de Gaza e no Líbano. A delegação iraniana saiu do plenário quando o premiê começou a discursar, a brasileira também.

"Enquanto o Hezbollah escolher o caminho da guerra, Israel não terá escolha, e Israel tem todo o direito de remover essa ameaça e devolver nossos cidadãos às suas casas em segurança [...] não há lugar no Irã que o longo braço de Israel não possa alcançar. E isso é verdade para todo o Oriente Médio. Longe de serem cordeiros levados ao matadouro, os soldados israelenses lutaram com uma coragem incrível", afirmou o primeiro-ministro.

Netanyahu também declarou que "tenho outra mensagem para esta assembleia e para o mundo fora deste salão: estamos vencendo. [...] Continuaremos degradando o Hezbollah até que todos os nossos objetivos sejam alcançados", disse ele à assembleia.

O primeiro-ministro israelense também pediu uma ação mais dura sobre o programa nuclear do Irã, incluindo o retorno das sanções da ONU, que foram suspensas em 2015 sob um acordo nuclear com as principais potências mundiais.

"Peço ao Conselho de Segurança que revogue as sanções do Conselho de Segurança da ONU contra o Irã, porque todos nós devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir que o Irã nunca obtenha armas nucleares", disse.

De acordo com a Reuters, os dois oradores da Assembleia Geral, diante de Netanyahu, bateram no púlpito enquanto falavam. O primeiro-ministro da Eslovênia, Robert Golob, exigiu: "Sr. Netanyahu, pare com esta guerra agora."

O primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, disse: "Devemos agir agora e exigir o fim imediato deste derramamento de sangue."

Ainda durante o discurso, ele citou a presença no salão de familiares de reféns capturados pelo Hamas em 7 de outubro.

Desde então, o Exército israelense destruiu áreas do enclave palestino sitiado, expulsando quase todos os 2,3 milhões de habitantes de suas casas, causando fome e doenças mortais e matando mais de 41.500 pessoas, de acordo com autoridades de saúde palestinas.

¨      Arábia Saudita anuncia aliança global com UE para pressionar por solução de 2 Estados em Gaza

A Arábia Saudita formou uma aliança global para pressionar a solução de dois Estados em Gaza, anunciou o chanceler saudita durante a Assembleia Geral das Nações Unidas na quinta-feira (26). O chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, disse que as primeiras reuniões seriam em Riad e Bruxelas.

A aliança inclui vários países árabes e muçulmanos e parceiros europeus, informou a agência de notícias estatal saudita, sem especificar quais países se comprometeram a aderir.

"Implementar a solução de dois Estados é a melhor solução para quebrar o ciclo de conflito e sofrimento e impor uma nova realidade na qual toda a região, incluindo Israel, desfrute de segurança e coexistência", disse o chanceler Faisal bin Farhan al-Saud, segundo a Reuters.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell disse em sua conta no X (antigo Twitter) que "reunimos um grande número de membros da ONU para lançar uma aliança global para a implementação da solução de dois Estados. Realizaremos as primeiras reuniões de acompanhamento em Riad e Bruxelas".

No entanto, o governo israelense já sinalizou diversas vezes que tal solução é rejeitada veementemente por Tel Aviv.

Após a erupção da guerra na Faixa de Gaza em outubro passado, a Arábia Saudita congelou os planos apoiados pelos Estados Unidos para o reino normalizar os laços com Israel.

O príncipe herdeiro saudita e primeiro-ministro, Mohammed bin Salman, disse na semana passada que o reino não reconheceria Israel sem um Estado palestino e condenou veementemente os "crimes da ocupação israelense" contra o povo palestino.

A ofensiva militar em Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro, a qual continua em curso, deixou mais de 41.500 palestinos mortos, de acordo com autoridades da saúde do enclave. Do lado israelense, foram 1.200 pessoas mortas.

¨      Trump anuncia encontro com Zelensky e possível acordo com Irã: 'Consequências são impossíveis'

O ex-presidente e candidato Donald Trump disse que se encontraria com Vladimir Zelensky nesta sexta-feira (27), depois de criticá-lo durante a campanha eleitoral nos Estados Unidos e expressar dúvidas sobre a capacidade ucraniana de vencer o conflito.

Trump, o candidato republicano na eleição presidencial de 5 de novembro, fez o anúncio na quinta-feira (26), poucas horas após o presidente democrata Joe Biden anunciar mais de US$ 8 bilhões (R$ 43,5 bilhões) em nova ajuda militar para Kiev, segundo a CNN.

Durante uma coletiva de imprensa, o ex-presidente repetiu suas alegações de que poderia negociar rapidamente um acordo entre Rússia e Ucrânia se derrotasse a vice-presidente de Biden, Kamala Harris, candidata democrata na disputa pela Casa Branca.

"O presidente Zelensky pediu para se encontrar comigo, e eu me encontrarei com ele amanhã [27] de manhã por volta das 09h45 na Trump Tower", afirmou.

Questionado por um repórter se Kiev teria que abrir mão de algum território para chegar a um acordo de paz com Moscou, Trump não descartou.

"Vamos ver o que acontece", declarou o ex-presidente.

Trump também comentou a ideia de fazer um acordo com o Irã a fim de acabar com as hostilidades se ele for eleito presidente.

"Eu faria isso", afirmou, sem oferecer detalhes sobre que tipo de acordo estava falando. "Temos que fazer um acordo, porque as consequências são impossíveis. Temos que fazer um acordo", reafirmou o presidente, citado pelo The Times of Israel.

Foi sob a gestão do ex-presidente que Washington saiu do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), pacto no qual as principais potências mundiais concederiam alívio às sanções contra Teerã em troca de limites em seu programa de armas. Após a saída norte-americana, o Irã voltou a enriquecer urânio.

¨      Chanceler russo e secretário-geral da ONU conversam sobre situação no Oriente Médio

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, e o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, discutiram nesta quinta-feira (26) a situação no Oriente Médio e o temor de uma guerra total na região, informou a pasta em comunicado.

Lavrov e Guterres realizaram uma reunião bilateral após a 79ª sessão da Assembleia Geral em Nova York.

"A situação geopolítica atual e as tendências emergentes estão sendo analisadas. Os problemas mais urgentes da agenda internacional, incluindo a situação no Oriente Médio e na zona do conflito palestino-israelense, estão sendo examinados", destaca o comunicado.

Além disso, o ministro russo reiterou a importância de que os líderes e todos os funcionários da ONU respeitem rigorosamente os princípios de imparcialidade e equidistância, inclusive em relação aos crimes de Kiev.

De acordo com a nota, Lavrov pediu a Guterres que impeça que os representantes das estruturas da ONU "sejam arrastados para iniciativas politizadas de pseudo-paz no contexto da crise ucraniana".

Além disso, o diplomata russo chamou a atenção do secretário-geral para as contínuas violações por parte dos Estados Unidos de suas obrigações sob o acordo que criou as Nações Unidas em 1947.

"Lavrov ressaltou que a situação atual exige que Guterres inicie o mais rápido possível um procedimento de arbitragem contra os EUA, como foi declarado repetidamente nas resoluções pertinentes da Assembleia Geral da ONU", afirma o texto.

Entre outras coisas, ambas as partes expressaram o desejo de fortalecer ainda mais a interação construtiva entre Rússia e ONU e confirmaram o compromisso mútuo com o papel central de coordenação da entidade em assuntos globais.

Como o ministério descreveu anteriormente, um dos fatores determinantes na situação internacional continua a ser a crise em torno da Ucrânia, que o Ocidente usa como um "aríete" contra a Rússia.

A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, informou antes da Assembleia Geral que a principal tarefa da delegação russa será "restaurar e fortalecer o papel da ONU como garantia da segurança regional e global, promovendo a iniciativa de construção de uma arquitetura de segurança eurasiana, contrariando as intenções neocoloniais dos ocidentais".

 

Fonte: BBC News Arabic em Beirute/Sputnik Brasil

 

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