quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Lula enfrenta o bolsonarismo ambiental na encruzilhada da catástrofe climática que incendeia o país

Com 60% do território brasileiro neste momento sofrendo, direta ou indiretamente,  as consequências de queimadas ou incêndios florestais, o país vive, como definiu o ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino, uma situação absurda e inaceitável. "Temos que reconhecer que estamos vivenciando uma autêntica pandemia de incêndios florestais", disse Dino.

A analogia com a situação criada e as providências necessárias para combater o flagelo do coronavírus dão ideia da vastidão da tarefa que significa combater os milhares de focos de incêndio e adaptar o país a uma situação que se mostra permanente.

As condições climáticas no planeta ultrapassaram um umbral além do qual devem se agravar continuamente. Eventos extremos, como o das matas e campos que ardem, se sucedem.  Será necessário vigiar, evitar e eventualmente combater focos múltiplos. Será necessário flagrar criminosos incendiários, venham eles do bolsonarismo ou de práticas agrícolas retrógradas, para caçá-los e puni-los na forma da lei.

Como na pandemia, o bolsonarismo, agora climático, é assassino.

Ocorre que dessa vez os incêndios excederam muitas vezes os meios de seu controle. O Brasil bateu a marca de 180 mil focos de incêndio em 2024, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), totalizando mais de 224 mil km 2 de área queimada até o final de agosto – quase o tamanho do estado de São Paulo.

A capital do estado registra já há vários dias a pior qualidade do ar do planeta, segundo o sítio IQAir, que monitora 120 grandes cidades globais.

Não há como minimizar o fenômeno cujos contornos sugerem a aproximação de uma era apocalíptica se a humanidade não for capaz de reverter o aquecimento global com medidas à altura do desafio.

As queimadas preocupam mais se vistas na sucessão da catástrofe das chuvas torrenciais no Sul do país. Preocupam também se observadas em sua simultaneidade com secas que se repetem, cada vez mais duradouras, nos grandes rios da Amazônia, com a repercussão ambiental gigantesca que desencadeiam.

Em meio a esse cenário tão angustiante, há que se registrar que o Brasil tem em Lula um presidente que não se refugia no negacionismo climático.

Lula pretende usar 70 mil recrutas do Exército no combate aos incêndios.  Além disso, juntamente com a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, anunciou a criação da Autoridade Climática e de um Comitê Técnico-Científico para apoiar e articular as ações do governo federal de combate à mudança do clima.

O anúncio foi realizado após o presidente percorrer áreas afetadas pela seca e pelos incêndios no estado do Amazonas. Ali o Brasil vive a pior estiagem em 75 anos

O objetivo de Lula é estabelecer as condições para ampliar e acelerar as políticas públicas a partir do Plano Nacional de Enfrentamento aos Riscos Climáticos Extremos. O foco está justamente na adaptação e preparação para o enfrentamento a esses fenômenos. O objetivo da autoridade e do comitê, segundo Lula, é dar suporte e articular a implementação das ações do governo federal.

O presidente vai enviar Medida Provisória para estabelecer o estatuto jurídico da Emergência Climática, o que irá acelerar a aplicação de medidas de combate a eventos extremos. Para fazer valer essas medidas, será preciso enfrentar resistências ideológicas encarniçadas, como a da famigerada bancada ruralista aliada ao negacionismo no Congresso.

A dimensão das tarefas na extensão do Brasil é ciclópica. Será preciso acelerar mudanças em todos as esferas, alterando hábitos aferrados, substituindo prioridades e atendendo inéditas urgências. Repensar o sentido, a qualidade e os termos do progresso econômico não está fora de cogitação. A conivência criminosa de governadores e prefeitos bolsonaristas terá que ser exposta, responsabilizada e punida. Agora mais do que nunca, o clima é a prioridade. Não há outra opção.

•        “Modelo agroexportador vai transformar o Brasil em um deserto", alerta cientista

Durante sua participação no programa Giro das Onze da TV 247, o cientista do clima e professor da Universidade Estadual do Ceará, Alexandre Costa, fez duras críticas ao modelo agroexportador brasileiro e às práticas do agronegócio, especialmente no que tange às queimadas. Costa descreveu esse sistema como “um modelo de morte”, apontando que a pecuária extensiva e a produção voltada para exportação estão levando o Brasil ao limite ambiental.

“O modelo agroexportador é absolutamente insustentável”, afirmou Costa. Segundo ele, a combinação de pecuária e combustíveis fósseis está promovendo a destruição da biodiversidade e colocando o futuro do Brasil em risco. “O binômio pecuária e combustíveis fósseis vai tornar o Brasil – o território mais sócio-biodiverso do planeta – em deserto”, alertou o cientista, destacando a crescente perda de áreas nativas como o Cerrado.

Costa também apontou a contradição entre o discurso de produção agrícola e a realidade dos destinos dessa produção. “Ao invés de se produzir comida para as mesas das pessoas, produz-se o insumo que vai virar ração de suínos na China ou de frangos na Europa. Perdemos mais da metade do Cerrado para isso, por míseros dólares do agronegócio”, criticou o professor.

O cientista ainda ressaltou que as queimadas, prática comum para expansão de áreas agrícolas e pastagens, estão diretamente relacionadas com o aumento da poluição do ar e a escassez de chuvas, fatores que têm agravado a crise climática no Brasil. Nos últimos dias, várias cidades brasileiras atingiram níveis alarmantes de poluição, classificados como “perigosos” para a saúde humana.

Costa defende que é fundamental a busca por alternativas sustentáveis que garantam a preservação dos recursos naturais e a produção de alimentos voltada ao consumo interno, e não apenas ao lucro das exportações. 

•        "Não há contradição entre proteger o meio ambiente e desenvolver a economia", afirma Carlos Minc

Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o deputado estadual Carlos Minc, ex-ministro do Meio Ambiente, falou sobre a atual situação ambiental no Brasil, destacando as rápidas mudanças climáticas e a necessidade de ações preventivas coordenadas entre diferentes setores do governo. Segundo ele, o país enfrenta uma "combinação de causas naturais, efeitos climáticos produzidos por ações humanas, omissão, cumplicidade, imprevidência e até crime".

Minc destacou que "o clima está aquecendo muito mais rapidamente do que os próprios cientistas previam". Ele citou a recente fala do cientista Carlos Nobre, ressaltando que o fogo que atinge várias áreas no Brasil, "noventa e cinco por cento é em terras privadas", e criticou a falta de prevenção: "há 30 anos, isso tinha um efeito; agora tem outro, que é uma catástrofe total. Falta prevenção".

Ao abordar as modalidades de incêndios, Minc separou o uso ancestral do fogo no preparo da terra do que ele considera crime: "Hoje, botar fogo no meio da estiagem, com vento, é crime. Mas não é o mesmo crime do fazendeiro que mete fogo para suprimir uma área de proteção ambiental".

Ele também criticou a impunidade para crimes ambientais, afirmando que "os governos estaduais têm polícia, PM, bombeiros e defesa civil. Cadê os governos estaduais de Mato Grosso, Tocantins, São Paulo?", questionou, reforçando que o Exército e o Ibama também precisam estar mais presentes nas ações de controle.

Sobre os recursos disponíveis para a preservação ambiental e a possibilidade de desenvolver economicamente sem prejudicar o meio ambiente, Minc defendeu: "Nós não temos que abrir mão do crescimento. Temos que nos desenvolver de uma forma diferente". Ele destacou exemplos de pactos feitos com o setor de soja, que reduziram o desmatamento, afirmando que "não há contradição entre proteger e desenvolver". Minc finalizou enfatizando que "a questão não é crescer ou proteger, é como desenvolver, como fazer uma agricultura sustentável".

•        Marina Silva diz que Brasil vive 'terrorismo climático' e defende punição mais severa para quem provocar incêndio

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou neste sábado (14) que o Brasil enfrenta o que chamou de "terrorismo climático". Em um evento realizado em São Carlos, no interior de São Paulo, a ministra destacou a intensificação de queimadas ilegais que, segundo ela, estariam sendo provocadas de forma criminosa, agravando os efeitos das altas temperaturas e da baixa umidade no país.

Durante seu discurso, Marina Silva ressaltou que, embora o uso de fogo seja proibido em todo o território nacional, grupos estariam utilizando essas condições climáticas para incendiar florestas, causando danos à saúde da população e à biodiversidade. "Há uma aliança do crime com a emergência climática", afirmou a ministra.

Atualmente, a legislação prevê penas de um a quatro anos de prisão para crimes dessa natureza. No entanto, Marina Silva defende o aumento das punições. Ela informou que, até o momento, a Polícia Federal já abriu 50 inquéritos para investigar esses crimes e que medidas mais rigorosas estão sendo estudadas.

"É preciso intensificar as investigações e o trabalho de inteligência para identificar os responsáveis e suas motivações. A ampliação das penas está sendo analisada", afirmou a ministra.

 

•        A emergência climática foi nacionalizada. Por Tainá de Paula

As manchetes dos jornais não deixam qualquer sombra de dúvidas: estamos vivendo um dos períodos mais secos da história do Brasil. “Fumaça da Amazônia deixa SC em alerta de risco alto para baixa umidade do ar e calor de até 40°C”, “Calor no Rio Grande do Sul atingirá pico de intensidade com muita fumaça”, “Há 145 dias sem chuvas, BH deve fechar setembro ainda com estiagem” e, ainda assim, encontramos setores sociais que relutam em dizer que não existe essa “tal emergência climática”.

Lamentavelmente, essas vozes são muitas e insistentes, travando uma guerra virtual de narrativas, enquanto a fumaça de queimadas na Amazônia chegam ao Sul do país, levada por meio de eventos climáticos extremos. Para se ter uma ideia da gravidade do problema, basta atentar ao fato de que o estado de Santa Catarina tem uma temperatura média anual de 19º. Com os efeitos da seca, o calor no estado sulista pode chegar aos 40º.

No Rio Grande do Sul, depois das enchentes registradas no mês de maio deste ano, as temperaturas já chegaram aos 35,3º, na cidade de Santa Rosa, onde a temperatura média anual não passa de 20º. A Região Metropolitana de Belo Horizonte está há 145 dias sem chuva e enfrentando uma onda de focos de incêndio, em sua grande maioria, criminosos, provocados pelo homem.

Além disso, no Rio de Janeiro, registramos o mês de agosto mais quente da história da cidade desde o período pré-industrial, segundo dados do Climatempo. Outro dado relevante é que 1º de maio foi o dia mais quente do ano até agora, com o registro de uma temperatura de 37,6º e sensação térmica de 42º.

Todas essas informações revelam um componente alarmante e reforçam que as mudanças climáticas produzem danos perenes à saúde das populações mais atingidas. Nós sabemos exatamente quem são os mais afetados quando o assunto é mudança climática: pretos, pobres, moradores das periferias.

Para mudar esse panorama, precisamos de políticas públicas que adentrem as casas das pessoas que mais precisam de atenção, que não possuem um ar condicionado em casa, piscinas em seus condomínios de luxo ou sequer um umidificador de ar. Essas pessoas precisam de atenção e que os governantes olhem para elas não apenas em período eleitoral.

O clima não percebe mais onde é tropical ou semi-árido. A fumaça do Amazonas chegar a Santa Catarina e a seca em BH já não são novidades. Precisamos estar atentos a essas mudanças todos os dias.

 

Fonte: Brasil 247

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário