terça-feira, 3 de setembro de 2024

Jeferson Miola: Pablo Marçal e o fracasso da democracia em conter o fascismo

Pablo Marçal é um bufão encenando um espetáculo grotesco. Ele não age assim devido a algum defeito ou erro estratégico, mas executa um método muito bem estruturado.

Com isso, magnetiza as atenções para desviar o foco do problema essencial, que é a ameaça perigosa que ele e sua performance representam para a democracia.

A curiosidade geral em saber se Marçal ou Ricardo Nunes representará o campo extremista e conservador no segundo turno em São Paulo desfoca a atenção do problema central. A questão é muito mais séria e vital para a sobrevivência da democracia.

A candidatura de Pablo Marçal marca a intersecção orgânica do crime organizado e do fascismo com a política na maior e mais rica metrópole da América Latina.

O vínculo de “dirigentes controladores” do PRTB com o PCC é assunto que frequenta com naturalidade tanto rodas de bar como as páginas do noticiário.

Neste contexto, a aceitação do registro da candidatura de Marçal como formalidade cumprida, apesar da contestação judicial da antiga família controladora do Partido, que alega descumprimento de prazos estatutários, demonstra a inépcia da justiça eleitoral e do Ministério Público.

A manutenção da candidatura do Marçal, a despeito do cometimento de crimes eleitorais em série e da desobediência continuada de ordens judiciais coloca em dúvida a legalidade da eleição. As instituições, no entanto, se omitem, amedrontadas [e, em alguns casos, cúmplices] com a gritaria da extrema-direita que equipara direito de delinquir com liberdade de opinião.

Marçal foi ainda integrado com espantosa naturalidade nos debates e entrevistas das emissoras de rádio e televisão. Mesmo com a absoluta falta de representatividade do partido pelo qual ele concorre, o PRTB, que não tem nenhum representante na Câmara dos Deputados.

A Lei 9504/1997 desobriga veículos de comunicação incluírem em debates candidatos de partidos que não tenham pelo menos cinco deputados eleitorais. Mas, apesar disso, Marçal desfila solenemente nas telas e microfones da mídia tradicional, a partir da qual catapulta ainda mais o engajamento no esgoto das plataformas digitais.

Este fenômeno ficou comprovado em monitoramento da empresa Quaest Consultoria e Pesquisa, que mostrou que durante entrevista para a Globo News [26/8] Marçal alcançou o quádruplo de buscas [100 pontos] no Google Trends em relação a Guilherme Boulos [25 pontos], que no mesmo dia participou do Roda Viva.

Além do judiciário e da mídia, o establishment também naturaliza Pablo Marçal como algo aceitável no âmbito democrático. A Faria Lima já sinaliza afeição pelo chorume fascista, se esse for o “remédio” para derrotar Boulos.

Nenhuma novidade, considerando-se a natureza fétida dessas oligarquias dominantes que jogaram o país no precipício fascista-militar com Bolsonaro e que não hesitarão em repetir a dose com Marçal, mesmo conhecendo os riscos e ameaças que isso representa à democracia.

A naturalização e a normalização da candidatura de Pablo Marçal pela mídia, pelo judiciário e pela classe dominante confere ao bufão fascista o álibi de ter entrado no processo eleitoral pela porta da frente.

Com este álibi, Marçal percorre à risca o itinerário dos agentes fascistas: se entranha na institucionalidade democrática para depois agir como predador feroz e implacável.

 

•                                         "Pablo Marçal é produto do descrédito na política fomentado pela imprensa brasileira", afirma Marcos Coimbra

O cientista político e fundador do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, afirmou em entrevista ao Giro das Onze, da TV 247, que a ascensão do ex-coach Pablo Marçal (PRTB) como candidato do bolsonarismo à Prefeitura de São Paulo é uma consequência do processo de descrédito da política fomentado pela grande imprensa brasileira. Segundo Coimbra, o discurso de desconfiança em relação às instituições do Estado, promovido ao longo dos últimos anos, abriu espaço para o surgimento de figuras como Marçal.“Quem começou a transformar a política em algo tão inconfiável foi, basicamente, essa imprensa na grande guerra que moveram contra a esquerda no Brasil e que continua a mover”, afirmou Coimbra. O cientista político destacou o papel de veículos como a Folha de S.Paulo e o Estadão nesse processo, principalmente durante as eleições em São Paulo. Para ele, a guerra contra Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT), travada por esses meios de comunicação, ajudou a moldar o cenário em que figuras como Marçal ganharam relevância.

De acordo com Coimbra, Marçal não é um fenômeno isolado ou espontâneo, mas o resultado de como a política foi apresentada à sociedade nos últimos 15 a 20 anos. “Pablo Marçal é um produto do modo como ele foi apresentado à política e como a política foi apresentada à sociedade. Assim como foi forjado um palhaço como Sérgio Moro à frente da Lava Jato, o golpe contra Dilma... Foi isso que criou o Marçal", explicou Coimbra, referindo-se à atuação da mídia em episódios como a operação Lava Jato e o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff.

Coimbra também criticou a forma como a mídia plantou a ideia de que "nada presta" na política brasileira, levando eleitores a optarem por candidatos que, em outras circunstâncias, não teriam aceitação popular. "As pessoas não começaram a dizer que votariam nele porque são idiotas, mas sim porque passaram a acreditar que, se nada presta, qualquer coisa é válida", completou o cientista político, ao falar sobre Marçal.

•                                         “O fato mais trágico que ocorreu com o Brasil foi a naturalização do Bolsonaro e do fascismo”, diz Tarso Genro

O ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, fez duras críticas à forma como Jair Bolsonaro foi naturalizado no cenário político brasileiro. Em entrevista, Genro afirmou que "o fato mais trágico que ocorreu com o Brasil foi a naturalização do Bolsonaro como político normal". Ele atribuiu essa normalização tanto à grande imprensa quanto ao Superior Tribunal Federal na época.

Para Genro, a crise da democracia liberal está no centro das dificuldades enfrentadas pelo Brasil e por outras nações. Ele explicou que "nós temos que partir do princípio que a democracia liberal está esgotada", acrescentando que isso ocorre "por falta de democracia e não por excesso".

Apesar das críticas, Genro destacou que o Brasil tem dado respostas positivas à crise democrática. "Quando eu digo que a democracia está em crise, eu quero dar um ponto para o Brasil. Aqui temos dado uma resposta", afirmou.

O ex-governador também expressou otimismo em relação ao futuro do país, enfatizando o papel do atual governo na revitalização democrática. "O que vai determinar o sucesso da reforma da democracia é o governo Lula", declarou. Genro concluiu dizendo que "sou otimista porque temos um estadista na presidência da república".

 

•                                         "Sucesso de Lula não é garantia contra a ascensão de fascistas como Marçal", diz Mascaro

Em uma análise contundente sobre o cenário político brasileiro, o professor e jurista Alysson Mascaro alertou para os perigos que ainda rondam a democracia do país, mesmo com o sucesso do presidente Lula na área econômica em seu terceiro mandato. Em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, Mascaro destacou que o sucesso do atual governo não é uma garantia contra a ascensão de figuras autoritárias e populistas, como o candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal.

"Perdemos 15 anos de governos do PT sem politizar a sociedade", afirmou Mascaro, refletindo sobre a falta de engajamento político das massas durante os governos de esquerda. Segundo ele, essa despolitização abriu espaço para o surgimento de líderes como Jair Bolsonaro, Michel Temer e, agora, Pablo Marçal. "Se houvesse politização das massas, não haveria Bolsonaro, Temer nem Pablo Marçal", destacou.

A mais recente pesquisa da Quaest, encomendada pela TV Globo, revelou um cenário de empate técnico triplo na corrida pela Prefeitura de São Paulo, com Guilherme Boulos (Psol), Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB) liderando com 22%, 19% e 19% das intenções de voto, respectivamente. Mascaro vê essa ascensão de Marçal como um sintoma de um problema maior: "Pablo Marçal é uma figura do capitalismo. Desde que há capitalismo, surgem figuras assim. São pessoas que só dizem coisas ridículas."

O jurista traça um paralelo histórico, comparando Marçal a outros líderes populistas que emergiram em momentos de crise. "Hitler já era uma figura esdrúxula. Desde que há capitalismo, surgem esses personagens", afirmou, apontando que o sistema capitalista tem a capacidade de produzir esses tipos de lideranças sempre que necessário. "Quem produz figuras como Pablo Marçal é o capitalismo."

<><> Politização pela direita

Mascaro também criticou a comunicação do governo Lula, afirmando que, em um ano e meio de governo, já era necessário ter estabelecido uma nova estrutura que fosse capaz de combater a influência da direita e da extrema-direita. "A geração dos jovens brasileiros é majoritariamente de direita e de extrema-direita. Os políticos brasileiros hoje disputam para ver quem é mais de direita", lamentou.

Ele ainda ressaltou que, embora a juventude não esteja despolitizada, como muitos acreditam, ela está altamente politizada, mas por uma agenda de direita. "Estamos entrando no ano 15 de governos do PT e ainda não temos um projeto de mobilização", criticou Mascaro, enfatizando que o capital sempre tem um viés fascista, especialmente em momentos de crise. "O capital sempre é fascista. Só não é fascista quando não precisa. Ele sempre é potencialmente fascista."

Por fim, Mascaro fez um alerta quanto à situação internacional, especialmente em relação à Venezuela, afirmando que o mesmo argumento usado contra o governo venezuelano para não reconhecer a eleição de Nicolás Maduro pode ser aplicado contra o Brasil em um futuro próximo. "É óbvio que aconteceu algo que mudou o padrão brasileiro em relação à Venezuela. A única possibilidade possível é o constrangimento do imperialismo", alertou, concluindo que a luta contra o fascismo e a extrema-direita no Brasil ainda está longe de terminar. "O sucesso do presidente Lula no terceiro mandato não é uma garantia contra o fascismo", finalizou.

 

•                                         Banco criado pelo PCC movimentou R$8 bilhões para bancar campanhas políticas

A Polícia Civil de Mogi das Cruzes investiga um esquema criminoso que movimentou cerca de R$8 bilhões por meio de um “banco do crime” e mais 19 empresas para apoiar políticos em São Paulo, informa o UOL. As investigações apontaram que os valores eram movimentados por membros do PCC para financiar campanhas.

A investigação começou após a polícia ter acesso ao celular de Fabiana Lopes Manzini, esposa de Anderson Manzini, apontado como um antigo membro de organização que atuava em sequestros na região. Ela conversava com João Gabriel de Mello Yamazaki, responsável por passar orientações sobre quais candidaturas deveriam ser patrocinadas. Entre as cidades que tiveram políticos beneficiados, estão São José do Rio Preto, Campinas, Mogi das Cruzes, Santo André e Ubatuba.

O objetivo era se infiltrar por meio de contratos e licitações para o benefício da facção. Em Santo André, integrantes do grupo pretendiam apoiar a candidatura de Thiago Rocha, que atualmente ocupa o cargo de suplente a vereador. Já em Ubatuba, Yamazaki queria lançar uma irmã como candidata a vereadora.

Segundo Fabricio Intelizano, delegado da Polícia Civil de Mogi das Cruzes, o grupo tinha o interesse de aumentar sua influência em regiões portuárias. “O PCC tem demonstrado interesse em se infiltrar em Ubatuba. Com maior presença da polícia no porto de Santos, o crime organizado tem migrado suas atividades para São Sebastião, dada a proximidade com o Porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro, e pelo fato de ter aeroporto próprio”, disse.

 

•                                         'Tchutchuca do PCC': Nunes acorda e vai para cima de Marçal

“Tchutchuca do PCC”, é o novo apelido de Pablo Marçal (PRTB). Foi assim que o prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, chamou o ex-coach durante participação no debate MyNews/TV Gazeta, neste domingo (1º).

Nunes se exaltou depois que Marçal disse que o colocaria na cadeia caso fosse eleito. Uma investigação da Polícia Federal (PF), conhecida como “máfia das creches”, mostra que Nunes recebeu repasses de verbas municipais desviadas de unidades de ensino infantil de São Paulo quando ainda era vereador da cidade.

O debate teve início às 18h e é o quarto deste período eleitoral, terá duração de duas horas e está sendo transmitido ao vivo pela TV Gazeta, além dos canais do My News e do Jornal da Gazeta no YouTube.

Também participam do debate Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB), Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB).

Este é o primeiro debate na cidade desde o ocorrido em 19 de setembro, organizado pela revista "Veja", que contou com a participação de apenas três candidatos. A ausência de Nunes, Boulos e Datena no último encontro foi atribuída ao desconforto gerado pelas táticas de Pablo Marçal, que envolviam publicar vídeos editados com ataques aos adversários nas redes sociais.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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