sábado, 28 de setembro de 2024

Florestan Fernandes Jr.: Marçal e a corrosão da democracia

O candidato goiano à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, maneja como poucos aquilo que o cientista político Herbert A. Simon, Prêmio Nobel em 1978, chamava de economia da atenção. Para atrair a atenção, ampliar as visualizações, os engajamentos e clicks nas plataformas digitais, vale tudo: usar a violência verbal, mentir, enganar e prometer sucesso financeiro. Quanto maior o engajamento, maior o lucro de Pablo Marçal.

Fora das redes sociais, nos debates de televisão, ao desafiar Datena e receber uma cadeirada, ao ofender Ricardo Nunes e ser expulso com direito a cenas de pugilato, Marçal conseguiu o que queria: manter-se no centro das atenções. Suas bravatas nos debates e as lacrações em postagens na internet, ajudam o coach a se manter em evidência, garantindo um lugar no grupo de candidatos com chances de ir para o segundo turno na maior cidade do país.

Como sabemos, nas redes sociais não existem fronteiras geográficas ou sociais. Os seguidores pertencem a verdadeiras seitas ideológicas. Nesse universo distópico, onde as leis eleitorais não conseguem alcançar, fica fácil para os influenciadores terem sucesso em eleições para os mais diferentes cargos políticos da república. Por sua expertise no uso das redes sociais, Marçal não é hoje apenas uma ameaça a Bolsonaro, é uma ameaça concreta contra ao próprio Estado Democrático de Direito.

Marçal tem força própria junto ao eleitor de extrema direita, se comportando como um verdadeiro líder de sua seita, uma espécie de pastor de uma nova religião. Usa e abusa do nome de Deus para atrair seus seguidores e encorpar a horda de fanáticos que o incensam. Essa estratégia proporcionou autonomia ao coach, ao ponto de desprezar intermediações dos mercadores da fé, que se multiplicam nas mais diferentes igrejas do país.

Na terça-feira (24/9), a presidente do STF, condenou os repetidos episódios de violência na campanha eleitoral de São Paulo. Pediu rapidez nas punições e alertou que a Justiça eleitoral não deve, em hipótese nenhuma, tolerar casos de agressão. Disse a ministra Carmen Lúcia: “...estou encaminhando ofício à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal e aos presidentes dos tribunais regionais eleitorais, para que deem celeridade, efetividade e prioridade às funções que exercem de investigação, acusação e julgamento de todos os que cometem atos contrários ao direito eleitoral e que sejam agressivos à cidadania, casos de violência da mais variada deformação, que se vem repetindo durante esse processo eleitoral.”

Não tenho muita fé de que a Justiça eleitoral será mais ágil nas punições aos candidatos transgressores em suas campanhas eleitorais nas redes sociais. Principalmente por falta de regulamentação e de uma legislação específica para a internet. Estamos perdendo muito tempo para conter o avanço da extrema-direita e seu projeto de destruição do país. Vide a impunidade daqueles que chegaram ao poder se utilizando de mentiras, discursos de ódio e que ao perder a eleição de 2022 planejaram e colocaram em andamento uma tentativa de golpe de estado que fracassou em 8 de janeiro de 2022. É necessária uma ação dura e imediata contra a instrumentalização dessas plataformas sociais como instrumento de destruição do ambiente social e democrático. Coisa que não aconteceu em 2018, e deu no que deu.

 

¨      A EXTREMA DIREITA ENTRE NUNES E MARÇAL. Por Rafael Pepe Romano

Agora, depois da cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) no debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo na TV Cultura, o debate promovido pelo Flow podcast terminou em pancadaria, literalmente. 

A eleição em São Paulo certamente chama a atenção para o fato de que o grau de intolerância e violência atinge seu ápice desde a redemocratização. Ao mesmo tempo, a maioria dos eleitores também parece estar entendendo o risco que Marçal representa para a cidade mais importante da América do Sul, com um condenado na justiça por fraude e formação de quadrilha podendo sentar-se na cadeira de prefeito.

Isso sem considerar os indícios contundentes da ligação do seu partido com o PCC, além da ausência de respostas reais para enfrentar problemas complexos. Tudo isso se torna evidente em seu vômito de xingamentos e ressentimentos numa linguagem marginal. Não à toa, Marçal prega o 6 de outubro como o “dia da vingança”.

Nos principais tratados contemporâneos da Ciência Política, Marçal será classificado como um outsider que irrompeu em um mar de desilusões que inunda a nossa democracia, sempre mais ameaçada.

Marçal é, sobretudo, o produto do momento em que estamos vivendo. O discurso antissistema ao qual apela também apavorou o bolsonarismo, desvendando que Jair Bolsonaro é uma fraude substituível. A base da extrema direita está rachando, e aparecem outros elementos importantes a serem levados em conta nessa eleição: os que se rendem ao extremismo, sem abandonar as aparências da moderação.

<><> A escola da barbárie

Ricardo Nunes (MDB) é um prefeito muito ruim para não precisar de alucinados que atentam contra a democracia para conquistar a sua reeleição. O prefeito de São Paulo, ciente disso, procurou Jair Bolsonaro para apoiá-lo. Jair indicou o coronel da Rota, Ricardo Mello Araújo (PL), para a posição de vice na chapa, sacramentando a aliança.

Como disse o sociólogo Celso Rocha de Barros, um defensor de Nunes poderia dizer que até aí tudo bem. Bolsonaro ainda não está preso e, então, ele tem o direito amparado na Constituição para participar da vida política. A aliança seria natural porque Nunes é um candidato de direita e Bolsonaro é uma liderança de massas. Contudo, se Nunes fosse um prefeito competente e popular, poderia atrair eleitores da direita sem fazer concessões ao golpismo. Mas Nunes está longe disso, assim como está a uma distância oceânica do centro democrático.

As pesquisas indicam que Marçal pode ter chegado ao seu teto de crescimento, enquanto a sua rejeição cresce consistentemente. A poderosa máquina da administração municipal, o terceiro orçamento do Brasil, passou a favorecer Nunes, que não deve seu crescimento a Bolsonaro. Nunes cresceu apesar do entusiasmo bolsonarista por Pablo Marçal.

Além disso, a postura de Marçal como um sujeito que não se senta à mesa para comer com garfo e faca, passou a oferecer para Nunes uma credencial de moderado. Em outras palavras: já na cadeira de prefeito e domesticado à política tradicional, Nunes passou a ser visto como uma opção de voto útil contra a má-fé de Marçal. Assim, o coach serve de escudo ao obscuro Ricardo Nunes, que passou a não precisar se explicar sobre a sua gestão incompetente e duvidosa.

Se Nunes fosse um democrata, com a virada da tendência que indicaram as pesquisas, seria a hora dele se distanciar dos golpistas, certo? Afastá-los do segundo turno em São Paulo seria o triunfo da democracia. Ele fez todo o oposto.

Mesmo quando ele descobriu que não precisaria de Bolsonaro para conquistar sua reeleição, deu uma entrevista ao fora da lei Paulo Figueiredo, que participou ativamente da tentativa de golpe de Estado entre 2022 e 2023. Neto do ditador João Baptista Figueiredo, que morreu em 1999, ele foi um dos alvos da Operação Tempus Veritatis, que investiga a tentativa de arrematar um golpe de Estado no Brasil para manter Jair Bolsonaro na presidência.

A participação é bem documentada pela Polícia Federal: Figueiredo leu na rádio Jovem Pan o manifesto golpista de oficiais da ativa das Forças Armadas e usou a rádio para “denunciar” generais que não aderiram ao golpe.

Na conversa, Nunes admitiu a possibilidade de impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes e disse se arrepender de ter defendido a obrigatoriedade da vacina durante a pandemia. Defendendo criminosos, Nunes já havia dito que o 8 de janeiro não foi uma intentona golpista.

O curioso é que Marçal havia combinado uma conversa com o mesmo Figueiredo. Não aconteceu. A versão dos bolsonaristas é a de que Pablo disse preferir não falar sobre Alexandre de Moraes. O encontro minguou. Nunes, ao contrário de Marçal, fala.

<><> Em quem serve a pecha de extremista?

Vira e mexe o candidato Guilherme Boulos (PSOL) precisa esclarecer os contos mentirosos sobre a sua história militante. Boulos, assim como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto não tomaram e não tomam a casa de ninguém. Lutam pelo combate à fome e por direitos essenciais que estão na Constituição Cidadã de 1988: a moradia digna e a função social da propriedade.

Para Guilherme Boulos ficar tão longe do centro quanto Ricardo Nunes de 2024, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto já teria que ter, no mínimo, tentado explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília na véspera de Natal, como fez o bolsonarismo em 2022. Ainda, tentado abolir violentamente o Estado de direito democrático em 8 de janeiro de 2023. Quem, então, está fora da lei?

Antes de o debate do Flow podcast começar, Nunes e Marçal bateram boca aos gritos. O evento terminou com socos e sangue arrancado da cara entre os assessores dos candidatos. Palavras que fomentam a violência são atos de violência. E o que mais assusta é que Ricardo Nunes e Pablo Marçal guardam traços de delinquência em comum. A diferença é de escândalo: em um caso, fraude que tirava dinheiro de aposentados; no outro, fraude com as creches. Pablo Marçal e Ricardo Nunes são dois esquisitos que se ajudam com seus extremismos ameaçando a democracia.

 

¨      Marçal se complica ao tentar explicar mentira sobre carta de Trump

O candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, Pablo Marçal, tentou se justificar após ser desmentido por Donald Trump sobre um suposta carta que o ex-presidente dos Estados Unidos teria enviado a ele após levar uma cadeirada de José Luiz Datena (PSDB), durante um debate. Marçal apresentou uma carta que, na verdade, foi enviada por um assessora de Trump a um amigo do ex-coach, Alex Barata. Segundo o Metrópoles, o documento sequer cita a cadeirada.

Além disso, o contato inicial partiu da própria equipe de Marçal, que teria demonstrado interesse em fazer doações à campanha de Trump. O conteúdo da carta mostra um tom diferente daquele anunciado pelo ex-coach na segunda-feira (23), antes do debate promovido pelo Flow Podcast. 

“O Trump que é um cara que sofreu também um atentado agora. Cada um na sua escala, né? O presidente dos Estados Unidos é bala de fuzil, o Bolsonaro é faca e a prefeitura de São Paulo, que é mais baixo um pouquinho, só a cadeirada por enquanto”, disse na ocasião.

Na carta, Bethany Movassaghi, assessora de Donald Trump, fala sobre o contato de Alex Barata, cita brevemente Pablo Marçal, e explica como funciona a arrecadação da campanha e o plano de governo do republicano.

“Minha preocupação imediata é com o bem-estar de Pablo, especificamente com sua saúde geral. Sei que, com o apoio de aliados confiáveis como você, Pablo continuará a prosperar como líder e visionário. Nossa equipe entende que Pablo está em uma posição única para causar um impacto significativo, no Brasil e em escala global. Sua liderança e visão são ativos inestimáveis no alinhamento com os objetivos do Presidente Trump e que, juntos, eles desempenharão papéis fundamentais na reformulação do futuro – tanto para o Brasil quanto para o sucesso da campanha de reeleição do Presidente Trump. Estou confiante de que seus esforços produzirão resultados significativos e também contribuirão para o sucesso da jornada do Presidente Trump de volta ao Salão Oval. Esperamos encontrar todos vocês em um futuro próximo”, diz o documento.

“Nossa missão e esforços de campanha: Estamos numa missão para angariar 100 milhões de dólares para apoiar o Presidente Trump por meio de uma mistura de campanhas digitais e de base, todas aprimoradas por tecnologia de IA de ponta. Isto inclui bater às portas, campanhas de correio direto, publicidade agressiva na televisão e na rádio e iniciativas extensivas de envio de mensagens de texto”, complementa.

¨      Pablo Marçal recebe R$ 50 mil do ex de Luísa Mell acusado de ameaçá-la e enquadrado na Maria da Penha

O candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRTB, Pablo Marçal, enfrentando resistência entre o eleitorado feminino, recebeu uma doação de R$ 50 mil do empresário Gilberto Zaborowsky em 19 de setembro, conforme informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Até o momento, Marçal é o único candidato da campanha de 2024 a receber uma doação de Zaborowsky, que não fez contribuições em eleições anteriores.

Zaborowsky foi casado com Luísa Mell por 10 anos, e o relacionamento terminou em julho de 2021. Na ocasião, Mell fez uma série de acusações contra o empresário, incluindo uma ameaça e uma suposta lipoaspiração realizada sem seu consentimento, com a autorização de Zaborowsky. As acusações resultaram em um pedido de medida protetiva com base na Lei Maria da Penha.

 

Fonte: Brasil 247/Le Monde

 

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