segunda-feira, 2 de setembro de 2024

'Pesadelos da OMS': conheça quatro vírus mais letais que a Mpox

Conhecida anteriormente como "varíola dos macacos", a Mpox tem ganhado destaque no noticiário após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretá-la como uma emergência de saúde de interesse internacional.

O surgimento de um novo tipo, mais contagioso, chamado cientificamente de clado 1b, fez os casos de Mpox explodirem em países da África Central. Infecções também foram registradas na Tailândia e na Suécia.

De acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, o clado 1b pode ter uma taxa de letalidade que chega a 10% de todas as infecções, enquanto para o clado 2, que originou o surto de Mpox no Brasil em 2022, a taxa é menor do que 1%.

A Mpox merece atenção e cuidado da população, mas está longe de figurar entre os vírus mais perigosos da humanidade. Conheça alguns deles a seguir.

•        Raiva

O vírus da raiva vem do gênero Lyssavirus, da família Rabdoviridae, e causa uma doença infecciosa que afeta mamíferos, incluindo os seres humanos. Segundo Alexandre Naime, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp e coordenador Científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, o agente viral é transmitido através da mordida, arranhão ou lambida de um animal infectado, como morcegos, macacos e cães.

Quando entra no corpo, o vírus replica-se no local da ferida, atinge o sistema nervoso central e provoca uma inflamação aguda que pode chegar ao cérebro.

Naime afirma que, em casos não tratados e em pacientes não vacinados para a Raiva, a taxa de letalidade deste vírus beira os 100%. As medidas de prevenção para este vírus são conhecidas e envolvem a vacinação de animais e também de humanos que foram expostos a mordidas.

•        Ebola

A doença causada pelo vírus Ebola (DVE) afeta tanto seres humanos quanto outros mamíferos. O vírus é contraído, predominantemente, através de troca de fluídos corporais de pessoas já infectadas.

Os sintomas costumam surgir de duas a três semanas após a infecção, começando com febre, dor de garganta, dores musculares e cefaleia e são seguidos por vômitos, diarreia, erupções cutâneas e insuficiência hepática e renal. Nos estágios mais avançados, o paciente acometido pela DVE pode apresentar hemorragias internas e externa.

"A letalidade do Ebola varia muito, de acordo com o tipo de assistência médica que é ofertada aos pacientes infectados, podendo variar entre 25 a 90%", diz Naime. As primeiras vacinas para enfrentar o vírus Ebola foram disponibilizados em 2019.

•        Marburg

O vírus de Marburg (MARV) é o responsável por uma doença infecciosa que, se não tratada, pode causar a morte do paciente em 90% dos casos, alerta Naime.

Endêmico em regiões da África, o MARV pode ser contraído por humanos que estiveram em contato com morcegos infectados. Uma vez ocorrida a infecção, o vírus pode se propagar de uma pessoa para outra por meio de contato direto com sangue, secreções ou outros fluidos corporais.

Os pacientes do Marburg podem manifestar sintomas como náuseas, vômitos, dor no peito, dor de garganta, dor abdominal e diarreia. À medida que a doença progride, podem surgir sintomas graves, incluindo icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos), inflamação do pâncreas, perda de peso acentuada, hemorragias e falência de múltiplos órgãos.

Não existe uma vacina comercialmente disponível para prevenir a infecção pelo vírus Marburg.

•        Nipah

Batizado com o nome da vila da Malásia onde foi isolado, o Nipah foi identificado pela primeira vez em 1999. O patógeno pertence a classe dos paramixovírus, a mesma que inclui os vírus da caxumba e do sarampo, e pode ser encontrado em populações de morcegos na Ásia e na Austrália.

"Se tiver mutações que o tornem mais transmissível, vai ser um caos", avalia Júlio Croda, infectologista pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre o vírus Nipah, considerado por muitos especialistas o vírus mais preocupante da atualidade.

A transmissão do Nipah para seres humanos pode ocorrer através do contato com morcegos infectados, ou consumo de alimentos contaminados pelo animal. Há ainda casos registrados de infecção pelo vírus com animais de criação doméstica, como cães e gatos.

Uma vez contraída, a doença pode demorar de 4 a 14 dias até a aparição dos primeiros sintomas, informa a OMS. Nos estágios mais avançados, o paciente enfrenta problemas respiratórios e encefalite (inflamação no cérebro). "A taxa de mortalidade para pacientes com o vírus Nipah pode chegar a 75%", explica Naime.

Assim como ocorre para o Mardurg, não há vacinas produzidas para prevenir a doença associada ao vírus Nipah. Por ora, a única profilaxia da doença é "evitar o contato com fluidos de animais contaminados", conclui Alexandre Naime.

 

•        Cidade do Rio já registra mais de 3 mil notificações de Mpox; 1.266 pessoas estão com a doença

De 2022 até agora, 3.800 notificações de transmissão da Mpox (antiga varíola dos macacos) foram registrados na capital fluminense. Desse total, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), 1.266 casos estão confirmados. Só no mês de agosto, 7 novas ocorrências foram registradas.

A doença é causada por um vírus que tem como característica formar uma espécie de caroço pelo corpo e lesões pela pele.

De acordo com a SMS, o Rio está entre as capitais do país com maior número de casos de Mpox. Perde apenas para São Paulo. A pasta afirma que os locais com maior incidência da doença são: Zona Sul, Barra da Tijuca, Jacarepaguá e Centro.

Alguns cuidados básicos podem ajudar a conter a contaminação. Uma pessoa infectada transmite o vírus, principalmente pelo contato físico e prolongado.

Pele a pele ou também no contato com roupas de cama e toalhas contaminadas. E ainda pelas secreções respiratórias como tosse e espirro. Pessoas que mantem contatos íntimos com múltiplos parceiros correm mais risco.

Na maioria dos casos, a doença passa com o tempo, mas pode evoluir para situações mais graves em pessoas com baixa imunidade. De acordo com o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, a melhor forma de se proteger é se isolar e fazer acompanhamento médico.

"A gente sempre precisa identificar e isolar aquele paciente. É muito importante sempre lavar as mãos, principal fonte de transmissão da Mpox".

 

•        Alerta: variante do oropouche que causou surto no Norte chegou a mais estados e há novas mutações

Cientistas identificaram que a variante do vírus oropouche (OROV) responsável pelo surto de febre oropouche no Norte do Brasil já se espalhou para a Bahia, Espírito Santo e Santa Catarina.

No novo estudo, publicado na revista científica The Lancet, os pesquisadores do grupo Fleury e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) confirmaram ainda a existência de duas novas mutações, presentes nesses mesmos estados.

As alterações no genoma do vírus podem ter contribuído para sua propagação pelo País, para o aumento de casos e para as manifestações graves da doença, que causou as duas primeiras mortes do mundo em 2024.

Neste ano, o Brasil registrou mais de 7.800 casos de febre oropouche em 22 estados, segundo dados do Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde. Para comparação, em 2023, foram 831 casos da doença, todos em Estados da região Norte (Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima).

<><> Novo passo para entender o vírus

As informações do estudo complementam o que já indicava uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre o genoma do vírus que iniciou o surto de febre oropouche no Norte do País, em 2022.

Segundo a análise da Fiocruz, o aumento de casos foi causado por uma nova linhagem do OROV que surgiu no Amazonas entre 2010 e 2014 e se espalhou silenciosamente na última década.

Agora, a nova pesquisa mostra que essa mesma variante já chegou à Bahia, Espírito Santo e Santa Catarina, o que indica o avanço do vírus pelo País.

<><> Mutações

Os cientistas também encontraram novas mutações que datam do período entre 2023 e 2024, depois do início do surto. Isso indica que a disseminação do vírus nos últimos dois anos pode ter desencadeado alterações no seu genoma.

“À medida que o vírus vai sendo transmitido, mutações vão acontecendo”, diz Daniela Zauli, coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Fleury.

A pesquisa indica que o vírus passou por um rearranjo – alterações que impactam uma extensão maior de seu DNA. As evidências apontam que o OROV se rearranjou com dois outros microrganismos de sua família: o vírus Iquito e o PEDV, que circulam na Amazônia e têm potencial para infectar seres humanos.

“O vírus tem três pedacinhos. O que aconteceu em um dado momento é que dois ou até três vírus diferentes contaminaram a mesma célula. Na hora de empacotar um vírus novo, em vez de pegar os três segmentos do mesmo oropouche, eles pegaram um pedacinho dos outros vírus, que são parecidos”, explica o infectologista Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury não envolvido no estudo.

Essa troca com outros vírus pode acontecer eventualmente, de acordo com os especialistas. “Isso faz parte da evolução natural (dos vírus). A gente tem que ficar atento ao que essa evolução traz para os seres humanos”, diz Daniela.

Ela ressalta que não é possível afirmar se essas mutações estão relacionadas a casos graves de febre oropouche ou a mudanças na maneira como o vírus se propaga. Novos estudos devem investigar essas associações.

A febre oropouche é transmitida pelo inseto Culicoides paraenses conhecido como maruim ou mosquito-pólvora. “Quando você tem uma mutação, isso pode gerar a capacidade de ser transmitido por outros tipos de insetos”, afirma Granato. “Falando em hipótese, se esse vírus se adapta bem ao Aedes aegypti, por exemplo, isso é muito ruim porque é um mosquito mais difundido no País”, complementa.

Os especialistas enfatizam a importância de ampliar a testagem porque as amostras oferecem material de análise e permitem aos pesquisadores entender se as alterações do OROV demandam alterações nas medidas de prevenção da doença, por exemplo.

“Essa vigilância genética do vírus é importantíssima porque é através dela que vamos conhecer melhor como esse vírus está se comportando em um País como o Brasil, que é tão heterogêneo”, conclui Granato.

 

Fonte: g1/CNN Brasil

 

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