Nem descanso nem dietas milagrosas: 4 mitos
comuns sobre como combater a enxaqueca crônica
Duas em cada 100
pessoas sofrem de enxaqueca crônica em todo o mundo.
Essa enxaqueca é
definida como uma cefaleia primária (dor de cabeça não causada por outra doença
de base) com algumas peculiaridades.
Ela deve durar mais de
três meses, com 15 ou mais dias de dor de cabeça por mês.
Desses episódios, pelo
menos oito devem apresentar características de enxaqueca e atender a
determinados critérios: apresentar dor latejante (geralmente afetando um lado
da cabeça); náuseas e vômitos que acompanham a dor, e sensibilidade à luz e ao
som.
Esses sintomas afetam
a vida pessoal, a produtividade no trabalho, o lazer e o bem-estar.
É lógico que os
afetados buscam formas de conter seu sofrimento. Porém, devemos ter cuidado,
pois muitos mitos circulam em torno de supostas soluções que muitas vezes não
são respaldadas pela ciência.
• Mito 1: quando tenho enxaqueca, devo
ficar de repouso
Existe uma ideia de
que fazer exercício físico pode desencadear uma crise de enxaqueca ou piorar a
situação.
No entanto, vários
estudos demonstraram que a atividade física reduz o número, a intensidade e a
duração dos episódios.
É melhor combinar
exercícios aeróbicos (como natação, caminhada ou corrida) com exercícios de
força e seguir os seguintes cuidados:
• Hidrate-se adequadamente: embora sejam
necessárias mais pesquisas, foi observada uma associação entre hidratação
insuficiente e a ocorrência de crises de enxaqueca.
• Evite exercícios físicos em temperaturas
extremas: isto pode aumentar a desidratação e colocar o corpo num estado de
alarme que desencadeia uma nova crise.
• Não ultrapassar limites: cada pessoa
deve identificar os limites de tempo e intensidade após os quais seus sintomas
aparecem, para não ultrapassá-los.
<><> Mito
2: dietas 'milagrosas' fariam desaparecer a enxaqueca
Algumas dietas têm
sido amplamente divulgadas como se fossem antídotos eficazes contra enxaquecas,
mas não há embasamento científico para apoiá-las.
É o caso da dieta
cetogênica — rica em gordura e pobre em carboidratos — e dos cardápios com
baixo teor de sódio.
O que já foi, sim,
demonstrado é que determinados hábitos alimentares podem melhorar os sintomas e
até reduzir a frequência dos episódios. Entre eles, estão:
• Aumentar os alimentos ricos em ácidos
ômega-3 (peixes gordos, nozes, amêndoas, vegetais de folhas verdes...) e
reduzir o ômega-6 (que se consome em excesso em dietas ocidentais);
• Reduzir o consumo de açúcar, gorduras
saturadas e gorduras trans e, em geral, alimentos ultraprocessados;
• Restringir a ingestão de produtos ricos
em histamina como bebidas alcoólicas, laticínios, conservas, alimentos
fermentados, cerveja, pão, trigo, ovos, carnes processadas como salsichas,
espinafre, berinjela, tomate e chocolate.
Além disso, é
aconselhável não pular refeições, manter-se hidratado e moderar o consumo de
café para uma xícara ao dia, pois esta dose pode ter efeito analgésico.
• Mito 3: quanto mais dormir, melhor
Existem evidências
científicas de que o déficit de sono pode aumentar o número e a intensidade das
crises de enxaqueca.
Por sua vez, isso
piora a qualidade do descanso noturno, o que acaba criando um ciclo vicioso.
Algumas recomendações
para manter uma higiene do sono são:
• Crie rotinas para que o corpo fique mais
preparado para o descanso;
• Elimine o consumo de telas e luz azul
pelo menos uma hora antes de dormir;
• Jantar pelo menos 2h antes de dormir.
Desta forma, evita-se que o corpo faça a digestão e o deixa preparado para o
sono;
• A soneca de tarde não deve ultrapassar
30 minutos. Prolongá-la pode afetar o sono noturno;
• Embora seja importante praticar
exercícios físicos durante o dia, é aconselhável fazê-lo pelo menos 4h antes de
dormir.
• Mito 4: só remédios podem ajudar
Algumas soluções têm
por trás estudos científicos que comprovam sua utilidade.
É o caso da educação
terapêutica e da educação em dor crônica, que ajudam a compreender a dor
crônica e oferecem estratégias para lidar com ela.
Além disso, técnicas
de relaxamento como mindfulness, ioga e respiração profunda são capazes de
reduzir o estresse e, portanto, melhorar a qualidade de vida das pessoas com
enxaqueca.
De qualquer forma,
consultar um especialista e confiar em informações baseadas em evidências é
sempre a melhor estratégia.
Fonte: Por Paula
Cordova, Beatriz Carpallo e Daniel Sanjuán, para The Conversation
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